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sábado, 23 de março de 2013

Sete Psicopatas e um Shi-Tzu (2012)


Seven Psicopaths, 2012. Dirigido por Martin McDonagh. Com Colin Farrell, Sam Rockwell, Christopher Walken, Woody Harrelson, Abbie Cornish, Tom Waits e Gabourney Sidibe.

Nota: 8,7

De vez em quando aparece um filme que se propõe a ser imprevisível, destes com o roteiro que ganha alma em cada segundo, como se tivesse sendo escrito em tempo real. Martin McDonagh é o responsável por criar e dirigir esta trama empolgante, metaliguística, com violência e humor negro britânico, sem perder o foco narrativo, mas, comete apenas o erro de exceder no tempo de duração, que por pouco não pulveriza seu brilhantismo.

Marty (Colin Farrell) passa por um processo de criação de um roteiro cinematográfico, entretanto, a pressão de sua namorada e as bebedeiras não deixam que sua história, que titulou como “Sete Psicopatas”, evolua. Porém, a presença de seu amigo Billy (Sam Rockwell, ótimo) e sua atividade de raptar cãezinhos para que Hans (Christopher Walken) receba a recompensa, acabam por inspirar o escritor. Contudo, quando eles seqüestram um pequeno Shi-Tzu do instável mafioso Charlie (Woody Harrelson, impagável), a ficção vai ganhando vida, mas a realidade vai se tornando perigosa.

O texto de McDonagh é um primor. Vai criando situações em que, à primeira vista é impossível para o público compreender o que é real e o que se trata de invenção da cabeça de Marty. Sem rodeios, vai apresentando um por um os psicopatas da histórias, entrelaçando histórias e criando fios soltos que inevitavelmente são puxados para que alguns mistérios tenham solução, ou são solução que passam a se tornar um mistério. Assim como fez em seus bons Na Mira do Chefe (2009) e O Guarda (2011), consegue diluir a trama em vários esquetes, mas, com muita astúcia, nunca perde de vista seu eixo central.

Como de costume, trabalha com quadros rápidos, dando a sensação de velocidade, que neste caso, pressupõe que há um processo criativo em andamento. Cada revelação, cada inclusão de personagens e pequenos históricos, o diretor vai se desafiando a conseguir chegar ao final sem que tudo se torne chato e incompreensível. Neste aspecto, ele falha, e se excede no momento em que a história se aproxima do fim. O lenga-lenga de quase vinte minutos em que os personagens discutem sobre o final, cada um mais implausível que o outro, não é pobre como cinema, mas chato como o entretenimento que já havia formado.

A atuação do elenco é um dos aspectos que fazem o filme mais atrativo. O trio formado por Walken/Harrelson/Rockwell está em estado de graça, cada um a sua maneira. Porém, este último protagoniza cenas imperdíveis, além de manter uma química especial com seu companheiro canino. É um ator que merecia uma atenção maior. O ponto negativo é Colin Farrell, que não tira de seu personagem o potencial que carrega, e não repetiu a atuação excepcional de sua parceria anterior com o diretor em A Mira do chefe (09), que, diga-se de passagem, é sua única boa contribuição para o cinema.

Um filme que merece ser visto, e em alguns casos revistos, um trabalho excêntrico de um dos cineastas mais criativos da atualidade. Se não agradar o público pela metalinguagem, pode pegar pelo humor refinado, ou pela ação e violência, ou pela fofura do Shi-Tzu da história. Em todos os casos, vale muito a pena.

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