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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Personagens inesquecíveis: Gollum/Smeagol (Andy Serkins)

Filme: O Senhor dos Anéis: As duas torres e O retorno do Rei (2002/2003)

Quem não conhece o ser repugnante, que rasteja pelos cantos, maldizendo e assombrando os pequenos Hobbits que tem a missão de destruir seu amado "precioso", e mesmo assim é paradoxalmente cativante? Bom, se nunca viu ou ouviu falar é porque não bom da cabeça ou é doente da vista. O antológico Gollum, construído à base do talento inquestionável de Andy Serkins e efeitos CGI (Captura de movimentos) é um personagem ambíguo, que transita entre suas duas personalidades, que ama e odeia o Um Anel. É, com certeza a melhor criação do universo de J. R. R. Tolkien e quando transportado para as telonas só engrandeceu a atração inevitável que sua presença causa. Um marco do cinema tão grande quanto a trilogia da qual fez parte. Um a pena que Serkins não teve a chance de ao menos ser indicado ao Oscar por sua atuação, verdadeiramente excepcional. Mas não fiquem tristes, o personagem estará de volta em O Hobbit, em dezembro.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

O Ditador (2012)


The dictador, 2012. Dirigido por Larry Charles. Com Sacha Baron Cohen, Anna Faris, Ben Kingsley, Megan Fox, John C. Reilly e Edward Norton.
 
Nota: 3.5
 
Quando um subgênero surge no cinema, as produtoras afoitas por sucesso econômico não se contêm em saturar o público, até que ele se canse, ou perca a maioria dos adeptos. Em 2006, Sacha Baron Cohen levou seu repórter fake Borat aos cinemas, estarreceu o público com as situações bizarras que "o segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão" proporcionou em seu tour pela América, mas agradou a crítica com um novo braço da comédia, o falso documentário. Seis anos depois, e um malfadado longa no período, o repugnante Bruno (2009), Cohen deixou de lado o falso "doc", criando um filme que peca por gags inverossímeis e estúpidas, e apela a um romance sem graça.
Na trama, o ditador do fictício país Wadiya, no Oriente Médio, Aladeen (Sacha Baron Cohen) é odiado pelo povo e pelos seus conselheiros, inclusive seu tio e sucessor Tamir (Ben Kingsley). Quando vê seu plano de fabricar armas de destruição em massa ameaçado pela ONU, resolve viajar para Nova Iorque e discursar em uma assembleia para impor a soberania de seu país e firmar a ditadura. Porém, conspirações o colocam em apuros e, sozinho na cidade, precisará da ajuda da militante Zoey (Anna Faris) para retornar a tempo de evitar o fim de seu governo.
A caricatura criada por Cohen remete aos tiranos da região de origem de seu personagem, e tem o mérito de expor o lado patético e ridículo que constituem a personalidade de tais governantes, porém, com uma grande forçada de barra do ator. Entretanto, o seu roteiro não funciona como esperado, principalmente por perder o fator "surpresa" que deixava as pessoas que compunham as cenas desconcertadas, e garantiam mais graça às situações, pois todos riam do comportamento destas em relação ao comportamento dos personagens Borat e Bruno. A relação de Aladeen com Zoey não acrescenta nada, além de sequências de mau gosto promíscuo e discursos racistas e ofensivos.
As bobagens foram tantas e tão ininterruptas que mal se digere uma situação esdrúxula, e outra já toma espaço. A participação de Anna Faris chega a ser dispensável, já que a moça nem parece ser a mesma que consegue algumas gargalhadas em Todo mundo em pânico e A casa das coelhinhas, é absorvida pela centralização do texto em Aladeen. E Ben Kingsley deve ter recebido muito para aceitar um papel pequeno em um filmes desses. Pior, só as aparições de Megan Fox e Edward Norton como eles mesmos "fazendo programa", vergonhoso.
Só Cohen consegue dar raros momentos de graça genuína ao filme, e deixa claro que se tivesse sido bem trabalhado, seu personagem poderia ter rendido boas gargalhadas. Um filme que conseguirá satisfazer um público acostumado a bobagens estilo MTV, mas que, provavelmente, não escapará ao exorcismo se comparado a Borat. E pensar que Chaplin fez humor das idiotices de um tirano muito mais terrível que os de hoje no histórico O grande ditador (1940), e trouxe uma linda mensagem, sem palavrões e gags preconceituosas. Esse sim fazia comédia de verdade.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Personagens inesquecíveis: Holly Golightly (Audrey Hepburn)

Filme: Bonequinha de luxo (1961)

Apaixonante do início ao fim, assim pode-se resumir a aparição nas telonas de Hepburn como Holly Glightly no clássico adaptado do best-seller de Truman Capote. Se não é sua melhor atuação, é com certeza a mais inesquecível, pois conseguiu dar vida com veracidade incrível, parecendo que era a inspiração de Capote, não o contrário. O jeito de princesa, caiu bem para compor a personagem que vivia sendo "cultivada" por vários homens, simplesmente para manter seu grande sonho de um dia se tornar uma atriz famosa. Ao lado de George Peppard, conduziu cenas hilária e emocionantes. Um libelo de personagem, que segue sendo inspiração na confecção de obras na TV e também no cinema, além de ser um símbolo de estilo invejado na época. Rendeu uma indicação ao Oscar para Hepburn, e reside no imaginário coletivo dos cinéfilos por gerações.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A condenação (2010)


Conviction, 2010. Dirigido por Tony Goldwyn. Com Hillary Swank, Sam Rockwell, Melissa Leo, Peter Gallagher e Julliet Lewis.
Nota: 6.5
 
Hillary Swank e Sam Rockwell formam uma dupla (quase) imbatível num filme que tinha tudo para ser algo fantástico, mas que acaba escambando para o fantasioso
 
Adaptar uma história real para o cinema não é a mais fácil das tarefas. O cinema biográfico como dizem, é constituído de pesquisas, avaliações, levantamento de dados e outros argumentos que possa por em validade questões pertinentes do personagem ou persona em voga. É uma tarefa difícil, que passa a ser recompensadora quando a obra vira algo apreciável. E o mais fundamental, quando a obra passa veracidade, palavra chave para falar de acontecimentos reais.
 
Quando o ator Tony Goldwyn (o Carl de Ghost) resolveu se aventurar como produtor ele se tornou escravo de sua escolha, brilhante por sinal. Levar às telas a fantástica história de uma dona-de-casa que de repente abandona tudo, incluindo marido e filhos, para se dedicar a livrar o irmão da prisão, num belo enredo de amor incondicional ao sangue de seu sangue. Além do enredo, Tony também foi feliz na escolha do elenco. A talentosa Hillary Swank assumiu o posto tanto de produtora executiva quanto a de protagonista como Betty Anne Waters, que depois de anos cozinhando e cuidando de casa, decide retornar aos estudos para salvar o irmão de uma injusta condenação.
 
 
O oprimido em questão é Kenny Waters, vivido pelo excelente Sam Rockwell. Um típico bom vivant interiorano, modelo dos rapazes de cidade pequena que coleciona tanto amantes quanto confusão a cada barzinho de esquina. Quando aparece um corpo de uma mulher brutalmente assassinada, não é muito difícil para as autoridades locais eleger e condenar seu único suspeito. Kenny passa anos na prisão e sua atitude rebelde apavora a irmã, que resolve agir antes que seja tarde mesmo que nesse processo perca o marido e os filhos. A luta é incessante. Intrigas familiares, vinganças pessoais e corrupção policial enredam a trama até a libertação final de Kenny.
 
Além de Hilary e Rockwell, a ganhadora do Oscar Melissa Leo tem mais uma atuação segura como Nancy Taylor, a delegada corrupta responsável pela condenação injusta do rapaz. Cléa Duvall, a esposa traída, Peter Gallagher, o advogado famoso esteio de Betty compõe o elenco de feras. Feras estas que se sentiram enjauladas num roteiro claustrofóbico que aponta para cenas superficiais e surreais. À medida que Betty vai se aproximando de seu objetivo, tudo decai para o lugar-comum, sem ritmo e emoção. O clímax de cada descoberta que levaria a inocentar o irmão se esvai a acontecimentos inverossímeis dentro do contexto de um bom enredo cinematográfico. E termina da forma esperada. Com uma simples sentença proferida pela juíza. E só. É como se tudo literalmente “caísse do céu” para este momento. Frio por sinal. Não há o elo, a liga homogênea de roteiro necessário entre uma cena e outra da trama.
 
Embora tenha sido baseado numa história real fica difícil crer nesta premissa ao assistir ao filme. O elenco é afinado e visivelmente prejudicado pelo roteiro e assim todos terminam caricatos, ou seja, falam sem nada dizer. De real mesmo somente a atuação assombrosa em todos os sentidos da excepcional Juliet Lewis, que em pouco mais de 7 minutos dá um show de interpretação na caracterização e no desempenho como a repugnante Roseane, uma ex-amante de Kenny que ajudou a colocá-lo na prisão. A atriz é uma das poucas coisas que fogem do contexto de falsa realidade. Em suma, o filme de Goldwyn é um erro de estruturação que condena justamente uma história fantástica, transformando-a em algo fantasioso, que tinha tudo para ser emocionante, libertador, mas que cai numa cela de emoções esquecíveis.
 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Personagens inesquecíveis: Jerry/Daphne (Jack Lemmon)

Filme: Quanto mais quente melhor (1959)

Muitos críticos mundo afora indicam esta deliciosa comédia de Billy Wilder como a melhor de todos os tempos. Apontar assim é complicado, pois gosto é gosto. Mas, o que é um fato para quem assistiu o longa, é que a atuação de Jack Lemmon é extraordinária. Interpretando Jerry (Daphne), consegue ficar em um limite aceitável da escatologia, pois seu hiperbolismo não fere a intenção de Wilder. O personagem conseguiu ofuscar a aparição de Tony Curtis como seu parceiro travestido Joe, e consegui não ser diminuído pelo furacão Marilyn Monroe, como Sugar Kane. Pelo papel o ator foi indicado Oscar de melhor ator. Pena não ter vencido. Vale a pena conferir.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O vingador do futuro (2012)

Total recall, 2012. Dirigido por Len Wiseman. Com Colin Farell, Kate Beckinsale, Jessica Biel, Bryan Cranston e Bill Nighy.

Nota: 7.1

Colocar em prática a idéia de adaptar um cult movie de um dos gêneros que obtêm os fiéis seguidores mais exigentes como é a ficção científica era uma tarefa deveras arriscada. Caso não seja um reboot (releitura), como foi os últimos filmes do Batman e do Homem-aranha, corre o grave risco de não passar pela malha fina da crítica. Porém, o diretor Len Wiseman consegue dar um pouco de vida ao longa, usando a mística do desconexo de tempo e espaço consagrado no filme de Paul Verhooven, incorporando elementos do cinema contemporâneo como a montagem frenética e efeitos visuais de primeira classe.

A história se passa em um mundo dividido em duas comunidades que ainda habitam na terra após uma catástrofe biológica, a Federação Unida da Bretanha (basicamente a Europa) e a Colônia (a Oceania), ligadas pela “queda”, um túnel com elevador gigantesco que as une. Doug Quaid (Colin Farrel) é morador da Colônia e assim como todos por lá. Vive atormentado por sonhos estranhos com uma bela jovem morena, mas acorda ao lado de outra bela mulher, Lori (Kate Beckinsale). Quando conhece o programa da empresa Rekall, que promete implantar novas lembranças em sua memória. Mas algo sai errado, e ele se vê como um inimigo do Chanceler Cohaagen (Bryan Cranston) que pretende eliminá-lo juntamente com os rebeldes da Colônia.

O arcabouço da trama é praticamente a mesma do filme de 1990, entretanto a narrativa foi transferida para um futuro mais influenciado pelos grandes avanços tecnológicos, além das ações de conflito social, deslocados do eixo Terra-Marte, somente para o nosso planeta. Isso fez com que o roteiro de Mark Bomback e Kurt Wimmer ganhasse em agilidade, facilitando a tarefa de cair no gosto do público jovem. A forma em que foi incorporado ao elemento central uma idéia, mesmo que rasteira, da segregação social controlando o mundo foi uma boa sacada, afastando mais ainda da primeira versão.

O trabalho de Wiseman é tão barulhento e corrido quanto o irregular Anjos da noite 4, no qual abusou de tiros e bombardeios, artífices áudio visuais que incomodavam. Mas no caso deste O vingador do futuro, tudo o que estava presente era para ser usado, ainda pela qualidade inegável dos efeitos digitais. Porém este foi o veneno do diretor. No momento em que poderia tornar esta produção marcante, optou por levar a correria frenética até o último suspiro, deixando o desfecho batido, sem um encerramento que contentasse àqueles que não se satisfizeram com o apagar das luzes do filme de Verhoeven.

Aquele tom gótico e obscuro, com seres bizarros que tornaram o filme original um grande fenômeno não conseguiu ser substituído à altura pelo frenesi tecnológico. Outro fator que deixa a desejar é a escolha dos atores, já que Farrel é inexpressivo, tanto quanto Arnold Schwarzenegger, porém não possui o carisma que alçou o segundo ao estrelato. Jessica Biel e Kate Beckinsale estão muito presas nos elementos estereotipados que caracterizavam a mocinha e a vilã, sem esforço nenhum por parte de ambas. Bill Nighy quase não é percebido e Bryan Cranston está preso a um personagem hiperbólico.

Contudo, esse novo O vingador do futuro não é nenhuma bomba, e pode agradar ao público, principalmente quem não teve a oportunidade de assistir ao primeiro. Mas esse “recall” da obra imortal de Philip K. Dick poderia ter sido mais bem planejado. Talvez, o problema até seja a grande pretensão dos produtores, mas o determinante para que este exemplar caia na categoria passatempo descartável é o excelente trabalho de Verhoeven em 1990. Isso é fato.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Cinema e esporte

Diversão, entretenimento com cultura. Estes são os grandes elos que unem um e o outro. Afinal, quem é que não gosta de ir ao estádio ou a um ginásio torcer de coração por seu time favorito? A mesma coisa observar nos cinéfilos. Aqueles que fazem filas quilométricas para saciar sua sede por seu aguardado filme em exibição. Esporte e cinema tem dessas coisas. Coisas que ajudam a conduzir a sensibilidade humana, fazendo-a enxergar as mais variadas formas de interagir com todos os povos. Não é preciso ir muito longe para viajar pelos países nos gramados, quadras, pistas, piscinas e telas de cinema. Por isso, apresento aqui algumas formas interessantes de unir dois dos maiores espetáculos de entretenimento do planeta.

GÊNIO INDOMÁVEL: o filme que revelou outro lado dos galãs Ben Affleck e Matt Damon como roteiristas, fala do quanto é difícil se encontrar na juventude, mesmo com um talento extraordinário para alcançar seus objetivos. O roteiro, vencedor do Oscar, poderia ser baseado na vida do fantástico nadador Michael Phelps, que detém recordes impressionantes em sua brilhante carreira, mas que de vez em quando afunda na sua vida pessoal com atitudes não condizentes de sua posição como ídolo mundial.




SUPERMAN: ele não usa capa como o ilustre visitante de Krypton, mas parece voar na pista. Sua super força física e sua super velocidade, transformam o jamaicano Usain Bolt em um super-homem na mais concepção da palavra. Há até quem acredite que ele nem seja deste planeta. Será que Clark Kent não é o único? O carisma do maior herói dos quadrinhos americanos é algo também em comum que sustenta a fama deste simpático atleta que arrebata muitos admiradores em todo o mundo.




UM OLHAR DO PARAÍSO: olhar as coisas mundanas do alto de um firmamento subjetivo depois da morte fez a jovem Susie Salmom repensar o sentido de vingança pela sua fatalidade. Bem, vingança aqui só se for contra seus oponentes e dentro do espírito esportivo. As apresentações mágicas da bela saltadora russa Yelena Yshinbayeva são um dos momentos capitais do esporte. A moça salta tão alto que para ela, é possível vislumbrar de seu paraíso olímpico os pobres mortais que não se cansam de se assombrar com suas performances.




O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA: “Venham um, venham todos...” todos os povos do mundo para acompanhar em Paz e alegria o maior espetáculo da Terra. O filme de Cecil B. De Mille contava as peripécias das mais populares estrelas circenses que encantavam multidões. Então o que dizer dos americanos, o número 1 do Basquete? Lebron James e Cia não deixam por menos e arrasam em cada partida, ou melhor, em cada espetáculo de jogadas tão impressionantes que se assemelham tranquilamente a um verdadeiro show de malabarismos na terra ou no ar.



BELEZA AMERICANA: a ninfeta vivida por Mena Suvari no brilhante filme de Sam Mendes pode não ser a protagonista do título, mas com certeza é a figura mais marcante. Marcante também é a presença da belíssima goleira da seleção americana de futebol feminino Hope Solo. A morena ajuda a abrilhantar os gramados com o talento futebolístico nato e claro, uma beleza que por si só já a atenção de muitos espectadores para a modalidade.





MENINA DE OURO: mesmo não sendo detentora da medalha dourada, a brasileira Marta, a melhor do mundo, e suas companheiras já são campeãs. Esforço, persistência, dedicação, paixão. Elementos que ajudam a formar verdadeiros campeões como a boxeadora Maggie Fitzgerald, a menina de ouro do aclamado filme de Clint Eastwood, que assim como Marta não teve sua chance de conquistar o topo.






UMA MENTE BRILHANTE: o premiado filme de Ron Howard que contou a história real da brilhante trajetória do matemático John Nash e seu imenso desafio em superar uma esquizofrenia tornou seu personagem central um mito, um herói, um homem admirável. Bernardinho, o homem por detrás das conquistas de nosso vôlei, se encaixa perfeitamente nestas nomenclaturas quando detém três finais olímpicas da modalidade. Uma história de vitórias que parece mesmo cinematográfica. 




CORAÇÃO VALENTE: o mito irlandês Wiliam Wallace que liderou o exército de camponeses de seu país contra a tirania da Monarquia britânica fez do filme de Mel Gibson um espetáculo inspirador. Uma guerra entre David e Golias e como na história bíblica, o menino venceu o gigante. Assim são os atletas brasileiros que usam além do talento extraordinário e uma força de vontade descomunal para conquistar seu momento glorioso. O coração valente que inspira e alimenta seus sonhos. Vendo a realidade de nossos atletas, parece até mais fácil libertar um povo da dominação estrangeira.



terça-feira, 14 de agosto de 2012

À beira do caminho (2012)

A beira do caminho, 2012. Dirigido por Breno Silveira. Com João Miguel, Vinivius Nascimento, Dira Paes e Denise Weinberg.

Nota: 7.9

Quando parecia que o cinema nacional tinha apresentado suas melhores obras, com os sucessos de público Heleno e Xingu, e também com o perturbador Febre do rato, eis que um despretensioso road movie surge de uma releitura inspirada de algumas canções do "rei" Roberto Carlos. À Beira do Caminho é um filme que, por mais óbvio que pareça e aconteça, consegue ir fundo no estudo das relações fraternais e no comportamento humano ante seus próprios demônios.
O longa acompanha o caminhoneiro João (João Miguel) pelas mais diversas paisagens das estradas do sertão e agreste nordestino. Ora entre a poeira e a vegetação escassa, ora cercado pelas verdejantes matas agrestinas. Traumatizado com acontecimentos do passado, ele vaga sem destino concreto, se martirizando e sofrendo com algo que não pode ser mudado. Mas quando seu caminho se enlaça com o do órfão Duda (Vinícius Nascimento), que pretende ir a São Paulo em busca do pai, ambos descobrirão que são importantes um para o outro, mais do que imaginavam.
A história que nasceu de um argumento de Léa Penteado, que já trabalhou com o cantor Roberto Carlos, tem como cartão de visitas a dureza da vida de caminhoneiro, das refeições em espeluncas à beira da estrada, as roupas lavadas a sabão bravo no rio, e a companhia da cachaça bebida no gargalo. A personalidade reclusa, carregada de autopiedade exagerada de João se interpondo com a determinação e perspicácia do menino Duda, permitem uma leitura livre de pieguices, das quais filmes do gênero geralmente pendem.
Mas tudo só funciona da maneira esperada quando o trabalho do diretor Breno Silveira entra em ação. Na mesma sensibilidade em que conduziu 2 filhos de Francisco, ele conseguiu pontuar, com canções de Roberto Carlos e frases de pára-choques, cada momento em que se encontrava o espírito de João. Intimista, buscava a todo o momento a melhor expressão dos atores, as alegrias, as tristezas e frustrações. Arranca sorrisos do público com tanta facilidade quanto os leva às lágrimas. Trevas e luz, o curso da vida na forma do tortuoso caminho e a solução de todos os problemas à beira, sugerindo a felicidade da escolha do título.
João Miguel é o mais camaleônico dos atores do cinema nacional, e provou isto dando vida a um personagem soturno, fracassado e sofredor. Entregue à melancolia e ao flagelo de não se perdoar por erros do passado, e fez deste seu melhor trabalho. Seu companheiro de cena, o pequeno Vinicius, mostra segurança e consegue transmitir o otimismo e equilíbrio de Duda. Até as participações pequenas de Dira Paes e Denise Weinberg são competentes.
Tudo bem que o filme seja óbvio demais, e que seu enredo passe por outras produções nacionais que se fazem por viagens de engrandecimento e autoconhecimento, como Central do Brasil e Caminho das Nuvens. Mas as canções de Roberto Carlos conduzindo a sorte dos personagens traz algo a mais ao longa de Silveira, e mesmo que todo mundo saiba o que esperar, a comoção da relação do homem com o menino é inexplicavelmente inevitável. Uma bela surpresa para o cada vez melhor cinema tupiniquim, e uma involuntária (ou não) homenagem ao Dia dos Pais.



sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Os dez melhores faroestes de todos os tempos


Depois de uma análise dos melhores filmes de western, conhecido em terras tupiniquins como faroestes, o Cineposforrest chegou à sua lista de dez melhores de todos os tempos. Só para constar, trata-se de uma opinião, qualquer discordância pode ser expressada no espaço dos comentários. Eis a lista.

1º - Rastros de ódio (1956)
The searchers, 1956. Dirigido por John Ford. Com John Wayne, Jeffrey Hunter, Vera Miles, Ward Bond, Dorothy Jordan, Henry Brandon e Natalie Wood.
Nota: 10

Uma busca incessante em meio a paisagens áridas por vingança. Resumindo assim nem parece que John Ford criou o mais poderoso e hipnótico filme do gênero, porém o longa vai mais além e discute de forma soberba os limites do racismo e a relação de um homem com seus instintos. Com um inspirado Wayne, seu personagem é tão forte quanto seu desejo de assassinar os índios que raptaram sua sobrinha. Um primor absoluto e imperdível.



2º - Era uma vez no oeste (1968)
C’erauna volta il West, 1968. Dirigido por Sergio Leoni. Com Henry Fonda, Claudia Cardinale, Jason Robards, Charles Bronson, Paolo Stoppa e Jack Elam.
Nota: 9.7

Quando o gênero começou a declinar em Hollywood no fim da década de 50, uma sobre –vida lhe foi dada em um lugar pouco provável, a Europa. Lá ganhou a alcunha de western spaghethi e teve Sergio Leoni seu principal mestre. Conduzindo a brutalidade em meio ao lirismo de suas tomadas, criou homens maus de verdade em meio a pessoas defendem seus interesses. Uma obra de arte atemporal, de contexto político e intimista como de costume em sua cinematografia. Genial.


3º - No tempo das diligências (1938)
Stagecoach, 1938. Dirigido por John Ford. Com John Wayne, Claire Trevor, Andy Devine, John Carradine, Thomas Mitchell, Louise Platt e Tom Tyler.
Nota: 9.5

A década de 30 não havia rendido boas (ou rentáveis) obras do gênero, que acabou sendo relegado a produtoras de baixo orçamento e capacidade. Sua a benção do lendário David O. Selznick, o não menos inesquecível John Ford regeu o grande cowboy John Wayne no mais clássico dos westerns .  As ações se passam em uma diligência que atravessam um território indígena, e Ford abre espaço para que muitos atores brilhem em papéis fortes. Nem precisa dizer mais nada.

4º - Os imperdoáveis (1992)
Unforgiven, 1992. Dirigido por Clint Eastwood. Com Clint Eastwood, Gene Hackman, Morgan Freeman, Richard Harris, Saul Rubinek, Anna Levine e Rob Campbell.
Nota: 9.4

O último western de Clint Eastwood é uma obra completa. Tem ação, drama, um estética cinematográfica impecável e atuações extraordinária. Venceu quatro dos nove Oscar de disputou, incluindo melhor filme, e traz a história de ex-pistoleiro que terá de voltar à ativa para vingar a morte de seu amigo. Eastwood faz uma sátira a ele mesmo, voltando aos cinemas para dar um último, e brilhante, suspiro.


5º - Onde Começa o inferno (1959)
Rio Bravo, 1959. Dirigido por Howard Hawks. Com John Wayne, Dean Martin, Ricky Nelson, Angie Dickinson, Walter Brennan e Ward Bond.
Nota: 9.3

Trabalhando com clichês básicos do gênero, Howard Hawks fez uma obra excelente. John T. Clance (o bonachão supremo John Wayne) terá que resistir às investidas de pistoleiros que pretendem libertar um encrenqueiro irmão do chefão do bando. Para isso terá que ajudar seu amigo bebum (Dean Martin) a se recuperar para poder ter sua ajuda, ainda contar com o auxílio de um jovem e impetuoso forasteiro (Ricky Nelson) e  manter o romance com a viajante misteriosa (a voluptuosa Andie Dickinson). Tudo permeado pelo humor rabugento do Stumpy (Walter Brennan). Um dueto entre Martin e Nelson engrandecem ainda mais a obra.


6º - Meu ódio será tua herança (1969)
The wild bunch, 1969. Dirigido por Sam Peckinpah. Com Willian Holden, Ernest Borgnine, Robert Ryan, Edmond O’Brien, Warren Oates, Jaime Sanchéz, Bem Johnson e Emilio Fernandéz.
Nota: 9.2

Quando muitos achavam que o western estava morto no território americano, principalmente quando o italiano Sergio Leone sacramentou o “spaghetti” em território europeu, eis que surge Sam Peckinpah e mostrou que a nação que fundou o gênero possuía condições de retomá-lo e ainda criar uma de suas obras mais emblemáticas. Um agitada perseguição de um grupo de mercenários liderados por Deke Thorton (Robert Ryan) pelo cruel bando de Pike Bishop (Willian Holden). Um filme violento, mas de um lirismo raríssimo.


7º - Os brutos também amam (1953)
Shane, 1953. Dirigido por George Stevens. Com Alan Ladd, Jean Arthur, Van Heflin, Brandon De Wilde, Jack Palance e Ben Johnson.
Nota: 9.2

Primeira parte da “trilogia” de George Stevens sobre a formação dos Estados Unidos, mostra o pistoleiro Shane (Alan Ladd), recém-chegado a uma cidade, ajudando os pequenos fazendeiros a lutar contra um latifundiário. No meio de tudo isso, conquista a ternura de uma mulher e a admiração de um garoto. Um filme cheio de alegorias e um exemplar tocante sobre o bem e o mal. Shane é o padrão dos solitários heroicos comuns ao gênero. Imperdível.


8º - O homem que matou o facínora (1962)
The man who shot liberty valence, 1962. Dirigido por John Ford. Com John Wayne, James Stewart, Vera Miles, Lee Marvin, Edmond O’Brien, Andy Devine, John Carradine e John Qualen Willis.
Nota: 9.0

Último western feito pelo mestre do gênero John Ford, merece o lugar na lista. O advogado Ramson (James Stewart) chega a uma pequena cidade para transformá-la em um lugar digno. Mas os poderosos do local contratam um pistoleiro para mata-lo, e ele enfretará o perigo com a ajuda de um outro pistoleiro (John Wayne). Elenco formidável, porém quem rouba a cena é Lee Marvin, que se consolidou como o homem mau do cinema. Obra de arte.


9º - Três homens em conflito (1966)
Il buono, il bruto, il cativo, 1966. Dirigido por Sergio Leoni. Com Clin Eastwood, Lee Van Cleef, Eli Wallach, Aldo Giuffré e Luigi Pistilli.
Nota: 9.0

Última parte de uma trilogia de Leoni com Eastwood, traz três bandoleiros em um jogo de parceria e trairagem para se apossar de milhares de dólares. Ritmo e narrativa se complementam e as ações englobam o que tem de melhor no chamado western spaghetti. Um filme inesquecível que termina com uma sequência antológica da ponte e do cemitério. Eastwood e Van Cleef ficam na média, porém Wallach (o feio), dá um show à parte. Imperdível.


10º - Bravura indômita (2010)
True grit, 2010. Dirigido por Joel coen e Ethan Coen. Com Jeff Bridges, Matt Damon, Hailee Steifield e Josh Brolin.
Nota: 8.9

Sem um exemplar digno de nota desde Os Imperdoáveis, os Irmãos Coen revitalizaram o gênero com o remake do filme que deu o Oscar a John Wayne. O bebum caolhoRooster Cogburn (Bridges) é contratado por uma menina (hailee Steifield) para seguir a trilha de um bandido (Josh Brolin) e vingar a morte de seu pai. Elenco impecável, destraque para Bridges e Steifield, ambos indicados ao Oscar. Com um humor negro presente em toda a obra dos Coen, o filme é um feliz libelo nesta época onde o cinema esqueceu que o gênero ainda pode render bons frutos.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A Ultima Estação (2010)


The last station, 2010. Dirigido por Michael Hoffman. Com James McAvoy, Helen Mirren, Christopher Plummer, Paul Giamatti, Kerry Condon e Marie-Ann Duff.

Nota: 7.7

Sempre é bom acompanhar uma cinebiografia, é a oportunidade de conhecer a vida de uma personalidade e descobrir coisas que não sabemos. Mas em alguns casos o filme se atém a algum trecho da vida do biografado, o que não perde a mágica, desde que seja interessante. Foi pensando assim é que Michael Hoffman levou ao cinema o momento derradeiro da vida de Lev Tolstoi, o autor de obras-primas da literatura como Guerra e paz e Anna Karenina, que repensa a ideologia que promulgou e influenciou toda uma geração.

A trama é simples. O jovem Valentin (James McAvoy) viaja até o retiro em que se reúnem os tolstoianos mais fervorosos a fim de viver sob seus conceitos. É mandado para a residência do próprio Lev Tolstoi (Christopher Plummer) para ser seu secretário pessoal, e aprender mais de sua doutrina. Porém, quando percebe que a relação de seu mentor com a esposa Sofya (Helen Mirren) não é das melhores por questões de herança e política, combinado a sua paixão por uma das seguidoras Masha (...), começa a reconsiderar o verdadeiro espírito da ideologia.

Hoffman constrói um questionário cinematográfico que coloca em xeque o fundamento maior do pensamento tolstoiano, dito pelo próprio escritor em uma cena, o amor. A transformação do movimento em arma política pelas mãos de Chertkov (Paul Giamatti) vai de encontro a tudo que Valentin acreditava. A opção do líder partidário em convencer Tolstoi a tirar da esposa os direitos da família em possuir propriedade das obras após sua morte são questionadas pelo jovem, assim como a castidade imposta pela teoria que o impede de amar Masha. Seu contato com o mestre vai revelando a ele qual caminho deveria tomar, e se vê em uma encruzilhada moral.

Não há uma intenção de o diretor tornar o escritor um descrente de seus próprios ensinamentos, mas deixa uma intersecção no limiar de sua vida, será que tudo o que disse deveria mesmo ser tomado como um axioma? De forma sensível, Hoffman envolve os dois casais do longa em uma correlação de atitudes, sendo que Tolstoi sente a amargura de se considerar um traidor de sua teoria, e Valentin luta para não cometer o mesmo erro dele.

Se não tivesse se apegado demais a sentimentalismo e ter conduzido o filme de forma mais segura e racional, mesmo se tratando de um romance, Hoffman teria triunfado. Mesmo assim, não pode deixar de considerar a ousadia de levar ao questionamento popular este paradoxo de consciência de uma figura tão lúcida e emblemática como Lev Tolstoi. Isso, mais as atuações tocantes do quarteto central, principalmente Mirren e Plummer, já valem o ingresso, ou dinheiro do aluguel do disco.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O que esperar quando você está esperando (2012)

What to Expect When You're Expecting, 2012. Dirigido por Kirk Jones. Com Rodrigo Santoro, Jennifer Lopez, Elizabeth Banks, Cameron Diaz, Brooklyn Decker, Dennis Quaid, Chris Rock, Anna Kendrick, Chance Crawford e Matthew Morrison.

Nota: 6.7

Estão mesmo em alta no cinema atual as adaptações literárias. É só parar e ver a quantidade delas que estreiam todas as semanas em salas de todo o mundo, e depois de quadrinhos e obras consagradas, chegou a vez dos livros de autoajuda ganharem sua chance. Com O que esperar quando você está esperando, baseado no best-seller homônimo de Heidi Murkoff , Kirk Jones entrega aos grávidos de plantão um filme com uma mescla de comédia, drama e romance, mas que sofre por não saber distribuir bem os gêneros envolvidos e também a importância dos personagens.

A história gira em torno de cinco dos problemas mais comuns que envolvem a gravidez. Holly (Jennifer Lopez) e Alex (Rodrigo Santoro), que resolvem adotar uma criança; Wendy (Elizabeth Banks) descobre que seu sonho de ser mãe não é tão fácil assim; Jules (Cameron Diaz) é uma apresentadora de um programa de TV e entra em pânico com a situação ao lado do marido; Skyler (Brooklyn Decker) é muito mais nova que o marido Ramsey (Dennis Quaid) e verá nisso um problema; e Rosie (Anna Kendrick) que, na primeira transa, se descobre grávida.

O roteiro tenta trazer ao público a essência insegura e acadêmica do livro na já famosa fórmula episódica de pipoca vez ou outra nas telonas, desde Short Cuts, de Robert Altman. Cada fragmento engloba um ato das intempéries que os personagens enfrentam e que, em determinado momento, se correlaciona. O tom de comédia toma maior parte das ações do filme, sendo que nos episódios onde ela é predominante, o texto fica prejudicado pela escatologia estereotipada e repleta de clichês, como o clube onde os homens se encontram para troca de experiências.

Quando há tensões maiores envolvidas e dilemas morais são anexados aos personagens, o filme tem seus melhores momentos. As dúvidas de Alex para com a decisão da esposa, da qual ele compartilhou a ideia de adotar um filho, se alternam em tiradas de humor fino e um sofrimento frágil, porém sincero. Também é muito interessante o envolvimento e a aprendizagem que se criam entre os jovens Rosie e Marco (Chace Crawford), que veem a relação se enriquecer com a descoberta da gravidez acidental da moça.

Jones mostra que mantém certa ingenuidade e fragilidade na condução do longa, que exigia maior preocupação com a transição dos capítulos. A falta de elementos que tornassem os atos protagonizados por Diaz, Banks e Decker mais interessantes poderiam ter suprimido os excessos de bobagens manjadas que foram inseridos. Além de praticamente anular o trabalho das atrizes, reduziu seus companheiros a elenco de apoio de luxo. Talvez tenha sido uma escolha errada para um projeto tão delicado.

Depois de receber várias críticas sobre seus trabalhos no exterior, Rodrigo Santoro mostra que pode, e merece, melhores personagens em Hollywood. Ele mantém uma segurança característica em trabalhos recentes, além de uma grande versatilidade, o permite transitar entre o humor e o drama. Já a âncora feminina é Anna Kendrick. A jovem e talentosa atriz mostra que não é por acaso a indicação ao Oscar presente em seu currículo (coadjuvante em Amor sem escalas). Não dá espaços para Diaz e Lopez brilharem e rouba a cena com seu florescimento maternal ao lado do futuro pai de seu filho.

Acaba que O que esperar quando você está esperando não é um filme ruim, mas não faz jus ao livro de grande importância que se tornou. Porém, se salva como um passatempo pueril. E se quem for o assistir estiver na mesma situação de algum dos personagens, terá grande chance de fazer sucesso.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Assim é Marilyn Monroe


E lá se vão 50 anos sem o brilho imenso e intenso de uma estrela jamais vista na história. Seu nome atravessa as fronteiras do entretenimento e ecoa ainda hoje como um marco histórico, um mito incomparável.

Os homens preferem as loiras: foi em Los Angeles, a capital das estrelas que nasceu Norma Jean Baker Mortenson em 1 de Setembro de 1926. Filha de mãe solteira e um pai que nunca viu, sempre sonhou em ter seu nome gravado na calçada da fama por onde pisava. Aos 16 anos, a morena Norma já sabia o que queria quando seu primeiro marido foi servir na Segunda Guerra Mundial. As portas lhe foram abertas pelo agente Jhonny Hyde que a escalou para pequenos papéis. Quando o marido retornou da Guerra, ela se divorciou, querendo exclusividade em sua ascendente careira artística que ia de vento em poupa quando recebeu instruções do chefão da Fox para mudar de nome e de visual. A morena Norma dava lugar à loira Marilyn Monroe, uma fusão dos nomes de Marilyn Miller e James Monroe. Para seus agentes, este nome seria mais atraente nas marquises.

Só a mulher peca: apontada por 11 em cada 10 pessoas como o maior símbolo sexual da história, nem sempre a fama atribuída foi tranquila. Sua arte de escandalizar o público parecia tão intacta quando a moral e os bons costumes que desafiou numa época onde a repressão feminina se estabelecia com frequência. Foi ela que tornou evidente o poder da mulher no cinema e fora dele com novas projeções sociais e comportamentais.

Quanto mais quente melhor: logo a imagem única de uma mulher sedutora e fatal, mas que ao mesmo tempo conseguia ser ingênua e quase infantil a tomou um sexy simbol de forte atração física e social. A sensualidade da loira era diferente de todas as outras estrelas, pois não provinha apenas de caras e bocas e estilos inconfundíveis de vestuário. Era única, especial por possuir um atributo até então fora dos padrões. Um brilho sem igual e um carisma propenso a faturar com os sucessos cinematográficos. O imaginário masculino dava pinotes de êxtase toda vez que a loira iluminava as telas com sua marca inconfundível.

Torrentes de paixão: a consagração como a loira mais sensual do cinema desencadeou um turbilhão de fãs pra lá de fanáticos. Tanto que durante as filmagens de O pecado mora ao lado, um de seus filmes de maior sucesso, uma multidão parou as ruas para ver a gravação de uma das cenas mais famosas do cinema. O fenômeno estava consolidado.

Como agarrar um milionário: foi justamente nesta época que resolveu se casar pela segunda vez com um popular ex-jogador de Beisebol tornando-se a primeira dama do esporte americano. O casamento durou menos de 1 ano graças ao ciúme exacerbado do seu príncipe dos home runs que não conseguia digerir o fato da esposa ser maior do que ele ou a paixão nacional de seu país.

O pecado mora ao lado: depois desta desilusão, mais um casamento e um divórcio conturbado com o teatrólogo Arthur Miller. Tudo por conta de seu mais novo affaire por um colega de trabalho. A atriz se apaixonou pelo ator Yves Montand e se desapontou ferozmente quando este voltou para a esposa. Este conflito pessoal teria desencadeado uma fase negra em sua carreira. Mal conseguia terminar as filmagens. Insegura quanto a sua vocação, viu o estúdio comprometido com sua falta de profissionalismo, lhe dar o bilhete azul.

Minha adorável pecadora: insegura e carente, ela viveu sua pior fase quando se envolveu com paixões proibidas pelos irmãos Kenedy. Figuras públicas, homens casados e pais de família, os então senadores jamais deixaria a vida política se esvair diante de um escândalo. Neste momento, a atriz só pensava em casar e ter filhos. Algo impossível nesta conjuntura. Sem ter uma noção exata de seu prestígio junto ao público, ela se deixou abater.

A Malvada: vencida pelas mazelas de uma fama astronômica, que na maioria das vezes privilegia o lado profissional e deixa uma lacuna na vida pessoal, ela foi vencida pela overdose de remédios que consumia para dormir. Em 5 de Agosto de 1962 sua estrela que tanto lutou para ascender, deixou este mundo real para viver eternamente no firmamento do imaginário dos fãs. Sua morte ainda hoje gera controvérsias em relação a algumas perguntas sem respostas quando foi encontrada nua em sua cama com a mãe ao telefone. Uma malvada realidade da vida de quem viveu absolutamente o bônus do esplendor da fama e o ônus de uma crise pessoal muito íntima. Assim foi Norma Jean Baker, uma mulher comum que almejava a fama. Assim é Marilyn Monroe, uma mulher única entre muitas estrelas.



sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O Tambor (1979)


Die Blechtrommel, 1979. Dirigido por Volker Schlondorff. Com David Bennent, Mario Adorf, Angela Winkler, Katharina Thalbach, Daniel Olbrychski, Tina Engel e Charles Aznavour.

Nota: 9.0

Há poucos que conhecem as obras de um dos movimentos mais importantes da cinematografia europeia do século XX, O Novo Cinema Alemão oriundo das décadas de 60 e 70. Diretores como Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog, Win Wenders e Wolfgang Petersen, isso só para citar os mais conhecidos, levaram às telonas divagações existenciais, críticas ao passado negro do país e análises profundas do comportamento dos mais variados tipos de pessoas. Porém, é um cinema para quem aprecia tal como arte pura e autoral. E como se filmasse com a cartilha do movimento debaixo do braço, Volker Schlondorff concebeu uma das obras-primas do per´piodo, um filme repulsivo, mas ao mesmo tempo lírico e tocante.

 Na Alemanha sob a tensão do crescente movimento Nazista no período entre guerras das décadas de 20 e 30, ao completar 3 anos, o menino Oskar (David Bennent) ganha um tambor que lhe havia sido prometido por sua mãe Agnes (Angela Winkler) assim que nasceu. Mas ao presenciar a relação libidinosa de sua mãe com o tio Jan (Daniel Olbrychski), decide não crescer mais, então se joga de uma escada, o que faz com que desenvolva uma atrofia que o impede de crescer. Além disso, o menino desenvolve um distúrbio que o torna capaz de quebrar vidros com um guincho agudo. Com o passar do tempo, as implicações do tempo e da vida levarão Oskar por diversos caminhos à procura de respostas das quais nem a pergunta sabe ao certo qual é.

O roteiro escrito por Schlndorff, junto com Jean-Claude Carrière, Gunter Grass e Franz Seitz, baseado no livro de Grass, é uma alegoria sobre o amadurecimento mental, sexualidade e ainda sobra tempo para uma crítica ao comportamento da população em relação ao nazismo. A forma como o personagem central explana sua percepção do mundo ao seu redor, às vezes no centro das ações, outras como um vigilante, concentram a riqueza do texto. Oskar tem seu tambor como aquilo que o protege do mundo dos adultos e de toda suas complicações. Quando finalmente começa a sentir as transformações ideológicas que surgem na adolescência, como a confusa descoberta da sexualidade, a busca pela expansão de suas relações humanas e o confronto com a morte o colocam em uma situação limite. Crescer ou não crescer, era essa a questão.

O diretor não poupa o público das cenas nauseantes. Desde os jogo sexuais depravados, passando por uma cabeça de cavalo cheia de enguias, o menino descobrindo o sexo aprisionado no corpo infantil e as marchas nazistas, tudo é trêmulo e intimista. Todavia são nestes aspectos repulsivos é que Schlondorff mostra o brilhantismo de sua obra, trazendo toda aura do Novo Cinema de seu país, com as imagens pesadas e sem medo de desagradar.

David Bennent consegue convencer que relmente era um adulto no corpo de uma criança, e é difícil pensar que se tratava de menino de doze anos em todos aqueles momentos de intimidade sexual. Só ajudou aumentar a perplexidade do expectador em relação à fita, mas também acentuou a discussão proposta. Um libelo indiscutível e que vive no limite do ame-o ou esqueça-o.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Uma vida melhor (2011)

A better Life, 2011. Dirigido por Cris Weitz. Com Demián Bichir, José Julián e Dolores Heredia.
Nota: 5.2
 
O filme que revelou o ator Demián Bichir para o mundo tinha como objetivo expor as agruras dos imigrantes ilegais na terra das oportunidades, mas não foi além de um bom, digo, nem tão bom assim, dramalhão mexicano

Uma vida melhor foi uma daquelas obras que nos chamou atenção. Seja pela sinopse adulada pelo tema de imigração ilegal nos EUA, relevante em qualquer tempo, ou pela simples curiosidade de conferir a atuação do protagonista, um ator mexicano que tirou de Leonardo Di Caprio sua indicação ao Oscar.

Movidos por estes tópicos acompanhamos em pouco menos de duas horas as tentativas quase que desesperadas do jardineiro mexicano Carlos Galindo (Demián Bichir) de se manter anônimo em Los Angeles enquanto tenta sobreviver na cidade. Carlos é um daqueles heróis de todos os dias, que levantam com o cantar do galo, e sai rumo às incertezas de um trabalho sem um emprego fixo. Assim, ele acaba aceitando todo tipo de trampo para poder sustentar seu filho adolescente, o rebelde e incrédulo Luís (José Julián). Tudo dentro de um só lema. Dar ao filho as oportunidades que ele não teve na vida. Mas sua sorte que já era limitada, piora de vez quando um colega na mesma situação rouba o único veículo de trabalho e sustento da casa. O jardineiro então inicia sua saga “ladrões de bicicletas” para reaver sua caminhonete. No mercado negro de desmanche de uma poderosa gangue, Carlos consegue recuperar o veículo de forma espetacular. O incidente faz com que se aproxime do filho, porém nas curvas que a vida dá, e neste caso, não muito longe, ambos são interpelados por uma viatura policial. O honesto jardineiro vai parar na prisão, sendo deportado a seu país de origem. Fim do sonho e do filme.

Para quem esperava, por qualquer razão que fosse assistir algo interessante no filme de Cris Weitz, deve ter se decepcionado em todos os âmbitos. Pela sinopse, que poderia ter destrinchado com mais veracidade a dura vida dos imigrantes ilegais nos EUA. Tudo indicava para isso, mas ao se deparar com cenas pobres, levando ao puro melodrama barato, fica evidente o paradigma traçado pela direção. Ao tratar de personagens típicos, transformaram tudo numa novela melodramática. E o que é pior. Ao menos as novelas mexicanas sabem como arrancar lágrimas. Seguem-se cenas descabidas, incoerentes e sem nenhuma emoção destruindo um roteiro que tanto prometia. Tudo cai diante da relação morna entre pai e filho. Não há sentimento, tudo é frio e condensado demais com final totalmente incompreensível.

Quanto à parte da curiosidade instigada pela presença do ator mexicano indicado ao Oscar, é saciada por uma provável certeza. De que Hollywood tem uma cisma ainda suspeita com Di Caprio. Nem uma grande atuação de Bichir poderia tirar a indicação do astro de olhos azuis da lista do Oscar deste ano. O ator mexicano, talvez prejudicado por um roteiro chato, esteve longe de ter uma atuação no mínimo convincente, deixando transparecer o equívoco cometido pela Academia neste ano. Equívoco este que só ajuda a abastecer seu vasto estoque de caminhões de erros.