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domingo, 30 de dezembro de 2012

Primeiro Prêmio Cineposforrest de Cinema Nacional


Assim como já lançamos o 1º Prêmio Cineposforrest de Cinema, agora chegou a vez de valorizarmos o cinema tupiniquim. Com a ajuda de colaboradores e com base na análise da crítica nacional e opinião de especialistas selecionamos os melhores e indicamos cinco finalistas nas 14 categorias abaixo. Para ser elegível o filme tem de ter sido lançado em circuito comercial de dezembro de 2011 à dezembro de 2012. Deixaremos à disposição para que você leitor vote ao lado em até 2 opções. As votações terminam dia 18 de janeiro e os vencedores serão postados no blog dia 20 de janeiro. Qualquer opinião contrária, o espaço de comentários está aberto, mas claro, lembrando que isso é à partir de um ponto de análise. Desde já agradecemos a quem participar.

MELHOR FILME


À Beira do Caminho       - Xingu -       Histórias que só esxistem quando lembradas -   Sudoeste -        O Som ao redor

À Beira do Caminho
História que só Existem Quando Lembradas
O Som ao Redor
Sudoeste
Xingu


MELHOR DIRETOR

Cao Hamburguer     Helvécio Marins e Clarissa Campolina   Julia Murat   Kleber Mendonça Filho    Eduardo Nunes

Cao Hamburguer (Xingu)
Julia Murat (História que Só Existem Quando Lembradas)
Kleber Mendonça Filho (O Som ao Redor)
Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina (Girimunho)
Eduardo Nunes (Sudoeste)

MELHOR ATOR

João Miguel               Rodrigo Santoro            Lázaro Ramos                    Daniel de Oliveira           Irandhir Santos

Daniel de Oliveira (Boca)
Irandhir Santos (Febre do Rato)
João Miguel (À Beira do Caminho)
Láraro Ramos (Amanhã Nunca Mais)
Rodrigo Santoro (Heleno)

MELHOR ATRIZ
  
Camila Pitanga                Hermila Guedes             Maeve Jinkings         Simone Spoladore        Sonia Guedes

Camila Pitanga (Eu Receberia as Piores Noticias de seus Lindos Lábios)
Sônia Guedes (Histórias que Só Existem Quando Lembradas)
Hermila Guedes (Era Uma Vez Eu, Verônica)
Maeve Jinkings (O Som ao Redor)
Simone Spoladore (Sudoeste)

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Julio Andrade                 João Miguel               W. J. Solha                     Caco Ciocler                      Vinicius Nascimento

Caco Ciocler (Disparos)
João Miguel (Era uma Vez Eu, Verônica)
Julio Andrade (Gonzaga: De Pai para Filho)
Vinicius Nascimento (À Beira do Caminho)
W. J. Solha (O Som ao Redor)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Aline Moraes          Divana Brandão                Mariana Lima      Rosane Mulholland     Zezita Matos
Divana Brandão (Paraísos Artificiais)
Mariana Lima (Sudoeste)
Aline Moraes (Heleno)
Zezita Matos (Mãe e Filha)
Rosane Mulholland (Menos que Nada)

MELHOR ROTEIRO

O Som Ao Redor (Kleber Mendonça Filho)
Sudoeste (Eduardo Nunes)
Xingu (Cao Hamburguer e Anna Muylaert)
Trabalhar Cansa (Marco Dutra e Juliana Rojas)
Girimunho (Felipe Bragança)

MELHOR MONTAGEM

Xingu
2 Coelhos
O Som ao Redor
Histórias que só Existem Quando Lembradas
Girimunho

MELHOR FOTOGRAFIA

Heleno (Walter Carvalho)
O Som ao Redor (Pedro Sotero)
Febre do Rato (Walter Carvalho)
À Beira do Caminho (Lula Carvalho)
Girimunho (Ivo Lopes de Araújo)

MELHOR CONCEPÇÃO SONORA

Paraísos Artificiais
Sudoeste
Trabalhar Cansa
Disparos
O Som ao Redor

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE

Gonzaga: De Pai para Filho
Xingu
Sudoeste
Heleno
Girimunho

MELHOR MAQUIAGEM

Heleno
Gonzaga: De Pai para Filho
Reis e Ratos

MELHOR DOCUMENTÁRIO

Dino Cazzola: Uma Filmografia do Brasil
Raul Seixas: O Início, O meio e o Fim
Marighela
Jorge Mautner: O Filho do Holausto
Tropicália

TRILHA SONORA NÃO-ORIGINAL

Gonzaga: De Pai para Filho
À Beira do Caminho
Xingu
Paraísos Artificiais
Capitães da Areia





















sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Perfil: Meryl Streep - A dama do ano


2012 foi mais um daqueles anos inesquecíveis para a indústria cinematográfica. O premiado O Artista trouxe o frescor da nostalgia de uma arte dantes esquecida. Além disso, vimos  Marilyn Monroe e Margareth Thacher, duas mulheres extraordinárias sendo retratadas em dois filmes que marcaram também a época. E uma dentro estas mulheres extraordinárias também marcou seu nome na lista de uma das melhores do ano. Ela não só levou o Oscar, mas como também se firmou como a atriz com o maior número de indicações a estatueta. Foram 17 no total e 26 indicações ao Globo de Ouro. 


Atriz de um talento notável, a norte-americana que nasceu Mary Louise Streep em 22 de junho de 1949, já nasceu com a vocação para o espetáculo. Filha de Mary W. Streep, uma artista comercial descendente de britânicos, irlandeses e suíços e Harry William Streep Jr., um executivo da indústria farmacêutica descendente de neerlandeses. Criada em Bernardsville (Nova Jersey) como Presbiteriana; o nome "Streep" significa "linha reta" em holandês, onde frequentou e se graduou na Bernards High School. A retidão também serviria para marcar sua carreira sempre linear, que teve início em 1971 quando recebeu seu Bacharelado de Artes em Teatro na Vassar College.  Os estudos foram a linha que demarcaram seu caminho de sucesso. Música, arte dramática e ópera na Universidade Yale. Após finalizar os estudos, trabalhou para o Theatre Repertory Company, obtendo reconhecimento ao ser nomeada para o Tony Awards, e por vencer o Outer Critics Circle Award.

Sua estreia cinematográfica aconteceu em Julia, de Fred Zinnemann, em 1977. Debutou na televisão em 1978, com a série Holocausto, pela qual foi agraciada com o Emmy de melhor atriz. Seria então em 1979 com O franco atirador que daria início a dezenas de indicações e prêmios que moldam sua carreira. A mulher do tenente francês (em 1982), O retrato de uma coragem (em 1984), Entre dois amores (em 1986), Ironweed (em 1988), Um grito no escuro (em 1989), Lembranças de Hollywood (em 1991), As pontes de Madison (em 1996), Um amor verdadeiro (em 1999), Música do coração (em 2000), Adaptação (em 2003), O diabo veste Prada (em 2007), Dúvida (2009) e Julie & Julia (2010). Venceu por Kramer vs. Kramer (1980) no papel secundário (atriz coadjuvante) de uma mãe que lutava judicialmente pela guarda do filho com Dustin Hoffman. A cena em que apenas deixa  uma lágrima escorrer sobre a face foi sua sentença na vitória.  Em 1982 mais uma experiência com o Holocausto lhe deu a segunda estatueta por A Escolha de Sofia na pele outra vez de uma mãe judia que teve de lutar, mas não nos tribunais, e sim pela vida tendo que fazer uma escolha cruel neste processo. E por fim, depois de 14 indicações e 2 vitórias, ela teve em A Dama de Ferro (2012) mais uma prova de reconhecimento de seu talento. Nem mesmo a maquiagem carregada da personagem pôde tirar da multifacetada atriz seu terceiro prêmio. Diante desta atuação fica difícil saber quem realmente foi a dama de ferro nessa história. E sua vitória ficou ainda mais inesquecível diante de adversárias tão notórias quanto Viola Davis , Gleen Close e Michelle Williams. 

Em 2009, foi eleita a 48ª mulher mais poderosa do mundo do entretenimento segundo o Hollywood Reporter. Eleição que depois de 3 anos já deve ter uma outra colocação ao nome de Streep e sua linha reta de atuações memoráveis e carisma sem igual. Não há no mundo glamouroso das estrelas quem não inveje a profissional, admire a mulher. Uma rama de  talentos entrelaçados por esta atriz extraordinária, mãe generosa e mulher esfuziante. A dama do ano. 

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O Hobbit: Uma jornada inesperada (2012)


The Hobbit: A inexpecting journey, 2012. Dirigido por Peter Jackson. Com Martin Freeman, Ian McKellen, Richard Armitage, Cate Blanchet, Hugo Weaving e Christopher Lee.

Nota: 8.7

Quando começou a se especular que o público teria a oportunidade de voltar à Terra-Média para conhecer as aventuras de Bilbo Bolseiro e a gênesis da Saga do Anel, o público entrou em total êxtase. Depois de anos em gestação, contratempos que fizeram Guilhermo Del Toro deixar a direção, assumida por Peter Jackson, que dirigiu a trilogia O Senhor dos Anéis e estava apenas como produtor, o longa finalmente chega aos cinemas com muitas aventuras, novas tecnologias e, claro, Gollum!

A adaptação homônima do primeiro livro de J. R. R. Tolkien publicado em 1937, feita primeiramente para acalentar crianças, foi concebida pelos mesmos responsáveis pelo brilhante trabalho dos três filmes anteriores (Peter Jackson, Phillipa Boyens e Fran Walsh) junto com Del Toro. Na história, Bilbo (Martin Freeman) vive uma vida tranquila em seu igualmente pacato Condado, quando é escolhido pelo Mago Cinza Gandalf (Ian McKellen, sempre ótimo) para acompanha-lo, juntamente com um bando de anões liderados por Thórin (Richard Armitage), em uma missão para recuperar seu reino sob a montanha Erebor, que agora é habitado pelo dragão Smaug. Nesta inesperada viagem, o jovem hobbit passa por cenários jamais imaginados, conhece criaturas tão estranhas quanto malvadas, e adquire um artefato que mudará para sempre a história da Terra-Média.

A trama mantém a mística do livro, como se era de esperar após acompanhar o que foi feito na trilogia do anel. Entretanto, percebe-se uma pressa em fazer com que o filme engrene, e a introdução ficou aquém do que se esperava. Apesar disso, é possível compreender a história sem ter lido o livro de Tolkien, e também pode-se levar em consideração a intenção de Jackson em tentar criar uma singularidade de O Hobbit em relação à sua obra consagrada, ou seja, diferir em aspectos que não incite (ou diminua) as inevitáveis comparações, que são maléficas a este. Há também de se destacar que o conto de Bilbo resguarda o público da obscuridade, focando mesmo na aventura em si, que poderá ser bem aceita por leigos e causar estranheza em quem é apaixonado pelos filmes anteriores (e obviamente não conhece esta aventura).

Ainda a respeito do roteiro, a preocupação em tentar distribuir a importância entre os anões coadjuvantes deu uma pequena empobrecida no texto, o cômico que este núcleo carrega, embora a opção por mostrar outros acontecimentos importantes, como o primeiro indício de Sauron e o primeiro passo para que o Um Anel tentasse retornar ao seu mestre, foi conveniente e consegue ligar os pontos que pendem nas questões cinematográficas. A mais esperada passagem do livro que se esperava ver nas telonas foi, com certeza a melhor parte. As charadas no escuro em Bilbo e o asqueroso e simpático Gollum, deleita os fãs e provocam a nostalgia por rever o mais amado personagem de todo o universo tolkiano e entender suas atitudes, além é claro, da importante decisão de Bilbo que foi essencial para no futuro o bem vencesse o mal.

Não há o que se fazer ressalvas do trabalho de Jackson atrás das câmeras. Novamente trabalhou com dedicação ao original, mas também reguardou a parte que merece a sétima arte. Desde a maravilhosa fotografia aos efeitos visuais cada vez mais perfeitos, um show à parte para novamente provar que blockbusters podem sim ser feitos como obras de arte e não só como produtos da industria cultural. Nem mesmos os desacordos que espantaram Guilhermo Del Toro prejudicaram o trabalho do diretor, que mesmo às pressas, fez seu melhor. Além de tudo, o filme foi rodado em 48 quadros por segundo, uma inovação, mas que não podería falar, já que assisti em formato padrão.

O elenco, como sempre está em ótima forma. Ian McKellen se sente à vontade de Gandalf, e prova isso dando mais uma interpretação excelente interpretação, pois teve de fazer um mago menos atribulado do que o de 60 anos à frente. Na trupe de anões, Richard Hermitage consegue ser convincente com Thorin Escudo de Carvalho, mas não há espaço para que os outros se destaquem. Martin Freeman revigora os trejeiros de Bilbo, mas ainda não está totalmente mergulhado no papel, falta um pouco do atrevimento que se vê, e lê, em sua raça. Cate Blanchet, Hugo Weaving e Christopher Lee estão de volta para pequenas aparições, mas quem rouba a cena é Andy Serkins, já que seu Gollum é novamente tão perfeito que poderia lhe render prêmios. Os mesmos movimentos, guinchos e sussurros, fazem do personagem ainda mais fenomenal.

Um trabalho, que mesmo não feito com o apreço e a preocupação da trilogia O Senhor dos Anéis, exemplar e digno de quem leu o livro ou tinha interesse em conhecer as aventuras do pequeno hobbit. Deixa o gosto de quero mais que será sanado com os dois próximos filmes previstos para 2013 e 2014, e que pode revelar uma aventura ainda mais fantática do que foi até agora. Para quem insiste em compara-lo com os filmes anteriores da Terra-Média, soa como uma tentativa infrutífera, contudo, quem vai para conhecer algo novo e inéditas aventuras, é um grande filme.  

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Um Homem de família (2000)

The Family Man , 2000. 
Direção: Brett Rattner. Com: Nicolas Cage, Téa Leoni e Don Cheadle
Nota: 8.5
Chega a época das festas de fim de ano e sempre nos vimos numa situação similar a de todos os anos. De escolhas e resoluções. Como escapar deste tópico se a TV é inundada por filmes natalinos em que uma overdose de Papai Noel nem sempre pode significar algo de bom neste propósito? Com esta temática raríssimas obras são relevantes, outras meramente descartáveis, confundindo comédia e diversão com papagaia idiota por demais.
Felizmente este não é o caso de Um homem de família. O filme de Brett Rattner é uma excelente escolha para esta época, pois consegue um raro êxito de agradar aos dois lados da moeda. Nicolas Cage está fabuloso como Jack Campbell, um poderoso executivo que trocou um futuro familiar ao lado de seu amor de faculdade por um estágio na bolsa de valores em Londres. Nem mesmo o apelo emocionado de sua namorada Kate (Téa Leoni) o faz mudar seus planos. A ambição do corretor falou mais alto e treze anos depois, ele se viu na carreira dos sonhos e seguro o suficiente para um pungente “Não” à tentativa de aproximação da ex na véspera de Natal. Para Jack a data só tem um significado: doação. Assim ele doa todo seu tempo a trazer mais riqueza a sua polpuda conta bancária.
Nesta mesma noite, Jack vai sozinho a uma loja de conveniência e impede um assalto. O bandido em questão é Cash (Don Cheadle), uma espécie de fada madrinha com quem faz amizade de um modo bem sincero e arrogante. Num passe de mágica, Cash mostra ao frio Jack como seria sua vida se tivesse atendido ao apelo de Kate no aeroporto. Quando vai dormir sozinho em seu luxuoso apartamento em Nova Iorque ele nem imagina acordar pela manhã ao som da euforia gritante de filhos, beijos da esposa e de sua cadela de estimação. Nesta realidade, o empresário calculista se tornara um marido romântico, um pai amoroso e um amigo solidário. A fabulosa carreira foi pro espaço e agora a mediocridade como vendedor de pneus bate a porta de sua casa suburbana de Nova Jersey. Perdido, ele demora assimilar que esta será sua vida até que ele encontre a resposta para a pergunta: “Será que ele conseguiu mesmo tudo que quis?”
O roteiro não é algo novo e nos remete claramente ao clássico A felicidade não se compra de Frank Capra. Mas então o que há de tão especial nesta obra de sonhos, arrependimentos e revelação? Primeiro a escolha do elenco. Este com certeza é um dos melhores e mais prazerosos papéis em que vimos Cage. Ele consegue passar uma veracidade sustentável a suas duas personas, e sua química com Téa é perfeita. Bons tempos em que vimos o ator em plena forma profissional e física. O roteiro repito, não é algo original, mas com certeza é bem melhor trabalhado que outros que vemos aos montes seja no cinema ou nos episódios especiais de séries de TV. A história cômica, o romantismo e alguns momentos de drama estão todos bem encaixados e seguem linearmente do início até o final quando se repetem as situações dos dois personagens na perplexidade de uma nova vida e redenção no aeroporto. A dosagem de pieguice, o maior pecado destas obras, fica a cargo do espectador. Mas nem isso tira o prazer desta fábula escrita por David Diamond e David Weissman.
E se você tivesse uma segunda chance? Será que abriria mão de tudo que conquistou para viver uma vida mais afetiva ao lado de quem realmente lhe tem amor? O tema é um chamariz mais que bem-vindo em todas as épocas do ano, e o filme um deleite mais que perfeito nessas ocasiões.
Um Feliz Natal a todos!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

É o fim do mundo!

Chegou 21 de Dezembro e se você não era um defensor da cultura Maia, pode zoar seus amigos precavidos que dentre outras coisas devem ter estocado quilos e quilos de alimentos ou construído um abrigo anti-nuclear no subsolo do quintal. Agora, se mesmo assim você ainda acredita que existem coisas mundanas que soam mesmo ao fim do mundo, eis 12 exemplos dentro da indústria cinematográfica que deixariam Maias e Nostradamus de cabelo em pé, olhos arregalados e queixo caído: 


1. Holiday e Paltrow: vitórias inesquecíveis
A dupla de atrizes fazem parte daqueles casos vitoriosos incompreensíveis e que por isso tornaram-se inesquecíveis na história do Oscar. Judy Holiday (Nascida ontem) venceu dois “monstros” em 1950. Bette Davis (A malvada) e Gloria Swansson (Crepúsculo dos Deuses). E o que foi pior, numa atuação até hoje vista como abaixo de qualquer crítica. Mas não menos abominável, Gwyneth Paltrow destronou Cate Blanchett (Elizabeth), Fernanda Montenegro (Central do Brasil) e a miss indicações Meryl Streep (Uma amor verdadeiro). A vitória de Paltrow só não foi mais chocante que a do filme que a loira protagonizou. O fraquinho Shakespeare apaixonado derrotou produções brilhantes como O resgate do soldado Ryan e A vida é bela. 
2. Comédias irracionais: sucessos de bilheteria
Aí está uma prova de que sucesso muitas (e põe muitas nisso) anda na contra-mão de qualidade. Infestado de comédias descerebradas nos últimos tempos, o cinema nacional nem ao menos tem o trabalho de caprichar num roteiro que possa fazer jus ao gênero. Coisas de mau gosto e desprezíveis como Cilada.com (2011) e As aventuras de Agamenon – o repórter (2011), saem da cabeça de pseudo-cineastas, que acostumados a fazer rir em sitcons televisivos, se aventuram na grande tela por conta de uma única coisa: poder aquisitivo. E o pior é constatar que ninguém está nem aí, pois lotam as salas de cinemas atrás de um humor enfadonho e descartável. 



3. Gênios marginalizados
Antes mesmo de Kubrick, Scorsese e Tarantino sofrerem um bom tempo com esta condição, dois mestres já haviam passado por tamanha ignorância. Alfred Hitcock nunca foi premiado mesmo sendo diretor de filmes lendários. O mesmo ocorreu com Chaplin, que teve seu nome bem como seus filmes zerados na lista de premiações do Oscar. Orson Welles também provou deste sabor amargo quando seu revolucionário Cidadão Kane perdeu a estatueta para o lacrimejante Como era verde o meu vale de John Ford. 

4. Crise psicótica
E por falar em Hitcock chegamos a um dos seus maiores sucessos. Psicose, o da cena antológica, do suspense único, de personagens inesquecíveis, roteiro e direção fabulosos. É, mas tudo isso, não foi suficiente pra sequer ter sido indicado ao Oscar de melhor filme em 1960. E a derrota se duplicou quando o bobinho Se meu apartamento falasse venceu a categoria.





5. Remakes insólitos

Produções antigas que tiveram uma nova roupagem nos últimos tempos recorre a uma ideia até válida, afinal, trazer para junto ao público de hoje histórias clássicas é como mergulhar profundidamente no fascínio dos áureos tempos que provém o cinema. Alguns desses remakes cumpriram com este contexto e merecem menção, como King Kong de Peter Jackson em 2005. Outros passaram tão desapercebidos pelo público que a crítica não pôde ter esta mesma indiferença. O Psicose de 1998 do talentoso Gus Van Sant manteve muitas cenas parecidas como o original de 1960. Porém o fato de ter optado por fazer remake de uma obra tão inesquecível tirou todo o impacto que pelo menos um bom filme de suspense que preze poderia causar. Então criou-se a necessidade de um abrupto empurrão no carro ladeira acima que deveria ser dado pela escolha do elenco. Anne Heche e o péssimo Vince Vaughan entremeiam diálogos pobres e atuações idem. Assim não conseguiram nem mesmo arranhar as interpretações no mínimo convincentes e no máximo mitológicas de Janeth Leigh e Anthony Perkins. Poseidon o filme catástrofe de 1972 também teve sua nova versão em 2006. Esta me falta até adjetivos para definir. Vamos resumir apenas em o fim de todos os mundos!   

    6. A laranja azedou
Depois do filme do clássico de Hitcock chegamos ao clássico de Kubrick, Laranja mecânica (1971), que não seria surpresa levar pra casa o Oscar de melhor filme, o que de fato não ocorreu. Surpreendente mesmo foi a não indicação de seu protagonista Malcolm McDowell. Numa das mais exaltadas atuações de todos os tempos, há quem afirme que a ele deve ser atribuído a maior parte do estrondo da obra. Mesmo assim, ficou simplesmente de fora da lista de concorrentes daquele ano.

7. Duelo de titãs(nic)

A ideia de formar Crossovers de personagens de filmes clássicos foi demais até mesmo para o mais insano dos homens. Desta mescla bizarra emergiram filmes de situações risíveis para tais personagens. Fred vs. Jason (2003) redefiniu o conceito de violência inoportuna. Deslocados no tempo e espaço, a impressão que se tem é que na luta final entre ambos, um queria se entregar ao outro tamanha vergonha por fazer algo tão patético. Enquanto o maçante Alien vs. Predador (2004) nos obrigou a presenciar um verdadeiro festival de palhaçadas psicotécnicas. Seriam melhor que estes conhecidíssimos personagens permanecessem em seus respectivos túmulos ou no limbo do espaço sideral.

8. Um é pouco, dois já é demais

Tão inevitável quanto o juízo final, são aquelas sequências esdrúxulas de filmes que trouxeram um frescor de originalidade ao cinema. Pânico (1996), Premonição (2000) e Jogos mortais (2004), conseguiram de certa forma entrar na lista destes filmes que trouxeram algo novo às telas. Contudo, a avidez dos estúdios em tonar a obra ainda mais rentável, aniquilaram qualquer boa lembrança em torno dos primais. Sequências desastrosas se sucederam, esvaindo uma última chama de criatividade para o público. 
    9. “E as bestas que vi eram semelhantes a leopardo, como pés como de urso e boca como boca de leão”
A mera existência de Steven Seagal e Adam Sandler podem dar sentido ao nome Highlanders da indústria cinematográfica. É impressionante como duas figuras tão elementares conseguem tanto sucesso em seus filmes de característica semelhante. O astro de filmes de ação (lê-se combates corporais), desde de 1988 tem em seu vasto currículo mais de 40 filmes. Uma quantidade considerável que não condiz com a qualidade da maioria de suas obras monoculturais permeadas por pancadaria sem sentido e cenas de luta que não dariam inveja nem aos produtores de Xena. Já o rei das bilheterias de filmes cômicos é um ponto de interrogação mais intrigante. Como alguém tão ignóbil e sem nenhuma graça conseguir um público tão cativo ao longo de tantos anos? Isso é pra deixar mesmo qualquer um com aquela sensação de que o mundo pode desmoronar a qualquer momento. Destas listas sucedem-se filmes de qualidade discutível sem nem ao menos extrair de ambos um ínfimo sinal de que estão interpretando. 
10. O Juízo final ficou previsível
A lista do Oscar da categoria melhor filme entrou em sua fase “democrática” em 2010 aumentando seu número de candidatos. Um equívoco tão grande que poderia ter nos poupado de obras de medianas para menores que no máximo mereciam um crédito de bom filme. Filmes que nem precisam de 10 anos para se esquecer. Em algumas delas estiveram presentes a novela mexicana Um sonho possível (2010), o fraco Minhas mães e meu pai (2011) e o tedioso Cavalo de Guerra (2012). Três exemplos de que só se acontecesse o Armagedon, poderiam vencer.
11. Os sinais dos tempos
Estas coisas de fim do mundo talvez já estivessem sendo previstas já no início deste ano depois da divulgação da lista do Oscar deste ano para melhores interpretações. Nesta ocasião, Leo Di Caprio (J.Edgar) e Michael Fassbender (Shame) dividiram a incredulidade com Tilda Swinton (Precisamos falar sobre Kevin). Três atuações memoráveis que serão certamente lembradas daqui a 10 anos pelo menos e que só teriam o impacto de suas ausências na lista minimizado se não fossem pelos nomes aos quais foram preteridos. Demián Bichir do sonolento Uma vida melhor e Gary Oldman do chato O espião que sabia demais. O primeiro foi indicado de forma inexplicável. Já a indicação do veterano soou como consolação pelo conjunto da obra. Do outro lado da moeda, o caso de Tilda foi mais grave. Ser preterida numa lista que contava com a jovem insossa Rooney Mara (O homem que não amava as mulheres) foi realmente o fim do mundo!!
    12. 2012. Acabou?
Classificado como um daqueles filmes blockbuster, 2012 já nasceu abstêmio de qualquer responsabilidade de transmitir qualidade. Passou longe de ser algo que pudesse acrescentar alguma coisa ao gênero. Os clichês irritantes que moldam estes filmes catastróficos estão muitos presentes na obra. O cientista desacreditado adentrando a Casa Branca e tentando se fazer entender por um bando de governantes incrédulos, monumentos históricos indo ao chão (sobrou até pro Cristo Redentor!), o pronunciamento emocionado do presidente dos EUA e a família separada que ao alvorecer da tragédia vence todas as dificuldades do Apocalipse para se unir novamente. Um clichê tão clichê que nem os enauseantes efeitos visuais podem suprimir. Elementos que fazem o fim do mundo ser bem-vindo depois das torturantes 2 horas e meia de exibição! 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Da realidade para a ficção: Howard Hughes

Howard Robard Hughes, Jr. nasceu em 24 de Dezembro de 1905. Teve uma vida longilínea entre o genial e a excentricidade. Estas características peculiares de sua personalidade o levou a realizar grande projetos estratosféricos ao longo de sua vida e carreira. Foi aviador, engenheiro aeronáutico, industrial, produtor de cinema, diretor cinematográfico. Não é de estranhar que tenha sido um dos homens mais ricos do mundo. Alcançou a fama ao quebrar o recorde mundial de velocidade em um avião 566 Km/h, perto de Santa Ana (CA). Construiu aviões, uma paixão de infância, sendo o mais famoso deles o Hércules. No auge de sua popularidade depois de roubar o recorde de velocidade de Charles Lindberg, foi o dono de uma das maiores companhias áreas do mundo, a TWA. Como produtor de cinema Howard financiou três filmes de qualidade variável, vindo posteriormente a produzir e a realizar um épico “Hell's Angels”. O filme custou 3,8 milhões de dólares, um recorde na época. Apesar de ter sido um estrondoso sucesso, estabelecendo novos recordes de bilheteira, nunca chegou a recuperar o seu orçamento. A sua vida sentimental foi bastante agitada, tendo relações amorosas com estrelas de Hollywood como Ava Gardner, Katherine Hepburn, dentre outras. Como todo herói que se preza, Hughes escapou da morte por muitas vezes, mesmo tendo sérios problemas de saúde e com dependências químicas, causadas pela grande quantidade de remédios. Além disso, sua obsessão com germes marcava sua personalidade excêntrica. Tinha começado na sua infância, devido em grande parte a uma educação super protetora de sua mãe, e foi-se agravando ao longo da sua idade adulta. Em 5 de Abril de 1976, aos 70 anos de idade, o aviador fez seu último voo, vítima de parada cardíaca, ocorrida, ironicamente, num avião que o transportava para Houston a fazer tratamento médico. 
Uma vida cheia de idas e vindas sociais, emocionais e românticas. Esta miscelânea chamada Howard Hughes foi devidamente destrinchada pelo talento de um dos maiores atores de todos os tempos. Leonardo Di Caprio foi o aviador de corpo e alma (e põe alma nisso), no cultuado filme de Martin Scorsese em 2004. A complexidade da personalidade do multimilionário é bem traçada por uma parceria segura entre o mestre e pupilo. Scorsese consegue extrair do ator de traços joviais a melhor interpretação de sua carreira, deixando em evidência e de forma exuberante todo o paradoxo que envolve os limites entre o auge e a decadência de uma das figuras mais famosas de todos os seguimentos em que esteve presente. Divino, Di Caprio é o próprio Hughes, nos brindando com o apuro especial de um filme bem apurado que segue a linha cronológica da vida do aviador apaixonado e empresário visionário. Esta soberba atuação poderia ter lhe rendido sua tão esperada estatueta. 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A Malvada (1950)

Dirigido por Joseph L. Mankiewicz. Com Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders, Celeste Holm, Thelma Ritter, Hugh Marlowe, Gregory Ratoff e Marilyn Monroe.

Nota: 9.6

Houve um tempo onde o cinema se valia muito mais do roteiro do que da qualidade técnica e potencial comercial. E, um dos melhores, ou o melhor, exemplar de um texto bem escrito, poderoso, verborrágico, sombrio e com toques de um refinado humor estão presentes nesta adaptação de Joseph L. Mankiewicz de um conto publicado na revista Cosmopolitan em 1946, The windom of Eve. Em A Malvada mergulhamos em uma história de cobiça de uma mulher, Eve Harrington (Anne Baxter), que usa de todo seu talento para interpretar e dissimular com o intuito de tomar a carreira e a vida de Margo Channing (Bette Davis, em atuação estupenda). Para isso, conta com a ajuda da ingênua Karen Richards (Celeste Holm) e do cínico crítico teatral Addison DeWitt (George Sanders), para triunfar em seus planos.

O filme se inicia pelo fim, assim Mankiewicz não faz rodeios em mostrar que a aparentemente inocente Eve seria a grande trapaceira da história, e volta no tempo para nos contar sua trajetória a partir do ponto de vista dos outros personagens. Primeiro ato de brilhantismo. Durante o decorrer da película as palavras se entrelaçam e dissecam a psique das personagens, que aos poucos podemos ver a verdade por trás tanto de da dureza de Margo, quanto da simpatia de Eve. O destaque, com certeza, vai para a visão lúgubre que o sagaz DeWitt tem a respeito dos seres humanos e do que fazem para conseguir o que querem. Mesmo pessimista, seu olhar é franco e determinista.

Mankiewicz dirige com maestria, alternando de forma inteligente os quadros e às vezes primando por belos planos abertos que valorizaram cada palavra que era dita. O trabalho excelente de fotografia em preto e branco de Milton Krasner, evidencia a obscuridade de Eve em suas primeiras cenas no flash back e se abre para a luz quando a ascensão da moça estava em ponto de se revelar. Além disso, vale se destacar o conjunto de toda a obra, que deixam um ar teatral, pungente, que faz do filme uma verdadeira história do teatro e de tudo que acontece em seus bastidores.

O ponto magnífico, porém, mora na forma extraordinária do elenco, que deu mais vida ao texto. Bette Davis deu a Margo Channing a honra de sua melhor atuação na carreira. O cinismo, a empatia, e os olhos mortais que valem cada minuto na tela, talento puro, aula de interpretação. Anne Baxter se esforça e consegue sua grande atuação no cinema, pois a ambição de Eve está em seus olhos, e seu semblante muda de uma hora para outra quando lhe convém. Apesar de coadjuvantes excepcionais, como Celeste Holm, Thelma Ritter (ambas indicadas ao Oscar) e Hugh Marlowe, é George Sanders, com seu rude Addison DeWitt que se destaca com suas palavras cortantes e um cinismo sem igual, que lhe rendeu o Oscar. E ainda tem a novata e já exuberante Marilyn Monroe fazendo uma pontinha.

Um espetáculo cinematográfico, simples e conduzido de forma competente e inteligente. Recebeu merecidas 14 indicações ao Oscar (Filme, diretor, roteiro, atriz (Davis e Baxter), atriz coadjuvante (Holm e Ritter), ator coadjuvante (Sanders), figurino, som, direção de arte, edição e música), recorde até hoje junto com Titanic (1997). Virou um ícone do cinema americano e determinou novos parâmetros de se fazer uma história de ambição sem exageros. Valorizou aquilo que há algum tempos poucas produções se preocupam, a história, o texto, as palavras que valem mais do que qualquer imagem esculpida em 3D, CGI e afins. Imperdível.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Moonrise Kingdom (2012)


Moonrise Kingdom, 2012. Dirigido por Wes Anderson. Com Jared Gilman, Kara Hayward, Bruce Willis, Bill Murray, Frances McDormand, Edward Norton e Harvey Keitel.
Nota: 8.8
Quando assistimos a um filme de Wes Anderson, percebemos como o cinema nos permite ter uma visão de um determinado assunto, das mais diversas e inusitadas maneiras possíveis. Em Moonrise Kingdom, acompanhamos, de forma sutil, real e ao mesmo tempo fantástica, uma discussão incisiva sobre o amor verdadeiro sob a ótica e atitudes de dois adolescentes, que, no entanto, ataca os adultos com as questões complexas do mundo, como autoconfiança e relacionamentos.
Quando o pequeno Sam (Jared Gilman) decide escapar do acampamento de verão comandado pelo chefe Ward (Edward Norton), para se encontrar com Suzy (Kara Hayward) e juntos tentarem fugir da vida que acreditam não fazer parte. O menino perdeu os pais ainda criança e não consegue se adaptar à família adotiva, e a mocinha vive às turras com seus pais, os advogados Sr. e Sra Bishop (Bill Murray e Frances McDormand), por causa de seu comportamento intempestivo. Entretanto, todos formam uma verdadeira esquadra para encontrá-los e, quando isso ocorre, vão perceber que este acontecimento tem muito mais a ensinar do que estarrecer.
O diretor Wes Anderson se juntou a Roman Coppola e construiu mais uma de suas belas visões peculiares sobre comportamento, porém, sempre com suas características pungentes exalando. Famílias nada convencionais (ou convencionais demais para o padrão americano), personagens singulares e situações tragicômicas a todo o momento. Tudo isso em prol de lançar ao público alguns questionamentos que cabem a cada um, no seu íntimo, responder. A relação entre o casal adolescente, que descobre junto uma forma de suprir a necessidade de suporte afetivo por meio do amor inocente que desenvolvem, é uma das mais fortes cenas do cinema ultimamente, pois transfere o léxico reflexivo para as atitudes dos adultos.
Anderson coloca os dois protagonistas mirins em situações íntimas, que escandalizariam se não tivesse usado com muita delicadeza sua mão. Não há nada de promíscuo ou apelativo, é apenas a descoberta do amor. A forma como delineia o perfil dos personagens no início do filme, sem que nenhuma palavra seja dita é brilhante, pois o espectador entende a situação geral logo de cara, sem perda de conexão diegética. Desde a solidão e frustração de um amor não correspondido do Capitão Sharp (Bruce Willis), ao déficit de autoestima do chefe Ward, tudo é posto em discussão a partir da aventura amorosa dos púberes, e o mais importante, o público não se torna uma espécie de júri, já que o diretor não força a barra para os personagens se autoexaminem abertamente. As mudanças são sutis.
Há de se reverenciar o trabalho do elenco. Assim como em seu ótimo Os Excêntricos, Tennenbauns depende muito da inspiração dos atores, pois é uma linha tênue entre o drama e a comédia, que só ele entre outros raros consegue construir, e não pode ser ultrapassado. Os protagonistas Jared Gilman e Kara Hayward tiveram os papéis mais difíceis, pois seus personagens eram os dois com mais coragem de tomar atitudes, e nas cenas de cunho intimista não podiam deixar que o constrangimento excedesse o normal da situação, e, apesar da inexperiência, tiveram êxito. Dentre os figurões, destaque para a caracterização de Edward Norton como o inseguro chefe Ward, em um papel diferente do que costuma interpretar provou ser um ator deperdiçado em filmes medianos.
A intenção de Wes Anderson, aparentemente, pode ser de fazer um filme sobre o aprendizado juvenil, entretanto, aos poucos vamos percebendo que seu olhar voltou-se para a população adulta, aquela que perdeu a noção de como é viver feliz e fazer o que tem vontade. De tão real que beira a surrealidade, o diretor consegue nos mostrar que ser feliz vale muito mais do que ser convencional ao olhos dos outros, e o tal Moonrise Kingdom que Sam e Suzy construíram com seus sonhos deveria ser o lugar que jamais deveria ser deixado de lado, sem ser substituído por preocupações corriqueiras. Uma verdadeira aula de como viver a vida.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Como esquecer (2010)

COMO ESQUECER (IDEM, 2010)
Direção: Malu de Martino
Com: Ana Paula Arósio, Murilo Rosa, Natália Lage, Bianca Comparato e Arieta Corrêa.
Nota: 7


Como esquecer uma vida de amor e aventuras ao lado de quem sempre foi a razão de sua existência? Colocado assim, parece um daqueles tipo de romances shakespearianos que já sabemos que irá terminar em tragédia.

A adaptação autobiográfica de Miriam Campello transcorre para este ápice trágico da vida da professora universitária Júlia (Ana Paula Arósio), que cai em depressão após uma dolorosa separação de sua companheira de nome Antônia. Sim apenas nome, pois a própria não aparece em nenhum momento da trama. Nem mesmo nos flashbacks delirantes da protagonista em seus momentos felizes ao lado da amada. Tragédia poderia ser uma qualificação para o filme se a diretora Malu de Martino não tivesse em mãos uma atriz protagonista de tamanha competência em brilhar no gênero drama. Acostumada em ser uma das mocinhas sofridas das incansáveis novelas da TV, Arósio confirma esta condição com a mesma competência, com a diferença de que aqui as lágrimas são substituídas por uma dor mais intimista de sua personagem. Nada de reações escandalosas e  rompantes emocionais.

A dor de Júlia é mostrada de forma tão intensa que a professora simplesmente se recusa a aceitar qualquer tipo de ajuda até do mais leal dos amigos Hugo (Murilo Rosa), que assim como ela também é homossexual e passara por um momento de perda, só que com o atenuante de que a sua foi irremediável  O falecimento de seu companheiro seria o tipo de troca de experiências que poderia se tornar um átimo mais que providencial para alavancar a moça. No entanto, parece que junto com Antônia, se foi parte da existência física e psicológica da personagem, que começa a se prejudicar invariavelmente no trabalho e na vida pessoal. Que o diga sua petulante aluna Lygia (Bianca Comparato), a quem lhe deve uma devoção profissional e afetiva e sua pretendente mais madura a paisagista Helena (Arieta Corrêa).Helena tem personalidade oposta de Júlia. Ama intensamente a vida que leva e leva intensamente que ama. Mas nem mesmo a atração magnética dos opostos que se atraem, é o suficiente para penetrar a forte armadura do coração da professora. Seu estado de espírito piora quando suas restrições financeiras a leva dividir o apartamento com mais duas pessoas. O amigo Hugo e Lisa (Natália Lage), uma garota que descobre estar grávida com o destino imaginado de mãe solteira.

O que era pra ser um triângulo de amizades convencionais e de ajuda mútua, algo que amigos dividem quando vão morar juntos, torna-se um mar de reclamações e lamentações por parte de Júlia. Assim é impossível para o espectador torcer pra personagem esquecer e dar por cima. Sua depressão parece entrar num estado irreversível de patologia, destilando amargura por todos os poros e pessoas. Nada de mocinhas redentoras que jamais passarão fome ou coisas do tipo. Até porque se trata de uma obra de natureza real. Ana faz de sua personagem algo esquecível no sentido prazeroso de se admirar na ficção, mas inesquecível no sentido de admirar o trabalho da atriz em demonstrar com perfeição toda esta negatividade carregada pela moça.

Pode-se afirmar então, que este é um pecado esquecível da obra, que cumpre sua proposta. Costumo afirmar que um filme pra ser bom ou pelo menos aceitável tem que cumprir com o que promete. Sem as falsas expectativas. É assim com Como esquecer. Ele pára no tempo, junto com a personagem. Mesmo entrando no perigoso rumo do marasmo emaranhado num roteiro irregular, se volta todo para o excelente trabalho de Ana e de seu elenco de coadjuvantes. Além disso, o filme evita clichês quando se trata de retratar um personagem homossexual. Não há crise existencial por parte de sua identidade. Um ponto positivo pra quem gosta de apreciar histórias de temática gay sem o drama carregado que gera a opção sexual. A personagem é tratada como qualquer outra que sofre ao término de qualquer relação sem esteriótipos.

A julgar por seu trabalho no filme, o mesmo sofrimento não deve ter tido Ana ao dar um tempo em sua relação com as decadentes novelas e minisséries de horários inoportunos, entrando assim para a seleta (e pertinente) lista de astros que se negam a fazer parte do sistema de castração artístico imposto pela TV. O cinema fez bem a ela, assim como faz bem a outros de talento semelhante que brilham fora da caixa de ilusões como Selton Mello e Rodrigo Santoro. Bom pra nós que pelo menos por enquanto Ana tenha esquecido a TV ou seria a TV que a esqueceu? Quem se importa? Afinal, pra bom entendedor a ordem dos fatores nunca altera o seu bom produto.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Garota interrompida (1999)

Garota interrompida (Girl, interruped, 1999)
Direção: James Mangold
Com: Wynona Ryder, Angelina Jolie, Woopi Goldberg,Vanessa Redgrave, Britanny Murphy e Elizabeth Moss
Nota: 9


"Loucura não é ter a obstinação contrariada, ou esconder um terrível segredo. É você ou eu amplificado. Se você já disse uma mentira e gostou. Se já desejou ser criança pra sempre. Elas não eram perfeitas, mas eram minhas amigas. " Para entender um pouco esta obra marcante e portanto, indispensável, é preciso começarmos pelo último tópico narrativo da personagem central deste sucesso de James Mangold. O filme se centra numa época turbulenta de  questões humanistas (como a guerra do Vietnã) e se faz traduzir o que significou para qualquer garota de personalidade diferenciada viver nos EUA dos anos 60. Muitas destas garotas eram tachadas de insanas, por conta de vários motivos que ia de divergências de opinião em relação aos padrões da sociedade até homossexualismo. Seriam estas garotas mesmo com limites avançados de insanidade mental ou apenas garotas interrompidas? 

A expressão no singular foi usada por Susanna Kaysen, autora de livro homônimo lançado em 1994 para relatar os anos em que a própria esteve internada numa famosa instituição psiquiátrica para moças. Susanna era deste tipo de jovem inconsequente que torna a vida algo trivial ditada com sexo casual, drogas, bebidas, tentativas de suicídio. A jovem sofre uma intervenção por parte dos pais e passa dois anos em Claymoore. Através desta fundamental experiência de vida, Susanna escreveu seu livro e dele fez-se Garota interrompida, filme lançado em 1999 que teve Wynona Ryder no papel da autora rebelde. 

A obra cinematográfica vai traçando um perfil interessante de várias personagens ao começar pela protagonista. Diagnosticada com distúrbio de limite de personalidade, Susanna (Wynona) era o que hoje chamaríamos naturalmente de "rebelde sem causa", que naquela época tinha outro significado. Uma garota que como tantas outras com muito dinheiro no bolso, se sente isolada do mundo e entendiada por demais para não se prender a vida bem como suas banalidades. Assim cada dia era como se fosse o último. A morte uma companheira natural e de certo instrumento de libertação que um vidro de aspirina e uma garrafa de vodca poderiam ser mais que bons parceiros. Diante desta tentativa de suicídio que não fora a primeira, seus pais resolvem trancafiá-la em Claymoore esperando por uma "cura". Ao chegar naquele que seria seu lar por pelo menos dois anos, Susanna se envolve com um grupo distinto de garotas que também carregam consigo um valioso debate sobre a possível sanidade. Logo, é seduzida a fazer parte do grupo e as coisas ganham mais intensidade quando ela conhece a sociopata Lisa (Angelina Jolie), a paciente mais temida, e ao mesmo tempo, mais adorada da instituição. Uma espécie de líder instigante da qual emanam os mais variados sentimentos naquele ambiente claustrofóbico. Susanna se entrega inquestionavelmente ao mundo de Lisa,que a conduz pela mão como ídolo. Neste processo  ela fechava os ouvidos e o coração para os valiosos conselhos da enfermeira Valerie (Woopi Goldberg) e de quebra não aceita o tratamento imposto pela Dra. Wick (Vanessa Redgrave), a psiquiatra. Seu tratamento era estar ao lado de garotas como Lisa, quem fazia se sentir viva entre uma e outra aventura. E é numa destas aventuras que ela muda sua concepção ao se tornar testemunha do suicídio de uma de suas amigas recém-saída de Claymoore. A morte imaginada parece ridícula quando se vê a real de perto. A beleza dela se esvai, ficando somente a dor e frustração. A partir dali os olhos magnéticos de Lisa já não a atraíram mais e aquela que antes fora seu refúgio, é substituída por seu diário, por onde descreve toda a miscelânea de sentimentos dentro de si abrindo sua porta de acesso a uma vida mais saudável. 

A fascinante trajetória descrita por Kaysen em seu livro torna-se um roteiro brilhante pelas mãos de Mangold em parceria Lisa Loomer e Anna Hamilton Phelan. Todos os elementos são tratados de forma homogênea e objetiva, sem rodeios e captando da melhor maneira possível, todos os sentimentos emanados pelas jovens. Maravilhosamente inserido com personagens hipnóticas, que por sua vez derivam de um elenco extraordinário. O maior poder do filme se centra justamente em suas garotas interrompidas. Além de Wynona, Jolie, Woopi e Redgrave, somos brindados com atuações seguras de promissoras estrelas. A saudosa Britanny Murphy divide o espaço com Elizabeth Moss, Ângela Betis e Cléa Duvall. Tudo meramente calculado para transcrever o poder de empatia de cada uma das moças. Pena que com tão pouco tempo, e pelo tema centralizado na protagonista, não se pôde aprofundar um pouco mais a essência de cada uma delas, mas se formos levar em consideração o sucesso da obra, podemos afirmar que tratou-se de um mau necessário. 

Com um "mau necessário" também teve de conviver Wynona. Tudo por conta de uma promissora estrela de nome Angelina Jolie. A bela de traços inesquecíveis barbariza ao limite sua carismática sociopata, tonando-se parte integral do projeto. Jolie nos faz vislumbrar um pouco de sua personalidade na vida real . Uma mulher linda, fascinante, carismática que nos convida a nos jogar no desconhecido mar de emoções de sentimentos inseridos na mente das mulheres de personalidade marcante. Dor e isolamento se funde com compaixão e coragem. A atuação exageradamente impecável contribui para o chamariz do filme e consequentemente para a premiação da atriz com o merecido Oscar de coadjuvante.

É difícil falar desta obra e não fazer dela uma relação com aquela que foi uma de suas estrelas, Wynona Ryder. A atriz que já provara todo seu talento em obras inesquecíveis ao lado de diretores como Tim Burton e Martin Scorsese, atua também como co-produtora do filme. Alguns críticos apontam este trabalho o início de sua derrocada por ter sido ofuscada por Jolie. Talvez se valendo pelo título que ao que parece, caiu como uma luva para exemplificar a trajetória da atriz. Da parte ficcional, é certo afirmar que Wynona não decepcionou, pelo contrário. Atuou como costumava fazer, e ao julgar o êxito técnico da obra, concluímos que tenha expandido seu sucesso para detrás das câmeras. Mas então afinal o que houve com sua trajetória? Bem quanto a esta resposta há muitas teorias existenciais, psicológicas e até financeiras, mas nenhuma delas poderá eximir, pelo menos por enquanto, o que já sabemos. Wynona foi uma estrela. É uma atriz de talento. Disso é possível admitir que, mesmo diante de uma invencível Jolie, do casamento de personalidades entre atriz e personagem, se fez inesquecível seu momento de garota interrompida.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Personagens inesquecíveis: Mammy (Hattie McDaniel)


Filme: E o vento levou (1939)

Se destacar num filme de grande relevância para o cinema não é uma das tarefas mais fáceis. Se destacar sendo uma negra no auge da Kux Kux Klan foi com certeza um passaporte para o inesquecível. A empregada Mammy de E o vento levou teve uma presença tão marcante na história quanto a da mimada mais adorada do cinema, protagonista do mesmo filme. A relação de amizade inimaginável da criada com a indomável Senhorita O' Hara é um dos pontos altos deste clássico bem como sua personalidade que quase beira a insolência tamanha a força. Mas tudo não passou de uma relação velada por carinho de uma para com a outra. A força interior e o poder de cativar o público fez com que seus momentos memoráveis ajudassem a sua intérprete levar o primeiro Oscar concedido a uma atriz negra na história.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Pulp Fiction - Tempo de violência (1994)

Pulp Fiction, 1994. Dirigido por Quentin Tarantino. Com John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurmam, Bruce Willis, Vingh Rhames, Harvey Keytel, Tim Roth, Amanda Plummer, Eric Stoltz, Maria de Medeiros e Quentin Tarantino.

Nota: 10

O cinema era composto de um mesmo sistema estereotipado por anos e anos hollywoodianos, que, ainda que produzisse pérolas cinematográficas, ficava preso a um sistema virtual de regras a seguir. Obras que se desvencilhavam da lógica da indústria cultural do cinema americano era tratados como filmes alternativos e dirigidos a um público reduzido. Anos mais tarde eram tachados como cult movies, mas mesmo assim não estão à disposição de qualquer um nas locadores. Entretanto, um longa mudou o destino de sua classe. Pulp Fiction – Tempo de violência foi aclamado pelo público, sucesso de crítica e se tornou um fenômeno graças ao talento inovador de um ex-funcionário de vídeo-locadora que mudou a história da sétima arte e popularizou o cine-independente.

Quentin Tarantino é um excêntrico por natureza e sabe usar isso a seu favor. Depois de chamar a atenção de todo mundo com seu bom Cães de aluguel (1992), conseguiu o aval para fazer constituir um novo projeto. A história picotada e fora de ordem cronológica pode ter chocado o júri do festival de Cannes em uma primeira impressão, mas aos poucos mostrou sua força e lhe a merecida Palma de Ouro. A trama gira em torno de uma mesma situação, mas passeia pelo desenrolar de cada um, até voltar ao ponto de partida, que na verdade não é o fim.

Os capangas de Marsellus Wallace (Vingh Rhames), Jules (Samuel L. Jackson, fenomenal) e Vicent Vega (John Travolta, ótimo) passam por sérias dificuldades para resolver os assuntos de seu chefe quando acidentalmente mata um rapaz dentro do carro, enquanto Butch (Bruce Willis) passa a perna em Marsellus e é perseguido por ele. Vega também passa por maus bocados quando leva a esposa do chefão Mia (Uma Thurmam) para sair. No fim os cenários não se fundem, mas são pertencentes a um mesmo arcabouço, o que consegue dar um desfecho lógico para a trama.

É até difícil resumir a obra de Tarantino sem ser prolixo. A forma como desfragmentou seu roteiro sem abrir mão de um signo narrativo satisfatório é tão brilhante quanto o texto, que traz uma notável realidade às ações corriqueiras dos personagens e conserva a alma dos Pulp fictions que nomeiam o filme. O espectador se identifica de cara com palavras e atos de Jules e Cia. assim que as vê na telona. Nada de pensamentos narrados ou falas artificiais e convenientes, tudo é construídos para que tenhamos a sensação de estar assistindo à cenas de bastidores tamanha a naturalidade. Porém, nem de longe o roteiro é inocente. Referências a filmes, TV, religião, aliás, tudo que pertence a cultura pop dá o ar da graça e fazem um miscelânea divertida e ao mesmo tempo visceral e cruel.

As inovações no modo como monta seu filme provoca uma certa estranheza (talvez muito menos hoje em dia), o que aos poucos vai se dissolvendo entre uma “pancada” ou outra que o diretor oferece gradativamente. A trilha sonora, que exala a mística dos grandes westerns, deixa o clima de tensão em evidência, do mesmo modo que clássicos da música pop quebram a atmosfera e a transformam em uma comédia de humor áspero em apenas um quadro. O que ainda mantém o filme como um ícone é que o começo não é o fim, e nem mesmo este é fácil de apontar, o diretor se preocupou apenas com o cotidiano de pessoas comuns, mesmo que estas sejam bandidas.

Contando com atuações competentes de todos, principalmente o hipnótico e ambíguo Jules de Lee Jackson, e sequência inesquecíveis, como a dança de Vega e Mia, Tarantino fez um tratado cinematográfico e uma prova de amor condicional à sua arte. De variados estilos em uma mesma película, perambulou por tudo o que é bom, e ruim, dentro do cinema e ensinou que o simples pode ser absolutamente sensacional. Tudo isso sem ser estereotipado, e principalmente, sem deixar de ser pop.