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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Da realidade para a ficção: Idi Amim

Idi Amin Dada entrou para a história da humanidade justamente por sua falta de humanidade. Na seleta lista de ditadores tiranos que tentam manter a ordem através de violações de leis, repressões políticas e extinção da liberdade de expressão. Como tantos outros, Amim foi amado por seu povo em Uganda, pois a seu modo semeava a PAZ numa Terra acometida de violência e caos. Por conta de todo este status, foi um dos líderes do golpe de Estado em 1971 quando depôs o então presidente Milton Obote. Como chefe de Estado usou e abusou de seu carisma, liderança e autoridade de poder para se autoproclamar Marechal de Campo. Caracterizado por barbarização dos direitos humanos, péssima gestão econômica, perseguição étnica e o mais grave, assassinatos em massa. Deixou de ser anticomunista criando parcerias consideráveis, que deram a Uganda uma cadeira Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos e nos meados dos anos 70 foi o presidente da Organização da Unidade Africana, um grupo criado para promover a solidariedade entre as nações no continente. Sua ascensão ao poder absoluto se deu graças ao rompimento das relações britânicas em 1977. O fato deu a Amim, por ele mesmo, o título sugestivo de "Conquistador do Império Britânico" - Sua Excelência Presidente Vitalício, Marechal de Campo Alhaji Dr. Idi Amin Dada, VC, DSO, MC, CBE. Diante disso, não foi muito difícil fazer uma avaliação do terror que este poder absoluto trouxe a Uganda em seu governo. Sua sede de poder, também foi sua derrocadora quando tentou anexar sem sucesso mais territórios numa Guerra com a Tanzânia. Deposto, foi forçado ao exílio, passando por vários países até sucumbir a uma falência múltipla de orgãos em território saudita no dia 16 de Agosto de 2003. Seu povo reagiu a notícia fatídica com uma mistura de alívio e nostalgia por um líder que muitos aplaudiram. 
O estranho fascínio que muito ditadores têm pelas grandes massas é um ponto a ser estudado dentre muitos que emergem da cabeça e do coração humano. Idi Amim era um ditador cruel, porém conquistava a todos especialmente com um sorriso gigantesco e coragem movida pela megalomania de todos que querem conquistar a PAZ através da força. A mesma força que deu merecidamente o Oscar de melhor ator a seu intérprete no cinema. Forrest Whitacker foi perfeito em todos os ângulos ao caracterizar o complexo tirano. Tudo se concentrou ali. No corpanzil de homem imponente, carisma de líder confiável e crueldade ilimitada do ditador. Uma captura soberba em O último Rei da Escócia (2006). O longa que fez jus, especialmente as cenas de violência explícita a tudo que foi o regime de horror instaurado em Uganda. A atuação de Whitacker é um deleite, o fôlego que se toma perante ao mar revolto de cenas tão fortes que rompe a alma e o coração.


Prêmio Forrest 2013



Eis os indicados para a segunda edição do Prêmio Forrest de cinema. Agradeço aos meus colabores e participantes da Academia de Cinema ACCO no Facebook. O público poderá votar até o dia 22 de Maio.












































































































































































































































































































terça-feira, 23 de abril de 2013

A Caça (2012)


Jagten, 2012. Dirigido por Thomas Vinterberg. Com Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larssen, Annika Wadderkopp e Lasse Fogelstrom.

Nota: 9,5

Thomas Vinterberg foi alçado ao estrelato mundial depois de criar, ao lado do talentoso e polêmico Lars Von Trier, umas séries de regras de filmagem que deram origem ao movimento cinematográfico Dogma 95. E com o ótimo Festa de Família (98) alcançou um status de brilhante, isso com apenas 28 anos. Porém, sua carreira não se manteve lá em cima, e com filmes bem menos interessantes, seu nome nem circulava mais pelos altos bastidores do cinema. Mas, com o excelente A Caça, volta ao cinema simplista, competente e intimista, sem perder a mão que o fez notável no início da carreira.

Lucas (Mads Mikkelsen, sensacional) é um professor de jardim de infância de uma pequena cidade dinamarquesa, que vive sua rotina entre as bebedeiras e caça de cervos com os amigos, além de sofrer com a ausência do filho, sob custódia da ex-esposa. Quando a meiguinha Klara (Annika Wedderkopp), filha de seu melhor amigo Theo (Thomas Bo Larssen, ótimo), sugere para outra professora que foi abusada por ele, uma temporada de caça às bruxas começa, à base de humilhações e violência. Aos poucos, tudo e todos vão lhe virando as costas, restando apenas a determinação de seu filho Marcus (Lasse Fogelstrom) e a lealdade de poucos amigos.

Vinterberg se juntou a Tobias Lindholm e criou uma história simples, partindo daquela velha e, convenhamos, errônea de que criança não mente, e mostra como rumores são prejudiciais à estabilidade de um indivíduo e até de uma comunidade inteira. O roteiro é intimista, primeiro apresenta um Lucas frágil e passivo, que não consegue se impor na briga para conseguir ter a companhia do filho. Porém, quando a mentira espalhada pela pequenina e ganha proporções assustadoras, sua habilidade entra em ação. O protagonista enfrenta um julgamento sem mesmo passar por uma sindicância, é agredido, humilhado, e chega a o fundo do poço, sem que não haja uma atenuação por parte do texto.

O diretor se aprofunda em seus personagens, principalmente no contraste entre Lucas e Klara. A forma como constrói a atmosfera desfavorável para que as conclusões se processassem são praticamente naturais. A combinação fofoca, cidade pequena e criança são acompanhadas pela câmera de Vinterberg sem intromissão, da mesma forma conduz as conseqüências, viscerais e extremas. Na maior delas, Lucas encontra sua adorada cadela Fanny em um saco preto sem vida. Este mosaico de ação-reação provoca a mudança de personalidade dos personagens, sempre lembrando ao público como tudo havia começado.

O sucesso do longa, todavia, está diretamente ligado à atuação extraordinária de Mads Mikkelsen. Seu Lucas é bobalhão que se dá bem com as crianças, mas deixa a desejar ao encarar os problemas “adultos”, mas quando perde quase tudo, e toda a cidade se dispõe a lhe enxotar, o bom moço aos poucos dá lugar a um homem bruto, vingativo e disposto a provar sua inocência. Competência merecidamente premiada em Cannes, e que torna uma absoluta injustiça a ausência de seu nome no circuito de premiações, em especial, no Oscar.

Se Vinterberg não é o mesmo que assinou o manifesto controverso há quase 20 anos, ao menos seu cinema recuperou a forma com esta obra brilhante e com certeza um dos melhores filmes do ano. Uma mostra que ainda é capaz de dar prosseguimento à sua carreira longe da sombra de seu amigo Lars Von Trier, ainda que sem didatismo de outros tempos, contudo extremamente competente.


segunda-feira, 22 de abril de 2013

Cenas inesquecíveis: Striptease (1996)


Sexy, provocante, sensual, ousada... até parece anúncio de um filme pra adulto e talvez até seja (pelo menos segundo a classificação indicativa). Certo é que no auge de sua beleza e sucesso, um dos rostos mais lindos de Hollywood, a atriz Demi Moore, caracterizou adjetivos inqualificáveis a uma das cenas mais marcantes do cinema. A bela morena de pernas torneadas viveu uma ex secretária do FBI que teve a carreira interrompida por conta das falcatruas do marido e para manter a guarda da filha, começa a trabalhar numa boate de strippers. A sinopse pode ser fraca, o filme um daqueles dramóides cômicos, mas o que ficou certamente foi toda a entrega da atriz na sequencia em que enlouquece a homarada com poses nem um pouco ortodoxas. A cena se expandiu por todo o planeta, ganhando diversas versões mundo afora e reafirmando a eterna musa de Ghost como um sex simbol mundial. 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

A grande ilusão (2006)

A grande ilusão (All the King’s Men, 2006)
Direção: Steven Zaillian
Com Sean Penn, Jude Law, Kate Winslet, Mark Ruffalo e Antony Hopkins
Nota: 7.5


Sean Penn encabeça um maravilhoso elenco em A Grande Ilusão, versão homônima do vencedor do Oscar de 1949. Um épico sobre a política de todos os tempos. 

Wilham Stark (Penn) é um matemático que se lança no mundo da política para desafiar os poderosos de sua pequena cidade do estado da Louisiana (EUA) depois que um acidente fatal tira a vida de crianças no colégio local. À medida que sua popularidade vai se tornando maior cresce também o interesse de seus adversários políticos em não mudar a forma de se fazer política na região. Stark, um caipira humilde começa a se destacar nos discursos da região, e com a ajuda de dois aliados de fontes diferenciadas cresce no ramo. O político Tiny Duffy (James Gandolfini) pega carona em sua popularidade ao mesmo tempo em que o ajuda a ascender, também é responsável por sua derocada final. Enquanto isso o jornalista Jack Burden (Jude Law) torna-se porta-voz oficial dos bastidores de sua eleição. Perante esta união de forças bem arquitetada, como não poderia deixar de ser, William se elege Governador coma maior margem de votos da história da região. Porém, sua caminhada está apenas começando neste sentido, uma vez que para manter o que conquistou terá que mudar completamente seus princípios iniciais. 

Stark faz parte de um grupo de políticos que se elegem com boas intenções, mas a pressão de conseguir cumprir suas promessas, as alianças duvidosas que são induzidas a fazer e os efeitos de se envolver na política do adversário os tornam corruptíveis. A trama cheia de reviravoltas pode facilmente condizer com a configuração nefasta da politicagem que assola este meio em geral. Este é o grande chamariz do filme. Embora o roteiro seja incoeso e repleto de passagens desnecessárias. Os flashbacks da vida do jovem Burden ao lado de sua paixão de infância, a liberal Anne Stanton (Kate Winslet)  e de irmão tímido e idealista Adam Stanton (Mark Rufalo), por exemplo, deixam uma lacuna considerável neste chamariz com cenas de romance non-sense descabido para a questão levantada pelo longa. No entanto é possível passar por estas partes e ir direto ao que interessa. O vai-e-vem de um suspense dramático  que requer o que o filme de Steven Zaillian tem de melhor. Ótimas interpretações. 

Além de Penn que dificilmente decepciona, Gandolfini tem a melhor atuação da obra, acertando o tom de seu antagonista com o sentimento que deveras sentimos no dia-a-dia pelos "homens que fazem."Anthony Hopkins ajuda a abrilhantar este fio de condução, nos trazendo um juiz corrupto e inconsequente na medida certa como de praxe. Ruffalo parece confortável com sua fase banana e seu toque de charme todo especial, e Law é mesmo de sempre. Um rosto bonito com competência mediana sem comprometer em sua grande fase (de estrelato) no  cinema. Coube a ele o papel de narrador e ele não decepcionou neste sentido, segurando a ponta do ar noir político que emanou do filme. A grande decepção fica por conta de Winslet, que diga-se de passagem foi seriamente prejudicada pela construção da personagem dentro da história. A esquiva dramática/romântica não se encaixou na relevância do tema. Assim sua Anne foi totalmente dispensável na história. Passou batida. Apesar destes altos e baixos, podemos afirmar que é este elenco de atores de talento reconhecido que ajuda a segurar a trama tão inconstante quanto. 

Zaillian nos oferece um filme de qualidade que casa com a própria política, manchada apenas por maus elementos que insistem em tomar vantagem de um conceito puro e democrático. Por isso é extremamente necessário que estejamos  preparados para frustrações que insistem em nos iludir, seja numa mesa de votação ou na sala de projeção. Um filme estritamente viável para os dias de hoje com sua mensagem icônica, mesmo que ainda nos apresente como revestimento uma grande ilusão.  

"Se você estivesse levando a sério as minhas brincadeiras de dizer verdades, você teria ouvido muitas verdades que insisto em dizer brincando. Muitas vezes falei como um palhaço, mas nunca desacreditei na seriedade da plateia que sorria."CHARLES CHAPLIN

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Os Croods (2013)


The Croods, 2013. Dirigido por Chris Sanders e Kirk DeMicco. Vozes de Nicolas Cage, Emma Stone, Ryan Reynolds, Catherine Keener e Clarke Duke.

Nota: 8,3

O gênero da animação tem proporcionado ao cinema contar histórias incríveis, fantasiosas, divertidas e emocionantes para transmitir ideais que são muito úteis para nosso dia-a-dia. Seja o público adulto ou infanto-juvenil, não há quem não se cative perante a figuras encantadoras, que servem como subterfúgio para que um assunto delicado não se torne duro demais para que os pequenos absorvam. Em Os Croods, o espectador viaja até a pré-história para acompanhar uma família das cavernas, que tem de lidar com as mudanças que o mundo lhes impõe.

Grug (Nicolas Cage) é o patriarca que está sempre impondo regras para manter a segurança de sua família. Mas quando a adolescente Eep (Emma Stone) começa a sentir vontade de conhecer coisas novas, tudo sai dos conformes. Ela cruza o caminho de Guy (Ryan Reynolds), um jovem mais moderno, que lhes apresentam ao fogo e muitos outros artigos de vestuário, além de os alertarem para grandes mudanças que o planeta já começou apresentar. Mesmo contrariado, Grug concorda em acompanhar o jovem em busca da “Terra do Amanhã”, juntamente com a Vovó (Cloris Leachman), o ingênuo Thunk (Clark Duke), de sua esposa Ugga (Catherine Keener) e da pequenina selvagem Sandy (Randy Thom).

Depois de fazer obras baseadas em personagens fantásticos, a DreamWorks volta seus olhares para os seres humanos, mais precisamente para os primeiros anos de nossa existência. E aproveita tudo o que este estágio evolutivo poderia oferecer: a descoberta do fogo, a firmação de alguns hábitos que perduram até hoje e os mais variados animais bizarros que provavelmente, ou não, habitavam a Terra naquela época. Cria um turbilhão de ações e reações que quase sem esforço algum leva o público ao delírio cômico. O contraste causado pela figura de Guy, de comportamento mais refinado, ou menos truculento, é a principal fonte do humor do longa.

Entretanto, o que faz do filme de Chris Sanders e Kirk DeMicco diferentes de outras animações do estúdio que apelam ao frenesi escalafobético é a forma como encontraram espaço entre os esquetes hilariantes para passar algo mais profundo. Usando de toda a cancha que conseguiu na época em que trabalhava nos estúdios Disney, Sanders, que por lá foi responsável por Mulan (98) e Lilo e Stitch (02), entre outros, impõe ao público a reflexão sobre as mudanças que durante toda a vida devemos enfrentar, e que não existe felicidade sem a descoberta de experiências novas. Ainda sim não traça um determinismo, o que é certo e errado, a linha tênue entre as escolhas é o que será, inevitavelmente, alcançado como o caminho certo a seguir.

O visual inebriante do filme é uma mostra que o estúdio é o grande adversário da poderosa Disney/Pixar no gênero. O que diferencia as duas empresas é o refinado roteiro da Disney, porém a adversária, começa a mostrar que pode sim criar obras que ofereçam muito mais que qualidade técnica e humor.

Os Croods pode até não ser o melhor filme de animação dos últimos tempos, mas com certeza é o mais divertido desde Shrek 2. Além do mais, faz uma poderosa mistura de entretenimento de primeira classe com as lições de engrandecimento que sempre se espera de bons longas do gênero. Tomara que marque o início de novos tempos para as animações, que anda precisando de uma sacudida, e que todos os estúdios, assim como os fofíssimos personagens desta história, não tenham medo de evoluir.

domingo, 14 de abril de 2013

13 Beijos que marcaram o cinema

"O amor é grande, mas cabe num breve espaço de beijar" 
CLARK GABLE E VIVIEN LEIGH: E o vento não levou o beijo do casal mais emblemático do cinema romântico.
BURT LANCASTER E DEBORAH KERR: Beijo para além da eternidade
GEORGE PEPPARD E AUDREY HEPBURN: simplesmente um luxo nas  telas
JULIE CRISTHIE E OMAR SHARIFF: Brincando de médico na Rússia
MACAULAY CULKIN E ANA CHLUMSKY: o primeiro beijo assim como o primeiro amor ninguém esquece
A DAMA E O VAGABUNDO: beijo inesperado
PATRICK SWAYZE E DEMI MOORE: do outro lado da vida também  existe  beijo
RYAN GOSLING E RACHEL MCADAMS: consumação de uma paixão
NEVE CAMPBELL E DENISE RICHARDS: beijo selvagem
SELMA BLAIR E SARAH MICHELLE GELLAR: beijo cheio de segundas intenções
LEO DI CAPRIO E KATE WINSLET: "nem Deus afundou este beijo"
CHLOE SEVIGNY E MICHELLE WILLAMS: gosto de desejo proibido
TOBEY MAGUIRE E KIRSTEN DUNST: beijo que fez subir pelas paredes
JAKE GYLLENHAL E HEATH LEADGER: o segredo de um beijo apaixonado

terça-feira, 9 de abril de 2013

Perfil: Mazzaroppi - 101 Anos de um Jeca que o Brasil aprendeu a adorar

"Quero morrer vendo uma porção de gente rindo em volta de mim."
Amácio Mazzaropi

Descendente de um imigrante italiano e uma portuguesa nunca se poderia imaginar que ele seria marcado como um dos legítimos representantes da cultura popular brasileira. Amácio Mazzaroppi nascido no interior de São Paulo, mais precisamente Taubaté no dia 9 de Abril de 1912. Passou um longo tempo de infância na casa dos avós em Tremembé onde descobriu cedo sua vocação para o espetáculo quando era companhia certa para os bailes e animação populares orquestradas por seu avô na cidade. Em 1919, sua família retornou a capital onde ingressa com sucesso no Colégio Amadeu. Logo era o centro das atenções devido sua capacidade de decorar e declamar poesias. A migração é interrompida pela morte de seu avô, que obriga a família a mudar-se novamente para Taubaté. Neste tempo, eles abrem um bar. Porém o outro artista da família segue o legado do patriarca mór começando a frequentar o mundo circense mesmo sem o total consentimento dos pais. Sua obstinação é mais centrada voltando ele a capital paulista na caravana Circo La Paz. Em 1929 ele regressa a cidade natal onde começa a trabalhar como tecelão, mas sempre tentando aqui ou ali um ou outro modo de se fixar no mundo do entretenimento. 

A Revolução Constitucionalista de 1932 é o estopim de uma revolução cultural na vida de Mazzaroppi e a família. Naquele tempo estreia sua primeira peça de teatro A herança do Padre João. O êxito desta investida faz com que seus pais, tão relutantes a princípio sigam com ele pelo interior com a Troupe Mazzaroppi. A paixão pelos palcos era intensa e mesmo sem alguns tostões necessários para se fazer um trabalho melhor, eles seguiam até o falecimento de sua avó, que lhe deixara uma herança. O dinheiro foi o suficiente para adquirir um telhado de zinco para seu pavilhão. Com esta estrutura a Troupe Mazzaroppi pode estrear na capital, deixando fluir o talento nato para as apresentações. Tudo transcorria bem até que a morte de seu pai  em 1944 coloca em xeque a situação financeira da companhia, só se recuperando depois com a estreia do Teatro Oberdan como ator e diretor na peça Filho de sapateiro, sapateiro deve ser

A carreira televisiva ganha corpo no Rádio em 1946 quando estreia o programa dominical Rancho Alegre. Dirigido por Cassiano Gabus Mendes o show era encenado ao vivo com a presença de um auditório. O sucesso fonográfico abre as portas para a TV em 1950. Na TV Tupi o mesmo programa encanta a todos. Embora tenha tido uma considerada notariedade neste campo, foi no cinema que o artista de trejeitos interioranos se imortalizou. Assim em 1952 pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz ele dá o pontapé inicial com Sai da Frente. Mais ua vez as dificuldades financeiras de seu local de trabalho o deixa percorrer por várias produtoras nos próximos anos. 

Cansado da vida de errante pelas estradas do ramo financeiro, funda em 1958 a PAM Filmes (Produções Amácio Mazzaropi), onde estreia com o popular Chofer de Praça em que acumulou as funções de produtor e roteirista além de ator. No ano seguinte, vem Jeca Tatu, seu maior personagem estrelando o filme homônimo baseado nas histórias criadas por Monteiro Lobato em contraposição a tirania política do país. A empatia e identificação popular do personagem aliado a questão social nele inserido funde as personas de ator/personagem de uma maneira espantosa. 

A mão do poderoso José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, o convida a fazer um programa de variedades na extinta TV Excelsior. Com a liberdade criativa que tanto almejava, nasce seu incrível Jeca Tatu, um dos maiores personagens de sua história. A mesma história de que fez parte com a filmagem em cores de Tristeza do Jeca (1961), também veiculado pela televisão e ganhador de vários prêmios. O Corintiano (1966) vira recorde de bilheteria, tendo ele força para clamar por mais apoio ao cinema nacional numa visita ao então presidente Emílio Garrastazu Médici. Funda ainda em Taubaté um grande estúdio cinematográfico, produzindo e distribuindo incontáveis números de filmes. 

Maria Tomba Homem foi o trabalho que literalmente o tombou. Vítima de um câncer na medula óssea sua trajetória que tanto personificou as dificuldades e mazelas de um país em crise é cessada em 13 de Junho de 1981. Vítima do preconceito cultural que afligia os críticos do país, só teve sua carreira exaltada na década de 1990, de onde vieram homenagens significativas por parte dos mesmos intelectuais que o desprezavam. O Brasil aprendeu a adorar seu caipira adorável. O Museu Mazzaropi na mesma localidade dos antigos estúdios ajudam a preservar a memória deste brasileiro que tanta alegria deu ao nosso povo com seu jeito "jeca' de ser. De fala mansa, andar torneado, face tranquila e perspicácia invejável, ele adorava cantar. Uma melodia sedutora que fascinava. A Oficina Cultural que homenageia Amácio Mazzaropi está instalada num edifício centenário (1912), formatando novos talentos que assim como ele tem a facilidade de derrubar barreiras culturais criando um intercâmbio saudável entre o público e o bom entretenimento. 

Amácio, o Mazzaroppi, um brasileiro caipira que adentrou com muita coragem as fronteiras sociais de um tempo anti-social. Criou, dirigiu, atuou, e adjetivou com muita honra a palavra  jeca, tornando-se indiretamente o porta-voz através das telas de uma classe oprimida, e que sobretudo, negou-se a esconder-se como tatu no buraco cultural do país. 

sábado, 6 de abril de 2013

Oscar: Estive lá e venci


Vivien Leigh (Uma rua chamada pecado, 1952)

"Um Bonde Chamado Desejo é um filme maravilhoso, maravilhoso. " Poderíamos afirmar o mesmo da interpretação de sua protagonista. Uma diva do teatro inglês e posteriormente do cinema americano adentrou a pacata vizinhança de uma das ruas mais escandalizadas do cinema. Com as mãos apuradas da direção de Elia Kazan e o texto afinadíssimo e magistral de Tennessee Williams, a estrela de olhos vibrantes pôde desfilar todo o seu talento por esta rua de pecados. Considerada uma das maiores e mais perfeitas atuações da história, a atriz entrega uma personagem desequilibrada sem ultrapassar os limites, o que poderia deixá-la caricata e cheia de exageros. O potencial da inglesa, nascida em território indiano, foi ao limite extremo de toda a perturbação moralista alinhada a um anseio feminino de uma dama com princípios ainda enraizados no charme e delicadeza de seus atributos físicos e no sofrimento agoniante de seus devaneios nostálgicos de seus bons tempos. Um pedido de socorro, de firmação num universo em que o moralismo ainda se fazia latente. Vulgaridade ou apenas uma dama incompreendida como tantas outras a frente de seu tempo? Esta questão é que torna a personagem tão inesquecível quanto sua intérprete e que permeia até hoje o imaginário de quem admira grandes histórias, filmes memoráveis e atuações acima da média como esta, que desbancou indiscutivelmente nada mais nada menos que o grande mito do Oscar Katherine Hepburn, que concorria por The African Queen.



"Havia muito melhores interpretações nas festas de Hollywood do que jamais houve nas telas de cinema." Bette Davis


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Up – Altas Aventuras (09)


Up, 2009. Dirigido por Bob Petersen e Pete Docter.

Nota: 9,6 

Falar da competência do casamento Disney/Pixar, quando se trata em fazer animações acima da média, é falar de coisas que todo mundo que acompanha o mundo do cinema já sabe. Entretanto, não há como segurar a excitação quando se aprecia um de seus longas que ultrapassa a barreira que separa um filme bem feito e uma obra de arte categórica. Depois de conseguir este feito com o excepcional Wall-E (08), a dupla repete a dose com o tocante Up – Altas Aventuras, que engloba não só uma questão específica da vida, mas sim um amontoado de lições, todas demarcadas com as artimanhas que o gênero proporciona.

Carl Frederiksen é um vendedor de balões de 78 anos que acabou de perder a esposa e também está prestes a perder a casa onde teve uma vida plenamente feliz ao lado da amada. Sempre atormentado por um empresário que deseja comprá-la para construir um edifício, ele segue irredutível em deixar o local. Porém, quando agride um funcionário da empresa de construção, é obrigado a ir para um asilo e vender a casa. Mas Carl, com a ajuda de milhares de balões, faz sua casa flutuar e partir rumo ao “Paraíso das Cachoeiras”, onde sempre sonhou ir com a esposa. Contudo, Russel, um pequeno escoteiro de 8 anos acaba embarcando na viagem, e isso mudará suas vidas para sempre.

Pode até parecer simplório: o velho não gosta do menino, mas os dois tem carências a superar e um encontra no outro o afeto que necessitam, mas com os roteiros da Disney nada é tão simples. O texto de Bob Peterson e Pete Docter constrói vários conflitos de uma vez só, ao invés de focar em uma só, como Ratatoulle (06) que subjetivava a busca dos sonhos. É sobre amizade, que não tem idade, sobre o afeto, o amor, e principalmente sobre a condição do idoso, pois nunca é tarde para realizar seus objetivos de vida. Ser idoso não é doença.

Os diretores impõem um conteúdo mais maduro e dramático no início do filme. Era impensável em uma animação para família temas como envelhecimento, infertilidade e a morte assim tão presentes. Aliás, a introdução de Up é os 10 minutos mais incríveis e bem elaborados que se tem notícia, são 70 anos resumidos em imagens cruciais e trilha sonora excepcional de Michael Giacchino (merecidamente premiada com o Oscar). Quase impossível que uma lágrima não surpreenda o espectador assim que o recorte temporal termine.

Quando entra em cena, o menino determinado a provar seu potencial como escoteiro, também carrega suas aspirações, quer se provar um bom aventureiro para ser reconhecido pelo pai que se distancia com a rotina de trabalho. A interação do pequeno com Carl e a união pelo bem da estranha ave Kevin, além da “adoção” do abobalhado e carinhoso cão Doug, é sublimemente divertido e paternal.

Um sucesso ululante, Up – Altas Aventuras foi o segundo da sequência de três obras de arte que o casamento Disney/Pixar lançou em sequência (entre Wall-E e Toy Story 3). Uma história de vida, de aventuras, de amor, de viagens de balão, de sonhos, de cachorros que falam, e de tudo isso junto.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Toy Story 3


Toy Story 3, 2010. Dirigido por Lee Unkrich. Vozes de Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Wallace Shaw e Michael Keaton.

Nota: 9,6

Em 1995, um grupo de animadores da Pixar, sob a batuta de John Lasseter mudou totalmente visão do mundo a respeito dos desenhos animados. Já estávamos nos primórdios da era digital, e cinema, TV, rádio ou qualquer veículo de comunicação teria que procurar formas de se adaptar. O discurso parece de Pierre Levy, mas serve para ilustrar o impacto que filme teve no mundo cinematográfico. Na terceira parte da aventura, os brinquedos mais amados do mundo mostram que, assim como sua tecnologia, estão em ótima forma e são capazes de levarem adultos e crianças dos risos às lágrimas.

O grande desafio de Toy Story 3 foi na concepção do roteiro, pois os roteiristas queriam que a história tivesse um segmento temporal fiel, simplesmente não quiseram continuar na linha do não envelhecer nunca de alguns desenhos animados (Tal como Os Simpsons). Sim, seria um desafio. Andy, o menino dono dos brinquedos, que agora estava transitando entre o mundo juvenil e o adulto, está prestes a ir para a faculdade e não tinha o que fazer com seus antigos brinquedos. O que parece uma premissa de um drama se tornou a grande sacada do filme.

O roteiro se tornou dessa forma o mais maduro dos três, já que nos remete a um período de nossa vida onde o que é importante acaba sempre ficando de lado. São os princípios, o valor da família, e o envelhecimento precoce das emoções, disfarçados em simpáticos brinquedos. Não que o Andy tenha se tornado um jovem cético, mas é subjetivo o entendimento de cada um. No íntimo, todos sabem onde lhe faltou algo. Na lembrança vêem aqueles bonequinhos de exército, a boneca de pano que não falava, a bola amarelada e surrada, e até mesmo latinhas e ossinhos que para os desfavorecidos eram os melhores brinquedos do mundo. E depois da lembrança fica o questionamento de onde o mundo insensível lhe pegou. 

Lee Unkrich encontra o espaço necessário para que aquele ar nostálgico sobrevoe durante toda a exibição, mas a diversão, a determinação que conduz os passos de Woody e a coragem que faz o herói Buzz enfretar tudo sem qualquer arma especial ainda dita o ritmo. Além disso, faz questão que todo o restante da turma deixe sua marca e se torne tão especiais quanto os protagonistas, por isso nos lembramos sempre do Rex, do Cabeça de Batata, a Jessie, O bala na Agulha, e por aí vai.

Mesmo sabendo da importância do primeiro filme para o cinema de animação, o brilhante roteiro, uma constante da Disney/Pixar, faz de Toy Story 3 o melhor filme da trilogia, e mais, uma obra-prima do gênero. Da comédia hilariante à emoção da despedida, fica fácil ver adultos e jovens que se acham adultos saírem da sessão com lágrimas nos olhos. Mas será que desta vez teve um fim a saga de Woody e Buzz? Bom isso é difícil saber, mas se depender da criatividade do pessoal da Pixar, a qualquer momento pinta o quatro.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Meninas malvadas - 10 anos de uma boa maldade adolescente no cinema

Mean girls, 2003
Direção: Mark Waters. Com: Lindsay Lohan, Rachel McAdams, Amanda Seyfried e Tina Fey. 
Nota: 10

Há 10 anos a atriz e roteirista Tina Fey adaptou para o cinema o livro de Rosalind Wiseman "Queen bees and wannabes". Através destas páginas ela esmiuçou o comportamento de várias tribos adolescentes dentro de um renomado colégio americano. Esta descrição comportamental teve como base essencial a milenar rivalidade do sexo feminino, aqui representadas no "ringue" por várias espécimes de garotas que tenta se encaixar em sua tribo de modo particular. 

O filme dirigido por Mark Waters, fala das relações de um grupo de meninas, as mais populares do colégio, denominadas por todas as classes abaixo da cadeia alimentar de prestígio de As poderosas. Lideradas pela tão bela quanto falsa Regina George (Rachel McAdams), elas controlam todas  as ações setoriais que lhes dizem respeito ou não. A Abelha Rainha como  não poderia deixar de ser, é o eixo por onde se move todo o processo de aceitação por parte de todos os alunos e a quem todos, desejam obter uma "absolvição". Karen Smith (Amanda Seyfried) faz o gênero "loira-burra', com seu carisma gigantesco enquanto Gretchen Winters (Lacey Chabert), banca a todo tempo a súdita mais leal, sem se importar com o destino de sua dignidade. A panelinha de interesses se transforma num caldeirão fervilhante de vaidades com a chegada da tímida Cady Haron (Lindsay Lohan). 

A garota chega exalando um chamariz natural de "garota que veio da selva africana e foi educada em casa pelos próprios pais". Toda esta fama involuntária desperta a atenção da toda poderosa do colégio, que a convida a fazer parte de seus seleto grupo. Ou seja, mantenha os amigos perto e os inimigos mais ainda. O processo de fazer parte das poderosas é interessante para a menina África, que gradativamente toma nota de sua personalidade. A falta de contato com outras de mesma espécie deixava Cady numa espécie de zona de conforto. A garota de personalidade irretocável, a queridinha dos pais, amiga de todos sem distinção, torna-se o produto do meio em fração de tempo. Depois de desenhar uma vingança pra cima de Regina quando esta lhe mentiu a despeito de uma paquera, Cady se transforma em uma garota muito mais poderosa que Regina, tornando a nova Abelha Rainha, passando também a carregar todo o ônus desta condição. Neste momento a descoberta de sua personalidade vem ao perceber que dispõe de  armas que jamais pensou que tivesse, nem mesmo em um de seus maiores devaneios maldosos. De uma garota tímida, quase uma marciana,  sua mudança é sensível ao ponto de renegar seus únicos amigos de verdade e reduzir a poderosa Regina a uma simples abelhinha operária. 

O que torna Meninas malvadas um filme deliciosamente interessante é justamente este processo de amadurecimento pelo qual cada uma de nós tende a passar. Por meio de diferentes definições de personalidade, mesclar tipos distintos que compõe o universo das garotas, extrair o que de melhor um grupo tem a oferecer e tentar distinguir o que de pior lhe oferece. As mais populares, as excêntricas, as desportistas, as ousadas, as chamadas nerds, as descoladas ou aquelas que ainda não definiram sua opção sexual. Todas se desnudam nesta brilhante radiografia cinematográfica muito bem conduzida por um roteiro habilidoso, que não deixa passar um cena de puro apreço, uma direção segura de onde emergem cenas e diálogos imperdíveis em atuações promissoras de jovens e carismáticas estrelas. McAdams puxa a fila das atuações no mínimo convincentes. Segue Seyfried compondo o carisma singular de sua personagem, arrancando boas risadas em meio a poucas cenas exageradas, e Lohan brilha  num papel sob medida para ela, a menina malvada mais famosa de Hollywood. Bons tempos que trazem uma certa nostalgia nesta ótima oportunidade para a eterna estrela teen, aqui mais focada em sua carreira onde nem imaginava que um dia fosse se esconder por debaixo de mesas. 

Os desdobramentos do filme se completam no gesto final de Cady ao quebrar e dividir com todas a Coroa do Baile em que foi eleita a Rainha. Este gesto simboliza o amadurecimento da menina ao reconhecer as virtudes de cada garota em especial. Todas podem e devem se sentir parte da Realeza Colegial, e para isso é preciso amadurecer a custo de bastante sofrimento. É doloroso passar pela complicada fase da adolescência, se descobrir, se aceitar, definir sua personalidade e ainda tentar sair ilesa diante de todo este processo. Em tempos de bulling, um filme imperdível daquele que não se fazem mais para o público alvo, com características atemporais e que fala de verdadeira amizade. A incondicional, emergencial. Uma obra que à primeira vista pode sofrer com o mesmo preconceito declamado no filme, mas que para quem tem um pouco de sensibilidade parece tão poderosa quanto seu conceito que muita das vezes a mais poderosa das poderosas não consegue entender. 

"Lembro-me do passado, não com melancolia ou saudade, mas com a sabedoria da maturidade que me faz projetar no presente aquilo que, sendo belo, não se perdeu."
Lya Luft