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sábado, 31 de julho de 2010

Diversão para crianças, emoção para adultos

Em 1995, um grupo de animadores da Pixar, sob a batuta de John Lasseter mudou totalmente visão do mundo a respeito dos desenhos animados. Já estávamos nos primórdios da era digital, e cinema, TV, rádio ou qualquer veículo de comunicação teria que procurar formas de se adaptar. O discurso parece de Pierre Levy, mas serve para ilustrar o impacto que filme teve no mundo cinematográfico. Agora na terceira parte da aventura, os brinque dos mais amados do mundo mostram que, assim como sua tecnologia, estão em ótima forma e são capazes de levarem adultos e crianças dos risos às lágrimas.
O grande desafio de Toy Story 3 foi na concepção do roteiro, pois os roteiristas queriam que a história tivesse um segmento temporal fiel, simplesmente não quiseram continuar na linha do não envelhecer nunca de alguns desenhos animados. Sim, seria um desafio. Andy, o menino dono dos brinquedos, agora era um adulto, prestes a ir para a faculdade e não tinha o que fazer com seus antigos brinquedos. O que parece uma premissa de um drama se tornou a grande sacada do filme.
O roteiro se tornou o mais adulto dos três, já que nos remete a um período de nossa vida onde o que é importante acaba sempre ficando de lado. São os princípios, o valor da família, e o envelhecimento precoce das emoções, disfarçados de simpáticos brinquedos. Não que o Andy tenha se tornado um jovem cético, mas é subjetivo o entendimento de cada um. No íntimo, todos sabem onde lhe faltou algo. Na lembrança vêem aqueles bonequinhos de exército, a boneca de pano que não falava, a bola amarelada e surrada, e até mesmo latinhas e ossinhos que para os desfavorecidos eram os melhores brinquedos do mundo. E depois da lembrança fica o questionamento de onde o mundo insensível lhe pegou. Mesmo sabendo da importância do primeiro filme para o cinema de animação, o brilhante roteiro, uma constante da Disney/Pixar, faz de Toy Story 3 o melhor filme da trilogia. Da comédia hilariante à emoção da despedida, fica fácil ver adultos e jovens que se acham adultos saírem da sessão com lágrimas nos olhos. Mas será que desta vez teve um fim a saga de Woody e Buzz? Bom isso é difícil saber, mas se depender da criatividade do pessoal da Pixar, a qualquer momento pinta o quatro

ENTRE O CÉU E A TERRA, O OLHAR DO PARAÍSO

Por FLÁVIA C. SILVA


Se para cada ação há uma reação, então é comum esperarmos que para cada crime
haja uma punição,certo?Mas e quando as linhas da lei de Newton não interagem
com as leis humanas?O que nós, criaturas primitivamente imperfeitas podemos fa-
zer diante desta dura realidade?
É comum para todos nós sentirmos uma dor dilacerante na alma quando perdemos alguém que amamos de forma brutal.Junto com esta dor surgem dúvidas e questões preponderantes que só acabam com uma busca incessante por justiça.Isso faz parte
da vida. No entanto num país onde as leis parecem existir apenas para uma parte marginalizada da população,esta busca desesperada fica atenuada pelo desejo de vingança.Fazer justiça com nossas próprias mãos.Criamos nosso próprio sistema judicial que parece ter saído de um daqueles filmes de Clint Eastwood e seus inimi-táveis faroestes.Lançamos mãos sobre armas legais ou não,pensando que através
delas encontraremos as soluções de nossos problemas.Uma decisão que tomamos inflamados pela dor da perda e da desesperança quanto aplicação da justiça.A im-pulsividade na maioria das vezes nos deixa a mercê de conse-qüências nocivas a
nós mesmos.Foi esta busca incessante por justiça que matou a estilista Zuzu Angel
num acidente pouco explicado na década de 70.Ela lutava contra um sistema que vi-gora até hoje, procurando desesperadamente por informações a respeito do paradeiro
de seu filho,um ativista político como tantos outros que ainda permanecem desapa-recidos sem que as famílias sequer tenham o direito de velar por eles. A dor destas famílias que permanecem fiéis a esta busca se retrata todos os dias em cada um que
vive um drama parecido com o da família Salmom. Até onde podemos suportar a fal-
ta de respeito com esta dor?Até onde podemos suportar o descaso das autoridades com
tantos casos arquivados por falta de um sistema judicial equilibrado?Até onde podemos suportar a possibilidade de esbarrar numa calçada, shopping ou numa igreja com crimi-nosos de alta periculosidade que “já pagaram sua dívida com a justiça”?Diante de tantas inquietações torna-se impossível não lançarmos mão sobre um bastão de Beisebol e corrermos na escuridão atrás de nossos algozes.Fazer com que sintam o mesmo que nós,esperando que a dor dilacerante finalmente desapareça.É a fa-mosa lei do olho por olho,dente por dente.Aquele que nunca pensou nesta possibili-dade que atire sua pri-meira pedra. Ou então, que espere pela justiça, aquela que tarda, mas não falha. E se ela falhar, deixemos a cargo do tempo ou do destino.
Seja como for, o importante é não deixar que a razão sucumba perante nossos instintos, pois tanto as leis humanas quanto as leis de Newton costumam ser impiedosas com aqueles que confundem os conceitos da celestial justiça com o da terrena vingança. É a ação e reação agindo a favor de quem entende estas leis. E para isso nem é preciso ser um gênio da Física.

Desejos e reparações

Por FLÁVIA C. SILVA
“Eu não mais sequer consigo imaginar que propósito
tem a honestidade ou a realidade.”
Briony Tallis
Orgulho ferido, arrogância ou apenas o desejo de brincar de Deus?
Inteligência e imaginação são dons que nos ajudam a trilhar de as estradas da vida de forma mais “segura”.Enquanto a primeira nos dá o suporte racional necessário, a última atua como uma válvula de escape para cada vez que tentamos fugir de uma sufocante realidade.O desafio então consiste em tentar equilibrar estes dons através
de nossas limitações.Porém toda vez que incorporamos Briony Talles estamos longe de superar este desafio.Quando nossa arrogância nos cega diante da ilusão do poder
de atuar e interferir – muitas vezes de forma nociva na vida dos outros .Caímos na armadilha imposta a todo ser humano e nosso egocentrismo acaba superando a razão,nos impedindo de enxergar as virtudes imperfeitas dos outros. Adequamos suas histórias aos nossos interesses sem nos preocuparmos com a responsabilidade de dis-
cernir o certo do errado.Sempre que a imaginação supera a inteligência, deixamos
de agir com racionalidade, trazendo conseqüências irreparáveis.
Assassino confesso da atriz Daniela Perez, o ex-ator Guilherme de Pádua, teve re-
centemente num programa de TV, uma chance única de tentar repara o irreparável.
No entanto sua postura cinicamente irônica, só fez acentuar a mágoa de milhares de
pessoas que perplexos assistiam à equivocada entrevista.Guilherme usou de sua imaginação para tentar retratar seu lado humano(se é que ele tem um), para explicar
sua versão da inexplicável tragédia que alterou de forma dramática a vida de uma
promissora atriz e de sua família.E o apresentador não usou de sua inteligência para
conduzir com precisão a entrevista e evitar todo o constrangimento que causou.E o
vexame só não foi maior por conta da audiência obtida pelo programa.
Seja pelas páginas de um livro ou por atitudes corriqueiras no dia-a-dia, é preciso que
tenhamos inteligência para pensar e agir sob certas emoções e cabe somente a nós tra-
çar com exatidão a linha tênue que separa o certo e o errado.Medir com inteligência
o tamanho de nossa imaginação.Devemos e podemos encontrar este equilíbrio, pois
é provável que não tenhamos tempo nem imaginação suficientes para reparações.


Desejo e reparação (Atonnement /2007)
Com Keira Knightley , James McAvoy e Saoirse Ronan

Quando um mais um é igual a nada

A Mitologia Grega é de fato a mais fascinante viagem ao mundo do fabuloso de que temos conhecimento. Histórias ricas em detalhes e descrições perfeitas de seres interessantes, tanto quanto bizarros, é um consistente roteiro pronto para transportar toda essa magia dos livros para as telonas. Entretanto, não é tão simples. Toda sua carga de arte pode virar uma grande bomba nas mãos de diretores com pouca experiência. Foi o que infelizmente se viu até hoje nas malfadadas adaptações de histórias como Odisséia, O jovem Hércules, e nos recentes Percy Jackson e o ladrão de raios, e Fúria de Titãs.
Os dois últimos citados são exemplos claros de como não se pode simplesmente “jogar” a mitologia na telona. Percy Jackson segue alinha teen da saga Crepúsculo, onde mito e o universo juvenil se entrelaçam formando algo que beira o estúpido, mas que tem o seu público fiel. Uma concepção como essa, Deuses-Modernidade, era um tanto arriscada, poderia levar o diretor ao Olimpo ou ao Mundo Inferior. Depois de quase duas horas de tiradas que eram para ser engraçadas e de péssimos figurinos e direção de arte (incluindo espadas e armaduras visivelmente de plástico), não tenho dúvidas que o diretor está fazendo companhia ao pobre Hades.
Já a refilmagem do clássico de 1981, Fúria de Titãs tinha tudo para ser formidável. Roteiro puro e simples de uma das mais belas e encantadoras passagens da mitologia, com personagens dentre os mais fantásticos da obra da antiguidade clássica como Perseu, Medusa e o Kraken, era sucesso garantido. Ledo engano. O longa atual só supera o original em efeitos visuais e sonoros, de resto sobra apenas um filme com pressa de chegar ao fim. Tanto que o herói chega à metade de sua saga antes mesmo que o público termine sua pipoca. É a tal falta de roteiro compensada com frenesi e efeitos berrantes que tanto fala José Wilker. Nem Ralph Fiennes na pele de Hades consegue dar um tom diferente ao filme.
Para os fãs de mitologia e de cinema ficou a frustração. Esperavam se deliciar com o mundo fantástico repleto de heróis e monstros, seres fabulosos que valessem o ingresso. Mas infelizmente a única sensação que deve ter ficado é a de que viram dois filmes semelhantes, porém que não acrescentaram absolutamente nada.