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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Oscar 2015: considerações e apostas

Amanhã acontecerá a maior festa do cinema. A premiação do badaladíssimo Oscar em sua versão de número 87. Entre filmes, atores, diretores e roteiros, tudo está moldado para mais uma vez fazer história em meio a alegrias, frustrações ou indignações após o resultado final. Enfim, tudo que sempre cercou esta maravilhosa festa. Eis os concorrentes desse ano e minhas apostas para cada categoria: 

MELHOR FILME

Aposta do Blog: Birdman 


Devo confessar que o "inchaço" promovido pela Academia nesta categoria, acaba minando um pouco os suspense, tirando facilmente alguns outros concorrentes. Os mais fortes neste caso são Boyhood, de Richard Linklater, que se tornou o queridinho da crítica especializada que viu com bons olhos todo o aparato feito pelo diretor ao longo de 12 anos de filmagens. Com doses de ousadia na questão de produção, o longa conquistou o seu espaço, e mesmo se não vencer, já entrou para a história diante de uma produção diferenciada. Só que Birdman, de Alejandro Iñárritu, vem abocanhando os principais prêmios pré-Oscar e por isso tornou-se o favorito no momento. 

Outros concorrentes: 
O grande hotel Budapeste
O jogo da imitação
Selma
Sniper americano
Whiplash
A teoria de tudo


MELHOR DIRETOR 

Aposta do Blog: Richard Linklater (Boyhood)


Depois de um trabalho ousado e minucioso, o diretor merece os créditos que tem e o status que conquistou. O prêmio poderia consagrar um bom trabalho. 

Outros concorrentes: 
Alejandro Gonzáles Iñárritu ("Birdman")
Wes Anderson ("O grande hotel Budapeste")
Bennett Miller ("Foxcatcher: Uma história que chocou o mundo")
Morten Tyldum ("O jogo da imitação")


MELHOR ATOR

Aposta do Blog: Eddie Redmayne (A teoria de tudo)


Nesta categoria eu irei na “opção segura”, afinal, o ator inglês faturou os 2 prêmios considerados principais do circuito (Globo de Ouro e SAG). Isso o qualifica a ficar com as duas mãos na Estatueta, mas não me surpreenderia se a Academia resolvesse premiar Michael Keaton, até mesmo pelo conjunto da obra e claro, pra quem viu Birdman, também de forma merecida. 

Outros concorrentes: 
Benedict Cumberbatch ("O jogo da imitação")
Bradley Cooper ("Sniper americano")
Steve Carell ("Foxcatcher")


MELHOR ATOR COADJUVANTE 

Aposta do Blog: J.K Simmons (Whiplash)


Esta é a uma das categorias que dificilmente haverá surpresas. O veterano ator fez um trabalho tão irretocável para o público e crítica, que é provável que não dê chances aos concorrentes, como Edward Norton, que brilhou em Birdman.

Outros concorrentes: 
Robert Duvall ("O juiz")
Ethan Hawke ("Boyhood")
Mark Ruffalo ("Foxcatcher")


MELHOR ATRIZ 

Aposta do Blog: Julianne Moore (Pra sempre Alice)


Esse é o ano da ruiva mais querida de Hollywood! Com uma personagem que enfim caiu como uma luva para faturar a tão esperada Estatueta, que já devia ter sido entregue a ela em outras ocasiões. Rosamund Pike fez um trabalho primoroso em Garota exemplar, e pra mim foi a melhor intérprete do ano, mas ainda assim, o nome e as premiações de Moore a credenciam como a favorita a levar pra casa o reconhecimento de anos bem dedicados ao cinema.

Outras concorrentes: 
Reese Witherspoon ("Livre")
Marion Cotillard ("Dois dias, uma noite")
Felicity Jones ("A teoria de tudo")


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE 

Aposta do Blog: Patrícia Arquette (Boyhood)


Esta é outra categoria que podemos chamar de "carta marcada". A atriz venceu praticamente todos os prêmios do circuito, e mesmo que não tenha sido arrebatadora, sua atuação foi o suficiente para toda a crítica especializada. Emma Stone de Birdman corre por fora com chances remotas.

Outras concorrentes: 
Laura Dern ("Livre")
Keira Knightley ("O jogo da imitação")
Meryl Streep ("Caminhos da floresta")


ROTEIRO ORIGINAL, DIREÇÃO DE ARTE, FIGURINO, 
MAQUIAGEM E TRILHA MUSICAL 

Aposta do Blog: O Grande Hotel Budapeste


O trabalho cinematográfico de Wes Anderson pode até dividir opiniões em outras categorias, mas uma coisa é certa: alguns desses prêmios técnico de produção o filme deve levar. Simplesmente impecável!

Outros concorrentes: 
Roteiro original
Alejandro G. Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris Jr. e Armando Bo ("Birdman")
Richard Linklater ("Boyhood")
E. Max Frye e Dan Futterman ("Foxcatcher")
Dan Gilroy ("O abutre")

Direção de Arte:
O jogo da imitação
Interestelar
Caminhos da floresta
Sr. Turner

Figurino:
Mark Bridges ("Vício inerente")
Colleen Atwood ("Caminhos da floresta")
Anna B. Sheppard e Jane Clive ("Malévola")
Jacqueline Durran ("Sr. Turner")

Maquiagem:
Bill Corso e Dennis Liddiard ("Foxcatcher")
Elizabeth Yianni-Georgiou e David White ("Guardiões da Galáxia")

Trilha musical:
Alexandre Desplat ("O jogo da imitação")
Hans Zimmer ("Interestelar")
Gary Yershon ("Sr. Turner")
Jóhann Jóhannsson ("A teoria de tudo")


EDIÇÃO E MIXAGEM DE SOM 

Aposta do Blog: Sniper Americano


Outros concorrentes: 
Edição de Som
Birdman
O hobbit: A batalha dos cinco exércitos
Interestelar
Invencível

Mixagem de Som:
Birdman
Interestelar
Invencível
Whiplash


ROTEIRO ADAPTADO 

Aposta do Blog: Graham Moore ("O jogo da imitação")


O filme foi vagamente baseado no livro "Alan Turing: The Enigma", de Andrew Hodges. A cinebiografia de um pioneiro na computação, conseguiu unir em seu desenvolvimento questões históricas com questões mais humanas. Com isso, não se tornou algo maçante e maniqueísta, como seu “irmão” no Oscar, A teoria de tudo, de mesmo contexto.

Outros concorrentes: 
Jason Hall ("Sniper americano")
Paul Thomas Anderson ("Vício inerente")
Anthony McCarten ("A teoria de tudo")
Damien Chazelle ("Whiplash")


FOTOGRAFIA 

Aposta do Blog: Emmanuel Lubezki ("Birdman")


Outros concorrentes: 
Robert Yeoman ("O grande hotel Budapeste")
Lukasz Zal e Ryszard Lenczewski ("Ida")
Dick Pope ("Sr. Turner")
Roger Deakins ("Invencível")



MONTAGEM

Aposta do Blog: Sandra Adair ("Boyhood")


Outros concorrentes: 
Joel Cox e Gary D. Roach ("Sniper americano")
Barney Pilling ("O grande hotel Budapeste")
William Goldenberg ("O jogo da imitação")
Tom Cross ("Whiplash")


EFEITOS VISUAIS

Aposta do Blog: Planeta dos macacos: O confronto



Outros concorrentes: 
Capitão América 2: O soldado invernal
Guardiões da Galáxia
Interestelar
X-Men: Dias de um futuro esquecido


MELHOR CANÇÃO

Aposta do Blog: "Glory", de John Stephens e Lonnie Lynn ("Selma")


Outros concorrentes: 
"Everything is awesome", de Shawn Patterson ("Uma aventura Lego")
"Grateful", de Diane Warren ("Além das luzes")
"I'm not gonna miss you", de Glen Campbell e Julian Raymond ("Glen Campbell…I'll be me")
"Lost Stars", de Gregg Alexander e Danielle Brisebois ("Mesmo se nada der certo")


MELHOR ANIMAÇÃO

Aposta do Blog: Como treinar o seu dragão 2


Outros concorrentes: 
Operação Big Hero
Os Boxtrolls
Song of the sea
The Tale of the Princess Kaguya


ANIMAÇÃO CURTA-METRAGEM 

Aposta do Blog: "Feast"


Outros concorrentes:
"The bigger picture"
"The dam keeper"
"Me and my moulton"
"A single life"



MELHOR FILME ESTRANGEIRO

Aposta do Blog: "Ida" (Polônia)


Outros concorrentes: 
"Leviatã" (Rússia)
"Tangerines" (Estônia)
"Timbuktu" (Mauritânia)
"Relatos selvagens" (Argentina)



MELHOR DOCUMENTÁRIO

Aposta do Blog: "CitizenFour"


Outros concorrentes: 
"O sal da terra"
"Finding Vivian Maier"
"Last days"
"Virunga"



DOCUMENTÁRIO CURTA-METRAGEM

Aposta do Blog: "Joanna"


Outros concorrentes: 
Crisis Hotline: Veterans Press 1"
"Our curse"
“The reaper (La Parka)"
"White earth"


CURTA-METRAGEM

Aposta do Blog: "Boogaloo and Graham"


Outros concorrentes: 
"Aya"
"Butter lamp (La lampe au beurre de Yak)"
"Parvaneh"
"The phone call"

E então, quem deve levar pra casa o maior e mais badalado Prêmio do Cinema? Enquanto a hora H não chega, façam suas apostas como entendedores ou cruzem os dedos como torcedores!


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Birdman (2014)


Birdman ou (A inesperada Virtude da ignorância, 2014)
Direção: Alejandro González Iñárritu
Com: Michael Keaton, Edward Norton, Emma Stone e Naomi Watts
Nota: 9

Pra quem acompanha meus textos aqui no Blog, sabe de toda minha mecânica em querer distinguir os dois tipos de seguimento da sétima arte. Filmes para apenas entreter (os chamados blockbusters) e outros que sempre dizem algo a mais, seja numa reflexão atual ou um drama da vida real. É justamente este tipo de paralelo que entra na linha tênue de Birdman, mais novo sucesso do talentosíssimo Alejandro González Iñárritu. Delineando a trajetória de um ex-astro do cinema de filmes de ação que agora se vê tentando ingressar num outro tipo de trabalho para recuperar para si (ou seria para a mídia?) o sucesso de outrora. 

Partindo desta vertente, nos é mostrado o relevante questionamento sobre o que realmente quer os atores, produtores, diretores, críticos e o público, enfim, tudo que envolve o chamado show buzines. O que realmente vende somando-se ao que realmente satisfaz este mesmo público, cada vez mais ávido por novidades. Neste contexto, imagine como só como reage alguém que se mostra estagnado nos anos 90, ator de um filme só, como diz as críticas mais ácidas de quem quer destruir determinada personalidade. O alvo em questão é Riggan Tomson (Michael Keaton), um ator que alcançou o estrelato interpretando Birdman, um Herói de quadrinhos transposto para as telas. Depois que se recusa a fazer a quarta sequência da franquia, Riggan se perde em meio a evolução tecnológica e cinematográfica, deveras ingrata com quem não sabe aproveitar as oportunidades que lhes são oferecidas com o intuito de elevar a popularidade nesse mundo ao qual transita. A coragem do protagonista em se negar a continuar fazendo um único papel é louvável, mas não o exime de arcar com as consequências de sua decisão. 

Riggan resolve então provar que é algo muito além de um uniforme de pássaro e grunhidos estridentes. Assim ele vira o protagonista e diretor de uma peça na Broadway. O filme todo gira em torno dos preparativos para a estreia dessa mesma peça. Aí é que entra em cena de forma mais visceral tudo que cerca os famosos bastidores da Broadway, local sagrado para quem quer se aventurar em se tornar um ótimo intérprete. Este terreno sagrado para alguns críticos, desperta a fúria dos mesmos que julgam qualquer tentativa de alguém se aventurar por este seguimento, sem nem sequer ter tomado nota da realização da mesma. Esta é uma das pertinentes questões levantadas pelo filme. Ao simplesmente pensar no ambicioso projeto, Riggan despertou o ódio de uma dessas colunistas críticas do Times, com “cara de quem lambeu a bunda de um sem teto” e que se acham Deuses ao ponto de ascender ou destruir carreiras. No primeiro plano, Riggan se mostra refém da necessidade de aprovação da mesma, criando um diálogo primoroso entre eles no bar que resume bem todo o filme.

Além de ter de lidar com este tipo de contratempo, como diretor da peça os problemas assumem outra face. Um deles atende pelo nome de Mike Shiner (Edward Norton), um ator da “moda”, com um ego lá nas alturas por arrastar multidões não apenas pelo talento. O algo a mais, o poder exterior por detrás de seus trabalhos, é o que considera essencial para se marcar terreno neste ramo. A dicotomia tempo, espaço e filosofia entre Riggan e Mike é todo o apuro da obra, colocando o talentoso Norton páreo a páreo com o antes questionável Keaton. É de ambos que emergem as mais memoráveis sequências como no embate verbal e depois braçal com um Norton só de cuequinha. Enquanto o ex-astro tenta manter a essência dramática da obra, o astro do momento vai na contramão, preferindo deixar a carga dessa essência em segundo plano, chamando para si os holofotes e tentando através de escândalos catapultar a peça de Riggan. 

As sub-tramas do filme traz todos os elementos icônicos deste mundo. A atriz com sonhos de ascensão na carreira é papel de Naomi Watts, que aqui mais uma vez entrega uma personagem segura e até certo ponto saudosista, pra quem se lembrou de Cidade dos Sonhos de David Lynch, o qual protagonizou com direito a um beijão na colega Andrea Riseborough. O produtor ambicioso e “carniceiro”, coube a um surpreendente Zach Galifianakis, que acostumado a fazer comédias, deu o ar da graça com muito humor ácido e frases de efeito que lhes exigiam o papel. Emma Stone vive Sam Tomson, a filha de Riggan, que passou um tempo na reabilitação por uso de drogas fruto da distância que o sucesso do pai no cinema lhe proporcionou. A atriz nas vezes que dá o ar de sua graça, não deixa a desejar com as nuances de sua personagem. Que de filha revoltada, amargurada passa no fim, a admirar o pai e seus saltos ambiciosos. A expressão e o olhar de Emma é algo que marca sua interpretação, que em nota pessoal, é a melhor coadjuvante do ano. Categoria a qual concorre ferozmente este ano. 

E por falar em aspirações ao Oscar, Birdman se tornou o favorito por levar pra casa vários prêmios do circuito. Em algumas categorias têm grandes e reais chances de levar alguns prêmios, e um deles é o de melhor ator. Michael Keaton prova a expressão “caiu como uma luva” quando interpreta um personagem que se funde com ele mesmo. Riggan é Keaton nos anos 90, o mesmo que protagonizou o popular Batman, e que depois desapareceu dos sets de filmagem mais relevantes e Birdman é Batman, o personagem que lhe deu popularidade. Na tentativa de buscar algo diferente em sua carreira, Riggan nos dá a chance de vivenciar os dois lados da moeda. A negação e a aceitação. Mote que só mesmo a sensibilidade de um diretor acostumado a mexer com as densas emoções humanas pode se fazer acertar.

Birdman e Riggan: choque de identidades

Iñárritu entrega para os amantes do cinema elementos de uma grande obra com esta temática. Embora muito desses elementos não sejam tão explorados a fundo, a proposta de uma narração mais subjetiva (através da voz interior de Riggan) se faz de maneira soberba. Com uma mensagem atual, crítica abalizada sobre as distinções entre Hollywood e Broadway, excelentes interpretações que rendeu ao filme o Elenco do Ano, diálogos diretos e ritmo coeso, Birdman fica marcado como o filme do Keaton, mas isso não o torna pequeno, menor, apenas se valeu (e muito) de sua proposta. Por isso não se trata de um filme superestimado, apenas de uma visão crítica mais íntima a despeito do mundo das celebridades de teatro e cinema, que sabemos tem uma dimensão bem maior e múltiplos focos. 

A metalinguagem pode não agradar a gregos e troianos, mas não se pode dizer que a ousadia neste ponto não valeu a pena, afinal, o cinema ainda é isso. Se libertar de pragmatismos, do lugar-comum e tentar cada vez mais alçar voos originais. 

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Perfil: Julianne Moore – Pra sempre uma estrela

Mãe, mulher fatal, esposa traída, política, homossexual, heroína.....são tantas as definições dentro de uma jornada espetacular que é difícil apontar seu melhor papel no cinema. 

Nascida em 3 de dezembro, de 1960, na cidade de Fayetteville, Carolina do Norte, Julie Anne Smith formou-se em Arte dramática pela Universidade de Boston. De lá foi para a Broadway, local sagrado dos grandes artistas e plateias. Em 1985 mostrou seu rosto para a TV na série As the World Turns, onde foi premiada por sua atuação. No cinema, em 1990, estreou com o terror trash Tales from the Darkside e depois de emendar outros trabalhos questionáveis, enfim ganhou seu primeiro grande papel no clássico de suspense A mão que balança o berço

Um traço que define a grande versatilidade da atriz são os chamados filmes independentes como Roommates e Safe em 1995, onde teve seu primeiro reconhecimento como atriz sendo indicada ao Independent Spirit Awards. No mesmo ano teria alcançado também a popularidade junto ao público pela comédia Nove meses, mas Hugh Grant, o astro do filme, arranhou a imagem da obra ao se envolver em um escândalo com uma garota de programa, deixando a atriz e o filme em segundo plano. Este boom de popularidade viria em 1997 com Jurassic Park 2 - O Mundo Perdido. Ano do cult Boogie Nights, em que foi indicada a quase todos os prêmios mais importantes da indústria do cinema. Pela personagem, Moore já dava o seu recado acerca do talento e da coragem que sempre definiu seus papéis. A mesma coragem que teve para estrelar o complexado Magnólia, que se tornou o queridinho dos críticos do ano de 1999. Em 2001, repetiu o mítico papel de Jodie Foster em Silêncio dos Inocentes, no péssimo Hannibal. Ainda assim, Moore deixou aflorar toda a sua beleza e talento contracenando com um Anthony Hopkins gordo e preguiçoso. 

Mas se fôssemos definir um ano no mapa astral de Moore, este ano seria 2002 quando foi indicada em duas categorias do Oscar. Como melhor atriz em Far from Heaven, onde ganhou vários prêmios e como coadjuvante no estelar As horas de Stephen Daldry. No filme que deu o Oscar a Nicole Kidman e ainda contava com a já lendária Meryl Streep, foi de Moore a melhor atuação das 3 personagens inspirada em Senhora Dalloway. Ao dar a uma dona-de-casa dos anos 50 presa a pragmatismos da sociedade, ela deixou aflorar apenas pelos gestos e olhares a batalha íntima de sua personagem. Uma das melhores de todos os tempos, que infelizmente não foi premiada, aumentando consideravelmente a parcela de injustiças das premiações do Oscar.

Moore em As horas: atuação extraordinária sem grandes exageros
 
De lá pra cá foram apenas papéis, que mesmo sendo discretos, consolidou a atriz de expressão confiável como uma das melhores do cinema. Com seus atributos característicos, ela foi ganhando todos os públicos das telonas e da TV no premiado Game chance de 2010, em que interpretou nada mais, nada menos que Sarah Palin, a dama de ferro da política americana. Aliás, engajamento político também faz parte de sua vitoriosa trajetória na vida real. Ela é Embaixadora na União Europeia da Organização Save the Children, que lida com os pequenos com o foco de alfabetizá-los nas zonas rurais. Também do Reach Out and Read, essa dedicada aos pais a incentivar a leitura para com os filhos. 

Envolvida em projetos grandiosos nos últimos tempos como a franquia Jogos Vorazes e dois filmes do circuito de premiação (Mapa das estrelas e Still Alice), é quase que inevitável continuar sua carreira brilhante de forma discreta. Todos os holofotes estão voltados para Morre e na possibilidade de levar para casa pela primeira vez a tão desejada (e já merecida) estatueta dourada. Mesmo para aqueles que acharem que ela não mereça dessa vez, fica o “consolo” de que enfim, o Oscar faria Justiça a uma de suas mais regulares atrizes e mais reluzentes estrelas em sua imortal Calçada da Fama. 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

O Grande Hotel Budapeste (2014)

O grande Hotel Budapeste (The grand Budapest Hotel, 2014)
Direção: Wes Anderson
Com: Ralph Fiennes, Jude Law, F. Murray Abraham, Tilda Swinton, Adrien Brody, Willem Dafoe e Saiorse Ronan
Nota: 8.5

O trabalho de Wes Anderson no cinema já chamou atenção de um modo muito peculiar. Lembro-me agora de Os Excêntricos Tenembaums de 2001, comédia com cunho de crítica familiar e com muito, mas muito humor ácido e personagens disfuncionais. Este tipo de obra com um roteiro “meio amalucado” para os mais incautos e texto ágil e certeiro para outros, se faz também presente em O grande Hotel Budapeste, seu mais novo trabalho concorrente ao Oscar desse ano. 

Aqui Anderson deixa o seio familiar de lado e aposta em uma narração mais histórica baseada no livro de Stefan Zweig, que vivenciou os dois conflitos mais tristes da história da humanidade. A Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Anderson bebeu dessa fonte para desenrolar o presente, passado e futuro das tramas de um garboso Hotel, fonte de inspiração para as histórias do escritor fictício do filme (Jude Law/Tom Wilkinson). O autor do livro que dá nome ao filme, começa contando como obteve as experiências de sua obra na juventude por meio do depoimento do ex-funcionário do Hotel Budapeste, o velho Mustafá (F. Murray Abraham). Mustafá havia começado ali como um simples mensageiro e com a morte de seu patrão Mr. Gustave (Ralph Fiennes, em mais um trabalho de encher os olhos) acabou herdando o Hotel, anteriormente herdado pelo próprio. 

No passado, Gustave era o tipo de cavalheiro educado e bem vestido o suficiente para atrair pessoas para o Hotel que administrava, e charmoso o suficiente para conquistar mulheres mais maduras e solitárias. Entre elas estava Madame D (Tilda Swinton), uma ricaça que não poupa despesas para trazer o bom vivant sob suas rédeas e que depois vira uma protagonista póstuma das maiores confusões do filme após seu assassinato. 

Quando seu testamento é lido, seus familiares, caracterizados como verdadeiros abutres, ficam com partes de sua extensa herança, com exceção de um valioso quadro descrito como “O Menino com a maçã”. Este fica para seu amante Gustave. Mas o filho da velhota, o ganancioso Dimitri (Adrien Brody) promete não deixar que a vontade de sua mãe nesse caso seja cumprida, forçando Gustave a rouba-lo da mansão com a ajuda de seu leal funcionário, o jovem Mustafá (Tony Revolori) ou Mensageiro Zero. Uma série de assassinatos começam a acontecer pelas mãos do tão cruel quanto impagável Jopling (Willem Dafoe), o capanga de Dimitri. Quando uma trama bem elaborada por ambos leva Gustave à prisão acusado de ter matado Madame D, mais uma vez o patrão conta com a intervenção do leal Mustafá para escapar. Juntos, eles vivem uma experiência única nos tempos em que amizades assim eram muito raras. 

Zero e Gustave: amizade inter-racial em tempos difíceis

A trama entre rixas familiares e assassinatos agitam o roteiro num vai e vem que não atrapalha o bom andamento do filme. O espectador mais atento sabe perfeitamente se situar entre passado e presente e segue fiel ao desfecho dos heróis. O contexto histórico da guerra é inserido aos poucos, como a invasão Nazista representados por uma facção fictícia, mas com o mesmo poder de aterrorizar e chocar pessoas como Gustave, que ainda preserva a humanidade na alma e no coração bem como a paixão pelo seu trabalho. De fato, é um roteiro habilidoso e sem muitos furos, e com um texto excelente que salta da boca de atores que sabem bem o que fazer com ele. Uma produção impecável de figurinos, direção de arte, fotografia e um bom arranjo de design. Algo que realmente impressiona de tão grandioso como o próprio Hotel, bem destacado em cores na tela. 

Um grande elenco (Edward Norton, Saiorse Ronan, Jude Law, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Bill Murray) transitam na tela com uma liberdade versátil que este tipo de produção pode oferecer. Basta lembrar que foi em Os Excêntricos que Gwyneth Paltrow teve seu melhor e talvez único bom papel no cinema. Daí se percebe o poder do roteiro e do texto dos filmes de Wes. Em nota pessoal, adorei ver Saiorse Ronan em mais um bom papel pra ela como a confeiteira Ágata, com um quê de revolucionária e a volta do talentosíssimo F. Murray Abraham às grandes produções. 

Embora divertido em quase todos os momentos, romântico em poucos dele e frenético em sua essência, O grande Hotel Budapeste é um filme que ainda não foge de alguns elementos já mostrados em outras produções do diretor. A única diferença está em um apuro bem maior na produção e como citado, o forte contexto histórico na representação de um lugar naquela época sombria. O início da história poderia ter se destacado em um compasso melhor com o restante do filme. Pareceu um pouco confuso e por isso demora a engrenar como deveria. 

Quanto ao paralelo das obras de Wes, eu particularmente fiquei um pouco mais deslumbrada/empolgada com Os Excêntricos, talvez pelo fato de tê-lo assistido antes, assim minou o impacto de O grande Hotel. Porém não posso deixar de mencionar aqui a grande satisfação que tenho de acompanhar obras criativas que conseguem unir ação, romance, contexto histórico com uma comédia bem abalizada. Por tudo isso, merece o crédito que tem e a grandiosidade que conquistou junto ao público e à crítica. Será o suficiente para levar o Oscar de melhor filme? Aguardemos então pra saber se o filme com fortes raízes no passado, tem força no presente pra entrar na lista de vencedores e ser reverenciado no futuro.