Visitantes

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Perfil: Anne Hathaway - O diário de uma Princesa nova-iorquina


Sendo seu nome uma homenagem dos pais à esposa de Shakespeare, já não era de se estranhar que Anne Jacqueline Hathaway pudesse trilhar um caminho vocacional seguro para o espetáculo. Do Brooklyn (Nova Iorque) sua estrela, que brilhou pela primeira vez em 12 de Novembro de 1982, começava a reluzir em pura matéria de beleza e talento. O pai sendo um advogado, coube a mãe, uma atriz de teatro, puxar a fila da calçada da fama que ela iria trilhar como a primeira (e única) adolescente aceita no The Barrow Group. Foi  membro do Coro de Honra da All-Eastern U.S. High School, estudou no Paper Mill Playhouse de Nova Jérsei e atuou no programa inaugural pré-curricular de verão do Collaborative Arts Project, em que atuou em diversas peças memoráveis como Gigi e Jane Eyre. Não demorou muito para a menina esguia de sorriso similar, ser indicada a um prêmio por lá. 

Sua carreira profissional teve um início avassalador. Na TV Fox em 1999 atuou no seriado chamado Get Real, que já de quebra lhe rende uma indicação como melhor atriz no Teen Choice Awards, tornando-se possivelmente a queridinha dos adolescentes, que seguiram sua trajetória também no cinema quando em 2001 ela explodiu em Hollywood no filme da Disney  O diário de uma Princesa. Ao lado da consagrada Julie Andrews e sob a direção de Garry Marshall, Anne deu um banho de charme e simpatia muito além de qualquer perspectiva lançada no gênero. O sucesso rendeu uma sequência em 2004 e a bela Princesa nova-iorquina a oportunidade de amadurecer como atriz em Brokeback Mountain. No premiado filme de Ang Lee, Anne viveu a esposa de Jake Gyllenhaal, o qual viria a trabalhar novamente em Amor e outras drogas. Assim como sua colega Michelle Willams na mesma obra, seu papel foi discreto, mas não deixou de ser  marcante, lhe rendendo elogios da crítica. Sua ascensão definitiva estaria para vir no cultuado O diabo veste Prada (2006). Aqui Anne contracena com um monstro literalmente. Sua química com a atriz Meryl Streep é redundante para o êxito de uma obra interessante. Seguiu-se filmes bem sucedidos em sua carreira como Alice no país das maravilhas (2010) de Tim Burton. 

O ensaio para o Oscar veio em 2008 quando estrelou O casamento de Rachel de Jonathan Demme. No filme bem recebido pela crítica especializada, Anne foi ao extremo de suas emoções ao interpretar uma jovem viciada responsável pela desestruturação de sua família. Indicada como melhor atriz, perdeu a estatueta para Winslet por O Leitor, mas deixou sua marca como uma das melhores atuações que o cinema que viu. A recompensa por ótimos trabalhos como de dublagens em Family Guy e Os Simpsons chegaria até 2013 onde levou para casa o Prêmio de melhor atriz coadjuvante pelo musical Os Miseráveis. Este trabalho possibilitou Anne de se metamorfosear não só interiormente quanto exteriormente. Seus cabelos não foram a única "vítima" de tanto empenho. Seu corpo também padeceu quando teve de perder 10 Kg à base de muito alface e saladas. O resultado foi uma atuação impecável, super valorizada especialmente pela interpretação surpreendente da canção I Dreamed a Dream na obra. Ouso dizer que deve-se a ela grande parte do êxito de público do filme, afinal, quem não gosta de presenciar belas e arrepiantes atuações? 

De vida pessoal discreta, a atriz não deixa que os holofotes caiam tão intensamente sobre sua brilhante trajetória. Esta preocupação a impulsionou abrir mão de um relacionamento participativo com um promotor imobiliário italiano. Durante este tempo, Anne usou sua imagem e ajuda financeira construída a favor de uma instituição de caridade regida pelo seu companheiro até 2008 quando a Receita Federal prendeu seu ex-companheiro no mesmo ano depois de uma minuciosa investigação. Por tal atitude precavida, e por tudo que a mesma gerou em sua carreira vitoriosa, pode-se afirmar que Anne optou acertadamente por dar ênfase a sua maior paixão naquele momento de difícil decisão. 

São estes momentos que levam os seres humanos nascidos com a alma nobre e cintilante a se eternizar na galeria de personagens indispensáveis no Reino do cinema como esta princesa nova iorquina de sorriso inesquecível que sabe como poucas usar a nobreza de sua personalidade e a beleza como seu adorno particular. 

domingo, 26 de maio de 2013

Vencedores do 2º Prêmio Forrest de Cinema 2013

Depois de quase um mês de enquete no blog e os votos dos membros de nossa pequena academia, finalmente será divulgado os vencedores. Com algumas surpresas em algumas categorias e outras que seguiram a lógica do circuito de premiações, o Cineposforrest mostrou que a cada ano aperfeiçoa o sistema de escolha e em alguns anos poderemos ser um dos principais prêmios de web para o cinema. Desde já agradecemos quem participou e esperamos contar com vocês ano que vem.

Eis os vencedores:
















































































































































































































































sexta-feira, 24 de maio de 2013

Erin Brocovich - Uma mulher de talento (1999)

Erin Brocovich
Direção: Steven Soderbergh. Com: Julia Roberts, Albert Finney e Aaron Eckhart
Nota: 8.5


Julia Roberts já foi uma linda mulher. A maior estrela de Hollywood. A mais bem paga. A mais linda, a mais sexy. Os adjetivos a sua pessoa fluía tão facilmente quanto o sorriso que lhe é característico. Ela também foi uma queridinha da América por conta de emanar um tamanho carisma capaz de arrastar multidões aos cinemas. Portanto não foi surpresa que seu nome fosse o melhor cotado para viver uma personagem carismática, que pudesse envolver o público de maneira singular, mas sem perder o objetivo. 

O talentoso diretor Steven Soderberg acertou em cheio quando a colocou para encabeçar de Erin Brocovich - Uma mulher de talento. Depois de mostrar ser um dos rostinhos mais lindos e desejados do mundo, só faltava a estrela provar seu talento. Aqui ela vive uma mulher obstinada, forte, calibrada para os enormes desafios que atravessam a jornada de uma dona-de-casa divorciada e mãe de três filhos. Desesperada, Erin recorre a todo tipo de trampo e como se não bastasse levar sonoros "não" em suas tentativas, ainda perde um caso judicial envolvendo um acidente rodoviário. 

Tempos depois ela vai parar no mesmo escritório de seu advogado, Ed Masry (o ótimo Albert Finney). Logo ela desperta no mínimo curiosidade e no máximo, despeito, por seu jeito, trejeitos, e especialmente seu vestuário, que chamam a atenção do patrão e de suas colegas. Nem mesmo assim ela desiste de garantir o leite e o pão na mesa de casa. Com a ajuda de seu vizinho bon vivant, motoqueiro, radical, hippie, rebelde George (Aaron Eckhart) que se prontifica como a babá de seus filhos, numa clara inversão de valores, ela se vira como uma assalariada qualquer até que ao organizar alguns arquivos para o patrão descobre que uma poderosa corporação está diretamente ligada às doenças infecciosas de várias pessoas na região. Vendo aí sua grande chance de ser alguém na vida, Erin encara mais um desafio e vai lutar com todas as armas que tem e buscar as que não tem para vencer.

O filme classificado como uma obra motivacional de consciência ecológica (eu mesma  assiti no colégio com este intuito) não sai de sua linha operacional. O que poderia escambar para o chato e tedioso (achei isso no colégio). No entanto, podemos  destacar que o que faz um filme ser bom e apreciável está inserido nesta obra pequena, mas de grande alcance. Um bom elenco, um roteiro ágil e redondinho, diálogos extrovertidos que encaixariam até hoje na perspectiva de um bom texto. Some tudo isso a grande atuação de Julia Roberts. A atriz incorpora Erin de uma forma tão visceral que você é capaz de vibrar a cada cena, cada palavra disparada com uma franqueza assustadora. A mulher que com muita coragem conseguiu derrubar uma corporação de bilhões de dólares em prol dos mais necessitados pôde se sentir homenageada com tamanha entrega. 

Há quem diga que este trabalho foi pequeno diante da grandeza de Roberts na época e a ela deve-se toda a relevância da obra. Pois completo afirmando que o que faz um trabalho inesquecível é a capacidade do artista de se moldar perante a nova persona. Dificilmente vimos Julia com tantas palavras impronunciáveis na boca, com tantos rompantes corporais. Nem mesmo no filme que a consagrou como mito em que ela faz uma garota de programa. Atos que a destacaram, fizeram-na brilhar tão reluzente quanto a estátua dourada que ganhou em 2000. Pode-se afirmar que só lembramos do filme como "o que deu o Oscar a Julia Roberts". Se pudéssemos adivinhar que Sandra Bullock escreveria seu nome anos mais tarde na calçada dos vencedores com uma atuação mediana e num filme abaixo da média, não seria tão surpreendente assim este caso. 

E quanto ao filme? Bem o filme é Julia Roberts vivendo Erin. Mãe divorciada que lutou  como David contra Golias e acertou sua pedra de humanidade na testa da injustiça no final. E isso sinceramente me é suficiente pra gostar e me entreter. Poderia falar de outros elementos. Poderia, se tivesse outros mais relevantes além desta linda mulher de talento. 

domingo, 19 de maio de 2013

Homem de Ferro 3


Iroman 3. Dirigido por Shane Black. Com Robert Downey Jr, Gwyneth Paltrow, Don Chedle, Guy Pearce, Rebbeca Hall e Ben Kingsley.

Nota: 8,4

A Marvel encontrou um pote de ouro no fim do arco-íris quando resolveu colocar suas criações em ação nos cinemas. Começou com os protótipos de X-Men e Homem-Aranha, que apesar de serem bem-sucedidos no que diz respeito ao retorno financeiro não conseguiram ser uma unanimidade entre os fãs e sofreram com algumas críticas mordazes (em especial o terceiro filme de ambas as trilogias). Porém, em 2008 colocou um ambicioso projeto em pauta e Homem de Ferro ganhou os cinemas com efeitos arrebatadores e com um Robert Downey Jr inspiradíssimo em sua ressurreição como o protagonista Tony Stark. Depois de outras glórias das demais “crias” de Stan Lee e Cia., o terceiro capítulo de sua incursão solo, Stark enfrenta seus próprios temores, paranóias e um megavilão estereotipado, tudo sem perder o humor que o faz peculiar.

Depois dos adventos que arrasaram Nova Iorque em Os Vingadores (2012), Tony Stark (Downey Jr, ótimo) está obcecado com a criação de armaduras cada vez mais perfeitas e eficazes. Esta situação causa preocupação em sua namorada e administradora Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) e em seu amigo James Rhodes (Don Cheadle). Mas suas criações se tornam essenciais quando um terrorista conhecido como Mandarim (Bem Kingsley) começa a espalhar o caos pelo mundo com explosões e muitas mortes. Porém, o Homem de Ferro é surpreendido por um ataque surpresa e contando apenas com a ajuda de um pequeno amigo, terá de encontrar um modo de vencer seus medos e dar a volta por cima.

Apesar de o primeiro filme ter apresentado uma forma mais cuidadosa de tratar a mística do personagem, em especial depois do mega sucesso de crítica da série Batman de Chris Nolan, faltava aquilo que os fãs ansiavam: ação em altas doses. Não que isso tenha sido ruim, foi ótimo para as pretensões do estúdio. Porém, o segundo filme não fez nenhuma coisa nem outra, empacou em um meio termo que apontava para um esfriamento das aventuras do “enlatado”, mesmo sob a batuta de um talentoso Jon Fraveu. Contudo, o triunfo da reunião de heróis sob o comando de Joss Whedon mostrou como teria de ser um bom filme do gênero.

Neste Homem de Ferro 3, Shane Black, responsável por sucessos da década de 80/90 como Máquina Mortífera,  enxerga o que a trama tem de melhor: seu protagonista. Investe as fichas em Tony, colocando o ser humano que se esconde atrás da poderosa armadura, enfrentando uma espécie de estresse pós-traumático e em crise com Pepper por conta de sua obsessão. Muito mais que a ameaça truculenta de Mandarim, a personificação do mal no filme responde por Alrich Killian (Guy Pearce), que assim como Stark é um gênio, mas o rancor e a vingança coordenam seus movimentos, justificando a autoflagelação do herói que se sente responsável pelos terríveis acontecimentos.

Talvez o roteiro, também assinado por Black, tenha se perdido na parte final, onde as motivações reais dos vilões não ficam muito claras, mas entende-se, pois se endurecesse demais para o lado do protagonista, seria uma ameaça que necessitaria da ajuda de Capitão América, Thor, Hulk e Cia. Por outro lado o diretor injetou ação desde os primeiros minutos de filme, revezando as situações dramáticas e os esquetes de humor inconfundíveis. Uma sincronia que merece uma salva de palmas para o trabalho de edição.

Mas não tem como negar que o maior acerto de todo o universo cinematográfico dos estúdios Marvel responde pelo nome Robert Downey Jr. Parece que o herói de lata e o excêntrico bilionário se tornaram alteregos do ator, é como se Stan Lee os tivessem criado inspirados nele. Cada piada, ação inusitada e citações da contemporaneidade são um verdadeiro show que já valia o ingresso.    

Se não é um filme para ganhar prêmios ao menos Homem de Ferro 3 cumpre seu papel como entretenimento de primeira qualidade, hipnótico e imperdível. Mais um arrasa-quarteirão que só aumenta a euforia dos fãs para mais aventuras do Thor, Capitão América e, principalmente, de Os Vingadores.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Seven- os 7 crimes capitais (1995)


"O mundo é um bom lugar. Vale a pena lutar por ele. Eu concordo com a última parte."
Seven
Direção: David Fincher. 
Com: Morgan Freeman, Brad Pitt, Kevin Spacey e Gwyneth Paltrow
Nota: 9

Com este clássico do gênero, o diretor David Fincher foi além dos clichês. O policial prestes a se aposentar tem em seu último caso a oportunidade de toda uma vida. Fechar com chave de ouro sua brilhante carreira. O veterano em questão não poderia ser vivido por outro ator a não ser Morgan Freeman, um talento especialista em dar a seus personagens este tipo de chance. Ele vive William Somerset, homem honesto e incorruptível que dedicou sua vida a caçar os mais ardilosos bandidos e agora prestes a se aposentar ele tem que conviver temporariamente com um parceiro que é sua antítese.  O bonitão David Mills interpretado pelo charmoso (e todos os "osos" mais qualificáveis possíveis da época) Brad Pitt, traz a carga de toda uma nova geração de tiras. Aqueles despreocupados com o perigo na maneira Superman de agir e com a coragem inabalável (lê-se arrogância) de quem está iniciando este jogo. 

Ambos recorrem à velha máxima de que os opostos se atraem e juntos terão de deter um serial killer, que de acordo com suas "façanhas" perdeu a fé nas pessoas. Jhon (Kevin Spacey) é um tipo diferente de psicopata. Paradoxal, tenta fazer refletir acerca da existência humana, seus afins e confins dentro de cada ser, ao invés de apenas promover o horror e a violência. O bandido utiliza sua forma perfeita de "punição" àqueles que segundo ele, degradam a existência. Os pecados capitais, ou seja, cada vítima prova de seu próprio veneno antes do suspiro final.  

É nessa figura bem construída pelo sempre talentoso Spacey que Fincher ostenta seu filme. Mesmo que o personagem só apareça em poucos quadros, ele dá seu recado de forma original e relevante. Seven-os crimes capitais parte de um gênero conhecido, muito apreciado pelos fãs de ação e suspense, mas não se deixa levar apenas por isso. Disso se constitui a magia da obra. O espectador sabe que está diante de algo muito além de tiros e perseguições infames. É um jogo psicológico de primeira tratado de modo inteligente, gradativo, sem pressa, dizimando assim explicações absurdas no final de tudo.

Um diretor que  começou a despontar no cenário (pode dizer que com o pé, ou melhor, as mãos direitas), uma dupla de atores afinadíssimos com o texto, suspense bom pra dar e vender. Se há realmente 7 pecados dentro da mitologia humana, aqui, na cinematográfica, talvez aponte um. Depois de quase toda exibição perfeita do Thriller  damos de encontro com as sequencias finais. O impacto da ação derrapa um pouco com o ainda esforçado Pitt, que deixa um pouco a desejar na cena mais dramática, o ápice de toda a obra. No entanto, pode-se dizer que pecado maior seria não apreciar com todos os olhos, ouvidos, e instintos possíveis cada sequencia desta obra de alcance além das telas. 




"O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: - Senhoras e senhores, eu sou um canalha " NELSON RODRIGUES



sábado, 11 de maio de 2013

Personagens inesquecíveis: Sarah Connor

Filme: O Exterminador do futuro

"O futuro desconhecido se aproxima de nós, e pela primeira vez o encaro com esperança, porque se uma máquina, um exterminador pode aprender o valor da vida humana, talvez nós também possamos." - Sarah Connor.
Quem diria que uma simples garçonete lá nos meados dos anos 80 seria a responsável por deter uma grande empresa de informática mundial. Além de entrar na lista negra de Schwarzenegger, a jovem confusa de cabelos desgrenhados  entraria também na seleta lista de nomes inesquecíveis. Seu crime? Ser a progenitora da esperança da humanidade no futuro na luta contra as máquinas. Seu filho, John, segundo consta, seria o líder da Resistência humana que deteria o nefasto poder das máquinas sobre os seres humanos. Sendo assim, a garçonete de olhar melancólico se torna inocentemente o alvo do Exterminador, que viera do futuro a mando da Skynet erradicar o Mal pela raíz. Entre uma fuga e outra, ela se apaixona por um soldado futurista, que viria a ser o pai de seu John. Após perder o amado na primeira batalha contra o Exterminador, a moça se transforma, deixa pra trás a inércia que carrega em seu pessimismo e renasce como uma guerreira de coragem o suficiente para proteger custe a que custar seu primogênito. Em meio ao perigo mortal, ela retoma sua relação deteriorada com o filho, que passa a enxergá-la mais do que uma mãe, um ídolo. Ídolo que até hoje permeia a imaginação de muito fãs que vibram com suas palavras de líder inspiradora bem como sua força de super-mãe imortalizadas pelos músculos e fibra de Linda Hamilton

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Somos Tão Jovens (2013)


Somos tão Jovens, 2013. Dirigido por Antonio Carlos da Fontoura. Com Thiago Mendonça, Laila Zaid, Bruno Torres, Daniel Parisi e Sandra Corvelone.

Nota: 7,8

Uma ode à juventude

Há duas formas de se acompanhar Somos Tão Jovens: sendo um grande fã da banda de rock brasiliense que marcou toda uma geração, ou sendo apenas um cinéfilo ávido por acompanhar uma boa história sobre juventude. Mas, se a intenção for assistir a um dos ícones da música brasileira como uma espécie de avatar que muda o modo de pensar de todos que o rodeiam, aí é “tempo perdido”. O filme de Antônio Carlos da Fontoura é direto, foca no jovem Renato Manfredini e a formação de sua personalidade que o alçaria à condição de ídolo, sem deixar de lado o momento especial do rock brasileiro que via nascer algumas de suas bandas mais relevantes.

 Renato (Thiago Mendonça, assombroso) é um jovem de classe média-alta que, assim como a maioria dos jovens candangos, é apaixonado por música, em especial o rock’nroll. Sempre acompanhado de sua inseparável amiga Ana (Laila Zaid) fundou junto com Fê e Flavio Lemos (Bruno Torres e Daniel Parisi) o Aborto Elétrico. Mas entre contradições e a procura insistente de sua aura musical, o sofrimento se contrapõe à jovialidade da vida noturna da capital federal.

A preocupação de se afastar de outra cinebiografia de um cantor contemporâneo ao protagonista de Somos Tão Jovens (Cazuza, O Tempo Não Para) tenha obrigado Marcos Bernstein a criar um universo ímpar para as ações. Não há aquela preocupação em mostrar atos mais “pesados” daquela geração, como o consumo excessivo de drogas, mas uma exaltação do comportamento daquele grupo em ebulição musical, a criação de uma identidade baseada nos acordes, não nos atos. Isso é bom pelo fato de sair do lugar comum, o que acaba resultando em melodramas, como em Cazuza, e também é ruim pois não explora completamente tudo o que o ambiente sócio-político poderia oferecer.

Esta dicotomia que provoca certo enfraquecimento do conteúdo cinematográfico é compensado pelas mãos de Fontoura. Sua câmera trêmula é tão inquieta e insegura quanto o protagonista, e as cenas de show são de qualidade pouco vista no cinema nacional. A sequência em que Renato (já Russo) sob ao palco para ajudar os amigos da sua ex-banda e canta “Geração Coca-Cola” é absolutamente instigante, até quem não gosta se pega cantarolando. Esta valorização do espetáculo da juventude punk-rock permite ao diretor criar uma obra pop, com pitadas de humor, ausente de melodramas.

Contudo, o fator essencial para que o filme seja bem sucedido é a força dos jovens do elenco. Laila Zaid como a amiga passional demonstra muita competência enquanto os atores que tem a missão de dar vida a outros nomes conhecidos do cenário do rock, não comprometem. Mas a atuação extraordinária de Mendonça deixa os fãs boquiabertos. Não só pela semelhança física, como também pela forma em que dá conta de cantar e tocar, se preocupando com as mudanças de tom inerentes a Renato. E aos trejeitos, que poderiam ser uma armadilha, não são supervalorizados.

Uma grata homenagem ao cantor que até hoje coleciona fãs, e também à juventude que tinha poucas alternativas, como a música, para se manifestar em época de ditadura. Uma obra simples, sem ambições, que se for vista apenas das duas formas citadas no início do texto será um esplendor, mas se o espectador for mais exigente, não será brilhante, mas ainda sim, um bom filme. 

terça-feira, 7 de maio de 2013

Meninos não choram (1999)


Meninos não choram (Boys don't cry,1999)
Direção: Kimberlly Pierce. Com: Hillary Swanck, Chlöe Sevigny e Peter Sarsgaard.
Nota: 9


Mais que um filme feito pra chorar, Meninos não choram foi um arquétipo perfeito que a diretora Kimberly Pierce usou para deixar evidente o preconceito e por assim fazer refletir. Visando estender os holofotes para a impressionante trajetória da menina Teena Brandon (Hillary Swanck, fantástica), uma garota oprimida que se vê as voltas com a intolerância quanto sua opção sexual. Opção sim, pois diferente de outras visões, Teena não se considerava homossexual. Para a garota franzina, de traços andróginos como "uma estrela de cinema" , ela não era simplesmente uma lésbica e sim um garoto no corpo de mulher. 

Tamanha confusão de identidade sexual foi traduzida na construção física da persona que criara. Começava seu ritual pela manhã, no corte de cabelo, se estendia pelos acessórios que precisava para tal e terminava nos trejeitos de um bom rapaz. Depois de se meter numa confusão na localidade em que mora, Teena se exila na pequena cidade de Falls City, lugar onde costumam "enforcar sapatões". É lá que sua vida muda radicalmente. Primeiro ela faz amizade com um grupo de jovens sem nenhum propósito, que em busca de adrenalina, organizam os mais variados e impensáveis desafios. Em meio a este grupo, encontra-se a jovem Lana Tisdel (Chloë Sevigny, fabulosamente sexy). Uma loira fascinante cujo olhar  hipnotiza à primeira vista e com quem vive um tórrido romance às escondidas. A partir daí a vida de Teena passa a ser de sonhos, o que ela mesma considerava ser um luxo em sua paupérrima existência. Tudo transcorria para seu final feliz, até que o ódio alimentado pelo preconceito de cidade interiorana lhe arranca de forma cruel a possibilidade de continuar sonhando. 

O encanto do filme de Pierce se dá exatamente pela afeição que o espectador tem pela protagonista. Divinamente construída pelo talento de Swanck, Teena nos conquista pelos sonhos, delicadeza, ingenuidade, realçados por sua força de espírito. Elementos apoiados com precisão na atuação premiada da atriz, que em nenhum momento deixa transparecer qualquer tipo de caricatura à personagem. Ela humaniza por demais sua Teena, comovendo e transbordando uma miríade de sentimentos nela inseridos. Sem dúvida, uma das melhores e mais marcantes atuações de todos os tempos. 

No entanto não podemos atribuir somente a belíssima atuação da atriz o chamariz oportuno da obra. Destaca-se também sua parceria mais que perfeita com a belíssima Sevigny, também indicada ao Oscar. A atriz que naturalmente exala uma sensualidade própria empresta tudo isso à sua jovem deslocada, pobre e sem perspectiva. Segundo a atriz "Lana vê em Brandon uma chance de mudar de vida, sair daquela pobreza financeira e espiritual." Desta questão emerge uma química considerável entre as duas atrizes de talento incontestável muito bem captada pelas lentes opulentas da diretora, dona do projeto. Kimberly oferece a ambas tranquilidade e aval necessário paras cenas mais eróticas, e que exige uma entrega total das atrizes. Swank e Sevigny formam uma daquela duplas inesquecíveis que traduzem através de palavras e gestos a mensagem de uma obra moldada com sentimento e o mais puro talento.

Cada quadro é preenchido com cenas de uma empatia atraente, de momentos tensos, diálogos polêmicos e ótimas interpretações. Jeannetta Arnette, como mãe da jovem Lana, fascina pela simplicidade de sua "maluquice". Os atores do núcleo jovem dão veracidade aos problemas frequentemente abordados por esta classe representada no filme. John (Peter Sarsgaard) e Tom (Brendan Sexton III) formam a dupla de inconsequentes, enquanto Kate (Alison Folland) observa passiva sua vida passar e Candace (Alicia Goranson) tem que se contentar em tentar arranjar um marido para criar seu filho. Personagens que de cara conquistam pelos méritos dos atores bem como a dualidade instigante. 

Baseado numa história real, é uma ótima pedida sempre quanto se fala em preconceito e sua raízes nocivas dentro de uma sociedade. Um filme até certo ponto inclassificável, pois  desperta em nós o melhor (o carisma dos personagens e as atuações) e o pior (a tristeza de cenas violentas e o final infeliz). Talvez seja este seu maior mérito. A interação intimista direto com o público. Beleza, drama, torcida, reflexão, indignação. Sentimentos condensados que vão muito além de um simples choro.  



domingo, 5 de maio de 2013

500 Dias com Ela (09)


500 days of summer. Dirigido por Marc Webb. Com Joseph Gordon-Levitt, Zooey Deschanel, Chloe Grace Moretz, Geoffrey Arend e Clark Gregg.

Nota: 8.7 

A modernidade do amor e a nova comédia romântica

As comédias românticas tiveram muita relevância nos cinemas desde que Hugh Grant ganhou notoriedade e se tornou um ícone do gênero com o excelente Quatro Casamentos e Um Funeral (94). Sim, era a transposição de algo ingênuo e juvenil que se via na década de 80 para algo mais sexual e adulto. Mas essa onda, que atingiu o ápice com O Diário de Bridget Jones (01) aos poucos foi perdendo o impacto e os roteiros foram se tornando cada vez mais previsíveis e adocicados. Porém, em meados anos 2000 os relacionamentos amorosos ganharam inclinações diferentes e com eles o cinema passou a bordar o tema e seus desdobramentos de forma mais crua, realista e, em várias situações, dramáticas.

Em 500 Dias com Ela (09) podemos acompanhar a abordagem moderna do tema. Tom (Joseph Gordon Levitt) é um funcionário de uma empresa que confecciona cartões de variados tipos, de amor à falecimento. Ele conhece Summer (Zooey Deschanel) a assistente de seu chefe, e daí para frente uma relação um tanto complicada se desenrola. A moça não quer nenhum tipo de relcionamento mais sério, ele tenta entrar na onda, mas ainda é daquele tipo que acredita no amor acima de todas as coisas.

De forma episódica o diretor Marc Webb consegue prender a atenção nos principais momentos do casal, porém sob o ponto de vista do apaixonado Tom. Consegue embarcar o espectador nas alegrias e no sofrimento depreciativo do jovem que durante estes fatídicos 500 dias não compreende a personalidade, a seu ponto de vista, estranha de Summer. Sua forma de nos fazer, ou tentar fazer, compreender que às vezes as coisas não dão certo são contrabalanceadas pelas viagens sentimentais coloridas e musicais de Tom e os conselhos cruéis, todavia realistas, de sua púbere irmã Rachel (a sempre boa Chloe Grace-Moretz).

Um filme imperdível para quem sofre por amor não correspondido e também para quem goza de um amor verdadeiro, um discuro pop, aberto e moderno das casualidades de um relacionamento que não deu certo. Não é apocalíptico e nem afirma uma efemeridade do amor, é simplesmente a nova comédia romântica que foi seguida por Amizade Colorida Sexo sem Compromisso, apesar de ambos não terem conseguido ser tão cinematograficamente bem sucedidos quanto o filme de Webb. Mas fica o registro de novos tempos, no amor e no cinema.