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segunda-feira, 25 de março de 2013

Temple Grandin (2008)

Temple Grandin , 2008
Direção: Mick jackson. Com: Claire Danes, Julia Ormond e Catherine O'Hara.
Nota: 9


Quando se fala em filme para a televisão sempre surge uma dúvida em relação a qualidade inserida neste tipo de atração. Filme remete a cinema, portanto costuma ser de praxe que os dois seguimentos estejam separados por um sistema distinto de qualidade em termos cinematográficos. Nos EUA filmes para a TV tem um contra-censo diferente baseado neste conceito, surgindo de vez em quando coisas apreciáveis como cinema. Mick Jackson resolveu tentar aproximar ambos com um filme qualitativo na área da sétima arte, mesmo sendo para a TV. E não é que esta fusão de ideias acabou por dar bons frutos? 


Com Temple Grandin, o diretor usou a sensibilidade para minimizar a diferença entre os dois meios de forma que proporcionasse uma narrativamente ágil e agradável. O filme conta a biografia de Temple Grandin (Claire Danes, assombrosa), uma mulher que desde criança fora diagnosticada com autismo e sem esperança de falar até os 4 anos. O amor de sua mãe (Julia Ormond) contrariou a medicina, ignorou os conselhos de especialistas e insistiu para que a filha tivesse uma educação como de qualquer outra criança. A matriarca abraçou, mesmo que subjetivamente, a causa de sua rebenta dando-lhe o suporte necessário para que a mesma crescesse de todas as formas e se tornasse um baluarte para todas as crianças com a mesma limitação. 

As dificuldades decorrentes eram notáveis, mas nem tanto para a determinação da menina esquisita vencer todas as barreiras impostas. O preconceito em cima disso era apenas um pequeno chamariz de dificuldades no desafio maior que estava por vir. Suprir ela mesma com as armas que tinha (inteligência e perspicácia)  as necessidades impostas por sua condição através de uma máquina, conhecida como "A máquina do abraço". Mesmo sem entender o que as pessoas pensavam, o que os livros e os professores diziam, Temple tornou-se uma jovem cheia de menções acerca de sua notável inteligência acadêmica. Adulta, ingressou na faculdade, se formou com as mesmas menções do colegial alimentando sua paixão pelas ciências. A desvantagem gerada pela incapacidade de entender as pessoas a seu redor virou uma vantagem para a capacidade de entender os animais. A cientista Grandin adota uma filosofia que a ajuda estabelecer um novo método de tratamento direcionado a várias espécies de animais, em especial equinos e bovinos, das regiões dos estados americanos. Seu método revolucionário se mostra eficaz no campo da natureza e na área financeira, ganhando ela notariedade e prestígio por todo o mundo. 

"A natureza é cruel, mas nós não precisamos ser." Foi com esta mensagem que Mick nos apresentou uma filosofia diferente de se fazer uma obra cinematográfica de grande alcance  na TV. O cinema ainda tem suas fortes raízes ortodoxas, seus prós em termos de produção, mas o filme da HBO que mostrou a vitória da humanidade sobre a desumanidade consegue com um roteiro satisfatório desmistificar este conceito. A surpresa gerada em torno de algo produzido para a TV nos dá a certeza de que às vezes falta um pouco mais de empenho e cuidado por parte dos responsáveis pelo veículo em se fazer algo benéfico para todos, unindo em um só destino a qualidade de sons e imagens. 

A qualidade e o roteiro são claramente impulsionados, neste caso somados, a caracterização magistral de Claire Danes. Isso me leva afirmar que se entrasse na disputa pelo Oscar daquele ano, certamente seria uma candidata com T-O-D-A-S as condições de sair dali com a estatueta dourada, aumentando desta forma sua coleção de prêmios na estante acerca deste trabalho, incluindo o Globo de Ouro. Os trejeitos, a voz, o andar, o olhar melancólico, a personalidade distante, as caras e bocas somam-se numa transposição física de quem não se acostumou a lidar com palavras para transparecer emoções. Perfeito! Uma atuação que raramente vimos  no cinema, e que se não fosse pelo trabalho qualitativo seria desperdiçado na TV. 

A interpretação memorável de Danes tem o esteio da veterana Julia Ormond, que volta a seus bons momentos emocionando na medida certa como a mãe tão amorosa quanto frustada ao mendigar um simples abraço da filha. Catherine O'Hara (a eterna mãe desnaturada de Esqueceram de mim) aqui não esquece suas responsabilidades e dá suporte a suas colegas em cada sequencia. A montagem é interessante  derrapando apenas com algumas cenas um tanto vazias na reta final. Contudo, o significante e surpreendente discurso de formatura da moça tenta desfazer este equívoco. 

Uma menina estranha que conseguiu aprender a língua dos bichos com um carisma cativante é um atrativo e tanto para quem aprecia histórias edificantes acima do preconceito e com uma moral no final. Aos leigos, esqueçam ser ela de TV, pois se assim não tivesse mencionado,  nem saberiam de tudo isso provinha daquela pequena tela, pois afinal, muitas vezes ser diferente, não significa ser inferior.  

PS: quando a atriz faturou o Globo de Ouro me equivoquei ao dizer que não se tratava do reconhecimento de um talento, já que não considerava Claire Danes uma boa atriz. Enfim, é com muito prazer que agora digo que queimei a língua. 

Um comentário:

  1. Danes venceria o Oscar na ocasião, se disputasse. Ganhou o Globo de Ouro, Emmy, e outra infinidade. Precisa de uma chance dessas no cinema.

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