Seven Psicopaths, 2012. Dirigido por Martin McDonagh. Com Colin
Farrell, Sam Rockwell, Christopher Walken, Woody Harrelson, Abbie Cornish, Tom
Waits e Gabourney Sidibe.
Nota: 8,7
De vez em quando aparece um filme
que se propõe a ser imprevisível, destes com o roteiro que ganha alma em cada
segundo, como se tivesse sendo escrito em tempo real. Martin McDonagh é o responsável
por criar e dirigir esta trama empolgante, metaliguística, com violência e
humor negro britânico, sem perder o foco narrativo, mas, comete apenas o erro
de exceder no tempo de duração, que por pouco não pulveriza seu brilhantismo.
Marty (Colin Farrell) passa por
um processo de criação de um roteiro cinematográfico, entretanto, a pressão de
sua namorada e as bebedeiras não deixam que sua história, que titulou como
“Sete Psicopatas”, evolua. Porém, a presença de seu amigo Billy (Sam Rockwell,
ótimo) e sua atividade de raptar cãezinhos para que Hans (Christopher Walken)
receba a recompensa, acabam por inspirar o escritor. Contudo, quando eles
seqüestram um pequeno Shi-Tzu do instável mafioso Charlie (Woody Harrelson,
impagável), a ficção vai ganhando vida, mas a realidade vai se tornando
perigosa.
O texto de McDonagh é um primor.
Vai criando situações em que, à primeira vista é impossível para o público
compreender o que é real e o que se trata de invenção da cabeça de Marty. Sem
rodeios, vai apresentando um por um os psicopatas da histórias, entrelaçando
histórias e criando fios soltos que inevitavelmente são puxados para que alguns
mistérios tenham solução, ou são solução que passam a se tornar um mistério.
Assim como fez em seus bons Na Mira do
Chefe (2009) e O Guarda (2011),
consegue diluir a trama em vários esquetes, mas, com muita astúcia, nunca perde
de vista seu eixo central.
Como de costume, trabalha com
quadros rápidos, dando a sensação de velocidade, que neste caso, pressupõe que
há um processo criativo em andamento. Cada revelação, cada inclusão de
personagens e pequenos históricos, o diretor vai se desafiando a conseguir
chegar ao final sem que tudo se torne chato e incompreensível. Neste aspecto,
ele falha, e se excede no momento em que a história se aproxima do fim. O
lenga-lenga de quase vinte minutos em que os personagens discutem sobre o
final, cada um mais implausível que o outro, não é pobre como cinema, mas chato
como o entretenimento que já havia formado.
A atuação do elenco é um dos
aspectos que fazem o filme mais atrativo. O trio formado por
Walken/Harrelson/Rockwell está em estado de graça, cada um a sua maneira.
Porém, este último protagoniza cenas imperdíveis, além de manter uma química especial
com seu companheiro canino. É um ator que merecia uma atenção maior. O ponto
negativo é Colin Farrell, que não tira de seu personagem o potencial que
carrega, e não repetiu a atuação excepcional de sua parceria anterior com o
diretor em A Mira do chefe (09), que,
diga-se de passagem, é sua única boa contribuição para o cinema.
Um filme que merece ser visto, e
em alguns casos revistos, um trabalho excêntrico de um dos cineastas mais
criativos da atualidade. Se não agradar o público pela metalinguagem, pode
pegar pelo humor refinado, ou pela ação e violência, ou pela fofura do Shi-Tzu
da história. Em todos os casos, vale muito a pena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário