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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Personagens Inesquecíveis: Randle P. McMurphy (Jack Nicholson)


Filme: Um estranho no ninho (1975)

O título do filme bem como seu intérprete caem como uma luva para o doido mais carismático da história. A imagem construída por Nicholson em inúmeros filmes que brilhou não se compara com tanta fidelidade a este malandro condenado por estupro e que com muito jogo de cintura, como não poderia deixar de ser, consegue ludibriar as autoridades, mudando seu destino de condenação. Ao invés de seguir para um presídio comum onde certamente sofreria na pele as consequências de seu ato, numa cartada de mestre se finge de louco e vai parar numa prisão especial para os deficientes mentais. O espertinho só não esperava que a partir desta brilhante saída estratégica sua vida iria entrar numa onda de tédio, amigos loucos e uma enfermeira osso duro de roer. Mas quem nasce Rei nunca perde a majestade, ainda mais em meio a um bando de loucos. E assim o estranho no ninho se torna uma espécie de líder de uma rebelião interna dos pacientes numa eterna queda de braço com médicos e enfermeiras. uma interpretação eficaz. Esta é a palavra mais apropriada pra classificar uma das mais cultuadas e premiadas atuações do cinema por um de seus maiores astros. Um casamento perfeito raramente visto entre o criador e a criatura. Protagonistas históricos de um bom entretenimento.  

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

De Pernas pro Ar 2 (2012)


De Pernas pro Ar 2, 2012. Dirigido por Roberto Santucci. Com Ingrid Guimarães, Maria Paula, Bruno Garcia, Eriberto Leão e Cristina Pereira.

Nota: 7.6

De algum modo Roberto Santucci conseguiu equalizar os mecanismos que compõe as comédias nacionais e descobriu assim uma mina de ouro. Depois de conseguir sucessos estrondosos de bilheteria com os escatológicos De Pernas pro Ar (2010) e Até que a Sorte nos Separe (2012), o diretor aposta na sequência do primeiro, que levou milhões de pessoas aos cinemas e “inaugurou” esta produção em massa de comédias “fast-food” de alma televisiva. Entretanto, com essa nova trama de Alice e Cia., consegue trazer algo não visto nas últimas produções, uma linha narrativa coerente, que, apesar de um texto frágil e repleto de retalhos de outras comédias, não apela a esquetes enfadonhos e saturantes.

Alice (Ingrid Guimarães, competente) conseguiu fazer com que seu sex shop, que abriu em sociedade com Marcela (Maria Paula), alçasse voos maiores e atingisse a marca de 100 lojas por todo o país. Mas, sua obsessão por trabalho a leva a ter ataques de estresse, levando à sua internação em um spa. Lá conhece diversos tipos, entre eles o também viciado em trabalho Ricardo (Eriberto Leão), que logo irá conhecer seu verdadeiro motivo de estar lá. Quando surge a oportunidade de abrir uma filial em Nova Iorque, ela terá de escolher entre o sucesso profissional, assim realizar seu sonhos, e sua vida pessoal, com seu marido João (Bruno Garcia) e seu filho.

O roteiro escrito por Santucci não apresenta nenhuma novidade, se tratando de universo cinematográfico como um todo: piadas ambíguas, situações absolutamente bizarras e alguns escatalogias programadas. Porém, se compararmos a outras produções nacionais, De Pernas pro Ar 2 traz algo pouco, ou raramente, visto por aqui: piadas bem colocadas, que seguem um senso lógico da narrativa do filme, sem necessitar de esquetes convenientemente arquitetados para que o público explodisse de rir. A história, apesar de boba e manjada, flui, e a maneira como o humor é obtido não dependo de um stand up do ator global que protagoniza o longa. As situações são engraçadas por si só, e a opção por pegar leve na conotação sexual, além de permitir mais alternativas cômicas, dá a oportunidade de crianças poderem assistir, sem que seus pais fiquem constrangidos.

As sequências são deja vu de alguns outros filmes, principalmente a que Alice se desdobra para almoçar com sua família e com o empresário que vai investir em sua rede de lojas em território americano, visivelmente inspirada em Uma Babá Quase Perfeita (93), protagonizada por Robin Willians. Além de uma homenagem a Woody Allen que só cinéfilos são capazes de perceber. Mas tudo isso não chega a incomodar. Santucci sabe o que está fazendo, e mesmo passeando por diversos ambientes não perde o foco e mantém as luzes em Alice e insere aos poucos os personagens periféricos, sugando uma piadinha aqui outra ali. Acerta também em não ficar preso demais ao sentimentalismo barato, pois se é para fazer rir sem intençao de criar uma obra de arte, para quê acrescentar melodrama?

Entretanto nada sairia como o esperado se não fosse a liberdade de se desprender que teve Ingrid Guimarães. Sua Alice não precisa mais exagerar em situações bizarras para que leve o público às gargalhadas, a naturalidade com que faz humor é um dos diferenciais do longa, e, com exceções de uma cena ou outra, age como se fosse ela mesma dentro de cena e estivesse nos palcos, o que já vale o ingresso. O restante do elenco se esforça, mas o destaque vai para a excelente Cristina Pereira coma a empregada Rosa, na medida certa atua como um suporte cômico interessante, tirando um pouco da responsabilidade total de Ingrid, com cenas hilárias com trocadilhos infames, no melhor estilo TV Pirata!

Tudo bem, o filme não é o melhor que nosso cinema tem condições de fazer, e ainda está longe disso. Mas só o fato de se desprender da convenções televisivas esquéticas já faz com que De Pernas pro Ar 2 seja melhor do que a grande maioria das produções do gênero concebidas ultimamente. Se daqui para frente houver uma evolução, os roteiros passarem a ser mais originais e as escatologias sejam moderadas, os mesmos que hoje saem do cinema do olhos marejados de tanto rir, mas rapidamente não se lembram de mais nenhuma piada, poderão se divertir muito mais, até semanas depois, lembrando daquela situação e rindo sozinho.


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Frankenweenie (2012)


Frankenweenie, 2012. Dirigido por Tim Burton.

Nota: 8.2

Tim Burton é daqueles diretores que sempre está fazendo um filme aqui e outro ali, transitando pelos gêneros que mais ama: terror e comédia. Na maioria das vezes constitui uma combinação dos dois e faz um “terrir” como era de costume em filmes de Sam Raimi, só que de uma qualidade muito superior ao “trashes” do sino-americano. Quando resolve se enveredar pelo mundo da animação, também uma paixão sua, cria algo só seu, de traços marcantes, bizarros, mas com temas sempre mais interessantes do que a maioria consegue fazer. Depois dos obscuros O Estranho Mundo de Jack e Vincent, o diretor faz uma homenagem a um dos maiores clássicos do horror do cinema americano em Frankenweenie, muito mais bem-humorado.

Victor é um menino recluso e apaixonado pelas ciências, que tem como melhor amigo o doce cachorrinho Sparky, que faz a alegria não só dele, mas também de toda a família. Quando o pet sai correndo atrás de uma bola e entra na frente de carro, sua amizade com Victor parecia encerrada. Porém, o menino coloca em prática os fundamentos que aprendeu na escola para montar uma parafernalha para trazer seu fiel amigo à vida. Seu triunfo, entretanto, desperta a inveja de seus amigos, que usam sua cartilha para criar monstros bizarros.

Burton assina o roteiro e faz não uma paródia, e sim uma homenagem ao clássico dirigido por James Whale em 1931, adaptado da obra da britânica Mary Shelley. Mas aqui, diferente da loucura que direcionou Henry Frankenstein a criar o monstro, é o amor que Victor sente por Sparky que é o catalisador da história. Inclusive este é o elemento principal revelado por seu professor de ciências para que tudo ocorresse como o esperado. O diretor aproveita ainda para injetar pequenas referências a outros filmes, como a outra obra de Whale, A Noiva de Frankenstein (35) e Jurassic Park (93), de Spielberg. Mas sem perder o rumo de sua linha narrativa, ficando sua história com vida própria.

Os traços, que em sua maioria são desenhados pelo próprio Burton, também se tornaram uma marca registrada. Seu personagem principal lembra a fisionomia de Johnny Depp, seu ator-fetiche, e as feições bizarras do cachorrinho são bem constituídas para relembrar a maquiagem revolucionária criada por Jack P. Pierce no longa de 1931. O humor está mais incisivo e a escuridão nos moldes do Expressionismo Alemão não domina a película como de costume, o que dá um tom mais ameno, que não se fazia presente desde A Noiva Cadáver (09). A passagem final não é fatalista como o original, deixando prevalecer o que provavelmente iria agradar o público infanto-juvenil.

Aqueles acostumados à obscuridade e dualidade dos filmes anteriores de Burton no gênero, talvez alguns fãs não fiquem satisfeitos. Entretanto esta bela homenagem bem reconstituída e identificada irá atingir um público muito maior. Um filme bem feito, ousado e nostálgico, obra que mesmo não sendo sua melhor é um produto acima da média. Boris Karloff, que deu vida ao monstro no original, ficaria emocionado e bateria palmas.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O Amante da Rainha (2012)

EN Kongelig Affære/ A Royal Affair, 2012
Direção: Nicolaj Arcel. Com: Alicia Vikander, Mads Mikkelsen e Mikkel Boe Følsgaard.
Nota: 8.5


Liberdade, igualdade e fraternidade. Os ideais da revolução francesa que deu suporte ao Iluminismo impulsionam esta uma história glamourosa e comovente sobre os bastidores das mudanças políticas do Reino da Dinamarca narradas pelo candidato a melhor filme estrangeiro do ano.

A liberdade passa a ser algo bastante requisitado pela bela Caroline Matilde (Alicia Vikander) depois que foi obrigada a casar-se com Cristian VII (Mikkel Boe Følsgaard), o Rei da Dinamarca. Aos 15 anos, a jovem britânica, já envolvida com os ideais iluministas de sua terra natal, acreditava viver esta realidade em solo estrangeiro. Desiludida e presa a uma permuta de interesses políticos, ela convive resignada com a solidão de uma vida interrompida abruptamente por questões além de seu alcance. Retraída em seu próprio mundo, Caroline perde as esperanças de encontrar o amor até que chega ao Palácio o médico Johann Struensee (Mads Mikkelsen). Diante da indiferença do Rei que passa a maior parte entre bebidas e orgias pelos bordéis da cidade, Caroline começa a se aproximar de Johann não apenas pela carência, mas pelos ideais que demonstram partilhar em comum. 

A igualdade é um sonho que impulsiona o médico idealista, muito adepto a filosofia Iluminista de que "todo homem nasce igual e livre". Inteligente, começa a explorar a instabilidade mental e emocional do Rei para cair em suas graças ganhando lugar de destaque entre os membros da corte. Aos poucos, ele envolve o casal real. Cristian e sua parceria de amizade incondicional e Caroline que se entrega aos seus encantos intelectuais  e posteriormente carnais. Juntos, eles conseguem promover mudanças significativas na vida da população mais carente do reino, concretizando o terreno de ideias do Iluminismo. Logo, os poderosos da corte percebem que Johann é a raiz de todos seus problemas, portanto, uma ameaça em potencial. Neste momento, instaura-se uma luta pelo poder. De um lado o idealismo do médico; do outro o desconforto dos membros do Conselho. Este era uma espécie de Parlamento que ditava as regras tendo o Rei apenas que assinar os decretos. Ambas as frentes recorriam a mesma tática. Se valer da fragilidade mental de Cristian. Contudo, é claro que as intenções de Johann eram mais nobres que os da própria nobreza, que seria a ponte por onde o caso de amor entre Caroline e Johann seria descoberto, caindo por terra tudo que eles haviam construído. As coisas fogem do controle consideravelmente quando Caroline se encontra grávida de Johann, que preso, é torturado e decapitado.

A fraternidade é o ponto de partida das mudanças que pretendia a união de duas almas aprisionadas pelas facetas do poder. E tudo vem pelas ações de Frederick (William Johnk), herdeiro de Cristian que assume o trono com 16 anos. Frederick se torna o Rei mais atuante do país, com reinado que se estende por mais de 5 décadas. A sensibilidade, o olhar mais terno de sua irmã Louise Augusta (Julia Wentzel), filha bastarda de Johann, também soma aos ideais propostos pelo seu pai. Os jovens, fortalecidos pelo carinho da mãe que mesmo ausente, nunca deixou de ter para com eles amor e afeição sintetizados nas palavras descritas nas entrelinhas em que a matriarca expõe todas as suas emoções "inadequadas" para uma mulher em sua posição. Lapidados por esta ousadia, anos mais tarde se tornam os baluartes da revolução dinamarquesa.   

O diretor Nicolaj Arcel capricha na produção nos mínimos detalhes para recriar no figurino e os cenários particulares na distinção perfeita entre as duas realidades do reino. Destaque para a cena em que Caroline está dentro de sua charrete luxuosa rumo ao Palácio e vê a miséria do povo oprimido pelo lado de fora. Cenários ludibriantes são um bela fotografia para uma trama interessante que já de cara te chama a atenção na narrativa de Caroline, fragilizada pela doença, escrevendo as cartas para os rebentos. Os personagens são apresentados na forma e tempo perfeitos. Até demais. A rispidez do Rei insano, somado ao estado de espírito de Caroline nos remete a inserção da figura do amante como vemos em tantas obras de mesmo teor. Contudo, O Amante da Rainha é bem mais que um romance palaciano. Sua sinopse nos aponta para um amor universal. Amor pela liberdade do homem, aqui representados na figura dos dois amantes. O romance em si é apenas a ponta do iceberg de reviravoltas políticas que deixam o filme com um atrativo mais relevante. Um pano de fundo mais conveniente para a trama do filme do que romântico para a História.

O roteiro à primeira vista pode não parecer novidade. Nos remete aos mesmos filmes de intrigas palacianas, cortes esnobes, povo oprimido, baile de máscaras. Inclusive, a cena em que Caroline encontra o Rei pela primeira vez após descer da charrete lembra muito Maria Antonieta de Sofia Coppola. Não é um demérito, pois é impossível expor o mundo da realeza sem entrar no lugar-comum, enfatizar alguns clichês. O que difere esta obra das demais de mesmo verbete é uma história de amor sendo a fonte de mudanças reais e positivas dentro do cenário caótico e corrupto da Monarquia. No mínimo surpreendente, mesmo que o roteiro leve àquela velha máxima:"Isto não vai terminar bem".

Mikkel Boe Følsgaard é o destaque do elenco por  ter um leque maior de nuances de seu Rei louco. Ora um tirano cruel e insensível, ora um homem de bom coração e carismático. O filme cumpre seu papel de dar o seu recado, transmitir sua mensagem em uma boa narrativa histórica, relevante em todos os tempos. Se há algo de podre no Reino da Dinamarca ainda bem que não corrompeu o talento de Arcel. 

sábado, 26 de janeiro de 2013

Indomável Sonhadora (2012)


Beasts of the Southern Wild, 2012. Dirigido por Benh Zeitlin. Com Quvenzhané Wallis, Dwight Henry, Lowell Landes, Pamela Harper e Gina Montana.

Nota: 9.3

Às vezes surge um filme que consegue tramitar fora de qualquer padrão predeterminado pela indústria cinematográfica americana, aquela baseada na lógica do absolutamente técnico, estético ou comercial, ou na escola européia, que se preocupa com seu requinte contextual e subjetivo. Não que isso não esteja presente em Indomável Sonhadora, mas é por que a forma como foi concebido, mostrando um lado que até os próprios americanos devem (ou preferem) desconhecer, e a preocupação com o vivo e o real é de uma proximidade agoniante. Além de tudo, uma certa menina de nome impronunciável dá um verdadeiro show.

A pequena Hushpuppy (Quvenzhané Wallis, excelente) vive em uma comunidade miserável às margens de um rio com o pai Wink (Dwight Henry). Mesmo com as dificuldades enfrentadas e as condições de vida precárias, sua vida é feliz em meio à sujeira e os animais. Quando seu pai fica muito doente e coincide com uma grande tempestade que alaga toda a área, a garotinha terá que enfrentar tudo o que lhe assombra, seja real ou sobrenatural, aceitar a situação e encontrar forças para seguir sua trajetória sozinha.

O diretor Benh Zeitlin, que assina o roteiro ao lado de Lucy Alibar, que escreveu o livro em que o filme foi baseado, não tem pudor em expor a seu próprio povo a pobreza, que sim, existe em solo americano. No meio de toda a vida difícil que levam, pai e filha aprenderam a sobreviver, e desta provação criam um laço amoroso, potente, indestrutível. A relação conduzida aos sopapos, gritos e ataques de fúria de ambos os lados cria um questionamento sobre o amor. Seria o amor de verdade aquele que é construído à base da raça? Mas o texto de Zeitlin e Alibar mantém o público com as respostas na ponta da língua, mas sem que faça alguém ter coragem de julgar os motivos de cada um deles.

O filme também traz um contraste com o tal “american way life”, pois enquanto o resto do país entra em colapso com questões capitalistas, esquecem a felicidade de viver uma vida real, tendo de acompanhar tragédias que se sucedem, enquanto a comunidade da “Banheira”, na mais crua pobreza, convive com a felicidade, o afeto, os sonhos. Cada um enfrenta as bestas que os atormenta, procura algo que amenize sua dor. Hushpuppy sofre por não ter mais sua mãe ao seu lado, e faz de tudo para que mantenha a situação sob controle, sem se mostrar fraca, apesar de seus seis anos. Wink trabalha em prol de todos, mesmo correndo o risco de perder a vida, pois acredita que sua felicidade depende da manutenção do ambiente em que vive.

Nesta esteira de emoções cruas, a fotografia competente que remonta o caos, e a penumbra que persegue  a luz na alma da pequena Hushpuppy, dá vida às bestas que a atormenta, o que na verdade representa a aceitação que no momento derradeiro terá de enfrentar, e os respingos de felicidade brotando aqui e ali nos raios de sol que aparecem entre uma tempestade e um confronto. Desta aproximação pulsante triunfa a dupla protagonista. Henry mostra uma virilidade contagiante. Sua perseverança, sua busca pela sobrevivência e a preocupação com sua filha não é transformada algo brutal e selvagem como aparenta ser sua condição, pelo contrário, é sublime. E não há como deixar de reverenciar a atuação de Quvenzhané Wallis, que apesar de sua pouca idade, empresta uma intensidade assombrosa à sua personagem. Domina cada centímetro de película, e pela primeira vez podemos ver uma protagonista mirim completa, seu aquela necessidade de um personagem adulto como sombra.

Uma obra de arte sentimental, sobrenatural, que sabe explorar um viés de uma nação acostumada a não a ver a situação como algo familiar. Uma singela homenagem à aqueles que sofreram com a passagem do furacão Katrina, que fez com aquela região da Lousiana chegasse ao estado que se vê no longa. Uma fábula de fraternidade, amor e aprendizagem que fabrica lágrimas, que mesmo diante do caótico cenário, são de felicidade e não de tristeza.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Capítulo final: um clarão nas trevas

"Pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas: jamais jogue alguém fora." Audrey Hepburn

Em 1980, Audrey entrou com o pedido de divórcio e o processo se formalizou em 1982. Neste período, gravou Muito riso e muito alegria, e no fim das filmagens conheceu Robert Wolders. Tornaram-se grandes amigos e viveram juntos até a morte de Audrey. Depois de uma carreira pautada em sua imagem de puro esplendor frente e fora às câmeras - como por exemplo de sobreviver à guerra - ganhou o seu mais importante papel: o de Embaixatriz da UNICEF, o que primeiramente a atriz definiu como débito para com a instituição, pois na época ganhara comida e suprimentos até o término da mesma. Ela passaria o ano seguinte entre uma e outra viagem pela instituição levando consigo a facilidade em dominar várias línguas (francês, italiano, inglês, neerlandês e espanhol).

Um ano depois faria seu derradeiro trabalho em Além da eternidade, de Steven Spielberg no papel de um Anjo, bem apropriado para ela. O Anjo passaria seus últimos anos em incansáveis missões pela UNICEF, visitando países, dando palestras e promovendo concertos com causas. Em 1993 foi diagnosticada com câncer de apêndice,que espalhou-se para o cólon. Faleceu às 7 horas da noite de 20 de janeiro de 1993, aos 63 anos muito bem vividos. O legado da princesa belga se espalhou pelo mundo afora, sendo dedicado a ela livros, histórias em quadrinhos, filmes biográficos como o da atriz Jennifer Love Hewitt, fã confessa da estrela. Apesar das críticas pesadas, o que ficou foi o propósito de homenagear a maior e mais linda estrela de todos os tempos. É claro que ao longo de mais de um século de história cinematográfica outras estrelas fenomenais de talentos notáveis, belezas idem despontaram no horizonte. Contudo, a grandeza de Audrey não é medida somente pelo talento e beleza. Senão, ela seria uma estrela comum. Audrey Hepburn é diferenciada por ter deixado elucidar suas características humanas de forma louvável. Características que impulsionaram sua vida paralela a uma belíssima carreira, deixaram um legado admirável e mistificaram uma estrela que ainda brilha tão intensamente como um clarão nas trevas do estrelismo fugaz de Hollywood.

Bonequinho de luxo (Breakfast at Tiffany's, 1961)
Direção: Blake Edwards. Com: Audrey Hepburn, George Peppard e Patricia Neal. 
Nota:10

Uma impostora autêntica chegou a tirar o sonho de Trumam Capote nesta lendária adaptação de seu romance para o cinema. É fato histórico que o famoso escritor não queria que sua protagonista fosse interpretada pela delicada Audrey Hepburn. Queria ele que o filme fosse dirigido por John Frankenheimer e estrelado por Marilyn Monroe. A loira fatal teria desistido por achar que fazer uma prostituta seria ruim para sua carreira. É claro que ela se faz valer da protagonista literária, que segundo consta, teria sua profissão associada de forma negativa às heroínas românticas. As páginas escritas por Capote descrevem uma moça impetuosa, batalhadora, e com características que chocariam a sociedade conservadora da época, como por exemplo, o fato de ser bissexual. Portanto, dada as anotações históricas, a protagonista do filme nada teria mesmo a ver com a imagem construída por Hepburn em Hollywood. Reza a lenda que o próprio teria ido ao estúdio observar ceticamente o trabalho da atriz. 

Histórias e lendas à parte, o que se sabe, hoje mais de 50 anos após sua estrondosa estreia nas telas, a obra se tornou um dos maiores sucessos de público e crítica por décadas afora e ainda ajudou a mistificar a imagem da atriz belga. Audrey Hepburn empregou além da beleza exuberante, charme, sofisticação e humor na medida necessária à inesquecível Holly  Golightly. Uma garota de programa ingênua que um dia foi Lula Mae, moça sonhadora que foge da jaula de um casamento precoce com um fazendeiro texano para se libertar na cidade grande. Em Nova Iorque ela traça uma espécie de vingança contra o amor, arriscando-se em relacionamentos superficiais com homens ricos, qual escolhe num menu de personalidades ricas nas páginas das revistas. Seu plano era bem arquitetado na teoria, mas na prática, a sorte não estava a seu lado, pois para cada partido escolhido, um imprevisto sempre minava seus objetivos. 

Sua personalidade radiante, autêntica e seu jeito tresloucado de levar a vida logo fascina de forma irremediável o escritor Paul Varjak (George Peppard). O rapaz é um típico bon vivant que mantém um envolvimento sexual rentável com uma dama rica da sociedade nova-iorquina (Patricia Neal). A relação de conveniência é abalada depois que Paul vira vizinho de Holly e com ela desenvolve uma fascinante parceria. Aos poucos, o rapaz galante vai descobrindo que aquela mulher atraente e enigmática é na verdade uma moça frágil, perdida e relutante em dar uma chance a felicidade. Sem hesitar, ele se oferece para ser o seu "salvador", mesmo com os apelos contrários de Holly, incansável em sua saga de ascender na vida financeiramente.   

Bonequinha de luxo é um romance histórico que teve o mérito de se desvencilhar de suas origens. Se a ideia de Capote fosse comprada, talvez não teríamos um impacto tão profundo desta obra do diretor Blake Edwards. Como enfatiza o jornalista Sam Wasson, autor de Quinta Avenida, 5 da Manhã: "Felizmente, nada disso aconteceu, Audrey Hepburn ficou com o papel e a música tornou-se um clássico". Não é correto afirmar qual das dois seguimentos seriam mais válidos neste campo, até porque não conheço a fundo a obra literária de Capote. Contudo, o que podemos afirmar com o poder a mim investido nesta área, é que filmes míticos sempre nascem sobre polêmica e seus episódios marcantes. O roteiro, a atuação do elenco, a trama em si, o gênero, e a canção "Moon River  já nascem consagrados e nada pode ser acrescentado de elogios ou críticas ao brilhantismo narrativo do romance que termina de forma maravilhosa com um dos finais mais lindos da história. 

Assim se fez (ou melhor se faz, porque um clássico nunca morre) este lendário romance entre uma garota de programa nada convencional e um gigolô travestido de príncipe encantado. Um filme que coleta perfeitamente a imagem e o talento da esguia Hepburn, indicada merecidamente ao Oscar como uma impostora autêntica que nos faz acreditar nas histórias que inventa. Você tem que ser sensível para gostar dela, ver seu lado poético. Uma obra memorável que fez de Audrey Hepburn um ícone, e  Holly Golightly um mito. 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Estive lá e venci


Kate Winslet (O leitor, 2009)

“Eu gosto de me expor. Não há muita coisa que me embarace. ” Esta coragem que impulsionou a talentosa inglesa depois de 5 tentativas, finalmente em 2009, a levar pra casa a tão perseguida estatueta. O talento é incontestável, dada a regularidade de suas interpretações em gêneros diversificados. Contudo, reconhecimento leva tempo e Kate foi paciente e segura para esperar seu momento de entrar na seleta lista das vencedoras. No papel de uma ex-oficial nazista e analfabeta durante a Segunda Guerra Mundial, ela brilhou intensamente em todas as sequências dramáticas e sensuais (sexuais) mostrando toda a densidade opulenta da personagem não dando chance para sua concorrentes entre elas a jovem Anne Hathaway e sua soberba atuação em O Casamento de Rachel e a senhora das indicações Meryl Streep a única certeza de Dúvida. 


Daniel Day-Lewis (Meu pé esquerdo , 1990)

"Atuar é a celebração de um fato: contemos dentro de nós infinitas possibilidades". Trazendo consigo sempre esta seriedade que outro talento made in Inglaterra já figurou no tapete vermelho sendo um ótimo representante daquela safra de atores que não deixam levar pela intensidade  ofuscante dos holofotes e está sempre focado em sua carreira. Assim ele consegue personagens memoráveis como um deficiente físico de rara inteligência que venceu apenas com seu pé esquerdo todos os obstáculos em prol do reconhecimento da família, amigos e da crítica. O magnífico trabalho lhe rendeu o Oscar de 1990, deixando pra trás fortes concorrentes como Robin Williams o inesquecível professor de Sociedade dos poetas mortos e Tom Cruise o destemido oficial de Nascido em 4 de julho. 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Espetacular Homem-Aranha (2012)

The Amazing Spiderman, 2012. Dirigido por Marc Webb. Com Andrew Garfield, Emma Stone, Sally Field, Martin Sheen, Rhys Ifans e Denis Leary.

Nota: 7.8

Quando uma saga ou história consagrada passa por uma reformulação, às vezes necessárias devido aos novos tempos que predominam, tem no mínimo duas opções para com a aceitação: Será amado ou odiado. No cinema, Sam Raimi dirigiu uma trilogia arrasa quarteirão, que levou centenas de milhões às salas de exibição e faturou dois Oscar com a segunda parte. Com o fracasso de HA3, Marc Webb aceitou o desafio de conduzir O Espetacular Homem-Aranha e conseguiu dar mais humanidade a Peter Parker e, no mínimo, garantir a continuidade desta nova franquia.

A história é bem diferente daquela vista nos três filmes anteriores. Peter Parker (Andrew Garfield) perdeu seus pais quando era criança, porém entes de partirem deixaram o menino aos cuidados de Ben (Martin Sheen) e May (Sally Field). Peter cresceu e se tornou um jovem inteligente e tímido. Quando descobre documentos de seu pai que o levam ao Dr. Curtis Connor (Rhys Ifans) e aos laboratórios da Oscorp, ele é mordido por uma aranha geneticamente modificada e ganha poderes espetaculares. Entretanto, uma tragédia passa novamente pelo seu caminho e o conduzem para se tornar um herói, perseguido pelo Capitão Stacy (Denis Leary), mas amado por sua filha Gwen (Emma Stone).

Obviamente quem não conhece os novos quadrinhos do super-herói vão levar um choque com as ausências de Mary Jane e Harry Osborne, sempre presentes nos outros filmes, mas o mérito do roteiro de James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves é manter a base forte na transformação de Parker no herói mascarado, o que no filme de Raimi acontecia de forma superficial e apressada. A interação com sua paixão, Gwen, também é cadenciada e não faz rodeios quando chega a hora de revelar a ela seu segredo. A importância de seus tios não é reduzida a apenas uma frase, que nesta nem se faz menção, e os problemas juvenis predominam no jovem herói.

A direção de Webb às vezes parece insegura ou resguardada demais e as cenas de ação modestas. Porém, como se trata de uma introdução a um novo universo, e pelo excelente efeito visual que concebeu o vilão Lagarto isso pode ser perdoado. A concepção proposta é mais pop e os tons mais claros que norteiam o aprendizado de Peter vão se dissipando quanto mais sua responsabilidade toma forma. Menos carregado de humor que toda a trilogia de Sam Raimi, O Espetacular Homem-Aranha e mais melancólico e enfático na dualidade de Parker e do Dr. Connor (que devido às tentativas de inventar algo que reverta deficiência, acaba por se transformar em um descontrolado lagarto gigante).

Com mais acertos do que erros, com destaque para os promissores Garfield e Stone que já fizeram bons trabalhos em dramas, Webb conseguiu agradar o novo público que se criou em torno deste reboot, e ainda deixou satisfeitos os mais ortodoxos. Se não foi melhor que os filmes anteriores, isso é de pessoa para pessoa, mas uma coisa é certa, este conseguiu no mínimo o aval para mostrar que tem muito mais a oferecer, e se seguir o caminho do Batman de Nolan, será muito bem vindo.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O lado bom da vida (2012)

Silver linnings playbook , 2012.
Direção: David O. Russel. Com: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver e Julia Stiles. 
Nota: 8.5

O lado bom de se assistir uma comédia romântica é poder contar com seus personagens empáticos, curiosos ou apenas engraçados o suficiente para que a conexão emocional com o grande público seja estabelecida. Para quem é fã do gênero, alguns clichês são sempre bem-vindos como a distinção de personalidades que separam o casal protagonista no início como um despiste para se criar uma história de amor e descobertas no final. No entanto o que também é bem vindo para os fãs ou não do mesmo, é a capacidade que o gênero pode ter de nos surpreender. Esta com certeza é a forma mais cabível para descrever o impacto desta carismática história.

A família disfuncional novamente está no foco da câmera precisa de David O. Russel, responsável pelo sucesso do drama O vencedor em 2010. O filme serviu como um debut para o diretor se aprimorar e voltar a utilizar um comboio de emoções. O protagonista em questão não é um boxeador, mas como tal, fez de seus punhos seu cartão de visitas no rosto do amante de sua esposa ao flagrá-los em pleno ato de traição no chuveiro. Pat Solatano (Bradley Cooper) perdeu tudo neste breve, mas traumatizante, acesso de raiva. Diagnosticado com transtorno bipolar, imediatamente foi internado numa clínica psiquiátrica de onde sai sob a responsabilidade da boa mãe (Jacki Weaver). Com esta atitude a matriarca bate de frente com o poderoso chefão da família, Pat Sr. (o excelente Robert de Niro). Como senão bastasse carregar todos seus tramas , incluindo uma música que fica o tempo todo como trilha sonora de sua desgraça, Pat tem que conviver com a distância do pai, enredado em suas apostas e seu próprio transtorno obsessivo compulsivo. Na bagunça do seio familiar em que se instalou o protagonista, aparece a jovem Tiffany (Jennifer Lawrence, fabulosa), uma deprimida inveterada que como ele, sofre de sérios problemas emocionais depois da morte do marido. 

Quando se encontram pela primeira vez durante um jantar na casa de amigos em comum (John Ortiz e Julia Stiles), Pat e Tiffany começam uma relação de dependência. Ele, na obsessão compulsiva de reconquistar a mulher e ela, que promete ajudá-lo desde que ele seja seu parceiro num concurso de dança. A experiência vai além da troca de favores, configurando em diálogos tão bipolares quanto a personalidade de Pat, assumindo caráter de uma dança de sentimentos complexos na pista de explosões a cada um passo. A convivência cria um elo entre eles e aos poucos, Tiffany começa a acreditar de novo em sua autoestima, mas seu maior desafio está em restaurar a mente fragmentada de seu parceiro obcecado pela onipresença de um matrimônio bem como sua relação inexistente com a esposa adúltera. 

Entrar no terreno de catarses sentimentais dentro de uma comédia romântica é um feito raro e O. Russel com sua capacidade de disfuncionar seus personagens se sai muito bem. O mesmo ponto que havia trabalhado no filme que deu o Oscar a Cristian Bale. Este é o maior êxito do diretor neste trabalho. Trabalhar com outro gênero sob a mesma ótica. O tema da redenção, da descoberta no final, da vitória pela família se faz as semelhanças entre as duas obras. Mas o que faz de O lado bom da vida mais retumbante  é justamente a forma que a história transita da tensão dramática para momentos de romance e alívio cômico sem perder o foco em seu enredo principal. 

Outro ponto fundamental do trabalho do diretor são as atuações do elenco. Tudo é concentrado nos personagens/atores, deixando pouco espaço para a construção minuciosa da trama. Fato que faz emergir atuações brilhantes como de De Niro, que tem de volta um papel digno à sua história. E o que dizer de Lawrence? A jovem atriz que surpreendeu em O Inverno da alma e que a partir dali construiu uma carreira admirável no cinema, mostra que veio para ficar, numa atuação pra lá de segura em suas nuances (drama e comédia) e que ainda pesca com precisão a sensualidade necessária para a personagem. Um dos nomes fortes do Oscar com certeza. Bradley Cooper tem a melhor atuação da carreira comprovando o valor que tem o esforço em se extrair coisas boas de atores medianos. Sua parceira com Lawrence não mina o talento comprovado da atriz, e muito menos compromete o bom andamento da trama central, a ele imputado. 

Tamanho poder investido nos personagens tem também sua bipolaridade. A força dos mesmos destomba para um roteiro indo de encontro a previsibilidade do final, mas até lá o espectador já se apaixonou por seus "maluquinhos", torcendo, como deve ser, para que fiquem juntos. Mesmo não se valendo muito de romance, e sim de redenção pessoal. O. Russel acerta em mesclar características merecendo sua indicação ao Oscar nos trazendo um filme para se apreciar na certeza de que quando você sai da sala de projeção, pode sim reconhecer o lado surpreendentemente bom da comédia romântica. O lado extasiante.  

domingo, 20 de janeiro de 2013

Vencedores do Primeiro Prêmio Cineposforrest de Cinema Nacional

Não tivemos muitas participações, mas desde já agradeço a quem participou e votou. É uma pena que as pessoas não animem a votar, pois seria muito bom ter esta interação. Porém entendo que não é todo mundo que tem acesso aos filmes e também é muita gente que tem preconceito em relação ao cinema nacional. Sim, a maioria de nossas produções são frágeis, televisivas e humorísticas, mas ainda temos alguns bons filmes que fazem jus ao cinema que já influenciou uma geração de diretores que hoje são referência, com Martin Scorcesse que aprendeu muito com o Cinema Novo de Glauber Rocha e Cia. Bom, mas enquanto tivermos nem que seja 3, 4, 5 votos, não desistiremos de tentar provocar esta interação. Espero ver os votos de quem participou novamente na próxima edição, e outras pessoas que possam participar também. Novamente agradeço a quem participou e parabenizo os vencedores.

MELHOR FILME

MELHOR DIRETOR
Kleber Mwndonça Filho - O SOM AO REDOR

MELHOR ATOR
Rodrigo Santoro - HELENO
MELHOR ATRIZ
Camila Pitanga - EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DE SEUS LINDOS  LÁBIOS

MELHOR ATOR COADJUVANTE
João Miguel - ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Mariana Lima - SUDOESTE

MELHOR ROTEIRO
Kleber Mendonça Filho - O SOM AO REDOR

MELHOR MONTAGEM
O SOM AO REDOR

MELHOR FOTOGRAFIA
Walter Carvalho - HELENO

MELHOR CONCEPÇÃO SONORA
O SOM AO REDOR

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
GONZAGA: DE PAI PARA FILHO

MELHOR MAQUIAGEM
HELENO

MELHOR DOCUMENTÁRIO
TROPICÁLIA

MELHOR TRILHA SONORA NÃO-ORIGINAL

GONZAGA DE PAI PARA FILHO








sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Capítulo 3: Um caminho a dois

"Para ter lábios atraentes, diga palavras doces.Para ter olhos belos, procure ver o lado bom das pessoas. Para ter o corpo esguio, divida sua comida com os famintos. Para ter cabelos bonitos, deixe uma criança passar seus dedos por eles pelo menos uma vez ao dia. Para ter boa postura caminhe com a certeza de que nunca andará sozinha." Audrey Hepburn

Abortos, depressão, dúvidas, divórcios. Um tempo difícil para a estrela de olhos cintilantes e aparência afável. Para tentar se recuperar, o esteio da vida conjugal a coloca de volta  sob os holofotes.

O casamento com Mel Ferrer sofreria um abalo considerável na época em que a estrela não conseguia engravidar. Uma sequência de abortos a deixava deprimida e para consolar a esposa, Mel investiu pesado em sua carreira. Juntos trabalharam em Guerra e Paz, sucedida por comédias românticas como Cinderela em Paris e o drama Uma cruz a beira do abismo. Trabalho que lhe renderia a terceira, e assim, mais palpável indicação a estatueta dourada. Neste tempo conseguiu realizar o sonho de ser mãe quando em 1960 nasceu Sean. Um ano e meio de licença-maternidade volta para estrelar Bonequinha de Luxo, em um papel que a transformaria em um ícone e pelo qual seria lembrada como um expoente de beleza e elegância e ainda de quebra receber sua quarta indicação ao Oscar. Pouco tempo depois filmou Infâmia, Charada e Quando Paris alucina. Em 1963, recebeu o papel principal do popular musical My fair Lady. Entretanto, o fato de ter sido dublada nas canções deixou a atriz extremamente aborrecida e fez com que abandonasse as gravações por um dia. Como consequência, não foi indicada ao Oscar - até hoje  considerado uma injustiça - ignorando todo seu esforço. Em seguida viria Como roubar um milhão de dólares e Um clarão nas trevas, este último dirigido por Mel numa clara tentativa de salvar seu casamento terminado em dezembro de 1968, junto com sua carreira. Audrey decidira dar um tempo como atriz, mas se casaria novamente apenas seis semanas após o divórcio, com o psiquiatra italiano Andrea Dotti. Desta união nasce seu segundo filho, Luca Dotti, em 1970. O casal morou por um ano em Roma, para em seguida a atriz ir viver na Suíça com os dois filhos. O tempo de desquite com a arte se encerraria em 1976 quando voltou a cena com Robin e Marian.


Infâmia (The children's hour, 1961)
Direção: William Wyler. Com: Audrey Hepburn, Shirley MacLaine e Karin Blaikin.
Nota: 9


O mau velho e o mau jovem se colidem nesta essencial obra do mestre William Wyler. O preconceito, o velho mau da sociedade através dos tempos é o carro-chefe inremediavelmente atado a uma mente cruel do jovem mau na figura de uma criança , que por maldade, arrasa com a reputação e as vidas de duas distintas professoras.

Karen Wright (Audrey Hepburn) e Martha Dobie (Shirley MacLaine) conduziam em perfeita harmonia uma escola particular para moças da alta sociedade na Nova Inglaterra. O lugar era onde todas as meninas se sentiam acolhidas, em casa, exceto a mimada Mary Tilford (Karin Blaikin), a laranjinha podre no cesto da nobre instituição. Mal criada e de personalidade forte para sua idade, fazia de suas mentiras um passaporte para ser o centro das atenções de todos a sua volta.  Num destes golpes, ele desfere afirmações infames na reputação das duas mestras. Tudo porque Karen desmente uma história da pequena travessa que ao chegar atrasada para uma aula, tenta engambelar uma das  professoras pegando um buquê surrado do lixo do jardim. Furiosa por ter sido desmascarada com um sermão acoplado, a menina vê sua vingança ganhar forma numa noite de insônia. Ao testemunhar  de longe uma  cena ambígua entre as professoras que se beijam no rosto a altas horas da madrugada, ela destila todo seu "veneninho" dando início a um escândalo de grandes proporções.

Tudo começa pela avó de Mary, uma grande dama da cidade, que conduz acima de qualquer suspeita o rastro da mentira da neta pelos lares de todos depois que a história é confirmada por outra aluna chantageada impiedosamente por Mary. Em pouco tempo a escola fica às moscas e a confusão cresce envolvendo a mídia e os tribunais, resultando na falência moral e consequentemente financeira das dedicadas professoras, que ainda veem sua vida amorosa (Karen rompe seu noivado com um médico popular) entrar pelo ralo junto com seu prestígio profissional. Segue-se daí a luta de Karen e Marie para se fazer justiça, mas até que se prove o contrário, o estrago já está feito.

Infâmia como o próprio nome já anuncia, é todo moldado a partir de algo nocivo que rege uma sociedade preconceituosa por uma mente vingativa. Baseado na peça homônima de sucesso de Lillian Hellman, e com direção de um gênio do cinema, é menos conhecido do que deveria, pois ultrapassa o enredo homossexual, nos surpreendendo positivamente dentro do exigente cenário cinematográfico. O chamariz implícito pela sinopse cai por terra perante as cenas ingênuas do início. As sequencias vão de forma linear através de uma narração oculta da história pautada no desespero de duas mulheres honestas, dignas e injustiçadas por uma história pra lá de mal contada de uma criança. O espectador interage inadvertidamente com o sofrimento passado de forma brilhante por todos os elementos que cercam a angústia presente e a melancolia final do espetáculo. Além das características relevantes como tema reflexivo, é um apuro retratado com maestria em um roteiro inerente, uma fotografia conveniente que busca na tela toda o caos que se instalou na vida das protagonistas.

As atuações do elenco são um capítulo primordial dentro da história. Em meio a duas estrelas de primeira grandeza, quem brilha é a "pequena grandeza" que o título em inglês da obra toma parte. A hora é realmente da criança e Karin Blaikin não deixa por menos, nos presenteando com vários minutos de uma maturidade impressionante em cena. Seus atos de vilania deixariam qualquer vilã de novela das oito morta de raiva. A pequena é  daquele tipo intragável que todos ficam torcendo para que apareça alguém para torcer seu pescoço. Mérito para a menina que encaminha os holofotes para si com um show devastador na tela. O mesmo trabalho que teve Saiorse Ronan em Desejo e reparação, mas que aqui vence por se tratar de uma mente mais crua e perversa. MacLaine está segura no papel da retraída Marie e sua química com Hepburn é condizente com a química essencial entre as personagens. Nossa querida dama também não deixa por menos, se desvencilhando das características de interpretação em que criou personagens míticos e entrando num terreno mais denso neste sentido. Linda e luminosa como sempre, completa o ponto alto do filme.

O que tira a nota 10 deste clássico é o rumo que toma na história a personagem de McLaine. O fato dela ser realmente apaixonada por Hepburn (visto algo impossível de não acontecer), deixa à deriva tudo que foi construído por uma exímia perfeição ao longo dos 107 minutos de filme. Nem mesmo a cena inesquecível da professora se declarando para a amiga,serve para driblar a surpresa negativa que a situação gerou em quem pensava estar assistindo a um outro contexto. Me lembro agora de uma cena do filme Desejo proibido (2000) em que alguns personagens (os preconceituosos) estão no cinema assistindo a Infâmia e começam a se retirar da sala na exibição desta cena. Isto prova que pra quem esperou até aquele momento, pensou realmente estar acompanhando uma outra coisa, comprovando que o tema (a infâmia) se esvai, mutilando fracionalmente a luta das professoras. O contexto explícito da obra não se apresenta como mais uma de temática homossexual envolta a uma moral e que  por isso tem a responsabilidade de levantar uma bandeira contra o preconceito. Neste caso, teria sido bem mais viável continuar fortalecendo o próprio como sinônimo de pré-julgamento em contornos mais universais, para com isso derrubar a raiz da palavra. Um erro analisado de forma subjetiva que tira o mérito como um todo do filme, mas que nem por isso descarta totalmente seu miolo de conteúdo espetacular.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A Viagem (2012)


Cloud Atlas, 2012. Dirigido por Andy Wachowiski, Lana Wachowiski e Tom Tykwer. Com Tom Hanks, Halle Barry, Jim Broadbent, Susan Sarandon, Ben Whishaw, James D'Arcy, Hugh Grant, Hugo Weaving e Donna Bae.

Nota: 7.9

Depois de atingirem o ponto alto de suas carreiras com o revolucionário, intrigante e complexo Matrix (99), os Irmãos Wachowiski ganharam um status gigantesco, o que, obviamente, também tem seu lado ruim. A cada trabalho posterior, inclusive as duas sequências que fecharam a trilogia virtual de Neo e Cia., as cobranças para que o êxito cinematográfico ao menos chegasse próximo ao seu maior triunfo também se tornaram enormes.  Por isso talvez V de Vingança seja tão subestimado. Porém, com A Viagem, uma obra ousada que se passa em vários períodos distintos da história, contam com a ajuda do alemão Tom Tykwer para provar que a existência de qualquer ser humano é cíclica, e sempre será.

A trama envolve seis histórias diferentes. No século XIX, Adam (Jim Sturgees) é um advogado em que a família enviou para negociar escravos. Mas no caminho salva a vida de um dele, Autua (David Gyasi) e recebe ajuda providencial quando necessita. Na década de 30, Robert Frobisher (Ben Whishaw) é um jovem e talentoso compositor que vira protegido de Vyvyan Ars (Jim Broadbent), mas aos poucos a relação começa a ficar conturbada. Nos anos 70, Luisa Rey (Halle Barry), é uma jornalista que por coincidência encontra com Rufus Sixmith (James D’Arcy) e descobre coisas escabrosas sobre uma usina nuclear, que acaba colocando sua vida em risco. Nos dias de hoje, Timoth Cavendish (Jim Broadbent) é um editor em baixa que vê sua sorte mudar quando um de seus escritores (Tom Hanks) mata um crítico, tornando o livro dele um fenômeno e Cavendish rico. Mais de 100 anos à frente, num mundo já obscuro e moribundo, Sonmi-451 (Donna Bae) é um clone programado para trabalhar em uma rede de fast-food, porém, ela consegue conhecer o mundo e mudá-lo para sempre. E em um futuro bem distante, Zachary (Tom Hanks) e demais moradores de um vale de um mundo pós-apocalíptico adoram a deusa Sonmi, e tudo é colocado em xeque com a chegada de Meronyn (Halle Berry). 

O roteiro foi escrito a seis mãos pelos Wachowiski e Tykwer, baseado na obra de David Mitchell, e apresenta uma miscelânia de mundos e situações distintas, tudo para chegarem a um mesmo denominador comum: a vida é cíclica. A delineação de caráter dos personagens são demarcados para que sua mudança de atitude no próximo cenário alimentem o sentido que pretendem atingir ao fim da película. Entretanto há uma falta de nivelação entre uma história e outra. A passagem dos dias atuais não é bem acabada, deixando uma lacuna na ordem narrativa do filme. Quando o longa termina, não fica claro como este episódio se conecta com o resto do universo apresentado.

O trabalho dos diretores é surpreendente se pensarmos que se trata de três cabeças diferentes. Andy e Lana (que era Larry, mas não vem ao caso) dão espaço a Tykwer fazer seu trabalho e não se decepcionam, pois o alemão mostra a mesma firmeza na direção de cenas de ação que o fez notável em seus longas. Eles também parecem ter liberado a seus atores reconstituir seus personagens de uma forma que se sintam à vontade, pois só assim poderiam se desvencilhar de um e mergulhar em um universo totalmente diferente, podendo ser o mocinho ou o vilão. E entre um mundo e outro, a violência, a morte, a bondade e o amor andam em paralelo, presentes em todos os episódios, mas de uma forma subjetiva, que força o espectador a compreender que sempre estaremos rodeados por elementos incontroláveis.

Há de se invejar o belíssimo trabalho de produção do filme. A mistura de ambientes é cada vez mais rítmica de acordo com que os minutos vão avançando, ainda sim percebemos a singularidade de todos. A maquiagem é incrível, tanto que a maioria dos atores interpretam mais de um personagem, e em alguns cenários até mudam de sexo, como Halle Barry e Hugo Weaving. Por este motivo é incompreensível a ausência do filme em algumas categorias técnicas do Oscar deste ano.

Em meio a tantos atores os destaques vão para o ator predileto dos Wachowiski, Hugo Weaving, pois seus personagens apesar de hiperbólicos, são sempre os mais interessantes, como a enfermeira brutamontes dos dias atuais, o assassino da década de 70 e o demônio do mundo apocalíptico. E Jim Broadbent, que mostra desenvoltura principalmente quando está de cara limpa enfrentado as mazelas de um asilo em que foi internado contra a vontade. Tom Hanks é sempre excelente, talvez um pouco perdido em meio a tanta maquiagem, mas sempre consegue fazer coisas não esperadas em cena.

A Viagem pode ter seu sucesso reduzido pelo seu tamanho exagerado de 172 minutos, pois a maioria das pessoas não tem paciência para fazer as conexões por si só, ainda mais em tanto tempo. Um defeito crucial de um filme acima da média e que não deve nada a outras obras de cunho existencial lançadas ultimamente. Contudo, o resultado desta tentativa dos diretores de propor uma lógica cíclica para nossa passagem pelo planeta Terra vai sempre depender do ponto de vista de cada um. Ou entrarão em uma onda espiritual e levará a sério, ou simplesmente se deleitarão com os efeitos visuais e acharão que é apenas uma “viagem”, no sentido pejorativo

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Deus da carnificina (2010)

Deus da carnificina (Carnage , 2010) 
Direção: Roman Polanski. Com: Kate Winslet, Christoph Waltz, Jodie Foster e John C. Reilly.
Nota: 9

Um filme onde o fim casa-se com o início Deus da carnificina de Roman Polanski começa com uma briga entre duas crianças no parque do Broklyn, passando pelo apartamento dos pais da "vítima" e finalmente a reconciliação dos dois garotos em meio aos créditos finais. Esta trajetória serve para demonstrar os percalços do caos em suas variáveis creditados em membros acima de qualquer suspeita da sociedade moderna tendem a passar quando suas máscaras sufocantes se tornam pesadas demais para se sustentar por toda uma vida.  

O tema por si só é de suma relevância, quando consegue apontar a predominância do caos dentro da civilização. Penélope (Jodie Foster) e Michael Longstreet (John C. Reilly) recebem em seu apartamento para uma visita aparentemente cordial os pais do "agressor" de seu filho que quebrara dois dentes durante a briga. De bom grado, o casal de classe social mais elevada, Nancy (Kate Winslet) e Alan Cowan (Christoph Waltz) aceitam os termos de Penélope e Michael, entre outras coisas, um orçamento pelo tratamento de restauração odontológica da pequena vítima. E já neste ponto começa a se esboçar uma discordância por conta do uso inadequado da expressão "armado com um cacetete". Nancy e Alan pedem, gentilmente, para que a tal expressão fosse substituída por "portando um galho", o que Penélope faz sem trauma algum. Daí seguem-se falsos risos, pedidos de desculpas e um pouco de amenidades da vida familiar de ambos os casais como um abandono de um hamster e receitas de tortas de peras ou maçãs. 

À medida que aumenta a boa hospitalidade de Penélope e Michael, o que faz Nancy e Alan sempre recuarem na tentativa de irem embora, expande-se assuntos, que quando menos se espera vira uma bola de neve de tiradas sarcásticas e indiretas particulares sobre os defeitos de cada um dentro do circuito familiar. Depois, as tiradas transformam-se em ofensas matrimoniais, seguindo-se para uma guerra verbal entre os casais julgando cada comportamento em relação a vida profissional, sexual e ao modo como educam seus rebentos. A honestidade de ambos acabam baixando e tudo isso eclode com uma garrafa de uísque em rodízio nas mãos de maridos e esposas. Os sentimentos reprimidos são literalmente vomitados em cada sequência, deixando em segundo plano as razões da briga entre os garotos que a estas alturas são apenas pretextos para fazer do apartamento um divã singular a expor as nuances de personalidade de cada um. O caos, verdadeiro protagonista, se mostra presente em cada palavra desferida pelos personagens, seja em qualquer situação. 

Quatro distintos personagens transitando no momento de brilhar num texto de puro apreço baseado na obra francesa de Yasmina Reza. Quatro atores de raro talento e consagração agindo com a fidelidade de que propõe o filme. Foster, Reilly, Winslet e Waltz estão formidáveis cada qual a seu espaço, deixando latente e sem sombra de dúvidas o que atormentam a vida de seus personagens. Este é certamente o maior êxito de se apreciar em um pouco mais de uma hora, uma obra de ambiente claustrofóbico. Tendo este requisito particular, era capital que o elenco escolhido correspondesse às expectativas com a mais perfeita naturalidade. E é assim que a obra é conduzida. Nada é forçado e enfadonho  nem mesmo o ataque de palavras de baixo calão da personagem de Winslet já totalmente embriagada.

Apontado por uma parte da crítica como um "teatro refilmado", talvez seja esta a denominação correta de acordo coma estrutura pautada por Polanski. Mas o que não podemos negar é que mesmo sendo de origem teatral, a obra em si nos aponta com uma qualidade peculiar todos os elementos de uma excelente obra cinematográfica que nem mesmo às tais do ramo específico consegue passar com um início, clímax e um final. Personalidade, interpretações, captura de expressões, roteiro. Portanto, usar a expressão "teatro refilmado" no sentido pejorativo não surte efeito diante de diálogos satíricos e inesquecíveis, atuações memoráveis e um painel oportuno sobre a deterioração de uma sociedade de deuses putrefatos em suas próprias carnificinas.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O Impossível (2012)


The imposible, 2012. Dirigido por Juan Antonio Bayona. Com Naomi Watts, Ewan McGregor, Tom Holland, Samuel Joslin, Oaklee Pendergarst e Geraldine Chaplin.

Nota: 8.4

No dia 26 de dezembro de 2004 um tsunami varreu vários litorais asiáticos, acabando com a vida de milhares de pessoas. Em meio a tantas baixas, o que parecia improvável aconteceu. Cincos pessoas da mesma família são engolidos pelo avanço feroz das águas, e ainda assim conseguem sair vivas e se encontrar. Não é spoiler gratuito, isso é um fato que se descobre só de olhar o cartaz. Porém, o que atrai na obra de Juan Antonio Bayona é como uma sucessão de situações do destino realiza esta proeza, porém, antes de tudo, a chama ardente da perseverança que não deixou nenhum deles desistir.

Maria (Naomi Watts) e Henry (Ewan McGregor) vão com os filhos Lucas (Tom Holland), Thomas (Samuel Joslin) e Simon (Oaklee Pendergarst), passar as festas de ano-novo nas praias paradisíacas da Tailândia. Tudo transcorria bem quando um gigantesco tsunami invadiu todo o litoral e devastou quilômetros terra à dentro. Incrivelmente todos sobrevivem, entretanto, enquanto Maria em uma luta desesperadora contra as águas recupera seu filho mais velho, Lucas, Henry consegue se junta aos dois menores. Porém, os dois grupos não sabem o paradeiro do outro, nem se estão vivos. Muito feridos, tanto no corpo quanto na alma, precisarão de muita força de vontade para se reencontrarem em meio a destruição e uma multidão de mortos e feridos.

Sim, à primeira vista ou a uma percepção bem menos atenta, O Impossível é só mais um filminho, baseado em uma história real, piegas e com um final feliz. Só que está história não é tão simples assim para se resumir a um enfadonho conto de superação. O roteiro não se apega ao sentimentalismo, pelo contrário, mostra os acontecimentos fatídicos com o máximo de realidade possível, e de forma isenta, até fria e cruel. A crueza com que narra a busca pela sobrevivência, principalmente pelos personagens de Watts e Holland chega a apavorar. A truculência do avanço marítimo, as feridas expostas, e o relacionamento de mãe e filho, tudo arquitetado em um cenário em que as lágrimas vem pelo conjunto, não por uma “forçada de barra” facilmente presente em filmes catástrofe.

E por falar nisso, Bayona não tem o menor interesse em explorar o lado assustador do desastre, como seria ao gosto de Rolland Emmerich. Seu olhar se preocupa no comportamento e nos acontecimentos relacionados aos humanos que enfrentam a intempérie. Faz um impacto assustador com imagens frenéticas que jogam casas, árvores e os personagens para todos os lados. Mas é só. O tsunami é só o condensador de uma história inacreditável, e o diretor evoca um estilo mais intimista para manipular as artimanhas do destino, provocando uma tensão incontrolável, mesmo sabendo-se de que tudo daria certo.

Este excesso intimista do diretor pode cansar quando vai ao encontro da pueril trama que traz a maturidade do primogênito Lucas, já que o espectador com a tensão lá em cima costuma se aborrecer se esta sofrer uma mínima pausa que seja. Por outro lado, a opção do diretor arrancou atuações acima da média. Ewan McGregor não parece tão ausente como em outros longas, e sem exageros passa a agonia de um pai que procura por seus filhos e família. Naomi Watts faz o que lhe parece inerente, sofrer. Dilacerada, não fica presa em sutilezas e se entrega à sua personagem, que em meio a gritos e choro não perde o controle dramático, o que faz jus a indicação ao Oscar que recebeu. Mas o destaque é o novato Tom Holland, que mostra uma enorme capacidade em não deixar Watts o engolir, e mostra um equilíbrio entre um adolescente irritante e um pequeno herói.

Talvez este filme não seja um filme perfeito e nem mesmo seja digno de aparecer em listas de premiações, a não por atuações, como aconteceu. Mas é um longa de raro equilíbrio entre o documental e o catastrófico que não pende ao exagero, além de não necessitar das cenas do desastre para fazer bilhet

domingo, 13 de janeiro de 2013

Vencedores do Globo de Ouro - Cinema


MELHOR FILME/DRAMA
Argo

MELHOR FILME COMÉDIA/MUSICAL
Os Miseráveis

MELHOR DIRETOR
Ben Affleck - Argo

MELHOR ATOR/DRAMA
Daniel Day-Lewis (Lincoln)

MELHOR ATRIZ/DRAMA
Jessica Chastain - A Hora Mais Escura

MELHOR ATOR COMÉDIA/MUSICAL
Hugh Jackman - Os Miseráveis

MELHOR ATRIZ COMÉDIA/MUSICAL
Jennifer Lawrence - O Lado Bom da Vida

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Christoph Waltz - Django Livre
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Anne Hathaway - Os Miseráveis
MELHOR ROTEIRO
Quentin Tarantino

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Amor

MELHOR FILME ANIMAÇÃO
Valente

MELHOR TRILHA SONORA
As Aventuras de Pi - Mychael Danna

MELHOR CANÇÃO
"Skyfaal" - Adele