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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Stephen King, Frank Darabont e o sonho de liberdade

Um caminho rumo à liberdade, de qualquer tipo, mental ou física, não importa. Essa busca é o enredo principal que une dois ícones da literatura e do cinema nos anos 90: O escritor Stephen King e o diretor e roteirista Frank Darabont. Juntos construíram duas das mais brilhantes obras do cinema estadunidense daquele período, explorando sempre o desejo do homem de se libertar, seja ela de qual prisão for.

Provavelmente a intenção de King fosse criar temas complexos quando deixa de lado os contos de horror que o consagraram. Porém, na verdade, o que nasce da mente do escritor são estórias entroncadas, mas não complicadas. Isso talvez tenha sido o que chamou a atenção de Darabont. A facilidade da transposição, mesmo havendo a necessidade de um maior desenvolvimento, dos contos de King criou um léxico para adaptações.

O livro As quatro estações, uma coletânea de contos do autor, deu origem ao bom Conte Comigo (1986), e ao formidável Um Sonho de Liberdade (1994), que marcou o início da parceria com o diretor francês. Nas duas obras, o tema central, mesmo envolto em tramas paralelas, o expectador sempre é condicionado a se questionar sobre a verdadeira liberdade (No caso de Conte Comigo, a abordagem é mais singela, baseada na amizade e dúvidas juvenis).
No primeiro trabalho King/Darabont, fica claro a compatibilidade de estilo. A mesma calma e sensibilidade para atingir o clímax visto nas páginas produzidas pelo escritor são observadas na montagem segura e segmentada do diretor. Na trama, Andy Dufresne (Tim Robbins) é preso por assassinar a mulher, e vai para a prisão de Shawshank, lá conhece Red (Morgan Freeman) com quem faz amizade.

A lógica, e a deixa de Darabont no início do filme, fazem com que a todo tempo tenhamos a certeza de que Dufresne é inocente, o é que torna sua busca pela liberdade ainda maior. Na contramão dessa batalha silenciosa, a tênue e ardorosa perseverança que se abate sobre Red, mantém a mesma sensação no público. Parece um melodrama, mas não é. O que evita que o roteiro descambe para o tom novelístico é aquela tranca do enredo, herdado das letras de King. São sorrisos e lágrimas na medida certa.

Os dois viriam a se encontrar em outro filme na década de 90. À Espera de um Milagre (1999) foi um marco na história recente do cinema, não só pela sua linda e emocionante trama, mas pela combinação dos estilos do escritor com o diretor. Mais uma vez a dupla enche os olhos, porém dessa vez a busca pela liberdade é pavimentada por um realismo-fantástico poucas vezes visto nas telonas.

O longa traz o gigante John Coffey (atuação sensacional de Michael Clarke Duncan), um preso no corredor da morte, acusado de um crime que não cometeu, e Paul Edgecomb (Tom Hanks) como o chefe de segurança da Green Mille. Com o passar do tempo, o policial percebe que Coffey não preenche o perfil para estar naquele lugar, e ainda descobre que o grandalhão pode operar milagres.

A partir desta premissa Darabont carrega mais ainda o estilo de Stephen King. Com uma astúcia incrível, a leveza da condução do filme deixa o público em diversas encruzilhadas na trama. É impossível, mesmo faltando menos de 30 minutos para o fim, imaginar o que irá acontecer no final. A busca da liberdade, entretanto, não partiu de Coffey que estava prestes a ser executado, e sim de Edgecomb que teria de viver com este fardo pelo resto de sua vida. Seria a morte a liberdade almejada pela personagem de Tom Hanks? Outra característica de King, que no fim, sempre nos deixa com a sensação de que a estória na acaba ali.

Há quem não goste dos dois filmes da dupla, sempre com a retórica do água com açúcar demais. Mas sem se esforçar o espectador pode chegar à conclusão que nem tudo é o que parece, e há muito mais naquelas obscuras fábulas, do que uma simples historinhas. Se Frank Capra criou um estilo junto com o escritor Robert Riskin, fundado na esperança de um povo após uma crise, baseado no otimismo (o Capriskin), podemos considerar que Frank Darabont e Stephen King seguiram seus passos, só que na realidade de um mundo pós-Guerra Fria, e se asseguraram de buscar a liberdade, e criaram o estilo Darking.