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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Mestre (2012)



Dirigido por Paul Thomas Anderson. Com Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Laura Dern, Rami Malek e Jesse Plemmons.

Nota: 9.5

Paul Thomas Anderson não costuma brincar em serviço. Desde de quando ganhou notoriedade na condução do polêmico Boogie Nights – Prazer Sem Limites (98), sobre uma produtora de filmes pornográficos e seus personagens singulares, vem tentando nos mostrar como o comportamento humano é o mais complexo dentre todos os seres vivos. Em O Mestre, faz um ensaio sobre as revoltas de uma mente traumatizada e as diversas facetas da psique humana. Como sempre, o foco principal está no que uma pessoa pode mudar seu destino, querendo ou não ser influenciada por outra.

Poderia ser um filme sobre redenção, reviravoltas e lições de moral diversas, mas não é do feito de P. T. Anderson ser tão simplório. Aqui, acompanha a trajetória de Freddie Quell (Joaquin Phoenix, ótimo), um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial que procura desesperadamente um aminho a seguir depois de tantos traumas. Dentre eles, o do álcool, no qual se tornou um verdadeiro mestre em fabricá-las das mais variadas formas e qualidades; e a violência quase incontrolável. Quando caminho se liga ao do carismático mentor de um movimento religioso chamado de A Causa, Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman, pefeito), sua vida se tornará uma espécie de simbiose com o grupo, e fará de tudo para proteger seu mestre.

Não é simples compreender as mazelas de Anderson. Seu filme é taciturno, ora contemplativo, ora verborrágico, um estilo totalmente singular de criar a linha narrativa. Primeiro somos apresentados ao personagem voraz de Phoenix, violento, compulsivo sexual, alcoolatra, mas sem que qualquer julgamento da motivação seja feita pelo diretor. Mesmo assim, o comportamento de Freddie incomoda, perturba, e não de se estranhar que o odeie com menos de meia hora de filme. Quando finalmente entra em cena Lancaster Dodd, nos é apresentado o complexo esquema dA Causa, meio sacro, meio pscicanalítico, incompreensível. A concentração das ações no núcleo do grupo e a crescente ligação de Dodd e Quell nos dão conta que pode ser uma crítica aos excessos religiosos, que apareceram sob variadas formas e vertentes após a terrível guerra.

Porém o diretor vai além. Seu texto é subjetivo, e nos é intrasigente fazer qualquer comentário antes que a película chegue ao fim. Talvez seja esta a intenção, deixar um tema de relação tão intenso ,como religião e comportamento, ao exame íntimo do público, pois até hoje a população mundial busca no trascendental a cura para os males físicos e espirituais. Não seria ele se tornar um determinista. O Mestre, na verdade, faz o que toda a obra de Anderson fez até hoje, nos colocar a par das diferentes maneiras que um indivíduo se apresenta, com motivações diferentes. Seja na ganância como em Sangue Negro (08), ou  na carência afetiva visto em Magnólia (99).

O diretor ainda desfila sua categoria com a câmera. Desde o início conduzido por belas imagens e trilha sublime, em que dá espaço para o protagonista encher a tela. De uma hora para outra deixa tudo desconcertante e monstruoso com as atitudes do protagonista. Há ainda variadas referências durate todo o longa: a nudez total que exibe em um momento de delírio de Freddie, sem vulgaridades, ao estilo Kubrick e Pasolini. É clínico, e faz com que qualquer segundo em que seus atores aparecem não sejam desperdiçados com frivolidades. Phoenix está como nunca, talvez para responder a quem disse que não voltaria à cena depois de seu auto-documentário malfadado. Hoffman dá um show à parte, com simplicidade e simpatia, típico dos “chefes” das igrejas hoje em dia, e conta com o arcabouço da sempre competente Amy Adams como sua esposa e reguladora. Mais que um elenco, é um panteão.

Talvez O Mestre não se torne um sucesso de público, mas a crítica já se rendeu. Fosse P. T. Anderson um diretor preocupado com a venda de bilhetes, e ter deixado a complexidade um pouco branda, teria uma obra perfeita nas mãos. Entretanto os cinéfilos já lhe tiram o chapéu, e é até um absurdo pensar que foi reduzido a apenas três indicações ao Oscar (ficou fora por filme diretor e roteiro), pode ser pela polêmica de talvez ser inspirado no criador da Cientologia, porém quem saiu perdendo foi a Academia. Uma obra-prima, trabalho feito na arte pura de um verdadeiro mestre.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Perfil: Steven Spielberg - O tubarão da indústria cinematográfica

Seu nome é tão imponente dentro do cinema que a impressão que se tem é que este tubarão da indústria cinematográfica tem uma inteligência extraterrestre. A palavra gênio, atribuída a ele pelo vencedor do Oscar Ben Afleck, parece pouco para o diretor que conseguiu durante décadas transformar tudo que tocou usando o mesmo recurso do mitológico Rei Midas. Ambos usam as mãos para tamanho feito. Com sua câmera, aumentou consideravelmente sua fortuna pessoal que vira e mexe estampa os artigos da Revista Forbes. Contudo, a riqueza gerada pela paixão que transmite com seu talento incontestável é incomparável à paixão que desperta nos cinéfilos do mundo todo. Há pessoas que podem nem entender de cinema, e nem mesmo sequer ter visto um filme por completo, mas certamente conhece seu nome.

Steven Allan Spielberg nasceu em Cincinnati, EUA, em 18 de dezembro de 1946 dentro de uma família judia e por conta disso sofria preconceito tendo de ouvir diariamente piadas anti-semitas no colégio. Viveu boa parte de sua vida em Phoenix, e quando seus pais se separaram mudou-se para a Califórnia. Antes disso, fazia de suas três irmãs as estrelas de seis filmes caseiros filmados com uma Super-8. Começava dentro de casa, seus contatos imediatos com a arte. Mas não foi tão fácil assim, pois quando se volta para o passado, percebe-se que seu talento quase foi minado pela reprovação no Curso de cinema, tendo ele que estudar Literatura inglesa em meio a dois curta-metragens ainda na fase adolescente Fuga do Inferno e Firelight. De volta para o futuro, sua determinação alcançou grandes proporções quando em 1969, fez sua estréia profissional com o curta-metragem Amblin, que conta a história de um casal de jovens que se encontra no deserto de Mojave, premiado no Festival de Veneza. Nesta época, tentou entrar na University of Southern California, o que foi um verdadeiro templo da perdição para ele. Não aceito, foi parar na Universidade Estadual da Califórnia, onde fez cinco filmes. 

Amblin o levou a Universal e Encurralado (1972), seu primeiro longa-metragem produzido para a televisão. Diante de tanto sucesso, foi vendido para os cinemas de onde surgiu Louca escapada (1974), disseminando a parceria com o compositor John Williams. A parceria gerou logo de cara uma das maiores bilheterias da história. Com Tubarão, Spielberg criou um modelo rentável de super produção, que seria copiado pelos grandes estúdios,  com elevados custos de marketing e efeitos especiais. Ou seja, o pai de todos os blockbusters. A partir daí sua carreira instaurou-se um enigma da pirâmide crescente de sucessos. Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977), Os Caçadores da Arca Perdida (1981) e E.T, o Extraterrestre (1982), renderam não só reconhecimento na área financeira como também na área artística, tendo sido indicado ao Oscar de melhor diretor pelos três trabalhos. Mesmo que não tenha vindo a estatueta dourada, o ouro do talento de Spielberg reluzia tão forte que seu império do Sol já estava consolidado dentro dos estúdios. Império este aumentado de maneira significativa com as maiores bilheterias do início da década de 90. Jurassic Park voltou a arrasar nas bilheterias de todo o mundo com uma das obras mais bem produzidas da história. Um fenômeno instantâneo que consolidou com uma qualidade visual impressionante seu status de clássico e o nome de Spielberg denotou gênio. A Lista de Schindler, que retratava o martírio dos judeus na Segunda Guerra Mundial, foi um projeto pessoal abraçado com carinho e competência e o resultado não poderia ser outro. Sua primeira estatueta do Oscar como Melhor diretor. Spielberg quis homenagear os judeus, já que sua avó, judia, ficou presa num campo de concentração na Polônia, mas neste processo foi o cinema que saiu homenageado. Sua vitória neste campo se repetiria em 1999 com o fabuloso O Resgate do Soldado Ryan, em que mais uma vez a Guerra serviria como fonte de inspiração, provando o engajamento que o diretor tem para com as vítimas desta triste passagem da história. 

Realizado profissionalmente, Spielberg parte para novos desafios. O primeiro foi fundar um estúdio, a Dream Works SKG da Disney em sociedade com Jeffrey Katzenberg. Amistad foi seu primeiro projeto e fracasso. Uma palavra que raramente encontramos por sua trajetória, mas com o sucesso arrasador de Titanic naquele mesmo ano, afundou suas perspectivas. Depois de alternar entre o sucesso (Prenda-me se For Capaz) e o insucesso (O Terminal), deu um tempo nos blockbusters e partiu para filmes de temática mais séria como Munique (2005), sobre a caçada aos assassinos de onze atletas da delegação israelense durante os Jogos Olímpicos de 1972. Por este filme, foi novamente indicado ao Oscar. O mesmo trabalho havia feito anos atrás em A cor púrpura (1985) em que mostrou para a mídia sua versatilidade. E pensar que Spielberg poderia ter se tornado um mito maior (e mais rico) dentro da indústria se tivesse aceitado dirigir a saga de Harry Potter. Divergências contratuais com K. Howling tiraram a possibilidade dos fãs de ver uma obra muito mais relevante em termos cinematográficos. 

Em 2006 Spielberg aumentou sua fortuna pessoal vendendo seu estúdio para a Paramount, mas permanecendo como produtor executivo. E em 2008, ele moveu um verdadeiro cavalo de guerra pela Dream Works  Seu estúdio junto com a Viacom Inc e a Universal Pictures foram acusadas de infringir os direitos autorais e quebrar um contrato por produzirem Paranóia sem a permissão dos detentores dos direitos da trama, segundo o processo. O filme obteve cerca de 80 milhões de dólares nas bilheterias, porém levou o diretor à cadeira dos réus por conta da adaptação da história, que teria sido anexada a Hitchcock e o ator James Stewart em 1953. 

As últimas cruzadas de Spielberg podem até não ser condizente ao seu talento indiscutível e há quem diga que o cineasta perdeu seu lendário toque de Midas. Entretanto, como o lendário Rei, o diretor, produtor, empresário e roteirista já tem seu nome gravado a ouro na calçada da Fama e seu estilo visionário é inconfundível. Seu nome é um dos mais  lembrados dentro do cenário e sua natureza de paixões, competência e popularidade, vão além da eternidade. 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A Rede Social (2010)

The social network, 2010. Dirigido por David Fincher. Com Jesse Einsenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake e Rooney Mara.

Nota: 9.4

No auge da Cibercultura, David Fincher explora a incoerência da geração Y, e reflete sobre até onde a tecnologia afastam as pessoas, tendo como personagem central o maior símbolo da sociedade informatizada. O criador de uma ferramenta incrivelmente capaz de unir pessoas pelos quatro cantos do planeta, porém deixa transparecer a fragilidade com que somos consumidos pela necessidade de nos conectar, mesmo que isso necessariamente não corresponda a "ser amigo".

Não é difícil de entender A Rede Social, é um filme sobre o universo jovem, repleto de festas, consumo de drogas e sexo casual. Só que diferentemente da maioria dos longas com esta premissa, o roteirista Alan Sorkin insere um contexto moderno explorando a mais célebre ferramenta da era globalizada, a rede social. A partir da conturbada concepção da mais famosa delas, o Facebook, o roteiro coloca lado à lado a "amizade" virtual e a real, mostrando sem pudores como Mark Zuckerberg, um dos criadores e dono do site de relacionamentos, conseguiu 500 milhões ( em 2008, hoje são números ainda mais impressionantes) de amigos virtuais e perdeu os poucos amigos de verdade em julgamentos milionários.

A direção segura de Fincher o permite condensar o filme de forma que não se torne cansativo e muito menos preso ao universo do site. A intenção, muito bem explícita, é mostrar a dualidade da nova geração, sedenta por interagir com o mundo inteiro, porém cada vez mais individualista e excêntrica.  Mark ignorou tudo e a todos apenas para fazer o que acha que é certo, evidenciando a leviandade de seu caráter, que muitos podem desaprovar, mas que o mais corriqueiro comportamento do mundo atual. Apesar de chegarmos a um veredicto desfavorável ao Sr. Zuckerberg, Fincher não faz papel de juiz, e sua montagem dinâmica permite que acompanhemos uma linha do tempo (sem trocadilhos) dos acontecimentos, para assim tirarmos conclusões.

Os diálogos ágeis, como é de costume desta nova geração, e as interpretações formidáveis dos jovens atores Jesse Eisenberg (merecidamente indicado ao Oscar) e Andrew Garfield (injustamente fora dele) dão uma incrível veracidade ao longa. É uma nova forma de pensar cinema, um modo provocativo, que determina tempo e espaço, delimita uma era. Em um grupo de cineastas contemporâneos, que podemos incluir ainda Darren Aronofsky (Cisne Negro, 2010), Christopher Nolan (O Cavaleiro das Trevas 08; A Origem 2010) e David O. Russel (O Vencedor, 2010), David Fincher encabeça a lista e, com certeza, daqui alguns anos veremos o resultado deste ainda modesto movimento.

Um retrato absolutamente fiel ao atual momento, e o filme mais importante do cinema americano desde Matrix (99). Um julgamento sem juízes ou júri, apenas uma história real, contada através de uma trilha sonora pesada e montagem brilhante. 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

ParaNorman (2012)


Idem, 2012. Dirigido por Sam Fell, Chris Butler. Vozes de Kodi Smit-McPhee, Anna Kendrick, Casey Affleck e Christopher Mintz-Plasse

Nota: 7.8

As animações, geralmente são constituídas por partes bem feitas e divertidas, como também por mensagens subliminares, aquelas que sempre têm algo de bom para passar para crianças e adultos. Mas para que os planos dos produtores sejam perfeitos, os ideais emitidos devem ser claros, e lançados de uma forma que todas as mentes possam assimilar. Em Paranorman o stop-motion se envereda pelo tema do momento, os mortos-vivos, mas com uma indecisão incômoda entre o “sério” e o divertido, na história de um menino que pode falar com os mortos.

Norman (Kodi Smit-McPhee) é um típico loser da escola onde estuda. Não tem amigos e ainda é ameaçado e humilhado por brutamontes. O que aumenta a implicância com o rapazinho é o fato de ele falar com os mortos, que até sua família desacredita e acha bizarro. Quando uma maldição, lançada por bruxas séculos atrás se concretiza pelas próprias mãos de Norman, mortos-vivos voltam à vida e o menino precisará mostrar coragem e contar com a ajuda de amigos para reverter a situação.

O principal atrativo do longa animado está na ousadia dos diretores Sam Fell e Chris Butler em optar por se aproximar dos clássicos de horror das décadas de 60 e 70, de John Carpenter e George Romero. Ao invés de criarem monstros bonitinhos, lançaram figuras horripilantes, como pode ser visto em filmes como A Noite dos Mortos-Vivos (68) de Romero. E para evitar que perdessem seu público principal, manteve a dose de humor lá no alto, pois mesmo que as referências a outros longas não fosse bem assimiladas, a diversão seria garantida.

Sendo assim, quem mais sai lucrando com esta histórica de humor ácido são os adultos. O roteiro, assim como os mais famosos longas do gênero, o cunho social imposto nas entrelinhas, como a comparação da sociedade com zumbis alienados, está presente. Mas há um meio termo nesta construção narrativa. O filme é complexo demais para que crianças possam entender, e superficial demais para os adultos levem a sério, o que, obviamente, faz com sua qualidade como obra cinematográfica decaia.

Mesmo com uma técnica de stop-motion perfeita, esta lacuna do discurso suprime a intenção de Fell e Butler. Tivessem optado por uma linha infantil, mas que mantivesse as homenagens e reflexões que se propôs, teria com certeza chegado ao ponto essencial da obra. A psique do pequeno Norman, com sua ingenuidade que o impedia de compreender o tamanho e importância de seu dom poderia ter ganhado maior destaque (Tudo bem ficaria bem parecido com O Sexto Sentido), assim ficaria fácil de controlar a ambiguidade narrativa.

Entretanto, ParaNorman é um filme que vale a pena de se assistir pela diversão, pela homenagem aos bons tempos do horror e também pela qualidade dos traços. Se ficou neste meio termo prejudicial, foi pela ousadia e vontade de se afastar da cartilha criada para produções animadas, não por omissão ou falta de qualidade de ideias, que infelizmente domina o cinema atual, e está começando a se manifestar no gênero.


sábado, 23 de fevereiro de 2013

Apostas do Cineposforrest para o Oscar 2013

Como de costume, está aí minhas apostas para o Oscar que vai se realizar neste dia 24 de fevereiro. Em cada um dos links que estão disponíveis, você pode acessar a crítica do filme feita pelo blog. Leiam e façam suas apostas lá embaixo nos comentários. Obrigado.

MELHOR FILME


Paulo Silva escolheu ARGO
* Até acreditava que a Academia não daria o braço a torcer depois da grande idiotice de deixar Affleck de fora na categoria diretor. Mas, depois de faturar quase todos os prêmios possíveis já vislumbro a possibilidade de o filme repetir o feito de Conduzindo Miss Dayse (90), quando Bruce Beresford não foi para a lista, mas seu ficou ficou com o prêmio máximo.


Flávia Cristina escolheu LINCOLN
* Apesar de ter gostado mais de A hora mais escura, Lincoln, como já foi dito na crítica, é um filme para americano ver e ganha muita força se tratando de uma história tão forte de um aclamado presidente americano, além da diração do mestre Spielberg. Argo é um excelente filme e pode surpreender,mas apostas são apostas....

MELHOR DIRETOR

Benh Zeitlin - Indomável Sonhadora
David O. Russel - O Lado Bom da Vida
Michael Haneke - Amor
Steven Spielberg - Lincoln

Paulo Silva escolheu MICHAEL HANEKE - AMOR
*A disputa ficou xoxa depois que Ben Affleck ficou estranhamente fora da lista. Além disso, Kathryn Bigelow sucumbiu ante as polêmicas de seu ótimo filme. Spielberg pode então ser considerado favorito, mas não ganhou nada. Fica então a grande oportunidade de a Academia premiar Haneke, e é o que eu acho que vai acontecer.


Flávia Cristina escolheu STEVEN SPIELBERG - LINCOLN
* Como Bigerlow e Afleck ficaram injustamente de fora, a escolha fica mesmo xoxa. Spielberg é um gênio, e ao conduzir a sempre bem atual história da abolição da escratura no país, éum nome fortíssimo. podenão ter ganhado nada, mas seu nome nunca pode ser descartado. Cavalode Guerra queimou seu filme, mas ele voltou com tudo neste ano. Apostas à parte, meu prefeido é O. Russel. Seu trabalho em O lado bom da vida é fantástico. 

MELHOR ATOR

Bradley Cooper - O Lado Bom da Vida
Daniel Day-Lewis - Lincoln
Denzel Washington - O Voo
Hugh Jackman - Os Miseráveis
Joaquin Phoenix - O Mestre

Paulo Silva escolheu DANIEL DAY-LEWIS - LINCOLN
*Juro, nem é pelo fato de ele ter ganho tudo até agora, mas dentre as excelentes atuações do grupo de indicados, que ainda poderia ter John Hawkes ou Denis Lavant, sua interpretação do mítico presidente americano é assombrosa. 


Flávia Cristina escolheu DANIEL DAY-LEWIS - LINCOLN
* Sem comentários. Este leva de lavada, só se realmente acontecer uma nova Guerra de Secessão para lhe tirar os Oscar das mãos. 

MELHOR ATRIZ

Emanuelle Riva - Amor
Jennifer Lawrence - O Lado Bom da Vida
Jessica Chastain - A Hora Mais Escura
Naomi Watts - O Impossível
Quvenzhané Wallis - Indomável Sonhadora

Paulo Silva escolheu JENNIFER LAWRENCE - O LADO BOM DA VIDA
*O nível é altíssimo, desde a veteraníssima Riva até a mirim Wallis, são atuações acima da média. Mas acredito que queridinha por queridinha, vão optar por Lawrence, pelo quesito blockbuster, que acaba pesando. Mas não me surpreenderia se Riva ou Chastain ficassem com o prêmio.


Flávia Cristina escolheu JESSICA CHASTAIN - A HORA MAIS ESCURA
* É uma categoria interessante, de excelentes performances. Jessica está fabulosa e Lawrence também mereceria o prêmio. Riva pode surpreender. A opção pela ruiva de sorriso encantador se dá pelo fato de que talvez ainda não tenha chegado o momento de Lawrence. E ainda se formos fazer uma comparação entre os papéis, Chastain tem um apelo mais  forte neste sentido. 


MELHOR ATOR COADJUVANTE

Alan Arkin - Argo
Christoph Waltz - Django Livre
Philip Seymour Hoffman - O Mestre
Robert DeNiro - O Lado Bom da Vida
Tommy Lee-Jones - Lincoln

Paulo Silva escolheu TOMMY LEE-JONES - LINCOLN
*É a categoria mais acirrada até o momento, onde qualquer um deles pode vencer. Mas aposto que no último momento Lee-Jones vai se sobressair. Sua maior ameaça é Alan Arkin, que costuma aparecer do nada como em Pequena Miss Sunshine (07).


Flávia Cristina escolheu PHILLIP SEYMOUR HOFFMAN - O MESTRE
* Sem Di Caprio, aposto no sempre seguro Seymour Hoffman. Lee-Jones teve uma excelente atuação, mil vezes melhor que a lhe rendeu o Oscar por O Fugitivo (93). Não acredito que Waltz, em mais um filme de Tarantino, leve o prêmio.



MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Amy Adams - O Mestre
Anne Hathaway - Os Miseráveis
Helen Hunt - As Sessões
Jacki Weaver - O Lado Bom da Vida
Sally Field - Lincoln


Paulo Silva escolheu ANNE HATHAWAY - OS MISERÁVEIS
*Pelo simples fato: ganhou tudo até aqui. Mesmo com a presença da invicta Sally Field, que venceu as duas vezes em que foi indicada, a vitória da mocinha que é um show à parte no longa cantando "I dremed a dream", que só por isto já venceria.


Flávia Cristina escolheu ANNE HATHAWAY - OS MISERÁVEIS
* A coisa mais rica do filme de Hooper. A atuação extraordinária de uma das mais talentosas e carismáticas atrizes desta geração. Amy Adams e Hunt mostram competência, mas nem de longe podem ameaçar a vitória protocolar de Hathaway

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL


John Gatins - O Voo
Mark Boal - A Hora Mais Escura
Michael Haneke - Amor
Quentin Tarantino - Django Livre
Wes Anderson e Roman Coppola - Moonrise Kingdom

Paulo Silva escolheu MICHAEL HANEKE - AMOR
*Como acredito que o prêmio de direção vai para ele, a Academia lhe dará outro prêmio para enfatizar o prêmio anterior. Não é o melhor roteiro, prefiro Moonrise Kingdom, O Voo e  Django Livre, mas irá vencer.


Flávia Cristina escolheu QUENTIN TARANTINO - DJANGO LIVRE
* Tudo que remete a originalidade cai em Tarantino. E depois de ter perdido com obras-primas como Pulp-Fiction e Bastardos Inglórios, agora é esperar para que Django, pelo menos nesta categoria, lhe faça justiça. 

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Chris Terrio - Argo
David Magee - As Aventuras de Pi
David O. Russel - O Lado Bom da Vida
Lucy Alibar e Benh Zeitlin - Indomável Sonhadora
Tony Kushner, John Logan e Paul Webb - Lincoln

Paulo Silva escolheu CHRIS TERRIO - ARGO
*Das qualidades do longa de Affleck, o seu roteiro é com certeza seu grande triunfo. E a temporada de prêmios vem provando isso. Talvez é a única categoria que é o favorito disparado. Mesmo com os bons trabalhos de Magee e O. Russel, vencerá facilmente.


Flávia Cristina escolheu CHRIS TERRIO - ARGO
* As aventuras de Pi é forte candidato, mas o filme de Affleck é certamente umas daquelas primasias que dificilmente são esquecidas. 

MELHOR FOTOGRAFIA

Claudio Miranda - As Aventuras de Pi
Janusz Kaminski - Lincoln
Robert Richardson - Django Livre
Roger Deakins - 007 - Operação Skyfaal
Seamus McGarvey - Anna Karenina

Paulo Silva escolheu ROGER DEAKINS - 007 - OPERAÇÃO SKYFAAL
*Este não é o melhor trabalho de Deakins, mas ainda assim é muito bom. O que aumenta suas chances é que Kaminski fez um trabalho mediano em Lincoln e Richardson ganhou ano passado (A Invenção de Hugo Cabret). Quem pode lhe tirar o prêmio é Claudio Miranda pelo magnífico visual de Pi, e também seu pé frio, já que foi indicado outras 10 vezes e nunca ganhou.


Flávia Cristina escolheu CLAUDIO MIRANDA - AS AVENTURAS DE PI
* Um belíssimo espetáculo visual em comum com o tema fortemente espirituoso do filme. Assim as sensações emergem na tela de forma perfeita. 

MELHOR MONTAGEM

Dilan Tichenor - A Hora Mais Escura
Jay Cassidy e Crispin Struthers - O Lado Bom da Vida
Michael Kahn - Lincoln
Tim Sqyres  - As Aventuras de Pi
Willian Goldenberg  - Argo

Paulo Silva escolheu WILLIAN GOLDENBERG - ARGO
*Outra categoria onde o filme de Affleck é muito favorito. Seu trabalho de transposição de sequências deixa a tensão lá em cima, sem exageros. O trabalho deCassidy e Struthers teria chances se não fosse por Goldenberg.


Flávia Cristina escolheu DILAN TICHENOR - A HORA MAIS ESCURA
* Argo é tenso, mas se tratando de um episódio de repercussão mundial, os últimos minutos de A hora mais escura se sobressai neste sentido e pode levar.

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE

David Gropman - As Aventuras de Pi
Eve Stuart - Os Miseráveis
Rick Carter - Lincoln
Sarah Greenwood - Anna Karenina

Paulo Silva escolheu EVE STUART - OS MISERÁVEIS
*É inegável que as melhores qualidades de Os Miseráveis está em sua produção, impecável. E a reconstituição de tempo e espaço de Stuart vai se sobressair contra a fantasia de O Hobbit e a elegância de Anna Karenina.


Flávia Cristina escolheu EVE STUART - OS MISERÁVEIS
* Pelo menos nisso pode-se dizer que o filme de Hooper é impecável.

MELHOR FIGURINO

Colleen Atwood - Branca de Neve e o Caçador
Eiko Ishioka - Espelho, Espelho Meu
Jaqueline Durran - Anna Karenina
Joanna Johnston - Lincoln
Paco Delgado - Os Miseráveis

Paulo Silva escolheu JAQUELINE DURRAN - ANNA KARENINA
*É um trabalho formidável, um dos melhores dos últimos anos, e tem aquela coisa das vestimentas do século 19, que quase sempre vencem. Quem pode estragar a festa é o trabalho, também excelente, de Paco Delgado, ou uma possível homenagem a Eiko Ishioka, falecida no fim de janeiro.


Flávia Cristina escolheu PACO DELGADO - OS MISERÁVEIS
* numa obra teatral o figurino é a peça chave e neste caso, o filme cantado protagonizado por Jackman tem uma vantagem neste sentido. Será uma difícil tarefa tirar de Anna Karenina, mas ainda sim fico com ele como um desafio. 

MELHOR MAQUIAGEM

Hitchcock
Os Miseráveis

Paulo Silva escolheu OS MISERÁVEIS
*A maquiagem de Hitchcock não é boa, teria indicado A Viagem, que nem sei por que ficou de fora. O Hobbit teve sua cota preenchida com a Saga do Anel, sobra pelo bom trabalho da equipe de Os Miseráveis. Mais na conta de Hooper.


Flávia Cristina escolheu OS MISERÁVEIS
* A produção caprichada da obra se estende consideravelmente por este campo. 

MELHOR TRILHA SONORA

Alexandre Desplat - Argo
Dario Marianelli - Anna Karenina
John Willians - Lincoln
Mychael Dana - As Aventuras de Pi
Thomas Newman - 007 - Operação Skyfaal

Paulo Silva escolheu THOMAS NEWMAN - 007 - OPERAÇÃO SKYFAAL
*A disputa mesmo é entre Newman e sua trilha primorosa de Skyfaal e Alexandre Desplat, que faz dois excelentes trabalhos na temporada (o outro é em A Hora Mais Escura). Mas acredito que o primeiro sobre aproveitar melhor o saudosismo e variações de ritmo do filme de Sam Mendes. 

MELHOR MIXAGEM DE SOM

Os Miseráveis
007 - Operação Skyfaal
As Aventuras de Pi
Lincoln
Argo

Paulo Silva escolheu OS MISERÁVEIS
*Sim, as canções não ficaram tão boas quanto poderíam ter ficado, mas acho que darão um prêmio pela ousadia de Hooper em gravar tudo ao vivo. Se ficarem indiferentes, o prêmio ficará com Argo ou Skyfaal.

MELHOR EDIÇÃO DE SOM

007 - Operação Skyfaal
A Hora Mais Escura
As Aventuras de Pi
Django Livre 
Argo

Paulo Silva escolheu A HORA MAIS ESCURA
*O filme de Bigelow só não vence esta categoria se a polêmica só mesmo muito forte, ou se Argo resolver abocanhar tudo. O trabalho é excepcional, na medida certa. Os outros tês tem poucas chances, mas têm.

MELHOR EFEITOS VISUAIS


Paulo Silva escolheu AS AVENTURAS DE PI
*O filme tem grandes adversários, mas a Academia fará jus ao visual maravilhoso e emocionante, uma  verdadeira poesia hi-tech. Também poderá ser o prêmio de consolação, pois acredito que este ótimo filme não vencerá mais nada.


Flávia Cristina escolheu AS AVENTURAS DE PI
* Um filme que precisa alçar a emoção por meio de cenários fortes e deslumbrantes demarca os efeitos visuais como indispensável. 

MELHOR CANÇÃO

Skyfaal - 007 - Operação Skyfaal 
Suddenly - Os Miseráveis 
Pi's Lullabi - As Aventuras de Pi
Everbody Needs A Best Friend - Ted
Before My Time - Chasing Ice

Paulo Silva escolheu SKYFAAL - 007 - OPERAÇÃO SKYFAAL
*O Oscar adora um popstar, e como a canção da famosa cantora britânica Adele é realmente muito boa, o prêmio dificilmente não vai para ela. Podem inventar de agradecer a apresentador da noite, Seth McFarlane, dando o prêmio pela canção de Ted, mas acho improvável. Oscar entre os Grammys na estante da moça.


MELHOR FILME ESTRANGEIRO

AmorÁustria
O Amante da RainhaDinamarca
NoChile
Kon-TikiNoruega

Paulo Silva escolheu AMOR
*Indicado ao Oscar de melhor filme e diretor, pensar que não vencerá esta categoria é uma sandice. Mesmo sem os pré-requisitos, dificilmente perderia, apesar do excelente No e dos bons Kon-Tiki e A Feiticeira da Guerra. Não achei que O Amante da Rainha deveria ter sido indicado, mas não chega a ser dispensável.


Flávia Cristina escolheu AMOR
* Todos são excelentes, mas como Amor concorre a melhor filme, fica como uma carta marcada. Apesar de minha preferência ir para O Amante da Rainha, com um tema muito relevante e enredo diferente de todos do gênero.


MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

Paranorman
Piratas Pirados!

Paulo Silva escolheu DETONA RALPH
*Apesar de ser muito bom, Valente vem perdendo força, principalmente devido à distância em que foi lançado para a premiação. Ralph vencerá muito mais pelo trabalho de produção que pela história em si. Se alguém pode surpreender é Frankenweenie, mas acho complicado. Gostei mesmo é de ver os bons ParaNorman e Piratas Pirados!, que tiraram o mas ou menos A Origem dos Guardiões fora.


Flávia Cristina escolheu VALENTE
* me acostumei a ver filmes de animação com temas mais adultos e sociologicamente bem de encontro às complexidades, fobias e traumas da sociedade. Neste caso, Valente supera a todos. Mas como já foi dito, pode estar perdendo força, mas assim mesmo vou arriscar. 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Quem vai vencer o Oscar: Resultado de enquete

Mais um enquete do Cinesposforrest chegou ao fim. Primeiramente agradeço aqueles que disponibilizaram alguns segundos de sua navegação para participar, e fico muito feliz que a quantidade de participantes tenha aumentado. Conto com vocês na próxima e espero que repassem a mais amigos para que também possam participar. Em relação aos resultados, o circuito de premiações pré-Oscar influenciou muito, porém, aquelas categoria que estão em aberto com atriz e ator codjuvante foi acirrada. Argo faturou melhor filme, também pudera, vem ganhando tudo e se a Academia der o braço a torcer vai levar a estatueta mesmo que seu diretor não tenha sido indicado. Diretor ficou uma incógnita, pois Ben Affleck qu vem conquistando tudo ficou fora, Bigelow que ganhou outros, também. O público do Cine posforrest escolheu Steven Spielberg, que não ganhou nada, mas talvez sua relevância faça a diferença. Daniel Day-Lewis faturou aqui também e só não ganha se um meteoro cair em Hollywood, assim como Anne Hathaway, também a mais votada aqui. Agora, em atriz principal, Jennifer Lawrence venceu, mas a parada vai ser dura com Jessica Chastain, e quem pode se beneficiar é Emanuelle Riva, que pode não ganhar muitos votos, mas o suficiente para superar as duas jovens que dividirão os membros da Academia. Ator coadjuvante também é incerto. O  leitores do blog elegeram Tommy Lee-Jones, que ainda venceu o SAG e se tornou favorito, porém, os indicados venceram um aqui e outro ali deixando tudo sem solução até domingo. Veja abaixo os resultados:
MELHOR FILME

Argo
43% dos votos

Lincoln - 27%
O Lado Bom da Vida - 8%
Amor - 8%
Os Miseráveis - 5%
Django Livre - 2%
As Aventuras de Pi - 2%
A Hora Mais Escura - 2%
Indomável Sonhadora - 0%

MELHOR DIRETOR

 Steve Spielberg (Lincoln) - 46% dos votos

Michael Haneke - 30%
Ang Lee - 13%
Benh Zeitlin - 6%
David O. Russel - 3%

MELHOR ATRIZ

Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida) - 30% dos votos

Jessica Chastain - 23%
Emanuelle Riva - 23%
Naomi Watts - 7%
Quvenzhané Wallis - 3%

MELHOR ATOR

Daniel Day-Lewis (Lincoln) - 53% dos votos

Hugh Jackman - 12%
Bradley Cooper - 12%
Joaquin Phoenix - 12%
Denzel Washington - 9%

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Anne Hathaway (Os Miseráveis) - 83% dos votos

Amy Adams - 6%
Sally Field - 3%
Helen Hunt - 3%
Jacki Weaver - 3%

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Tommy Lee-Jones - 26% dos votos

Robert DeNiro - 23%
Christoph Waltz - 20%
Alan Arkin - 16%
Philip Seymour Hoffman - 13%

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A feiticeira da Guerra (2012)

A Feiticeira da Guerra (Rebelle, Canadá, 2012)
Direção: Kim Nguyen
Com Rachel Mwanza, Alain Bastien, Serge Kanyinda
Nota: 8

A brutalização da infância das crianças africanas refém das estúpidas guerras do continente acompanha o roteiro e a câmera de Kim Nguyen na trajetória narrativa da menina Komona (Rachel Mwanza), que aos 13 anos foi obrigada a fazer parte involuntariamente de uma sucessão de fatos desumanos. 

Aos 12 anos, Komona, uma menina alegre e dedicada à família, viu sua aldeia ser invadida por rebeldes guerrilheiros, que dentre tantas atrocidades a obrigou matar seus próprios pais. Levada à força contra um destino insólito, a menina é recrutada junto a outras crianças para aprender a sobreviver na bala. A família logo é substituída pelas armas de fogo depois de um ritual, uma espécie de batismo pelo feiticeiro do bando. De armas em punho, as crianças partem para o campo de batalha, e como era de se esperar, a maioria sucumbe fatalmente, exceto Komona, que consegue se esquivar deste triste final. As responsáveis pela "sorte"da garota é uma "seiva da mata", usada para descarregar os maus espíritos e fechar o corpo dos membros do exército rebelde. Komona passa a ter alucinações de fantasmas de negros pintados de branco com olhos mortos e, segundo a lenda, a ajudam escapar ilesa do Frontes improvisados de batalhas. 

Assim nasce a história de A feiticeira da guerra, uma menina que segundo seu exército, é a responsável direta pelas conquistas do grupo liderado pelo Grand Tigre Royal. Komona vira a guru do líder, conseguindo um status importante dentro de todo aquele horror. Sua vida só dá uma guinada um pouco significativa quando se envolve romanticamente com outro colega, o valente "Mágico" (Serge Kanyinda). Contudo, a alegria dos pombinhos é interrompida com mais violência. Komona perde seu amor, retorna às mãos dos rebeldes e acaba engravidando do General. É a este pequeno rebento que narra melancolicamente sua vida depois que o Mal entrou e se apossou dela. 

Embora seja uma ficção, o filme de Nguyen age de acordo com a realidade pescando quase toda sua essência contextual a tom documental. Este é o ponto que pode sensivelmente alterar seu valor cinematográfico. Isto o aproxima demais da realidade quando mais uma vez nos tornamos testemunhas oculares por meio das telas da violência sanguinária de países que nasceram para ser coirmãos. As razões do conflito específico da história em si mal são mencionadas, mas podemos ter uma noção simplificada do quanto isso pode nos comover, como em Hotel Ruanda (2004). Ver crianças entregues a um destino curto e brutal sem razão suficientemente aceitável para tal, desperta uma certa perplexidez em aceitar os caminhos que insistem em atravessar as ruas tortuosas da humanidade. 

O tema é forte, realista demais e como tal, foram escalados atores "não atores" para dar mais veracidade à película. Com todo este aparato, a crueza visceral das fontes a cada sequência se desdobra em drama, revolta e emoção caminhando por um roteiro simples, mas contundente. O mesmo recurso, já fora usado por Fernando Meirelles em Cidade de Deus (2002) capta com perfeição as passagens. Inclusive aquelas em que as crianças andam com as armas por debaixo dos braços  e são obrigadas pelos líderes a matarem os seus para sobreviver. 

O contexto fortemente sobrenatural está sempre em comum às raízes africanas que aliados a um bela fotografia de meia-luz ditando o espírito devastado da garota carregam o filme de uma realidade que nos parece distante e indiferente. Me lembro agora de uma frase de Hotel Ruanda dita pelo personagem do maravilhoso Joaquim Phoenix:" As pessoas que virem, vão dizer"nossa, que horror"e depois vão continuar jantando". É a nossa maldição.  A indiferença pelos tormentos de nosso próprio irmão.  Isto torna a obra expressamente relevante que entra como uma zebra na corrida de melhor filme estrangeiro, mas que não deixa de enfeitiçar cada ser humano como um marchador. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Lincoln (2012)


Lincoln, 2012. Dirigido por Steven Spielberg. Com Daniel Day-Lewis, Tommy Lee-Jones, Sally Field, Joseph Gordon-Levitt, David Strathairn, John Hawkes, James Spader e Hal HolBrook.

Nota: 8.8

Steven Spielberg é um diretor apaixonado pela história da humanidade, por isso, vez ou outra, direciona suas câmeras para fatos e acontecimentos que de certa forma mudaram o destino do planeta. Foi assim com seu melancólico A Cor Púrpura (85); o extraordinário A Lista de Schindler (93), considerado por muitos como seu melhor filme e um dos melhores do cinema mundial; o documental e tecnicamente perfeito O Resgate do Soldado Ryan (98) e por fim o sombrio Munique (05), todos que narravam, sob ponto de vista diversos, grandes passagens que aprendemos no livros de história. Agora, volta suas atenções e cria uma superprodução, de praxe, para contar as movimentos do mítico presidente americano para que a 13ª emenda, que aboliria a escravatura no país, fosse aprovada, mesmo que a manutenção de uma guerra fosse necessária para que o objetivo fosse alcançado.

O filme já se inicia em meio à Guerra Civil Americana ou Guerra de Sucessão (1861-1865) e na campanha do presidente Abraham Lincoln (Daniel Day-Lewis, assombroso) para que a emenda constitucional que colocaria fim à escravidão no país fosse aprovada. Entretanto, isso não seria fácil, já que a maioria do congresso era contra, pois isso poderia diluir a União. Porém, grandes políticos, como Thaddeus Stevens (Tommy Lee-Jones, impecável), conseguiram importantes aliados para que o “sim” vencesse a votação. Em meio a tudo isso, Lincoln ainda tem que lidar com os surtos de sua esposa Mary Todd (Sally Field, competente) que ainda sofre pela perda de um filho, e a insatisfação de seu primogenito Robert (Joseph Gordon-Levitt), que almeja ir aos campos de batalha. 

Tony Kusher volta a fazer dupla com Spielberg depois de ter um bom trabalho em Munique (05), e novamente busca em um fato histório, um personagem dele específico, para coordenar todo um jogo de questões ideológicas que traçam uma dualidade visível em seus personagens. Mas, ao contrário do longa que narrava os acontecimentos do “Setembro Negro” durante as olimpíadas de 1972, seu filme atual mantém uma relação mais cuidadosa e exageradamente respeitosa de tratar um assunto tão importante para o país. Seu Abraham Lincoln é, segundo historiadores, impecávelmente fiel, no entanto, há um certo endeusamento, uma forma de canonização acentuada, talvez pela admiração que os americanos tem pelo seu ex-presidente.

Na questão histórica, Lincoln realmente tratava a questão da escravidão, primeiramente em um plano secundário, pois as questões políticas e econômicas estavam a um estágio bem acima, e a forma como sua humanidade prevalece e a causa dos negros ganha importância se dá de maneira melodramática, o grande erro que impediu que filmes como A Cor Púrpura e O Regate do Soldado Ryan atingissem um estágio maior como cinema. Os excessos ficam evidentes na tensão do julgamento, nos encontros de Lincoln com os personagens negros e, principalmente, na trilha melódica de John Willians, que apesar disso, não deixa de ser sua melhor em anos.

Esta condição de melodrama tira o foco do exuberante trabalho de Steven Spielberg. Percebe-se que é um filme que foi feito com um carinho acima do normal, onde se segurou o tempo inteiro para não  deixar que as cenas de ação da guerra sobressaissem. É, com certeza, seu filme mais verborrágico e exigente para com o público, que em um só descuido deixa de entender o que está se passando. A fotografia também merece destaque, inclusive levando em conta seus trabalhos anteriores de seu coloborador de longa data, Janusz Kaminski, é o mais objetivo, acompanhando o personagem central todo o tempo em meio a obscuridade que a situação exigia.

O elenco, enorme e competente, tem a atuação esplêndida de Day-Lewis, que assim como seu personagem, pode entrar para história de seu país como o primeiro a vencer três Oscar na categoria principal, e o feito será merecido. Dentre outros grandes nomes do elenco está a veterana e sumida Sally Field, que mesmo que seu personagem sofra coim os excessos do roteiro, consegue se controlar. Mas, talvez, o grande destaque seja Tommy Lee-Jones, pois nunca foi tão exigido quanto no papel de Stevens, e não decepciona e faz de cada minuto seu em cena sensacionais.

É provável que Lincoln não ganhe tanta notoriedade por aqui, já que se trata de uma história doméstica de um filme americano. E nem seja tão bem recebido pela crítica pelos já falados excessos de carga  melodramática, entretanto é um filme que merece ser visto, principalmente pelo fator histórico, que querendo ou não, governou destino de muitas outras nações, e também pelas atuações competentes de seu elenco. Para Spielberg fica a sensação que não foi desta vez que atingiu o ápice como em A Lista de Schindler, e um pouco frustante para os fãs por pensar que talvez jamais atingirá.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Kon-Tiki (2012)


Kon-Tiki, 2012. Dirigido por Joachin Ronning e Esper Sandberg. Com Pål Sverre Valheim Hagen, Gustaf Skarsgard, Baasmo Christiansen e Old Magnun Willianson.

Nota: 8.6

O cinema americano é, sem dúvidas, o detentor da maior fábrica de fazer obras cinematográficas gigantescas, daquelas de tirar o fôlego, e mesmo sem contar com um bom roteiro, acaba convencendo o espectador pelo espetáculo em cena. Mas coube aos cineastas noruegueses Joachin Ronning e Esper Sandberg levar uma das mais fabulosas histórias reais de aventura que se tem notícia às telonas. A viagem do explorador Thor Heyerdahl da América do Sul à Polinésia em 1947, usando o mesmo tipo de embarcação que os nativos teriam usado na época.
Quando estava com a esposa em uma viagem pela Indonésia, Thor (Pål Sverre Valheim Hagen) ouve de um local que a origem de sua espécie era “o por-do-sol”, ou seja, a América do Sul. Com sua tese em mãos parte para a América na tentativa de publicá-la, entretanto esbarrou na falta de provas sólidas de seu estudo. Com uma idéia maluca na cabeça, e doações do exército norte-americano, reúne cinco homens e parte para a expedição. Aos poucos vai percebendo que tudo seria bem mais difícil do que imaginava, e em alto-mar, a única ajuda que teriam seria a da fé em seus companheiros.
A história original da expedição Kon-Tiki é mostrada de forma absolutamente real, o que foi facilitado pelo documentário feito a bordo por um Thor, com a ajuda de Bengt Danielsson (Gustaf Skarsgard), e o livro publicado também por ele. O roteiro de Petter Skavlan tem o grande triunfo de manter toda a mística da viagem, mas seu maior acerto foi incluir tudo o que aparece quando pessoas diferentes ocupam um pequeno espaço: conflitos diversos. A desconfiança gerada pela falta de comunicação, a rota que estava fora do esperado, tudo contribuindo para um péssimo andamento da viagem.
Além disso, a questão da vida pessoal de Thor, as dificuldades de se entender com a esposa, que não aprovou a incursão, dão uma quebra no excesso de tensão que obviamente se cria em uma situação destas. Os motivos são expostos através de flashbacks, e no fim, o público não toma partido, apenas observa sem ser o inquisidor, fato que geralmente o cinema americano faz questão de impor. Apesar disso, quando entra na reta final, o sentimentalismo entre os tripulantes extrapola, e quase coloca tudo a perder.
A produção do filme é sensacional, ainda mais se pensarmos que não é um produto hollywoodiano. As cenas exuberantes, com uma fotografia que consegue acompanhar a as mudanças climáticas e do comportamento dos personagens. Os efeitos de câmera tornam a concepção do filme inacreditável, pois a sensação de isolamento proporcionada pelos travellings, com a imensidão azul por todos os lados, é de uma qualidade invejável. Ainda tem a sequência da captura de um tubarão, com tensão e muito sangue, de uma veracidade que chega a dar náuseas.
Um longa que merece ser visto, tanto pela história inacreditável, quanto pela produção requintada e cuidadosa, que não se deixa levar pelos exageros. Se fosse um filme americano teria uma enxurrada de premiações e outras tantas indicações ao Oscar, entretanto ficou apenas entre os finalistas de filme estrangeiro. Mais um bom trabalho do cinema norueguês, que também lançou recentemente premiado Oslo, 31 de agosto, uma lição para os países emergentes do meio cinematográfico para mostrá-los que há boas histórias dentro de seus domínios, e que o mundo precisa conhecer.
* Só por curiosidade, o documentário que foi gravado durante a expedição ganhou um Oscar, agora o filme também terá a chance.  

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Estive lá e venci

Woopi Goldberg (Ghost - do outro lado da vida, 1991)
"Fumei maconha antes do meu discurso no Oscar". Foi com este jeito irreverente que ela chegou para sacudir as estruturas de Hollywood e destacar-se como um arauto da comédia dentro de um filme românico e lacrimejante. Uma tarefa que vem a definir um trabalho acima de tudo fora de série. Conseguir brilhar de forma parelha junto a um casal mitológico em uma das maiores bilheterias da história só poderia gerar um justo reconhecimento da Academia. Assim, a vidente picareta mais fascinante do cinema entrou para a galeria de uma das melhores personagens e interpretações da história fazendo sua intérprete faturar o Oscar de melhor atriz coadjuvante. A emoção moderada se mesclou uniformemente a grandes momentos cômicos consignando uma arma imbatível contra atuações importantes como Annete Benning em Os imorais e Mary McDonnel, a heroína romântica de Dança com lobos.


Morgan Freeman (Menina de Ouro, 2005)
"Foi um trabalho de amor." Foi com toda esta intensidade que um dos mais aclamados vértices da trinca de ouro do magnífico filme de Clint Eastwood, denominou a essência talentosa de seu sucesso. Ao levar para casa o Oscar de melhor coadjuvante, ganhou o reconhecimento inevitável por uma carreira orquestrada por grandes personagens. Aqui vivendo um ex-lutador que não deixou nos ringues sua humanidade, ele traspassou na medida certa sensibilidade e carisma enfatizando um panorama rico e perfeito de drama ou em momentos impagáveis de frescor cômico. Amparado por um texto harmonioso, ao lado de próprio Eastwood e de Hillary Swank imortalizou a gama de atuações memoráveis do filme, deixando pra trás grandes trabalhos como o garanhão sedutor de Clive Owen de Closer-perto demais e o taxista pé frio de Jamie Foxx no eletrizante Colateral. 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

No (2012)


NO, 2012. Dirigido por Pablo Larraín. Com Gabriel García Bernal, Alfredo Castro, Luis Gnecco, Antonia Zegers e Jaime Vadell.

Nota: 9.1

Filmes políticos não são uma realidade em países do considerado Terceiro Mundo, ou por ainda receberem forte pressão de governos ligados aos episódios que se pretende mostrar, ou por acharem que não será interessante para o público. Um exemplo claro é o Brasil. Apesar de os chamados Favela-Movies terem ganhado destaque na última década no país, seja com críticas ao sistema governamental que faz má distribuição da riqueza, ou ataques diretos à corrupção que vem de Brasília, ainda não fomos premiados com fatos importantes de nossa história, que o povo merecia saber, como o impeachment de Collor, as Diretas Já, o nosso período imperial, e por aí vai. Em contrapartida, o emergente cinema chileno traz uma obra de um dos episódios mais importantes de sua nação, mostrando os bastidores das campanhas para o plebiscito que encerraria a ditadura de Augusto Pinochet, sem inclinações, apenas fatos.

Em 1988, o publicitário René Saavedra (O sempre ótimo Gael García Bernal) é procurado por José Tomas (Luis Gnecco) para que encabeçasse a campanha televisiva pelo “Não”, no plebiscito que o então ditador Augusto Pinochet foi obrigado a organizar, já estava sendo pressionado pela comunidade internacional. A negativa do povo chileno encerraria a dinastia que já durava 15 anos e traria a democracia. O “Sim” manteria o general sabe-se lá por quanto tempo no poder. Quanto mais vai se envolvendo nas questões que conduzem a importância da eleição, Saavedra percebe também que o triunfo de seu trabalho pode mudar de fato a forma de pensar das pessoas. Contudo, seu envolimento também passa a trazer riscos a ele e sua família.

Pablo Larraín não é condescendente com nenhuma das ideias, é neutro, e isso percebe-se na forma distante com que conduziu os diálogos, as cenas de revoltas e poupou da violência e brutalidade do governo Pinochet. O roteiro de Pedro Peirano prima pela discussão do maniqueísmo que as frentes deveríam ter de contornar, já que ambos não eram 100% vilões ou mocinhos. Os dois lados da moeda de cada um deles é destacado, apesar do foco estar na campanha do “No”, e o diretor sabia que o público iria tirar suas conclusões, principalmente com a inserção de imagens televisivas reais. O foco está em como cada um trabalhou com o material que tinha disponível. Saavedra era brilhante, e sua experiência em vender ideias em comerciais o levou a seguir o caminho mais “fácil”, buscando levar a população ao prazer. Apesar de ser patrão do rapaz, Lucho Guzmán (Alfredo Castro, competente) era de um tempo retrógrado, e não conseguia direcionar a campanha oposta ao êxito.

O tom envelhecido, amarelado da fotografia traz uma fidelidade invejável, que combinado à câmera irriquieta de Larraín, deixa o filme com características documentais, que provavelmente causou comoção em quem presenciou tais fatos. O que faz de No ainda mais cativantes é a forma como seu diretor não abandona o lado humano de suas produções. Em Tony Manero (08), mostrou a obsessão de um homem (Também com Alfredo Castro) por um personagem, emiuçando seu comportamento. Aqui, é mais sutil, entretanto, coloca os personagens em encruzilhadas morais, amores, temores e convicções dentro do turbilhão, mas sem o melodrama que minou a excelência pela busca do “sim” do Lincoln de Spielberg. Assim não nos perdemos em meio a questões políticas e a horários eleitorais, que por aqui, odiamos. Seu acerto mais notável.

Com atuação firme de seu elenco, Pablo Larraín não teve medo de contar uma história importante e rica, política e humana. Mostrou o poder de uma verdadeira democracia e de como que em uma campanha eleitoral, só ideias não bastam para obter o triunfo. Se alguns ainda questionam se o “No” foi a melhor escolha do povo naquele momento, é só olhar para seu cinema, que pela excelência que vem ganhando, merece a alternativa “sim”.