Visitantes

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Vencedores dos SAG 2012



Dizem por aí que o Globo de Ouro é a prévia do Oscar, o que não é verdade. Já o Screen Guilds Awards, entregue na noite deste domingo deu uma indicativa de quem pode faturar a estatueta nas categorias principais.
Nas categorias de ator/atriz coadjuvantes os favoritos Octavia Spencer (Histórias Cruzadas) e Christopher Plummer (Toda a Forma de Amor) fizeram jus aos status e faturaram o prêmio. Somando ao Globo de Ouro que venceram, a noite de 26 fevereiro será apenas uma formalidade para confirmar seus prêmios. Algo diferente disso será um grande absurdo.
Em ator, Jean Dujardin (O Artista) surpreendeu ao tirar de George Clooney (Os Descendentes) o prêmio, e é totalmente merecido já que fazer um filme mudo e preto e branco nos dias de hoje. Em atriz, Viola Davis (Histórias Cruzadas) vence e acirra a briga pelo Oscar com Meryl Streep (A Dama de Ferro) e Michelle Willians (Sete Dias com Merilyn).
E o vencedor de melhor elenco, o mais importante da noite, a vitória foi para Histórias Cruzadas. Mais do que merecido já que não só as atuações premiadas de Davis e Spencer, e da indicada Jéssica Chastain merecem destaque, Emma Stone, Bryce Dallas Howard e Sissy Space também dão um show.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O PÃO NOSSO DE CADA DIA


No final dos anos 50, a sensação da TV americana eram os Quiz Shows. Programas de perguntas e respostas que atraíam milhões de pessoas para frente da TV. Era o início de um casamento quase que perfeito. Eles estavam para aquela época como os realities shows estão para nós hoje. Aproveitando-se desta força descomunal, a rede de televisão NBC criou o Twenty – One (Vinte e Um), onde dois candidatos disputavam entre si respondendo a perguntas até que a pontuação alcançasse vinte e um pontos. A cada semana o vencedor acumulava uma boa quantia em dinheiro.

Um dos primeiros candidatos a se tornar herói do programa foi o judeu Herbert Stempel. Ex-soldado do exército, e dono de uma inteligência singular, ele reinou no programa durante cinco semanas consecutivas até que o produtor fez uma proposta indecente para o participante. Que ele entregasse o jogo para seu novo concorrente Charles Van Doren, um aristocrata de renome, filho de um casal de escritores e boa pinta. A marmelada se deu em nome da audiência que andava patinando até aquele momento. Stempel já não era mais novidade e precisavam de algo novo para prender a atenção de um público escorregadio.


A estratégia bolada pelos produtores foi apresentar ao país outra cara de vencedor. E o invencível certamente não era a cara que o país queria ver. Já, Van Doren, era um sujeito bem apessoado, tipo galã de Hollywood. Sabendo do potencial ilimitado do rapaz para gerar milhões, a empresa juntamente com os patrocinadores orquestrou sua ascensão e fama repentina. Ele virou ídolo de seus alunos em Columbia, o partido número um de todas as mulheres e um herói para todas as famílias. Mas tudo iria desmoronar quando inconformado com as promessas não cumpridas pelos produtores, como um programa de TV só seu, Stempel pôs a boca no trombone e levou toda a sujeira para o Congresso Nacional dos EUA. O caso foi um dos maiores, senão o maior, escândalo da TV americana.

Uma história extraordinária que daria uma ótima sinopse de filme. Por isso, em 1994 o eterno Golden boy americano Robert Redford a levou para as telas. Quiz Show – a verdade dos bastidores é um drama que enfatiza o poder que a TV tem na vida das pessoas. O que a caixinha mágica pode gerar de positivo e negativo na vida de todos que estão envolvidos por ela. Todo o esquema de dinheiro, corrupção e manipulação nela inseridos. Paralelo às relações familiares que ela direta ou indiretamente interfere. O excêntrico John Turturro vive Stempel, enquanto o maravilhoso Ralph Fiennes brilha como o campeão Charles Van Doren. O filme ainda tem uma participação mais do que especial de Martin Scorsese como um ambicioso dono de uma empresa farmacêutica patrocinadora do programa. O filme foi um êxito em sua realização, na interpretação do elenco e na direção primorosa de Redford. “Redford tece um retrato marcante do Poder, assuma ele a forma que for, e da ambição.” (SET).

Nunca a expressão “para o povo: pão e circo” caiu tão bem nos tempos que vivemos hoje. Aquela caixinha de entretenimento, que segundo Stempel foi a maior coisa desde que Gutemberg inventou a Imprensa, nos fornece diariamente o pão e o circo. E plenamente saciados, não deixamos nem as migalhas deste para os cães tamanha fascinação que ela proporciona. Isto é um fato. Triste, mas um fato. Não falo do entretenimento em si, afinal, não há nada de errado em querer fugir de um dia fatigante de trabalho ou principalmente da realidade macabra que insiste em nos perseguir. Deste ponto de vista, a TV acaba se tornando uma forte aliada nossa. Um pão que adoramos devorar. Contudo, ultimamente está se tornando impossível não deixar de perceber que este pão talvez não esteja bem recomendável para nossa saúde.

Quando se pensa em TV a primeira coisa que nos vem à cabeça é diversão. Os empolgantes programas de auditório, entrevistas, variedades, novelas (ah, as novelas!), minisséries, esportes, documentários... enfim, uma infinidade de opções que só mesmo ela pode oferecer tornando-se assim, parte de nossa família. Alguém que está ao nosso lado todos os dias. Faça chuva ou faça Sol. Mais que uma necessidade, é quase como uma religião. Você cria um elo inabalável, uma lealdade bíblica com esta caixinha. Dela emanam nossos maiores desejos e realizações. Estes fatos acabam nos colocando em estado de pura dependência e tudo em demasia, vira um vício e um vício já passa a ser algo nada saudável.

Entre estas coisas nada saudáveis estão os famosos reality shows. Programas criados com um só objetivo: dar ao povo o que o povo pede. Diversão. Porém, o que mais incomoda em todo este cenário é o tipo de diversão que eles propõem. Vendo programas como Big Brother no ar durante tanto tempo nos remete a questionar seriamente nossos padrões de entretenimento. Pessoas comuns colocadas em uma casa a fim de interagir entre si e sobreviver por quase três meses de confinamento. Cada passo que dão registrados pelas câmeras. O que há de tão especial nisso? O que importa para nossa vida, para nosso dia-a-dia este tipo de entretenimento?

Logo depois que saiu da Casa dos Artistas, exibido pelo SBT em 2001, o cantor Supla, um dos participantes, quando perguntado sobre o que achava destes programas, deu uma declaração impactante: “Não me interessa saber como as pessoas dormem ou fazem cocô.” Então, partindo deste ponto, o que leva as pessoas a acompanhar religiosamente um programa tão desgastado pela falta de originalidade? Seria mesmo a falta de perspectiva em fazer algo produtivo para sua vida?

Também não deveria interessar as pessoas saber como as outras dormem ou fazem cocô, mas isto sabemos que não é verdade. Elas querem sim saber como elas dormem, fazem cocô, flertam umas com as outras, bebem, namoram, brigam. Isto é um fato. Triste, mas um fato. É impressionante constatar como estes shows mexem com a cabeça do público. Shows sim. Criadores de ilusão sim. Ninguém em sã consciência acredita que há um ponto de verdade integral nisso. É televisão gente! Tudo não passa de um show conduzindo o público a seminários, fóruns de debate, fã-clubes para os participantes, ter um canal por assinatura de um preço absurdo tudo para acompanhar 24 horas o desenrolar do espetáculo.


Só pelo bom e velho entretenimento? Mas, o que devemos ter consciência é que existam outros interesses bem maiores que um simples reality. Basta lembrar-nos da famosa frase: “É só um jogo”, que de tão repetida pelos participantes se tornou uma espécie de mantra entre eles. Sim, de fato trata-se de um show. Um show de ilusões fazendo o público esperar apenas por um entretenimento repetitivo e manipulado por outros interesses que certamente passam longe de suas casas. E o que mais incomoda é ver o quanto somos permissivos neste ponto. O quanto aceitamos mergulhar de cabeça nas profundezas em que a humanidade pode afundar.


Tudo em nome de uma inocente diversão? Talvez sim de nossa parte. Contudo, devemos estar a par do jogo de interesses que a grande vilã do show business ontem e hoje, proporciona. A audiência. Aquela que vende. Aquela que gera. Aquela que corrompe. Aqueles números previamente comandados pelos mágicos que protagonizam o circo. Os padeiros que nos fornecem o pão nosso de cada dia que saciam nossa fome. E como temos fome! Não importa o que tiver no cardápio, porque queremos sim só comida. O importante é chegar a nossa mesa.

Perante esta triste constatação e seguindo esta linha de raciocínio não sabemos até onde poderemos chegar com isso. Qual é a linha que delimita o que é certo ou errado dentro da TV e qual nossa real participação dentro deste circo. Criamos todos os dias Stempels e Van Dorens e os levamos para dentro de nossa casa de forma passiva à medida que seguimos catatônicos em direção a programas de baixo nível que nos oferecem momentos descartáveis em cenas lamentáveis como uma simulação de sexo ou uma possível situação de estupro. Até quando a mente humana pode suportar este tipo de alimento oferecido pelos realities? Até quando? Por quê? Até onde? Até...?

Perguntas e mais perguntas num cenário de quiz show onde já sabemos as respostas, só não queremos admitir. Fugir desta dependência. Não ser um mero profeta pregando no deserto palavreando como um dos personagens do filme, o advogado responsável por levar a público todo caso da TV americana: “Pensei que fôssemos pegar a televisão. A verdade é que a televisão vai nos pegar”. Vai não, já pegou. Isto é um fato. Triste, mas é um fato.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

As Aventuras de Tintim: O Segredo de Licorne (2011)


The adventures of Tintim: The Licorne secret’s, 2011. Dirigido por Steven Spielberg. Com Jamie Bell, Andy Serkins, Daniel Craig.


Nota: 8.5

Quando Steven Spielberg anunciou uma parceria com Peter Jackson para levarem ao cinema um dos quadrinhos mais famosos (não aqui no Brasil) às telonas, o mundo cinematográfico ferver. Dois dos grandes diretores de nosso tempo, um famoso por transformar ETs e tubarões em protagonistas formidáveis, outro responsável pela melhor saga de fantasia (com a proeza de conquistar um Oscar de melhor filme), só poderia resultar em um bom filme, certo? Errado.
As aventuras de Tintim é excelente. Feito com a tecnologia que fez dos asqueroso Gollum um dos personagens mais famosos de que se tem conhecimento, o primor das imagens digitalizadas criaram um mundo do qual seria impossível Spielberg transportar as vertiginosas situações em que o jornalista se mete. A perfeição das sequências são de arrepiar, e chega a passar a idéia de que são de verdade, não copias da realidade.

Neste O Segredo de Licorne, o roteiro engloba o momento em que TinTim conhece o capitão Haddock, para que juntos desvendem o mistério em torno da miniatura de navio. As histórias do passado e do presente do capitão se misturam os levando da Europa à África, e de maneiras menos convencionais possíveis. E também em meio a tiros socos e pontapés, e claro, a ajuda do cachorrinho Milu.

O êxito maior da epopeia é com certeza a proximidade que o filme tem com as aventuras de outro personagem marcante de Spielberg, o arqueólogo intrépido Indiana Jones. A experiência de ter dirigido uma aventura alucinante, com raros momentos para o público respirar, e tendo um sucesso de público e crítica consistentes, deu a ele a segurança necessária para fazer uma obra de animação, não direcionada ao público infantil, e ter a certeza de que será bem recebido.
Honras à parte para o fabuloso Andy Serkins. Entre os personagens que ganharam vida pelas expressões dos atores reais, o Capitão Haddock é o que apresenta o maior número de caras e bocas diferentes, e com uma naturalidade que só Serkins lhe poderia emprestar . Por fim, tudo um trabalho de mestre do cinema, com um mestre do fantástico, uma obra de arte que criará um outro conceito às animações, que estava mesmo precisando disso.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

As aventuras de Agamenon, o repórter (2011)

Dirigido por Victor Lopes. Com Marcelo Adnet, Hubert e Luana Piovani.


Nota: 2.2

As comédias que inserem uma intertextualidade cinematográfica em suas produções têm a missão de elevar o nível de sua obra, contribuindo assim para uma rápida identificação por parte do público. Esta seria a proposta de As aventuras de Agamenon – o repórter, produzido pelos eternos cassetas Hubert e Marcelo Madureira. Partindo deste princípio, o filme seria uma mescla de algo como Os Simpsons, com uma pitada de South Park e muito de Forrest Gump. Mas no final tudo terminou como uma extensão de um Casseta e Planeta para maiores.

A história começa com um ensandecido Pedro Bial (será por quê?) procurando pelo protagonista nos arredores do famoso Jornal onde trabalha. Em seguida, age como um documentário narrando as “proezas” de Agamenon (Marcelo Adnet / Hubert), repórter de O Globo desde o início de sua brilhante carreira, o casamento com sua amada Isaura (Luana Piovani) e sua incisiva participação nos mais relevantes fatos históricos mundiais. Bem como suas famosas entrevistas concedidas por personalidades como Gandhi e Martin Luther King, além de um encontro com Hitler. Nada que não tenhamos visto de forma semelhante em Forrest Gump. A diferença é que enquanto o filme que deu o Oscar a Tom Hanks era um drama, aqui era para ser uma comédia. Contudo, a julgar por sua péssima realização emaranhada em piadas grosseiras, momentos risíveis de até aonde vai o abismo que caiu o humor nacional, diríamos que neste quesito o filme fracassou. Visto que se o papel de uma comédia é criar momentos de riso, passou longe de seu objetivo. Os seus 73 minutos não conseguem arrancar nenhuma gargalhada, por menor que seja de qualquer indivíduo que tenha o mínimo de consciência do que está assistindo.

As Aventuras de Agamenon se apóia na jogada de desmoralizar figuras históricas. Esta tem sido a tônica de famosos programas humorísticos em todo o mundo. O próprio Casseta e Planeta sobreviveu tanto tempo na TV por conta disso, provando que não há nada demais na ideia, afinal, ver celebridades em momentos espontâneos (lê-se embaraçosos), nem que seja de modo fictício, tem divertido muita gente desde que inventaram o rádio e a TV. Entretanto, não se deve deixar de lado o mínimo de classe e estilo para realizar tal proeza. Esta é a diferença dos outros programas para este festival de besteiras.

No elenco, além dos cassetas Hubert e Marcelo Madureira, temos o queridinho das comédias de mau gosto Marcelo Adnet e a polêmica Luana Piovani, que antes de abrir a boca para falar mal de alguém, deveria repensar sua carreira artística. O mais absurdo, no entanto, é ver personalidades respeitáveis como Caetano Velloso e Paulo Coelho se prestando a este tipo de coisa. Ambos se juntaram a Jô Soares, Suzana vieira e Nelson Motta para dar depoimentos no falso documentário sobre a vida de Agamenon. E para completar o lapso estarrecedor, Fernanda Montenegro em seu momento de plebéia desbocada fazendo uma narração do filme. Não há outra palavra para descrever sua participação nesta comédia lamentável além de patética. Vindo de alguém que já concorreu a um Oscar, me leva a indagar sobre o que teria levado a embarcar nesta bobagem. Insanidade temporária ou apenas uma forte jogada de marketing para levar o público às salas de projeção?

Não há como saber. A única coisa que podemos ter certeza é de que As aventuras de Agamenon é algo para ser visto apenas por aqueles que querem se aventurar em coisas totalmente idiotas. Aqueles que, segundo Forrest, só fazem idiotices. E este filme com certeza é um belo exemplar deles.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

INDICADOS AO OSCAR 2012

Abaixo alista dos indicados de 2011. As maiores injustiças (ou tolices) foram a ausência de Leonardo DiCaprio, para ator, e As Aventuras de Tintim em animação.

MELHOR FILME

Os Descendentes
O Artista
A Invenção de Hugo Cabret
Cavalo de Guerra
Meia-Noite em Paris
O Homem que mudou o jogo
A Árvore da vida
Histórias cruzadas
Tão forte e tão perto

- Eu colocaria Os Homens que não amavam as mulheres no lugar de Tão forte e tão perto. Drive merecia uma chance, e ainda bem que não ignoraram o filme de Malick.

DIRETOR:

Michel Hazanavicius - O Artista
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores
: 1º indicação

Martin Scorcesse - A Invenção de Hugo Cabret
Prêmios anteriores: Diretor: Os Infiltrados (07).
Indicações anteriores: Diretor: Taxi Driver (76); Touro Indomável (81); Gangues de Nova Iorque (02); O Aviador (05); Os Bons Companheiros (93); A Última Tentação de Cristo (89). Roteiro adaptado: Os Bons Companheiros (93); A Época da Inocência (94).

Alexander Payne -Os Descendentes
Prêmios anteriores: Roteiro adaptado: Sideways - Entre umas e outras (05).
Indicações anteriores: Diretor: Sideways - Entre umas e outras (05); Roteiro adaptado: Eleição (99).

Woody Allen - Meia-Noite em Paris
Prêmios anteriores:Diretor: Noivo neurótico, noiva nervosa (77); Roteiro: Noivo neurótico, noiva nervosa (77); Hannah e suas irmãs (86); Tiros na Brodway (94).
Indicações anteriores: Ator: Noivo neurótico, noiva nervosa (77). Diretor: Interiores (78); Brodway Danny Rose (84); Hannah e suas irmãs (86); Crimes e pecados (89); Tiros na Brodway (94). Roteiro: Interiores (78); Manhattan (79); Brodway Danny Rose (84); A Rosa púrpura do Cairo (85); A Era do Rádio (87); Crimes e pecados (89); Simplesmente Alice (90); Maridos e esposas (92); Poderosa Afrodite (95); Desconstruindo Harry (97); Match Point (05).

Terence Mallick - A Árvore da Vida
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores
: Diretor: Além da linha vermelha (98).

- Seria um absurdo Malick ficar fora, talvez Fincher e Refn merecessem uma chance, mas a lista foi justa.


ATOR:

George Clooney - Os Descendentes
Prêmios anteriores: Ator coadjuvante:
Siryana - A indústria do petróleo (05)
Indicações anteriores: Diretor: Boa Noite e Boa sorte (05). Ator: Conduta de risco (07); Amor sem escalas (09).

Jean Dujardin - O Artista
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores:
1ª indicação

Brad Pitt - O Homem que mudou o jogo
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores: Ator coadjuvante
: Os Doze Macacos (95). Ator: O Curioso Caso de Benjamin Button (08).

Demian Bichir – A better life
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores:
1ª indicação.

Gary Oldman - O Espião que Sabia Demais
Prêmios anteriores: -
Indicação anterior: 1ª indicação

- Ignorar Leoardo DiCaprio prova que a Academia ainda tem seus preconceitos. Entretanto Oldman recebe uma merecida indicação por um 007 de verdade.


ATRIZ:

Meryl Streep - A Dama de Ferro
Prêmios anteriores: Atriz:
A Escolha de Sofia (83). Atriz coadjuvante: Kramer vs. Kramer (80).
Indicações anteriores: Atriz: A Mulher do tenente francês (82); O Retrato de uma coragem (84); Entre dois amores (86); Ironweed (88); Um grito no escuro (89); Lembranças de Hollywood (91); As pontes de Madison (96); Um amor verdadeiro (99); Música do coração (00); O Diabo veste Prada (07); Dúvida (09); Julie e Julia (10). Atriz coadjuvante: O Franco atirador (78); Adaptação (03).

Viola Davis - Histórias cruzadas
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores: Atriz coadjuvante:
Dúvida (09).

Michelle Willians - Sete dias com Marilyn
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores
: Atriz: Namorados para sempre (2011). Atriz coadjuvante: O Segredo de Brokback Mountain (06).

Rooney Mara - Os homens que não amavam as mulheres
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores:
1ª indicação

Glenn Close - Albert Nobbs
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores: Atriz:
Atração fatal (88); Ligações perigosas (93). Atriz coadjuvante: O mundo segundo Garp (83); O Reencontro (84); Um Homem fora de série (85).

- A exclusão de Tilda Swinton foi a grande surpresa, já que ela estava presente em quase todas as outras premiações. Glenn Close voltou a lista após quase duas décadas.


ATOR COADJUVANTE:

Christopher Plummer - Toda a forma de amor
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores:
Ator coadjuvante: A Última estação (2011)

Kenneth Branagh - Sete dias com Marilyn
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores: Ator:
Henrique V (89). Diretor: Henrique V (89). Roteiro: Hamlet (96). Curta de animação: Swan song (92).

Jonah Hill - O Homem que mudou o jogo
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores:
1ª indicação

Nick Nolte - Warrior
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores: Ator:
O Príncipe das marés (92); Temporada de caça (98).

Max Von Sydow - Tão forte, tão perto
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores:
1ª indicação

- Esperava por Von Sydow mesmo, é a chance da Academia de homenagear o veteraníssimo. A surpresa foi a exclusão de Albert Brooks (Drive), já que estava até cotado para vencer. Mas é bom mesmo vencer a volta de Branagh e o fôlego de Plummer.




ATRIZ COADJUVANTE

Octavia Spencer - Histórias Cruzadas
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores:
1ª indicação

Jessica Chastain - Histórias Cruzadas
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores
: 1ª indicação

Berenice Bejo - O Artista
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores:
1ª indicação

Melissa McCarthy - Missão madrinha de casamento
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores:
1ª indicação

Janet Mc Teer - Albert Nobbs
Prêmios anteriores: -
Indicações anteriores:
1ª indicação

- Melissa McCarthy roubou a cena da protagonista Kristen Wiig, mereceu sua indicação. As outras eram esperadas.



MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Meia- Noite em Paris – Woody Allen
O Artista – Michel Hazanavicius
Margin Call – J. C. Chandor
A Separação – Asghar Farhadi
Missão Madrinha de Casamento – Kristen Wiig e Annie Mumulo


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Os Descendentes - Alexander Payne, Nat Faxon & Jim Rash
A Invenção de Hugo Cabret - John Logan
O Espião que sabia demais - Bridget O’Connor & Peter Straughan
O Homem que Mudou o Jogo – Aaron Sorkin e Steve Zaillian
Tudo pelo poder - George Clooney & Grant Heslov


MELHOR DIREÇÃO DE ARTE

A Invenção de Hugo Cabret – Dante Ferretti
O Artista – Laurence Bennet
Harry Potter e as Relíquias da Morte parte II – Stuart Craig
Cavalo de Guerra – Rick Carter


MELHOR FOTOGRAFIA

A Árvore da Vida – Emmanuel Lubezki
O Artista – Guillaume Schiffman
Cavalo de Guerra – Janusz Kaminski
A Invenção de Hugo Cabret – Robert Richardson
Os Homens que não Amavam as Mulheres - Jeff Cronenweth


MELHOR FIGURINO

O Artista
A Invenção de Hugo Cabret
Jane Eyre
W. E.
Anônimo


MELHOR MONTAGEM



O Artista - Anne-Sophie Bion & Michel Hazanavicius
A Invenção de Hugo Cabret – Thelma Schoonmaker
Os Homens que não Amavam as Mulheres - Kirk Baxter & Angus Wall
O Homem que Mudou o Jogo – Christopher Tellefsen
Cavalo de Guerra – Michael Kahn


MELHOR MAQUIAGEM

A Dama de Ferro
Harry Potter e as Relíquias da Morte parte II
Albert Nobbs


MELHOR FILME ESTRANGEIRO

Bullhead - Bélgica
A Separação - Irã
Monseiur Lazhar - Canadá
Footnote - Israel
In Darkness - Polônia


MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

Gato de Botas
Rango
Chico & Rita
Um Gato em Paris
Kung Fu Panda 2


MELHOR TRILHA SONORA

O Artista – Ludovic Bource
Cavalo de Guerra – John Willians
A Invenção de Hugo Cabret – Howard Shore
As Aventuras de Tintim: O Segredo de Licorne – John Willians
O Espião que sabia demais – Albert Iglesias


MELHOR MIXAGEM DE SOM

Cavalo de Guerra
A Invenção de Hugo Cabret
Transformes 3: O lado Oculto da Lua
O s homens que não amavam as mulheres
O homem que mudou o jogo


MELHOR SOM

Cavalo de Guerra
A Invenção de Hugo Cabret
Transformes 3: O lado Oculto da Lua
Drive
Os homens que não amavam as mulheres


MELHORES EFEITOS VISUAIS

Planeta dos Macacos
Transformes 3: O lado Oculto da Lua
A Invenção de Hugo Cabret
Harry Potter e as Relíquias da Morte parte II
Gigantes de aço


MELHOR CANÇÃO

Man or Muppet – Os Muppets
Real in Rio – Rio


MELHOR CURTA METRAGEM

Pentencost
Raju
The shore
Time freak
Tuba Atantic


MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO


Dimanche
The fantastic flying books of mister Morris Lessmore
La Luna
A Morning stroll
Wild life


MELHOR DOCUMENTÁRIO

Hell and back again
Pina
If a tree falls
Paradise lost 3: Purgatory
Undefeated


MELHOR DOCUMENTÁRIO CURTA METRAGEM

God is the big Elvis
The barber of Birmingham: Foot soldier of the civil rights moviments
Incident in New Baghdah
Saving face
The tsunami and the cherry
Blossom

Cavalo de Guerra (2011)


War Horse, 2011. Dirigido por Steven Spielberg. Com Jeremy Irvine, Emily Watson, Tom Hiddlestone, David Twelis.
Nota: 8.6

Steven Spielberg é um mestre da história do cinema mundial, isso talvez faz com que cinéfilos considere sua obrigação fazer obras-primas toda vez que decide filmar. Mas a verdade é que o diretor também tem seu direito a criar algo que seja mais coração do que a razão que já o fez conquistar dezenas de prêmios durante toda sua carreira.


Talvez por isso seu Cavalo de Guerra seja o mais “mole” de seus filmes, por que é uma história que tocou seu coração em um teatro. Entretanto, engana-se que pensar que este não está à altura de sua cinematografia. Para fazer o público chorar, Spielberg recorreu à sua cancha em construir espetáculos e contou a trajetória do cavalo que venceu todas as adversidades, atravessou uma guerra, e mudou a vida de quem cruzou seu caminho, além de mostrar que nem só de monstros é constituída uma batalha de tal porte.


O forte do longa é justamente onde o diretor não costuma acertar, a ministração das emoções, que neste caso vem de maneira controlada. Claro, em alguns casos chega a beirar o pieguismo, que pelo bem, sempre termina antes que tenhamos de recorrer à agua com açúcar. Com o simples método de “bater e depois assoprar”, o filme tem um equilíbrio que muitos não conseguem obter. Além de tudo isso, a forma de como trata a perda, recorrente em todos os mini episódios em que se divide, deixa claro que através da saga do cavalo Joey, pudéssemos enxergar que mesmo que amamos alguém, a qualquer momento, por qualquer motivo poderemos perde-lo.


Com uma trilha sonora formidável, uma das melhores de John Willians, é possível perceber os momentos de felicidade, compaixão e terror. Através dos olhos de Albie, da pequena Emilie, ou do jovem Gunther , o cavalo era apenas uma metáfora para o amor, algo em que acreditar em meio a tanta desgraça. O problema do longa é o pouco tempo em que a história de quem atravessa o caminho de Joey, há pouco tempo para se desenvolver seus dramas, o que prejudica o entendimento dos menos atentos.


Na parte técnica não há o que se esperar de diferente de Spielberg, desde a fotografia impecável de seu fiel Janusz Kaminski até a aplicação de seus recursos para criar um ambiente de guerra formidável, será sempre o melhor nesses aspectos. Talvez o filme não agrade os mais admiradores deste seu potencial em criar pirotecnias, e com certeza também é um fato de que não está no patamar de seus melhores filmes. Mas é Steven Spielberg, e por isso só já eleva Cavalo de Guerra à categoria de bom filme.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Drive (2011)


Drive, 2011. Dirigido por Nicolas Winding Refn. Roteiro de Hossein Amini baseado no livro de James Sallis. Com Ryan Gosling, Carey Mulligan, Albert Brooks, Ron Pearlman.


Nota: 9.0

Num ambiente soturno, tenso e por vezes aterrorizante, Nicolas Winding Refn conduz seu faroeste moderno com direito a um cavaleiro solitário como nos bons tempos do casamento Eastwood/Leoni. Ryan Gosling encarna o herói da história, um estranho sem nome na literalidade do termo, que trabalha em uma oficina mecânica e faz bicos como piloto de fuga em alguns assaltos. Entretanto seu talento para pilotar faz com que seu chefe e amigo Shannon aposte nele como uma promessa da Nascar, fazendo com que abandone a vida bandida. O fato de se relacionar com sua vizinha Irene (Carey Mulligan) e o filho dela, também o faz repensar a vida. Mas, quando tem de fazer um último trabalho para salvar a pele dos dois, mostrará que um verdadeiro herói não precisa necessariamente de superpoderes.


O filme de Winding Refn é de uma dureza crua, como nos exemplares construídos pelos Irmãos Cohen, porém sem o humor negro e pertinente. O jogo de sombras deixa o clima tenso e por vezes sombrio, como a própria natureza do personagem, tudo intercalado pelo silêncio dos protagonistas e a trilha sonora bem constituída. A manipulação de planos nos coloca a par da visão do motorista, sem, claro, permitir uma invasão de sua personalidade.

As situações de violência extrema, mantidas por vezes em câmera lenta acentua o teor claustrofóbico, mas permite que o expectador perceba uma certa dualidade no personagem de Gosling, aliás, em todos é possível perceber. Talvez esse seja o triunfo do roteiro, diferentemente dos westerns, os vilões e os mocinhos não são formados por um maniqueísmo bem destacado, são compostos de lados opostos, tudo ao mesmo tempo. Fica ao público tirar as próprias conclusões.


Gosling empresta ao longa sua melhor interpretação. Com o palito na boca extrai o que os errantes de Eastwood tinham de melhor, e os malvados de Lee Marvin, de pior e cria um herói diferente. Acompanhado de perto pela talentosa Mulligan, e por um Albert Brooks formidável, transformam Drive no melhor e mais surpreendente suspense do ano. Um belo feito para um diretor pouco rodado.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Meia-Noite em Paris (2011)

Midnight in Paris, 2011. Escrito e dirigido por Woody Allen. Com Owen Wilson, Marion Cotillard, Rachel McAdams, Adrien Brody, Kathy Bates e Michael Sheen.Nota: 9.3


Quando Woody Allen descreve algo de seus alteregos em seus filmes, os personagens são tão incríveis quanto à própria carreira do cineasta. Mas neste seu Meia-Noite em Paris o diretor exagera na poesia e declara amor às cidade-luz e aos grandes mestres das artes, inspiradores de toda sua obra.

Dizem que a capital francesa é apaixonante, e a sentença fica mais verdadeira quando o puro Jazz toma conta dos primeiros minutos de apresentação da cidade. O ponto de início demarca a situação do roteirista hollywoodiano e escritor medíocre Gil (Owen Wilson), que não demonstra estar em sintonia com sua noiva Inez (Rachel McAdams). Quando decide passear sozinho pelos boulevards, encontra não apenas grandes nomes da história da arte mundial, mas também uma grande verdade sua própria natureza.

Ninguém melhor que Allen para levar ao conhecimento do público escritores, pintores e músicos famosos. Roteirista de cunho tão grande quanto sua sensibilidade de direção era de se esperar que tivesse o mote perfeito para contar suas histórias se incluindo em meio aos conflitos. Em meio a tudo, o diretor cria um paralelo que mostra a insatisfação do ser humano com a vida, sempre desejando algo que jamais vai alcançar, felicidade plena. Aqui, imaginando que tudo seria diferente se tivesse vivido naquela época.

Nesse aspecto, o sentimento de espelhar sua própria sorte à de grandes ídolos não se distancia da jovem que tem um caso com um astro do cinema que sai das telas por corresponder ao amor da moça em A Rosa Púrpura do C airo (1985), que é também um desejo latente de possuir o que não podemos. Mas Allen faz isso não da maneira convencional de comédias românticas e afins, transforma a ânsia do personagem de Wilson em uma epopeia fantástica e nostálgica, e mostrando que seu fetiche por Adriana (Marion Cotillard) não passa pela vontade de ser como os mestres dos quais a moça era amante.
Terminada essa espécie de crise de identidade, se percebe que na verdade não é o amor do diretor pelas obras alheias o principal deu seu roteiro, como pode parecer desde o início, e sim sua fervorosidade pela sua própria arte. Simplesmente no fim de tudo deixa claro que jamais será um John Ford, Willian Wyler ou George Stevens, mas continuará a ser Woody Allen em seu brilhantismo e controvérsias. Um homem capaz de dar uma aula de arte, sob aspectos cinematográficos inebriantes e criar (mais uma) obra-prima.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

QUANDO RIR NÃO É O MELHOR REMÉDIO



Certa vez em um programa de TV a humorista Maria Clara Gueiros falou da diferença entre se fazer drama e comédia. Analisando o grau de dificuldade de ambos, elegeu a comédia como algo mais difícil a se fazer. Segunda ela, o drama é estático, unilateral. Fazer chorar é algo inapelável, ou você arranca as lágrimas providenciais ou tem de conviver com o fato de que não consegue emocionar ninguém. Já a comédia, tem muitos apelos, nuances improviso, que te levam a vários caminhos. Esse é o problema. Ou você se transforma no centro catalizador do riso, ou vira a própria piada, e se pega rindo, você sozinho ou de você mesmo. Neste caso, a exposição é maior quando se necessita de uma aprovação imediata. A rejeição pode significar o fim de uma carreira promissora no humor. Diante destas situações, optar por um caminho mais fácil pode muitas das vezes transformar uma boa comédia em algo profundamente lamentável de se ver.

Uma tirada inteligente, um sarcasmo bem-vindo em momentos oportunos, uma ironia cética, são ferramentas indispensáveis na arte de se criar uma comédia saudável, as chamadas comédias cabeça. Mais do que fazer o público rir, elas têm como objetivo elevar o nível da condição, provocando uma satisfação bem-vinda que liga o humor à reflexão. Este tipo de comédia age objetivamente na capacidade de pensar, de usar mais a cabeça do que os olhos. Ou seja, não é necessário presenciar a situação, basta apenas imaginar como ela se realizaria. Este processo infelizmente é algo que tem perdido espaço para as comédias mais escrachadas e exageradamente apelativas. Rir de uma situação inusitada é o forte de uma boa piada, mas o que fazer diante de situações que fogem do controle chegando à beira do asco?

O sucesso ou o fracasso de uma piada depende da maneira que se interpreta seu contexto. E é inevitável se fazer humor sem usar os “elementos especiais.” As pessoas em suas relações sociais, bem como sexo e sexualidade. Nas relações vemos os grupos específicos de pessoas. Neles se encaixam os homossexuais, os negros, as loiras, os gordinhos, os imigrantes e judeus. São eles os protagonistas mais visados na hora de contar uma piada. A polêmica se instala quando boa parte dos defensores destes grupos não aceita a maneira como estes temas são abordados, acreditando ser um tipo de retaliação por parte das pessoas encarregadas do humor.

No entanto, cabe ao público ou até mesmo a estes grupos, interpretar o grau de insulto que estas piadas possam acarretar. E isto é pensar. Usar a cabeça para trabalhar em prol ou contra a um determinado estilo de achar ou não engraçada uma determinada situação. São estas as bases que sustentam, por exemplo, há mais de 20 anos, o humor irônico de Os Simpsons. Apesar de em algumas vezes serem tachados de ofensivos, é inevitável não cair na gargalhada vendo que este tipo de ofensa vem de personagens tão infames que se tornam o centro do deboche de suas próprias piadas.
Se você não consegue levar a sério o que Homer Simpson diz ou da maneira escrachada como age, está no grupo de pessoas que sabem aceitar que a origem da piada vem do próprio ser humano, onde por vezes se encontra rindo do preconceito em si e não do grupo a qual ele almeja. “A piada é uma conversão de algo ruim em algo engraçado. O cerne da piada é sempre alguém que não seja você”, explica a humorista Natália Klein. Portanto, quando você tenta analisar, ou seja, dissecar a piada, não há mais razão dela existir e aí cai no limbo de sua mente. Bem como afirma o cartunista Laerte: “Se em nome de analisá-la, você parte para a vivissecção, ela morre e daí não adianta continuar”. Este foi o motivo pelo qual a comédia Legalmente Loira fez tanto sucesso. Além de colocar a atriz Reese Winsterpoom no hall das grandes estrelas de Hollywood, o filme começa como um insulto à capacidade intelectual da jovem e termina como uma resposta sadia a seus críticos numa grande reviravolta. Um êxito perfeito no que diz respeito ao sintoma e sua solução.

Além dos grupos humanos, as conotações sexuais são as mais relevantes na hora de fazer rir. Este é um poderoso fio condutor das chamadas piadas de duplo sentido, aquelas que nos permitem uma interpretação subjetiva. Até aí tudo bem. Mas quando estas piadas ganham um corpo, ou seja, o ver se torna mais importante que o imaginar, as coisas fogem do controle e o que era para ser engraçado acaba provocando certo desconforto para quem assiste. Roberto Santucci, diretor da comédia nacional De Pernas Pro Ar, analisa este elemento da forma mais racional quando se leva em consideração o contexto ao qual ele pode estar inserido. Pode servir tanto como a isca ou como o motivo de afastamento do público.

Coisas do tipo O Virgem de 40 Anos, que nos viola com cenas insistentes de puro descarte, vimos uma moça vomitando em cima do protagonista dentro do carro após beber todas, ou o nacional Muita calma nessa hora, de um humor bobo sem pé nem cabeça, o rapaz tem que pegar seus objetos pessoais no vômito de uma das moças com quem saiu, é de dar náusea em qualquer um. É triste constatar que alguém pode ter achado alguma graça em uma das cenas de Quem vai ficar com Mary? Aonde vimos uma chuva de esperma rompendo o ar. Todos tentando beber da fonte de American Pie, o pioneiro do gênero. E o mais triste ainda é constatar que este tipo de comédia é algo que faz a “cabeça” do público jovem que lota as salas de projeção em busca de um humor descartável e nada saudável para a mente.

Na sociedade doente em que vivemos hoje, a comédia se torna cada vez mais uma válvula de escape para os inúmeros problemas que enfrentamos a cada momento. Rir é o melhor remédio para deixar de lado, nem que seja por alguns instantes, tantos absurdos que permeiam nossos noticiários todos os dias. Contudo, é preciso que saibamos exatamente de qual elemento é feito este remédio e que benefício extra ele pode gerar para o corpo e principalmente para a mente. Pois se não surtindo o efeito esperado, é provável que as contraindicações sejam as piores possíveis.


AMIZADE COLORIDA (Friends with benefits, 2011)

Com Mila Kunis e Justin Timberlake
Cotação: ☻☻☻

O filme é bem mais que uma chata comédia romântica. Primeiro, ele foge dos padrões estereotipados do gênero ao brincar ironicamente com filmes do mesmo. O amor aqui é colocado como um simples clichê superado pelo forte apelo sexual do casal de protagonistas que se veem desiludidos depois de terminarem seus relacionamentos amorosos. Mila Kunis vive uma headhunter nova-iorquina que tenta trazer para sua cidade um promissor editor de um blog em Los Angeles vivido por Justin Timberlake. De colegas profissionais eles passam a amigos ocasionais que resolvem superar suas frustações amorosas entre os lençóis. Tudo em comum acordo. O sexo sem compromisso os leva a descobrir os verdadeiros sentimentos que um nutre pelo outro à medida que o relacionamento passa a ir além do físico. As cenas de sexo entre a dupla de atores fogem da grosseria e vulgaridade dando um tom de leveza a um assunto tão complexo. E os diálogos desmistificam o tabu em torno disso. A química esfuziante entre a bela Kunis e o charmoso Timberlake é o estopim do êxito desta comédia, que junto com as participações mais que especiais do excêntrico Woody Harrelson, como o amigo gay do rapaz, e Patrícia Clarkson como a desinibida e confidente mãe da moça, fazem deste filme algo bem colorido de se ver.

ESPOSA DE MENTIRINHA (Just go with it , 2011)

Com Adam Sandler e Jennifer Aniston
Cotação: ☻
Embora o filme tenha tido o mérito de reunir dois grandes nomes quando o assunto é comédia, não dá para aguentar uma sinopse tão machista permeada de piadas insossas dentro deste contexto. Sandler interpreta o mesmo personagem em todos seus filmes. Não há nenhum esboço que seja ínfimo de sinal que lembre uma interpretação de sua parte. Talvez ele já tenha percebido que suas caras e bocas são suficientes para arrecadar milhões em bilheterias. Chato e extremamente cansativo, o ator nem de longe consegue arrancar risadas sem ser débil ou infantil. Esta certamente é a explicação de suas melhores cenas serem na companhia de crianças. Vendo Sandler interpretar personagens tão generosamente valorizados em questão de relacionamentos, dá vontade de fazer um filme assim também. Leo Di Caprio e Brad Pitt não me escapariam! Aqui o vimos interpretando (mais uma vez) um conquistador que para “pegar” a mulher por quem se interessou, faz um acordo com sua assistente. Uma tímida e sonolenta profissional, que de repente dá lugar a um tremendo mulherão no corpo de Jennifer Aniston. Só mesmo um idiota para não querer ficar com a “esposa de mentirinha”, uma vez que Aniston é bem mais bonita e atraente que a tal que ele tenta conquistar. A mentira cresce em proporções colossais virando uma avalanche de erros. No final, ele descobre (finalmente!) que a esposa de mentirinha é a mulher ideal para ele. Algo que não necessitaria de quase duas para acontecer. Um humor idiota engrossando diálogos pobres em situações esquecíveis entre os personagens. Nem mesmo a participação da lindíssima Nicole Kidman como uma ex-colega de infância fútil da personagem de Jeniffer, ajuda a alavancar esta bobagem. De positivo, só mesmo a beleza e o carisma inigualável de Aniston. A única coisa no filme que não é de mentirinha.

Se Beber Não Case Parte II (2011)


The Hangover Part II, 2011. Dirigido por Todd Phillips. Com Bradley Cooper, Zach Galiafinakis, Ed Helms, Justin Bartha, Paul Giamatti.
Cotação: ☻

Investir em uma continuação é um risco absoluto, ficando em um meio termo de agradar aos fãs do primeiro e manter o sucesso, ou simplesmente se embrenhar por caminhos obscuros, provocando ojeriza em quem o ver. No caso das comédias, este risco aumenta muito pelo lado do fracasso, pois salvo longas que tem a comédia apenas como suporte, no caso de Piratas do Caribe e o mais recente Sherlock Holmes, que nasceram ação e se constituíram de uma aura sarcástica.



Em Se Beber Não Case 2 podemos acompanhar o naufrágio de uma franquia que só teria condições de continuar caso se reformulasse, criasse novas situações, que fossem estapafúrdias como o primeiro, porém que não escapasse do aceitável por qualquer mente perturbada. Na trama, Stu (Ed Helms) decide se casar com uma bela jovem na terra natal de seus pais, a Tailândia. Sem querer as mesmas confusões que ocorreram em Lãs Vegas, decide não fazer uma despedida de solteiro. Entretanto, algo sai errado e eles acordam de ressaca em uma espelunca de Bangcoc sem se lembrarem de nada. Daí para frente terão pouco mais de um dia para achar o irmão da noiva desaparecido e chegar a tempo para o casório.


Não é uma sinopse do primeiro, mas é incrivelmete semelhante. Todd Phillips parece ter se preocupado apenas em fazer como um episódio de um siticom mal feito. Construiu todas situações da mesma forma do primeiro, só trocando personagens (Em alguns casos nem isso) e a modo absurdo de como as sequências se dão. Para provocar a sensação de novidade, insere um macaco traficante na história, o que só causa mesmo a fúria de ambientalistas. Até cada o momento em que os personagens desisitem, e de súbito descobrem o paradeiro do futuro cunhado, em um lugar óbvio como na parte I.

Nem o carisma de Zach Galiafinakis e Bradley Cooper consegue reverter a péssima impressão e a sensação nauseante em seus minutos finais. Uma prova de que nem tudo merece continuação, ou seja, nem tudo pode ter uma continuação. Mais um exercício de falta de criatividade e estupidez da indústria cinematográfica americana, que não rende nem uma boa péssima crítica.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Vencedores do Globo de Ouro 2012: Cinema

Entregue o Globo de Ouro, rufam os tambores para o Oscar. Algumas categorias tem favoritíssimos também à estatuetas, em outras nem tanto. Mas eis aí os grandes vencedores, seguidos de comentários do blog.



Melhor filme - Drama:
"Os Descendentes" Vencedor

''Histórias Cruzadas"
''A Invenção de Hugo Cabret"
''Tudo pelo Poder"
''O Homem que Mudou o Jogo"
''Cavalo de Guerra"



Os votantes da Academia estavam totalmente perdidos. Acho o filme de Payne inferior aos seus adversários. Entretanto para o Oscar a disputa será entre O Artista, A Invenção de Hugo Cabret, Cavalo de Guerra e A Árvore da Vida, ignorado pela premiação.

Melhor filme - Musical ou Comédia:
''O Artista" Vencedor
"50/50"
''Missão Madrinha de Casamento"
''Meia-noite em Paris"
''My Week With Marilyn."

- O único adversário de O Artista era o filme Woody Allen. Entretanto o filme francês é franco favorito ao Oscar.

Melhor ator - Drama:
George Clooney, "Os Descendentes" Vencedor
Leonardo DiCaprio, "J. Edgar"
Michael Fassbender, "Shame"
Ryan Gosling, "Tudo pelo Poder"
Brad Pitt, "O Homem que Mudou o Jogo"

- A admiração dos votantes da imprensa internacional por George Clooney é incrível. Acho que DiCaprio e Pitt mais merecedores do ele., que se sai melhor atrás das câmeras. Para o Oscar, acredito que Dujardin sairá vencedor, já que a academia (injustamente) não premiará os bonitões de J. Edgar e Moneyball.

Melhor atriz - Drama:
Meryl Streep, "A Dama de Ferro" Vencedora

Glenn Close, "Albert Nobbs"
Viola Davis, "Histórias cruzadas"
Rooney Mara, "O Homem que não Amava as Mulheres"
Tilda Swinton, "Precisamos Falar Sobre o Kevin"

- Se Meryl Streep vence, nunca será injustiça, ainda mais incorporando Margareth Tatcher, aí é demais. Mas ainda acho que a disputa está aberta para o Oscar entre ela, Viola Davis e Michelle Willians.

Diretor:
Martin Scorsese, "A Invenção de Hugo Cabret" Vencedor
Woody Allen, "Meia-noite em Paris"
George Clooney, "Tudo pelo Poder"
Michel Hazanavicius, "O Artista"
Alexander Payne, "Os Descendentes"

- Tenho a impressão de que Scorcesse ganhou mais pelo seu grande nome. Apesar de seu filme ser de um primor absoluto, é mais comercial e menos arte. Um equívoco. Mas para a Academia, a razão se sobrepõe ao coração, o que deixa Allen e Hazanavicius em vantagem.

Melhor ator - Musical ou Comédia:
Jean Dujardin, "O Artista" Vencedor

Brendan Gleeson, "O Guarda"
Joseph Gordon-Levitt, "50/50"
Ryan Gosling, "Amor a Toda Prova"
Owen Wilson, "Meia-Noite em Paris"

- Com certeza é a melhor atuação dentre os indicados. Apesar do esforço de Gleeson, Levitt e Wilson, o resultado é justo. Gosling talvez vá ao Oscar por Drive. Agora o francês terá um páreo duro para conseguir levar a estatueta.

Melhor atriz - Musical ou Comédia:
Michelle Williams, "My week with Marilyn" Vencedora
Jodie Foster, "Carnage"
Charlize Theron, "Jovens adultos"
Kristen Wiig, "Missão Madrinha de Casamento"
Kate Winslet, "Carnage"

- Com certeza a disputa mais desigual. Era impossível que Willians perdesse, e é uma das favoritas ao Oscar ao lado de Viola Davis.

Melhor ator coadjuvante:
Christopher Plummer, "Beginners" Vencedor
Kenneth Branagh, "My week with Marilyn"
Albert Brooks, "Drive"
Jonah Hill, "O Homem que Mudou o Jogo"
Viggo Mortensen, "Um Método Perigoso"

- Era esperada a vitória de Plummer, já que seu personagem é muito forte. Além de ser uma espécie de homenagem por toda sua carreira incrível. Também favoritíssimo ao Oscar.

Melhor atriz coadjuvante:
Octavia Spencer, "Histórias Cruzadas" Vencedor
Berenice Bejo, "O Artista"
Jessica Chastain, "Histórias Cruzadas"
Janet McTeer, "Albert Nobbs"
Shailene Woodley, "Os Descendentes"

- Com a atuação excepcional de Histórias Cruzadas, Spencer só teria sua companheira Jéssica Chastain como adversária. Parece inevitável sua vitória no Oscar.

Melhor filme em língua estrangeira:
''A Separação" Vencedor
"The Flowers of War"
''In The Land of Blood and Honey"
''O Garoto da Bicicleta"
''A Pele que Habito"

- Vencedor de tudo o que podia até agora, o filme que trata de um divórcio em um país como o Irã é no mínimo forte. O Garoto da Bicicleta, único que poderia vence-lo não vai ao Oscar. Separação esta com a estatueta nas mãos, azar para o nosso Tropa, se ele for indicado, claro.

Melhor filme de animação:
"As Aventuras de Tintin: O Segredo de Licorne" Vencedor
''Operação Presente"
''Carros 2"
''Gato de Botas"
''Rango"

- Apesar de ser muito interessante a crise de identidade do camaleãozinho Rango, Spielberg unindo-se a Peter Jackson para adaptar um famoso quadrinho, ainda por cima com qualidade digital de primeira, é covardia. Também favoritíssimo ao Oscar.

Melhor roteiro:
Woody Allen, "Meia-noite em Paris" Vencedor
George Clooney, Grand Heslov e Beau Willimon, "Tudo pelo poder"
Michel Hazanavicius, "O Artista"
Alexander Payne, Nat Faxwon e Jim Rash, "Os Descendentes"
Steven Zaillian e Aaron Sorkin, "O Homem que Mudou o Jogo"

- Apesar da ousadia e poder do argumento de Hazanavicius em O Artista, não há como resistir à fantástica e melancólica epopéia de Allen com os grandes nomes da história da arte européia. Entretanto para o Oscar, acredito na vitória do francês.

Trilha sonora original
Ludovic Bource, "O Artista" Vencedor

Abel Korzeniowski, "W.E."
Trent Reznor e Atticus Ross, "Os Homens que Não Amavam as Mulheres"
Howard Shore, "A Invenção de Hugo Cabret"
John Williams, "Cavalo de Guerra"

- Em um filme em mudo, seria de grande importância que a trilha fosse especial. Com um trabalho bem feito, vitória merecida.

Melhor canção original:
“Masterpiece” (música e letra de Madonna, Julie Frost, Jimmy Harry), “W.E.” Vencedor

"Hello hello" (música de Elton John, letra de Bernie Taupin), "Gnomeu e Julieta"
"The keeper" (música e letra de Chris Cornell), "Redenção"
"Lay your head down" (música de Brian Byrne, letra de Glenn Close), "Albert Nobbs"
"The living proof" (música de Mary J. Blige, Thomas Newman, Harvey Mason Jr., letra de Mary J. Blige, Harvey Mason Jr., Damon Thomas), "Histórias cruzadas"
- Estranha esta vitória. Apesar de ser uma bela canção, não era a melhor. Talvez nem para a lista do Oscar vá.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A nova era do Cinema brasileiro



O cinema nacional vem em uma parábola crescente - mesmo que as produções “novelizadas” ainda sejam a maioria – trazendo reconhecimento internacional digno ao Cinema que já foi reverenciado e aplaudido pelo mundo a fora na época das epopéias paradoxais de Glauber Rocha e cia. com o movimento do Cinema Novo. A década que terminou a menos de um mês trouxe uma nova cara para nossas produções, batendo forte aonde dói nos brasileiros, traz um choque de realidade que traduz, de fato, o que muitos brasileiros enfrentam todos os dias para se manterem vivos.
Filmes como Caminho das Nuvens, Abril despedaçado, Linha de Passe e 5x Favela – Agora por nós mesmos, preocuparam em fazer cinema real, em cada um deles focando os diferentes problemas enfrentados por brasileiros em diferentes regiões do país. Porém Cidade de Deus e Tropa de Elite 1 e 2 vieram criar novos parâmetros. Fernando Meirelles e José Padilha foram além e mesclarem “cinemão” à lá Hollywood, com a precisão de um roteiro bem construído e preocupado em ser arte. Reforçaram o mote e não se preocuparam em “ofender” as autoridades públicas, com o choque de realismo que faz até os mais céticos às mazelas de nossos governantes sair das sessões se sentindo traído por eles.
Esse papo de “queimar nosso filme lá fora” é demagogia barata de político que acha a população totalmente imbecil. Claro, a grande parte dela é carente de informações e vivem à mercê de uma monocultura televisiva que prega a manutenção deste ou aquele poder estável. Por isso a dificuldade de se assimilar a dura realidade desses longas, e não é de se estranhar alguém falar que o estado de caos na cidade de São Paulo mostrado no mediano Salve Geral de Sérgio Rezende é um grande exagero. Para estas pessoas, isto é sensacionalismo barato da imprensa marrom, já que somos a sexta economia do mundo.
Ainda é cedo para elevar este momento de hiper-realismo de nosso cinema será algo que influenciará nosso meio cultural, como fez o Cinema Novo. Mas o fato é que seu enriquecimento quantitativo e qualitativo não pode ficar despercebido. Além disso, outras produções com discurso menos político, mas não menos contemporâneo, acena para o fim da desconfiança de que nosso cinema apela à violência para conseguir bons resultados. Os maiores exemplos são o bom As Melhores Coisas do Mundo de Laís Bodanzky, e o excelente sucesso de público e crítica O Palhaço de Selton Mello.
Talvez essa fase não seja uma reedição da época de ouro de Rocha e cia. e sim a criação de um novo estilo, algo com mais apelo comercial, mas também com maior liberdade que os antepassados não tiveram. É a oportunidade de crescimento real, a chance de mostrar que o Brasil não é apenas o país do futebol. Daqui há algum tempo podemos chama-la de Cinema Novíssimo ou Neo-Realismo Brasileiro. Mas primeiro, o bom momento deve persistir.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

HISTÓRIAS CRUZADAS (The Help, 2011)


The Help, 2011. Dirigido por Tate Taylor. Com Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer,Jessica Chastain, Bryce Dallas Howard e Sissy Spacek.
Cotação: ☻☻☻

Com um roteiro que funde os ideais femininos de uma época desigual, o filme é um forte candidato a estar entre os “oscarizáveis” de 2011, principalmente pelas atuações de suas atrizes. Um fabuloso e divertido conto sobre coragem, respeito e humanidade. Paulo Silva


Ser mulher num mundo povoado de preconceitos e preceitos infundados muitas das vezes nos cala perante situações inócuas recheadas de inadequações aos princípios de humanidade. Uma mulher que nasce com a coragem suficiente para se fazer ouvir e, mais especialmente, se entender neste mundo, em qualquer época que seja, merece ser lembrada com carinho e admiração através dos tempos. Mulheres que ousaram desafiar os padrões impostos pela sociedade maniqueísta a qual deveriam silenciosamente pertencer. São as chamadas mulheres a frente de seu tempo. Ou seja, aquelas que nasceram na hora certa e no tempo errado. Será mesmo?

Em 2003, o diretor Mike Newell dirigiu o excelente O Sorriso de Monalisa em que Julia Roberts encabeçando um elenco de jovens estrelas, interpretava uma professora recém-chegada a um tradicional e ultraconservador colégio para moças. Katherine Watson fazia mais que lecionar história da arte. Com suas ideias liberais, aos poucos ela foi se tornando uma espécie de mentora para além dos muros da escola, interferindo beneficamente na vida de suas alunas de Wellesley. Seu comportamento, como era de se esperar, causou um profundo impacto moral para a maioria das conservadoras do lugar. Atraída pelas possíveis mudanças daquela época, Katherine se deixou iludir pelo chafariz de promessas na formação de mulheres fortes e independentes que seriam futuramente o modelo de um futuro promissor, uma vez que ali se encontrava as mulheres mais inteligentes do país. Contudo, ela aprendeu que as mudanças que tanto ansiava viriam de forma gradativa e isso fez com que optasse em derrubar outros muros do preconceito fora dali. “Uma escola de boas maneiras disfarçada de colégio”, conclui melancolicamente em uma das passagens do filme.




Em Histórias Cruzadas (The Help), a jornalista Skeeter Phelan (Emma Stone) não teve o mérito de fazer ouvir. Ela foi mais além. Foi a mão que conduziu um grupo de empregadas negras do estado do Mississipi a desafiar os limites comportamentais da época. Domésticas que ousaram contar em alto e bom som suas próprias histórias. Com coragem, a jovem Skeeter que foi nascida e criada para desempenhar os papéis que toda moça de boa família da cidade nascera para desempenhar. Quando foge deste padrão, a jornalista é tachada de “diferente” por todos e até mesmo por sua mãe, que chega a sugerir um “remédio especial para tratar seus problemas”.

Skeeter era realmente especial. Uma mulher que se preocupava com o amor em sua forma mais universal, e não apenas canalizado entre maridos e filhos. Uma mulher que viu o casamento como opção, não uma solução. Foi este princípio inflamado pelo amor universal que a fez enxergar em sua babá negra um espelho para sua vida. Impulsionada por estes ideais, a jornalista decide se unir às corajosas Aibileen (Viola Davis) e Minny (Octavia Spencer) e imortalizar suas histórias através de um livro. Nele, ambas puderam fazer o que legalmente era impossível naquela época. Ter voz e vez.

Nas histórias, contavam todo e qualquer detalhe dos mais curiosos aos escabrosos da vida de seus patrões através de suas visões de subordinadas. Ao optar por uma ótica diferente, Skeeter realiza seus desejos de aceitação quanto mulheres e mães. Isso se dava por conta de um poderoso vínculo maternal com os filhos de suas patroas. No entanto, com a segregação racial que ditava o modelo comportamental daquele tempo, era impossível de se integrar formalmente ao núcleo familiar ao qual serviam. E para as crianças, discernir entre a mãe biológica e a mãe de fato, se tornava uma tarefa confusa e difícil. Em suma, podiam limpar as fraldas das crianças, mas não frequentar o mesmo banheiro dos patrões.

Daí surge as esposas caricatas como Hilly Hollbrook (Bryce Dallas Howard). Uma exímia representante de moças formadas pelo colégio onde Katherine lecionava e seus papéis que teriam nascido para desempenhar, conseguem fracassar nos dois níveis por meio de uma série de equívocos alimentados pelo preconceito que comodamente molda sua personalidade. O de esposa e de mãe. Estes parâmetros regiam as relações estabelecidas entre as mulheres brancas e negras até que a jovem Skeeter cruza o caminho de Aibileen e Minny estendendo suas duas mãos para as súplicas quase asfixiantes. Mãos que serviram como mecanismo de libertação para ambas por meio das palavras orais e escritas.

Tanto em O Sorriso de Monalisa quanto em Histórias Cruzadas, vimos que a expressão mulheres a frente de seu tempo não deviam definir as personagens de Julia e Emma diante da postura admiravelmente corajosa de ambas. Elas não foram e nem são mulheres a frente de seu tempo. São mulheres a frente de todos os tempos. Mulheres que se não tivessem ousado em um tempo onde a ousadia era uma palavra abstrata, não teriam sido tão especiais por nascer na hora e no tempo certo. Tempo que necessitava de uma mão para derrubar seus preceitos estúpidos. De uma ajuda fortuita como exemplos edificantes de formação moral e acadêmica. Não teriam ajudado suas alunas e amigas a se libertarem do espartilho de uma sociedade com valores obsoletos que só faz diminuir a mulher em si. Seja ela branca ou negra.

Talvez este seja o maior mérito do filme de Tate Taylor, que com certeza é um dos melhores lançamentos de 2011. Através de suas personagens magistralmente interpretadas por um grande elenco, ele unifica modelos heterogêneos de mulher em suas relações, bem como seus dramas e histórias. No final, todas nós pertencemos a este mundo. Em qualquer tempo, hora, lugar temos que estar sempre a frente de tudo. Sempre procurando provar o nosso valor. Sempre procurando derrubar os muros que nos separam da aceitação e autoafirmação. Sempre oferecendo uma mão para soltar os reprimidos das amarras do silêncio. Dar voz a quem não pode se fazer ouvir é certamente uma ajuda que liberta e que faz sorrir.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Ben-Hur (1959)

Ben-Hur, 1959. Dirigido por Willian Wyler. Com Charlton Heston, Stephen Boyd, Jack Hawkins, Frank Thring, André Morell e Sam Jaffe.
 
Nota: 9.6
 
“Um drama rico e glamoroso, que transcende os limites do espetáculo”.The New York Times

Primeiro sucesso do cinema a faturar 11 Oscar, Ben-Hur conta como a história do Cristo se fundamentou no embate antigo da linha tênue entre o ódio e o amor

“Um conto do Cristo.” Assim são abertos os créditos iniciais de Ben-Hur, um épico grandioso que traça um paralelo interessante entre dois personagens inesquecíveis dentro da história, cada qual a seu modo.
 
Judah Ben-Hur (Charlton Heston), um aristocrata judeu de grande influência econômica na Região, viu sua vida desmoronar após um incidente com o novo Governador do Estado da Judéia. Viu sua mãe e sua irmã serem condenadas injustamente a uma vida sub-humana nas masmorras romanas. Viu a desesperança transformar seu coração em uma rocha sólida à procura de justiça contra um inimigo inesperado.

O romano Messala (Stephen Boyd), após uma bem sucedida campanha pelo Império Romano, volta a sua Terra Natal ostentando um posto considerável. Para fortalecer a dominação romana no território, Messala faz uma proposta ao amigo de infância. Ben-Hur teria de ajudá-lo na missão de restabelecer a ordem na região judaica que transpirava fanatismo religioso à espera do Messias. O romano rogava em nome da velha amizade para sustentar as muitas questões políticas da época. No entanto, o amigo não concordava com os métodos nada ortodoxos do Império Romano para estabelecer esta ordem. Diante da recusa do judeu, o oficial romano usa um incidente com o Governador da Judéia como represaria contra uma possível rebelião. Assim, Ben-Hur e sua família são condenados a um destino insólito, que inclui as masmorras e a escravização nos navios de Guerra. Mas antes de partir, jura a Messala que irá retornar para fazer justiça.

Enquanto isso, o Império Romano continuava sua saga de escravização e punições contra seu povo. A situação se tonara insustentável na Região e rebeliões dispersas eram facilmente sufocadas. Até que surgiu um filho de carpinteiro da região da Galileia, chamada Nazaré, que teria a missão de reunir o povo e marchar para a tão sonhada liberdade. Jesus conduzia uma multidão de seguidores por todos os lados, proclamando o Evangelho com base no amor incondicional ao próximo em meio a muitos milagres. Seu nome ecoou tão forte que rapidamente foi denominado o Messias, ou seja, aquele que libertaria os filhos de Israel da opressão. Como consequência, tornou-se uma ameaça em potencial ao Sistema que imperava. O mesmo sistema que condenou Ben-Hur.

O judeu retornou à sua Terra como o filho de um Cônsul romano a quem salvou a vida, com a oportunidade de recuperar a sua e a Honra de todo seu povo por meio de uma tradicional corrida de Bigas. Assim, se faz. Ben-Hur vence a corrida, recupera a dignidade e ainda descobre pelo amigo quase desfalecido o paradeiro de sua família.

Após o duro golpe de saber que sua família contraiu uma doença incurável nas prisões romanas, nele se desencadeia um sentimento que desconhecia até então. Um desejo de vingança contra aqueles que julgava serem responsáveis por tudo que passara até aquele momento. O Império Romano, entre tantos outros crimes, teria corrompido a alma de seu amigo. Sua sede de justiça só seria saciada com a queda do mesmo. O Império teria de sofrer o mesmo golpe que endureceu seu coração. A estas alturas, Ben-Hur era considerado o Redentor de seu povo depois de vencer Messala na corrida. O povo judeu o aclamava entre louros e aplausos. Naquela época, derrotar um romano na arena significava mostrar todo o poder dos outros homens. A fama e o poder consequente fortaleceram suas ambições de liberdade pelo poder da espada. Liderar uma rebelião a fim de terminar com a tirania em seu país. É neste momento que o filme ganha contornos espirituais com bases na figura de outro Redentor.

Dá para imaginar Jesus de Nazaré como apenas um coadjuvante numa história? Esta certamente foi a maior proeza do filme de William Wyler. Jesus não resplandece sua face na tela e muito menos menciona uma palavra sequer. Um relance de imagem é o suficiente para transcender sua presença no filme. Sua silhueta surge como o carpinteiro que se abaixa, humildemente, para saciar a sede de Ben-Hur caminhando na escravidão dos desertos. Um segundo encontro se faz quando o judeu retribui o gesto de caridade ao Cristo no caminho do Calvário.

Sem entender o porquê de aquele Homem Bom ter sido condenado à morte, Ben-Hur se viu na mesma situação tempos atrás. Ambos foram vítimas da injustiça. A diferença foi que enquanto o aristocrata pensou em usar seu ódio como arma, o carpinteiro pregou incessantemente o Amor como a única arma da verdadeira liberdade. Até mesmo nas horas de desespero, suas palavras serviram como alento a todos que ansiavam por esperança. O embate moral de Ben-Hur chega ao limite da condição humana, quando o lado obscuro de sua alma se esvai diante do milagre das últimas palavras proferidas por Cristo na cruz. “Pai, perdoai-lhes, pois eles não sabem o que fazem”. “Eles” a quem se refere é diretamente ao sistema que o condenou à morte. O mesmo sistema que assolava seu povo.

Sentindo o poder das palavras de Cristo, a redenção de Ben-Hur salva as vidas de sua mãe e irmã curadas pela fé. “E senti a sua voz tomar a espada de minha mão”. A jornada de Ben-Hur não é apenas marcada por vingança. Este não foi o principal propósito que alimentou sua alma. A busca por justiça para com ele e sua família o impulsionou a cumprir seus desígnios, até mesmo nos momentos de total desesperança. Ele não via em Messala um inimigo em potencial. A inimizade entre eles foi circunstancial em virtude de uma incompatibilidade de ideais. Será que estamos preparados para conhecer e traçar a linha tênue que separa o ódio do que mais possa nos levar a outro caminho? Sentir dentro de nós a grandeza espiritual destes dois Cristos?

Conhecido por interpretar personagens reais, Heston surpreende num papel fictício e ao mesmo tempo tão real que lhe deu o Oscar de Melhor Ator. Tão surpreendente quanto ver um Jesus com tamanha onipotência somente pelo poder de sua presença subjetiva. Tão surpreendente quanto um filme de ação tratar com tanta humanidade um tema relevante a qualquer época. Sentimentos que ditam os caminhos pela alma humana e obriga cada ser humano a escolher qual curva seguir. Como uma corrida de Bigas, tomar as rédeas de seu próprio destino. Este é o ideal da verdadeira liberdade.

Que a força de Ben-Hur e o espírito de Cristo estejam sempre conosco!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Uma Rua Chamada Pecado (1952)

(A Streetcar Named Desired, 1952). Dirigido por Elia Kazan, adaptado da peça de Tennesee Willians por ele mesmo. Com Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter, Karl Malden.


Nota: 9.0

Tennesee Willians foi um dos mais cultuados autores do teatro americano e um dos que tiveram suas obras mais vezes adaptadas para o cinema. Suas obras tratavam sempre de conflitos intensos de família, com discussões sobre a condição humana latente em todos seus atos e aspectos. Um dos raros a tratar infidelidade, alcoolismo, homossexualismo, ou seja, peculiaridades humanas censuradas pela sociedade moralista da época. Em seu mais brilhante trabalho, Um Bonde Chamado Desejo, Willians discute a luxúria, e de certo modo, uma mudança de condição da mulher submissa.

Ao se juntar a Elia Kazan e adaptá-la para o cinema, revolucionaram os parâmetros cinematográficos da censura, e mesmo tendo varias restrições, soube arquitetar o roteiro de modo a deixar claras as intenções. O moralismo americano, conseguido após a 2ª Guerra Mundial, que fortaleceu a ideologia do american way life, não foi o suficiente para impedir o sucesso do filme. Hoje, o cinema talvez não fosse o mesmo sem a coragem da dupla.

Em Uma Rua Chamada Pecado, a trama se desenvolve em torno de quatro personagens, como de costume nas obras Tennesee, um número bem reduzido. A chegada de Blanche Dubois (Vivien Leigh) desestabiliza a vida de sua irmã Stella Kowalski (Kim Hunter) e Stanley Kowalski (Marlon Brando) em um cortiço de Nova Orleans. Seu evidente desequilíbrio mental afeta não só a relação com o casal, mas também a relação com Mitch (Karl Malden), com quem tinha começado um romance.

As vertentes das histórias se tornam um mesmo caminho. Criam uma miscelânea de manifestações que põe sob teste as atitudes humanas, e é conduzido pela personagem de Leigh. O diretor faz do público o júri de Blanche, cabendo a nós classificá-la como uma depravada, louca e dissimulada ou se é apenas uma mulher que vive sob um regime moralista e machista. Por que um homem poderia deitar com muitas mulheres e uma mulher, viúva, não poderia sair em busca de saciar seus desejos? Além disso, questiona a superioridade do homem sobre a mulher, através de Stanley e Stella. Caracteriza o sexo masculino como um ser bruto e desprezível. No combate ao predomínio machista, Blanche Dubois também tem papel importantíssimo ao influenciar sua irmã a não aceitar mais as humilhações do marido.

Vencedor de quatro Oscar e indicado para mais sete, o filme conta com atuações incríveis de Marlon Brando, Kim Hunter, e Karl Malden, este dois últimos vencedores na categoria coadjuvante, que conseguiram montar com perfeição o espiral de emoções planejado pelo roteirista. Porém, o destaque maior é Vivien Leigh, também vencedora do prêmio da Academia, com uma atuação que exala sedução e insanidade, fez de Blanche Dubois uma das melhores interpretações que o cinema já viu.

Uma obra-prima, tanto no que diz respeito ao conteúdo criado e adaptado com ínfima categoria por Willians, quanto à categoria cinematográfica de Kazan. Combinação perfeita que abriu as portas para que o cinema não ficasse preso ao tacanho método de censura, que tentaram evitar as mensagens impregnadas em cada quadro da película, mas que pelo bem da sétima arte, fracassaram.