Belos,
históricos, lendários, surpreendentes, ousados. Os filmes desta
lista tem um algo a mais para apresentar além das fronteiras do puro
entretenimento. Obras de fiel apreciação que ganham status comuns
frente a elementos incomuns expostos por seus admiradores. Por isso
são chamadas de obras-primas, aquelas que marcam a vida e história
do público e do próprio cinema. Ramificada por diferentes gêneros,
mas com uma só ordem. A de se fazer arte através das telas:
O
PODEROSO CHEFÃO
(The
Good Father, 1972)
“Modelo
para todos os filmes de gângsteres posteriores”
PREVIEW
Clássico.
Esta é a palavra que mais se encaixa para adjetivar um filme de
tamanha grandeza cinematográfica, ousadia pessoal e monstruosidade
nas bilheterias dos cinemas. Tudo na obra-prima de Francis
Ford Coppola
soa a clássico. As histórias curiosas enveredadas nos bastidores, a
escolha incomum do elenco de personagens míticos, e o processo de
transposição da obra literária para o cinema. O ítalo-americano
Mario
Puzzo
jamais seria esquecido pelas Academias de letras e sets de filmagem.
Uma façanha histórica pautada no trabalho do autor que além de
escrever, também ajudou no roteiro do filme que desenvolve uma
fascinante história com todos os dramas, conflitos e interesses
pessoais da lendária Família
Corleone
na América pós-guerra. Talvez este tenha sido um dos principais
indicadores para o sucesso “seguro” da complicada arte de
adaptação cinematográfica. Com o mesmo autor do livro a frente do
projeto, podemos apenas esperar para vislumbrar no final uma obra
impecável, cheia de nuances dos personagens que por conta disso
entraram para a história. Houve duas outras sequencias, mas
certamente a primeira impressão é a fica. Quando do se fala em O
poderoso chefão
imediatamente nos vem em mente o nome de Marlon
Brando.
Um dos maiores astros do cinema teve sua participação ameaçada no
filme e só uma “teimosia” convicta de Coppola, fez os donos de o
estúdio ceder. E o resultado de tanto esforço por parte do diretor
pode ser acompanhado pelo desempenho extraordinário do ator que
tornou Don
Vitto Corleone
um dos rostos mais conhecidos e figura mais aplaudida da história do
cinema. Um êxito em todos os sentidos. Um filme poderoso.
Palmas
para ela: um
filme de tantas sequências memoráveis fica até difícil escolher
por uma. Então, vamos citar uma cena tão memorável que se tornou
modelo para os outros filmes do gênero. A emboscada no posto de
gasolina sofrida pelo personagem Sonny Corleone (James Caan) quando
seu corpo é brutalmente alvejado por rajadas incessantes de
metralhadoras. A cena se tornou um marco antológico do gênero.
O
EXORCISTA
(The
Exorcist, 1973)
“Saber
que tudo isso é baseado em fatos reais, piora um pouco as coisas”
MONET
O
maior clássico do cinema de horror teve sua origem em fatos reais.
Isto torna o filme de William
Peter Blatty
algo inesquecivelmente assustador. Nele, uma mãe (Ellen
Burstyn)
se muda com a filha Regan
(Linda
Blair)
para uma estranha casa a fim de recomeçar. No entanto, neste
processo, a vida logo se transforma em prenúncios inquietantes de
morte. A relação cambaleante entre mãe e filha é interrompida
abruptamente por forças sobrenaturais inexplicáveis quando Regan
passa a ser dominada por um espírito das trevas. Para ajudar sua
filha, a mãe faz o que qualquer mãe da vida real faria neste caso.
Ela recorre a médicos e exames antes do apelo desesperado por um
poder tão maior quanto a que elas estão confrontando. O arauto da
salvação vem na força personificada pelo destemido padre Merrin
(uma
atuação assombrosa de Max Von Sydow),
o “herói” da família. Com sequências tão arrepiantes quanto
inesquecíveis, O
Exorcista
se difere dos outros filmes do gênero por inserir uma história
dramática pautada em conflitos pessoais metaforicamente maximizadas
nas cenas de terror solo da menina Regan. Por isso, esta obra não
pode ser caracterizada apenas como mais um filme para assustar. Uma
apocalíptica batalha entre o Bem e o Mal. Trata-se de algo
diferenciado, fazer cinema de primeira grandeza vivenciada por um
elenco bem dirigido em atuações ricas e convincentes. O primeiro do
gênero a ser indicado a melhor filme. Assombroso, pavoroso,
inquietante, espetacular. Uma obra que exerce um fascínio fiel mesmo
com os incidentes ocorridos durante suas gravações nos sets de
filmagens. Apontado por 10 entre 10 especialistas do ramo como
imperdível pode fazer você saltar da cadeira!
Palmas
pra ela: Linda
Blair brilhou em cenas que causaram as mais diversas reações do
público. Em uma delas, a menina Regan desce as escadarias de costas
numa imagem chocante e há quem se lembre do giro de 360 graus que
sua cabeça dá em repulsa ao padre. Uma atuação tão perfeita
psicologicamente e consumadora fisicamente que custou o futuro da
carreira da menina, que nunca conseguiu de desvencilhar das imagens
do filme.
AMADEUS
(Amadeus,
1983)
“O
resultado é um texto afinado, que ganhou nas telas um visual apurado
e direção e interpretações inspiradas”.
CINEMATECA
VEJA
“Um
homem dividido em dois.”
Assim se define o compositor italiano Antônio
Salieri
(F.
Murray Abraham)
em sua jornada particular na conturbada relação com o gênio Mozart
(Tom
Hulce).
A história que o diretor Milos
Formam
levou para as telas não se trata genuinamente de uma biografia de um
dos mais famosos compositores do mundo. O filme se centra na figura
do compositor Salieri que narra durante uma confissão no hospício
como suas emoções em relação à figura de Mozart terminaram por
afetar seu juízo. Diante de um perplexo padre (Richard
Frank),
ele
descreve
sua paixão pela música que o levou a ser o melhor compositor de
Viena, até que a chegada de seu rival à cidade expôs toda sua
mediocridade ao mundo. Um misto de inveja e admiração é condensado
de forma mágica, na sublime interpretação de F. Murray. Tom Hulce
também faz um excelente trabalho como o compositor em sua face
extrovertida (aquela gargalhada contagiante é formidável!). Embora
haja muita controvérsia em torno desta rivalidade de quem realmente
seja o mocinho e o antagonista, o que fica é um show de beleza
cinematográfica de mais uma das muitas versões da lendária
história do compositor aqui mostrado como um homem que apesar de
possuir um talento nato para a música, vive suas paixões de forma
natural. Entre farras, brincadeiras e bebedeiras, faz de sua
personalidade escrachada e até um pouco obscena, um ultraje à
sociedade conservadora. Como todo gênio, foi incompreendido por
muitos, exceto por seu mais ilustre admirador e algoz na versão de
Salieri. Uma história avassaladora, inspirada numa peça brilhante
de Peter
Schaffer.
Entre notas, acordes, sopranos e afins, tudo é deslumbrante em cenas
estarrecedoras. Vencedor de 8 prêmios da Academia, é uma obra-prima
de raro dueto. A música fabulosa é um êxtase para os ouvidos e
Amadeus
um êxtase para os olhos.
Palmas
pra ela: a
produção técnica do filme. Impecável no som, figurino, maquiagem,
direção de arte, edição, fotografia. Ícones indispensáveis para
se produzir uma obra de grande apreço visual.
O
ÚLTIMO IMPERADOR
(The
Last Emperor, 1988)
“O
espetáculo é tão grandioso que a história se torna ornamento.”
SET
ESPECIAL – 1000 vídeos
Um
filme excepcionalmente grandioso que de tão absoluto venceu todas as
categorias que disputou no Oscar naquele ano. Foram 9 em 9
indicações. O que transforma esta colossal cinebiografia em uma
grande proeza. O último Imperador
fascinou plateias do mundo inteiro com um magnífico espetáculo
visual, onde podemos fazer uma viagem cheia de êxtase pelas ruínas
da misteriosa China. O fascínio em torno da milenar e heroica
história chinesa atiça a curiosidade de qualquer civilização.
Isso por si só já é um bom motivo para se assistir ao filme. A
maior obra-prima do talentoso diretor italiano Bernardo
Bertolucci teve por mérito conseguir
conciliar história, arte e cinema. Uma mescla poderosa que
sintetizou com maestria o que chamamos de arte na mais concepção de
todas as palavras. Para contar a fascinante biografia de Pu
Yi (John Lone), o
último soberano da China pré-revolucionária, o roteiro é
desenvolvido em sequências grandiosas, emocionantes e instigantes.
Um homem que teve de apender a conviver com o lado mais humano de ser
um Deus entre seus súditos. Um homem que se sentiu prisioneiro
dentro de sua própria casa, a chamada Cidade Proibida. A presença
de um tutor inglês (Peter O’Toole)
alimenta sua curiosidade em relação ao novo mundo. Quando eclode a
revolução chinesa, o Monarca é deposto, acusado de traição dos
novos ideais. Na prisão, misturado a outros, ele relata toda sua
impressionante trajetória. Uma perfeita radiografia da luta pelo
poder em tempos de reformas ideológicas. O diretor teve de usar de
recursos técnicos verídicos em sua produção. Bertoluccci foi o
primeiro cineasta a filmar no interior da cidade proibida. Um feito
tão histórico quanto o magnifico filme que realizou posteriormente.
Umas das últimas obras-primas reais do cinema.
Palmas
para ela: a
fotografia, a exuberância das imagens fundidas em cores vívidas
numa espetacular trilha sonora. Arte pura sem a necessidade de
palavras para expressar tamanho deslumbramento.
O
SILÊNCIO DOS INOCENTES (The
silence of the lambs, 1990)
“Realmente,
tudo funciona neste filme”
SET
Um
jogo de gato e rato se desenrola no filme brilhantemente arquitetado
por Jonathan Demme
entre as paredes de uma penitenciária de segurança máxima onde se
encontra um dos maiores serial-killers
da história do cinema. Hannibal Lecter
(Anthony Hopkins) é o
claro exemplo de uma mente brilhante que depois de usar seus poderes
para o mal é abdicado de seu convívio com humanos. O psiquiatra
aparentemente amistoso conduzia suas consultas de forma nada
convencional quando se alimentava (ughr!)
de suas vítimas. Quando uma série de desaparecimentos e
assassinatos chama a atenção o FBI eles enviam sua melhor agente
para o caso. A destemida Clarice Starling
(Jodie Foster), ainda
está na Academia, mas seu diretor (Scott
Gleen) vislumbra nela um grande futuro
profissional. Assim, a bela agente faz uma espécie de pacto com o
diabo para obter sucesso no caso que mudará sua vida. Ela procura o
renomado Lecter para trocar pistas e informações a respeito. O
psiquiatra usa toda sua lábia profissional para formular uma relação
psicologicamente íntima com a agente. Lecter tece uma teia de
emoções dantes esquecidas por Clarice. Cria-se uma admiração
empática entre ambos, levando-a a superar antigos traumas. E dá-se
início a uma das mais rendosas parcerias do cinema. Os personagens
se tornaram míticos, os atores famosos e o filme lendário. O
Silencio dos inocentes foi uma das raras
obras que conseguiu a proeza de levar todos os prêmios mais
relevantes do Oscar: melhor filme, direção, ator, atriz e roteiro.
Uma obra que de tão surpreendente nos deixa em silêncio para
apreciar personagens notáveis em trabalhos brilhantes.
Palmas
pra ela: as atuações de Hopkins e Foster
entraram em várias listas de grandes performances do cinema. Uma
química única ajudada pela construção minuciosa dos perfis de
seus personagens (Hopkins e os olhos hipnotizantes de Lecter) em um
roteiro excepcional.
O
RESGATE DO SOLDADO RYAN
(Saving
private Ryan, 1998)
“Aqui
Steven Spielberg arrasa na direção e faz um dos melhores filmes de
Guerra de todos os tempos”
CINEPLAYERS
Como
um filme de guerra, bombas e explosões, pode ser considerada uma
obra imperdível e de beleza sem igual? A resposta é uma só: Steven
Spielberg.
O mago do cinema nos brinda com um filme que leva às lágrimas mesmo
tendo em seu casting
principal
personagens masculinizados. Tudo começa com uma sequencia
espetacular de quase 20 minutos numa representação da famosa
batalha na praia de Omaha, no chamado Dia
D
quando as tropas americanas avançaram na Guerra e segue o Capitão
Miller
(Tom
Hanks)
em sua última missão com um grupo de soldados de Elite recrutados
com um único objetivo: trazer de volta ao seio de sua mãe americana
o destemido soldado James
Francis Ryan
(Matt
Damon),
depois que este perde seus irmãos em combate. Neste trajeto, os
perigos eminentes de uma malfadada Guerra se apresentam da forma mais
dramática possível, descaracterizando o gênero. Batalhas
sangrentas e mortais servem como pano de fundo de um roteiro bem
apurado que poderia ser simples neste contexto. Mas se tratando de
Spielberg sempre esperamos por mais. O mais de O
resgate do soldado Ryan
consiste em adicionar cenas técnicas, estrondosas e cheias de
testosterona a algo emocionante, singular, de uma beleza indissolúvel
quando mostra homens da guerra antes de heróis condecorados, humanos
com seus medos e inquietações diante do desconhecido. Spielberg
captura as cenas brutais catapultando momentos singelos como se ouvir
Piaf antes da inesquecível batalha na ponte. Por tudo isso, o filme
é uma exímia obra de arte que emociona na brutalidade dos tiros e
canhões. Um resgate da genialidade em se fazer algo inesquecível.
Palmas
pra ela: As
interpretações seguras Matt Damon, Giovanni Ribisi e Edward Burns
desnudam seus personagens com uma veracidade impressionante.
Encabeçados pelo excelente Tom Hanks, o elenco do filme não deixa
por menos e com certeza é um dos responsáveis pelo êxito do filme.
KILL
BILL
(Kill
Bill, 2001)
“Um
lindo delírio visual”
FOLHA
DE SÃO PAULO
Um
dos melhores e mais divertidos filmes de ação de todos os tempos é
considerado uma obra-prima do mestre do excêntrico Quentin
Tarantino.
Acostumado a se enveredar pelos caminhos da Torre de Babel
cinematográfica, aqui ela recria uma famosa personagem americana dos
quadrinhos, dá corpo à sua conhecida personalidade e uma espada de
samurai a tiracolo. Elementos capciosos em sua busca sangrenta por
vingança. Bellatrix
Kiddo
(Uma
Thurman)
fazia parte de uma poderosa organização criminosa e tinha como
missão assassinar pessoas por encomenda – As víboras mortais -,
liderado pelo mafioso, bandido, traficante, ou uma destas
denominações de coisas ruins Bill
(David
Carradine).
Depois de engravidar, Bellatrix (de codinome Mamba negra), tenta
mudar de vida, assumindo uma nova identidade e prestes a constituir
família. Entretanto, os fantasmas de seu passado retornam na forma
de quatro assassinos do clã que promovem um massacre em seu
casamento deixando-a em coma. Mais tarde ela acorda em busca de
vingança contra seus algozes. Munida de uma poderosa arma, ela
começa a espalhar uma trilha de sangue pelo caminho. Um a um seus
inimigos sucumbem a sua Hattori
Hanzo
e o que se vê é um show de A
noiva
conjurada por lutas vibrantes, mutilações inesquecíveis em meio a
uma grande e boa dose de senso de humor reforçada pela construção
perfeita dos coadjuvantes. Marcas de Tarantino. O obvio se transforma
em algo inusitado que a cada cena ou golpe desferido, se faz de forma
memorável. Uma belíssima homenagem ao cinema de ação
particularmente Kung-Fu. Ideia alimentada pela presença do astro
Carradine e lendas japonesas. Kill
Bill pode
ter a morte no nome, mas paradoxalmente fala de vida. Vida
inteligente no cinema.
Palmas
pra ela: a
sequência arrasadora do confronto na casa das flores azuis. O olhar
ferino da justiceira vingadora parece pouco diante do poder de
destruição de seu instrumento da morte. Sua espada cantou nos
membros de seus adversários promovendo um verdadeiro massacre pela
tela. O visual escarlate deu lugar a traços incolores da sequencia
para dar ênfase ao derramamento de sangue. Genial!
O
LABIRINTO DO FAUNO
(Pan’s labirinth, 2005)
“O
Labirinto do fauno oferece muito para admiração do público”
1001
FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
Considerada
a obra mais madura do surpreendente diretor Guilhermo
Del Toro,
esta estória dentro da história foi uma grata surpresa do Oscar de
2006. Levou 3 estatuetas em categorias técnicas (maquiagem, direção
de arte e fotografia). A minúcia realista desta obra causa tanta
admiração quanto espanto. As características técnicas apoiadas
num roteiro formidável dão ao filme um merecido status de algo
admirável em que viajamos por um mundo de fantasia captado pela
meiguice da menina Ofélia
(Ivana
Baquero).
A garota poderia ser uma das conhecidas princesas de contos de fada.
Mas ao contrário das fábulas infantis, Ofélia teve de se acostumar
com a dura realidade trazida após a Guerra Civil espanhola. Enquanto
suas “colegas” tinham uma madrasta má em seu encalço, a menina
tinha como tormento um padrasto tão cruel que as madrastas más
certamente temeriam. Quando se muda com sua mãe para a casa do
Capitão
Vidal
(Sérgi
López),
ela se vê rodeada de tristeza e morte. Este caminho só poderia
leva-la a uma fuga para outro mundo habitado por um dúbio Fauno.
Através de um labirinto é avisada que é a reencarnação de uma
princesa que perdeu a memória quando cruzou o limite entre os dois
mundos. E para retornar, ela teria de passar por três difíceis
provas, que lhe exigiriam astúcia, coragem e sacrifício. A
simplicidade do filme para por aqui. Levantando questões mais
relevantes do que o felizes para sempre, O
Labirinto do Fauno
nos transporta para dentro de um mundo apaziguado no coração
angustiado de uma criança ao enxergamos por seu ponto de vista os
horrores de tempos difíceis. O tom mais soturno de sua produção
vai de contraponto as cores cintilantes de um mundo de fantasia. A
junção coesa entre o horror da realidade e a sutileza da fantasia
nos dá a certeza de que nos dias atuais, cada vez mais desejamos nos
perder por este fabuloso labirinto de sonhos.
Palmas
pra ela: a
maquiagem vencedora do Oscar que certamente é um requisito
importantíssimo na arte em se criar seres imaginários. Tudo é
minunciosamente perfeito e dá à história a possibilidade em se
enxergar beleza em algo soturno. Elemento raramente visto no cinema.
CISNE
NEGRO
(Black
Swan, 2010)
“Aronofsky
leva o espectador a buscar a perfeição e deixa a emoção nas mãos
de Natalie Portman”
SCI-FI
NEWS
Intenso.
Não há outro adjetivo melhor para definir uma obra de grande
apreciação que desnuda as várias facetas da psique humana. Esta
intensidade é deflagrada a cada sequência eletrizante do filme
muito bem montado e dirigido por Darren
Aronofsky.
O diretor se tornou um especialista em criar monólogos intimistas de
seus protagonistas nos brinda com uma obra que exala beleza em todos
os poros. Cisne
negro
começa como o retrato fiel da dolorosa vida de quem se dedica a
oferecer beleza ao espetáculo. Jovens belas e determinadas que
flutuam sobre o palco depõe como um tema interessantíssimo. Por
ele, acompanhamos a saga pessoal Nina
Sayers
(Natalie
Portman, espetacular)
como aspirante ao posto de protagonista de uma das mais famosas peças
do mundo: O lago dos cisnes. E é obvio que para chegar ao topo, a
frágil bailarina teve de enfrentar muitos adversários. A
massacrante rotina de treinamentos com o exigente diretor, a mãe
obcecada, uma linda e competente rival. No entanto, nenhum desses
adversários se revelou tão forte quanto uma velha conhecida. E é
justamente aí que o filme muda de contexto. Disposta a enfrentar sua
maior rival, Nina mergulha intensamente na maior batalha de sua vida
que vai além dos palcos. A busca pelo autoconhecimento. Para isso,
sua sensibilidade apurada dá lugar a uma persona mais forte e sexual
com a presença quase que irritante da colega Lily
(Mila
Kunis).
As cenas entre as duas são de tirar o fôlego. Um trabalho que
privilegia mais o lado sensual do que o sexual. Um poder desconhecido
que ela só consegue controlar quando começa a se entender numa
viagem eletrizante ao íntimo do ser. Uma das mais instigantes e
belas obras do cinema. Tudo é perfeito. Tudo leva a perfeição. A
música, a dança, os avanços voluptuosos da personalidade da
protagonista em sequências apoteóticas. Impossível não se deixar
levar pela beleza do cisne.
Palmas
pra ela: A
incrível metamorfose do cisne negro. Entre um rodopio e outro, o
êxito físico e pessoal da personagem transborda na tela. Magnífico!
O
ARTISTA (The
Artist, 2011)
“A
novidade é que o diretor resolveu usar a falta de palavras e o uso
escasso do som como instrumento de linguagem, conferindo-lhe um
charme a mais.”
PREVIEW
Ousadia
é uma marca registrada para elevar uma obra a algo admirável e
inesquecível. Este foi o elemento pilar deste vencedor do Oscar de
2012. O
Artista
falou brilhantemente de cinema sem dizer uma palavra sequer. Uma
homenagem a Era de Ouro do cinema mudo que arrebatou milhões de fãs
pelo mundo afora. o filme de Michel
Hazanavicius
tinha tudo para ser um fracasso, mas se tornou surpreendente, mágico,
vibrante. Com uma ideia atemporal, o filme não precisa de avançados
recursos tecnológicos para tocar fundo na alma. Em tempos de
explosões cataclísmicas para atrair bilheterias, é um belo retorno
à ideia primordial de fazer cinema como arte. Como se trata de uma
obra muda e em preto-e-branco coube ao valioso elenco atores o árduo
trabalho de passar sua mensagem por meio de caras, bocas e expressões
corporais inconfundíveis da época. Isso fez do francês Jean
Dujardim
um oponente imbatível na corrida do Oscar. Perfeito e ambas as
interpretações tanto física quanto psicológica nas emoções de
seu galã decadente. George
Valentim
era o Deus das telas quando sua aparência “falava” por ele,
despertando inúmeras paixões. Entre elas se encontrava a
carismática Peppy
Miller
(Bérénice
Bejo)
cuja carreira se ascende paralelo a descendente de seu maior ídolo
que sofre intensamente o golpe da chegada do cinema sonoro. Sua
aparência já não mais poderia servi-lo na carreira. Assim sendo, o
Deus virou um mero mortal e como tal se expõe as mazelas de se
conviver entre os mortais. Falido, assiste sua pupila cada vez amada
por um público que já foi seu, mas luta até o fim para não
“vender” seu talento aos tubarões corporativos da época. “Sou
um artista, não um boneco”.
Tudo transcorria para um triste final até que é resgatado por sua
fiel admiradora que com ele forma uma dupla de sucesso. Um final
feliz para um filme de final feliz. A trajetória do protagonista é
uma alusão a própria trajetória do gênero em questão. Um cinema
que todos acreditavam estar perdido, mas que foi corajosamente
resgatado numa obra-prima que entra para os anais da história
cinematográfica como uma arte imortal.
Palmas
pra ela: a
sequência final do filme na dança sincronizada de Valentim e
Miller. Ambos os atores retrataram a química fantástica de seus
personagens numa cena de pura alegria e deleite.