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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Dez filmes para amar



Lindos e singelos, eles despertam sensações indescritíveis capazes de tornar real todos os nossos sonhos, pelo menos nas telinhas. Os filmes que falam de amor reúnem casais inesquecíveis, belos enredos e cenas memoráveis. Difícil é tirar da mente e especialmente do coração a sensação de uma felicidade extasiante que nos faz viajar através de um universo inquietante chamado nós mesmos. Suspiros no ar, leveza nas palavras, coragem de viver a vida que amamos. Aqui uma lista de dez dos mais belos filmes que tratam do tema de várias maneiras nesta fábrica de sonhos:


O ÚLTIMO TANGO EM PARIS (Last Tango in Paris, 1972)

“Trancado dentro daquele apartamento, O último Tango em Paris continua seguramente à frente dos filmes eróticos de fato”
Cássio Starling

Escandalosamente sensual. A obra-prima de Bernardo Bertolucci que chocou o mundo na época de sua exibição traz um romance apoiado num drama psicológico muito bem arquitetado pela construção minimalista de seus personagens. Paris novamente é o cenário de mais uma história de amor. Mas não uma história convencional com suspiros, juras de amor eterno e o conhecido final feliz. Aqui o desejo se sobrepõe a qualquer outro tipo de sentimento. Nele, se centra a trama de um casal de desconhecidos que praticamente alugam o mesmo apartamento e que, consumidos pela angústia de uma infelicidade proeminente, se entregam ferozmente a uma aventura sexual inesquecível para eles e para o público. O teor erótico da obra fez a censura dar saltos da poltrona. Tudo isso firmado nos diálogos obscenos e cenas escandalosas que sintetizaram a atuação soberba e por vezes improvisada de Marlon Brando como o homem de meia idade que ao perder a mulher que cometeu suicídio, faz do sexo uma firmação evasiva e pessoal. A força mitológica do filme se deve e muito à censura da época, que vetou as sequências mais impressionáveis. Algo que só ajudou a consolidar a diferença entre erotismo e pornografia. Por isso, hoje, recebe da maioria dos críticos a menção como a obra de arte que realmente é. Reza a lenda que parte das cenas eróticas teria saído dos desejos ocultos da mente de Bertolucci. No entanto, polêmicas à parte, o fato é que O último Tango em Paris é um filme brilhante, ousado e que, mesmo diante de todos os atenuantes, não deixa de ser uma história de amor. Uma história que começa de um encontro meramente sexual entre o escritor americano Paul (Brando) e uma jovem francesa (Maria Schneider) e segue a linha de todos os sentimentos nele inseridos. Atração, afeto, necessidade, ciúme, insegurança. Uma apaixonante dança de interesses.

“Todos os mistérios que terá na vida estão aqui”
O AMOR É MISTÉRIO

PRA SE APAIXONAR: a sequência do Tango num concurso de dança. Quando Paul (Brando) tira a jovem insegura Jeanne (Maria Schneider) para dançar em meio aos concorrentes o que se vê no meio do salão é espontâneo, divertido e apreciável. Nem mesmo o vislumbre das nádegas de Brando, apaga momentos memoráveis de um romance, assim como aqueles passos de dança, imprevisível.



UMA LINDA MULHER (Pretty womam, 1989)

“Este filme é sobre esperança e sonhos que todos nós temos, e o fato é que às vezes se torna realidade”
Garry Marshall, diretor

Qual é o seu sonho? Com Hollywood servindo como cenário desta inesquecível história de amor, o diretor Garry Marshall criou um brilhante roteiro em Uma linda mulher, que mexe com todas as emoções de uma boa história de amor. Nele vimos como a prostituta Vivian Ward (Julia Roberts) conquista o coração do milionário Edward Lewis (Richard Gere) depois que ele a contrata por uma semana como companhia enquanto tenta fechar uma importante transação empresarial. À medida que a semana vai passando, a relação entre os dois mundos vai se estreitando por um ponto em comum: a solidão. Enquanto Edward não poupa despesas para transformar a desbocada Vivian numa elegante dama, a moça vai criando um afeto incontrolável por aquele que elegeu como seu príncipe encantado. A reciprocidade é tamanha que o milionário deixa a frieza empresarial de lado e assume um lado mais sentimental se apaixonando por uma improvável pretendente. O romance hollywoodiano lembra muito a história da Cinderela. Um conto de fadas que serve como pano de fundo para a criação perfeita de um caso de amor que transcende a marginalização das ruas. Mas afinal para quê mais serve os contos de fadas além de alterar a realidade? Neste aspecto o filme se tornou um êxito tão absoluto que catapultou a carreira do charmoso Richard Gere. Mas ninguém saiu ganhando mais nesta história do que a belíssima Julia Roberts, que viu sua estrela brilhar numa atuação tão perfeita que merecidamente foi indicada ao Oscar. Sua prostituta se tornou uma das maiores heroínas românticas do cinema graças a seu talento e mais precisamente à química primorosa com seu parceiro de cena. O filme marcou época dando um toque de suavidade à tela ao resgatar os filmes do gênero. Romance, humor, carisma e diversão dão um toque especial a esta obra histórica, que faz qualquer mulher se sentir alguém especialmente linda.

“Eu fingia que era uma princesa presa numa Torre por uma Rainha malvada e de repente um cavalheiro num cavalo branco com todas aquelas cores brilhantes aparecendo na minha janela. Ele levantava a espada e eu acenava. Ele subia na Torre e me salvava.”
O AMOR É UM SONHO

PRA SE APAIXONAR: como qualquer conto de fadas que se preze, a sequência final é feliz e inesquecível. Edward desiste de ir embora sozinho e a caminho do aeroporto muda sua rota indo de encontro a Vivian. Chegando a seu destino numa Limusine, o “Príncipe” usa o guarda-chuva como espada e a empunha para o alto, subindo as escadas. O casal sela o felizes para sempre com um beijo apaixonado.    


GHOST – DO OUTRO LADO DA VIDA (Ghost, 1990)

“Imperdível”
Entertainment Weekly

Sucesso número um de bilheteria daquele ano, Ghost (que aqui foi estendido como o outro lado da vida), é até hoje uma das histórias mais lembradas por todos os apaixonados. Talvez pelo roteiro de tão original, que acabou levando o Oscar da categoria, ou pela química do casal de protagonistas vividos pelo saudoso Patrick Swayze e a estonteante Demi Moore, ou a canção Unchained Melody, que se tornou um hino de amor decantado em todo mundo. Ou então a interpretação premiada da excelente Woopi Goldberg. Enfim, poderíamos enumerar todos os elementos que fizeram do filme de Jerry Zucker algo imperdível e um marco do cinema romântico. Um deles é contar uma belíssima história firmada no poder do amor. Sam Wheat (Swayze) teve sua vida brutalmente interrompida num assalto encomendado por seu melhor amigo (Tony Goldwyn), deixando para trás sua namorada, a apaixonada Molly Jensen (Moore), que tenta em vão seguir em frente sem seu grande amor. Só quando Sam procura ajuda na vidente Oda Men (Goldberg), a história ganha contornos mais empolgantes nos diálogos entre a vidente e o espírito do executivo frente à descrença incessante da moça. Momentos inesquecíveis proporcionados por um elenco super afinado que brilha em sequencias memoráveis. O sucesso do filme tem origem bem conhecida. Nós, os espectadores. Fomos nós que lotamos as salas de projeção, nos emocionamos com o drama vivido pelo protagonista, rimos das trapalhadas da vidente picareta e o mais importante, saímos acreditando na força do amor verdadeiro. Aquele que nem a morte pode destruir. Antes de Melinda Gordon de Ghost Winsperer resolver os problemas entre os dois mundos, Ghost nos dava uma passagem segura pelos tortuosos caminhos do amor e com tudo que ele nos proporciona. Romance, intriga, emoção e uma boa dose de humor. Inesquecível neste e no outro lado da vida.

“O amor verdadeiro levamos conosco.”
O AMOR É IMORTAL

PRA SE APAIXONAR: Sam interpela Molly trabalhando em um projeto com argila. Ali segue uma sequencia de ritmo delicado ao mesmo tempo sensual e inebriante quando suas mãos se tocam moldando o barro numa clara metáfora de como se deve moldar um relacionamento. Cheio de percalços, imperfeições, mas com a força da união dos corações apaixonados de cada um. É uma das cenas mais românticas de todos os tempos.


MOULIN ROUGE – AMOR EM VERMELHO (Moulin Rouge, 2001)

“Ame ou odeie esta obra de arte visual, você não poderá dizer que já viu algo assim”
1001 Filmes para ver antes de morrer

Um conto de amor que nasceu nos salões inebriantes de um famoso cabaré da velha Paris. Moulin Rouge era o lugar preferido de todos os milionários da cidade à procura do prazer da companhia das mais belas mulheres da região. As noites festivas do estabelecimento agitavam a cidade luz, levando seus habitantes a um frenesi absoluto de sonho e luxúria. E é numa destas noites que o paupérrimo escritor Cristian (Ewan McGregor) se depara com a mulher de seus sonhos, a belíssima Satine (Nicole Kidman). Toda a trama começa com um escritor amargurado escrevendo suas memórias de um tempo de amor e beleza que terminou de forma abrupta. Através de suas palavras somos levados a uma sucessão de mal entendidos entre o casal. Quando a dançarina se encanta pelo escritor acreditando ser seu mais nobre cliente, o Duque (Richard Roxburgh) nasce um amor à primeira vista alimentado pelos belos poemas do rapaz para ela. Dali por diante, o casal, envolto da energia romântica das músicas bem como as palavras de amor, tende a lutar contra os terríveis contratempos de seu romance, que inclui as intervenções políticas do Duque no cabaré e uma inesperada doença da moça. Baz Luhrmann cria um espetáculo visual tão assombroso quanto os empolgantes números que complementam este esfuziante musical. Contudo, devemos ressaltar que a força de Moulin Rouge se encontra especialmente na atuação divina de Kidman como Satine, contrastando com um tedioso McGregor. Mesmo assim, a disparidade do casal não chega a comprometer o resultado final. À primeira vista, o filme pode decepcionar, mas não há como não deixar de com ele se relacionar, para depois tirar a impressão de que tudo dará certo no final. Afinal, trata-se de amor. Amor como o oxigênio, como uma coisa esplendorosa que nos leva às alturas. Não importa que críticas possam permeá-lo, pois só precisamos de amor.

“A coisa mais importante que se pode aprender é amar e em troca amado ser.”
O AMOR É COMPENSAÇÃO

PRA SE APAIXONAR: depois de um divertido mal entendido no Elefante quando a bela Satine (Kidman) não entende as intenções poéticas de Cristian (McGregor), o tímido poeta então utiliza outra poderosa arma de sedução: a música. Ele e Satine se deixam levar pelo clima inebriante da poesia declamada através do som irresistível de uma canção que tocou seus corações. Aliada às belas imagens do cenário criado por Luhrmann se tornam um espetáculo tão apaixonante quanto inesquecível!


CLOSER – PERTO DEMAIS (Closer, 2004)

“Vibra com o erotismo, gargalhadas e performances dinâmicas. Closer - perto demais é um triunfo!”
Rolling Stone

Pense em casos de amor que nasce numa rua num simples ato de esbarrar em alguém. Ou num casamento expirando seus últimos ares de um tempo romântico. É o que acontece respectivamente com os casais formados por Natalie Portman, Jude Law, Julia Roberts e Clive Owen. Os primeiros se esbarram na rua quando a enigmática Alice Ayres (Portman) sofre um acidente e é socorrida pelo jornalista Dan (Jude Law). Este encontro casual dá origem a uma relação cambaleante de dependência mútua que é nocauteada pelas intervenções gradativas da fotógrafa Anna (Roberts) e o médico Larry (Owen). Um casal que tenta entender as razões de muitas idas e vindas do casamento. Closer – perto demais brinca como uma dança das cadeiras das emoções humanas pautado no mágico poder do amor. Contudo, o que torna o brilhante filme de Mike Nichols algo hipnotizante é a ruptura deste amor mágico, aquele visto como um sonho surreal de felicidade eterna. A visão madura que o diretor dá a sua história de amor nos faz refletir mais sobre o eu ligado a cada um de nós do que a vida em comum que temos com outra pessoa e os proeminentes sentimentos suspirantes de um romance idealizado. Aqui não há finais felizes proporcionados pelo nós, num estalo fulminante de paixão, e sim finais em que o protagonista principal é o eu, o próprio ser humano, que delineia seu próprio destino. Os românticos ortodoxos que me desculpem, mas é simplesmente impossível não se apaixonar perdidamente pela história e suas incríveis nuances amparadas por um texto extraordinário e atuações irretocáveis. Destaque para Natalie Portman, indicada ao Oscar numa performance estupenda tanto na suavidade do romantismo quanto na dinâmica do erotismo. Sua personagem parece sintetizar os dois elementos primordiais deste sucesso cinematográfico, que nos faz olhar pra perto demais de nosso íntimo e, o mais fundamental, amar o que vemos. 

“Onde está o amor? Eu não vejo, não toco, eu não sinto.”
O AMOR É ILUSÃO

PRA SE APAIXONAR: a sequência inicial do filme quando Alice e Dan se entreolham no meio de tantos rostos pelas ruas ao fundo a canção “The Blower’s Daughter” de Damien Rice. Um momento forte e singelo que abre e encerra o filme. É impossível não se deixar levar pela sedução extasiante da belíssima letra da canção fundida com os sentimentos dos personagens. Simplesmente apaixonante! 


MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA (Memoirs of a Geisha, 2005)

“Uma adaptação visualmente estarrecedora do romance best-seller de Arthur Golden”
Oakland Tribune

Depois do estrondoso sucesso de Chicago, onde mostrou o universo das estrelas dos espetáculos musicais, o diretor Rob Marshall investe em mais um seleto grupo de estrelas fascinantes. As gueixas japonesas. Em Memórias de uma Gueixa, ele novamente utiliza a linguagem corporal como base para contar uma história de amor moldada por este hipnotizante universo. O filme narra as memórias da jovem Sayuri (Ziyi Zang) desde sua infância paupérrima até se tornar a mais cobiçada Gueixa da cidade. Na trama, momentos dramáticos de sua vida são o que não faltam. Vendida pelos pais, ela vai parar na mais famosa Okiya e começa seu treinamento para se tornar uma Gueixa. Sim, treinamento. Pois ao contrário do que todos possam pensar aqui as gueixas são mostradas mais como artistas do que qualquer outro estigma que posam tê-las acompanhado durante anos e anos. E é a mais pura arte eu impulsiona o filme de Marshall. A beleza das coreografias se mescla com um visual deslumbrante dos cenários e figurinos ajudando a criar uma magia impressionante na história de amor entre Sayuri e seu eleito, o Presidente (Ken Watanabe). Mas antes de poder viver intensamente esta paixão que nasceu enquanto ainda era uma criança, a jovem, como qualquer heroína romântica teve de enfrentar grandes barreiras. Entre elas a acirrada rivalidade entre as casas e suas estrelas, a inveja de uma estrela decadente (Gong Li) e os fortes preceitos de que uma Gueixa nasceu para entreter e não se apaixonar. Com a ajuda providencial de Mameha (Michelle Yeoh), a jovem sonhadora finalmente encontra o que procurava nos braços de seu amado. Apesar da resistência de alguns críticos ao trabalho feito por Marshall e a polêmica em torno da escolha de sua protagonista, o filme é um espetáculo em todos os níveis. A belíssima história, a construção dos personagens e o elenco representando o melhor da nata oriental, tornam este romance visual algo para ficar na memória.

“Não se pode dizer para o Sol mais Sol ou para a chuva menos chuva.”
O AMOR É IMUTÁVEL

PRA SE APAIXONAR: a apresentação oficial da gueixa Sayuri numa conceituada casa de shows. A música perfeita ao fundo acompanha uma dança hipnotizante de uma beleza surreal aos olhos de todos, especialmente do Presidente.


O SEGREDO DE BROCKEBACK MOUNTAIN (Brockeback Mountain, 2006)

“Acho que a ansiedade maior era fazer jus à beleza da história. O roteiro era perfeito, com um diretor perfeito e eu não queria ser o cara que estragaria tudo”.
Heath Leadger, um dos protagonistas do filme

Amores proibidos sempre estiveram à frente das mais fascinantes histórias em Hollywood. E pensando neste poderoso mote, o visionário diretor Ang Lee trouxe para as telas uma surpreendente história entre dois jovens vaqueiros na década de 60. Ennis Del Mar (Heath Leadger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal) são contratados para trabalhar no campo em Wyoming. A parceria de trabalho logo dá lugar a uma forte atração que um passa a nutrir pelo outro. Juntos, eles vivem intensas emoções dantes inimagináveis para cada um deles. Contudo, os dias de sonho são tomados pela realidade dos compromissos firmados na vida fora do campo, obrigando-os a sufocar este sentimento. Ennis constrói uma família com a batalhadora Alma (Michelle Williams) enquanto Jack se envolve com a campeã de rodeios Lureen (Anne Hathaway). Anos depois, eles passam a recorrer a encontros esporádicos no lugar onde descobriram sua paixão. A relutância de Ennis em assumir sua condição se explica pela violência de uma sociedade brutalizada pela ignorância. E é justamente este atenuante que põe fim à este romance inesquecível. A ousadia em fazer um filme com um tema tão polêmico entrou para a história ao superar o preconceito e derrubar os mais indissolúveis tabus. O segredo de Brockeback Mountain tinha tudo para se tornar um estereótipo de zombaria que diariamente aparece nos programas de humor, se não fosse pela visão inteligente e sensível de um diretor que soube contar de forma genial algo bem maior que um filme de cowboys gays. O murmúrio gerado em torno do tema é rapidamente sufocado pelo roteiro formidável, interpretações seguras que dão suporte a uma fantástica história de amor. Seu poder reside em mostrar o lado mítico do amor incondicional e suas razões de ser mesmo diante de tantas adversidades. Aclamado pelo público e pela crítica, é uma obra-prima que toca os corações, faz refletir e desperta emoções tão fundamentais quanto à certeza de que o amor é mesmo capaz de mover montanhas.

“Às vezes sinto tanto sua falta que acho que não vou conseguir”
O AMOR É PERSEVERANTE

PRA SE APAIXONAR: o pensativo Ennis à beira da fogueira tenta controlar suas recentes emoções em vão. Ele adentra a barraca onde Jack o espera e se rende à paixão. Na manhã seguinte, os dois marmanjos transformam-se em meninos numa brincadeira que simboliza os momentos que estão partilhando entre eles com a natureza de testemunha.


DESEJO E REPARAÇÃO (Atonement, 2007)

“Desejo e reparação mistura a prosa sofisticada de McEwan ao estilo direto de Wright”
SET

O casamento do diretor Jon Wright com as páginas teve seu ápice neste romance irretocável vencedor do Globo de Ouro em 2008. Baseado no best-seller de Ian McEwan, o filme narra a história de Briony Talles (Saiorse Ronan), uma jovem aspirante à escritora que usa sua ferrenha imaginação para destruir o amor de sua irmã Cecília (Keira Knightley) pelo jovem batalhador Robbie Turner (James McAvoy), por quem Briony também nutre sentimentos apesar da pouca idade. Ao flagrar os dois amantes juntos na biblioteca, ela se deixa levar pelo ciúme. O desejo de vingança a leva a um surto de criatividade ao acusar o rapaz de um crime que não cometeu. Separados pela mentira, o jovem casal vive dramaticamente o restante de suas vidas com a chegada da Segunda Guerra Mundial. A família de Cecília perde todo seu status e fortuna enquanto ela se torna voluntária nas enfermarias improvisadas. Robbie ingressa nas Forças Armadas, passando por todos os tipos de provação nos fronts na esperança de um dia rever seu amor e concretizar seus sentimentos por ela. Em vão. Ambos acabam sendo vítimas do momento opressor e veem seus sonhos destruídos. Agora cabe a talentosa Briony dar a eles o final feliz como expiação de um erro irreparável. A construção minimalista da personagem central a qual se desenvolve a trama é o ponto principal de Desejo e reparação. A veterana Vanessa Redgrave e a jovem Romola Garai imprimem segurança as nuances categóricas de Briony a cada passagem de tempo, mas é na interpretação soberba de Ronan que reside à força da história muito bem contada por um grande roteiro intercalado por sequências de rara primazia. Wright acerta na escolha de seus protagonistas e eleva seu filme a categoria de uma das melhores obras românticas já feitas no cinema. Nele são inseridos tópicos interessantes da dualidade humana como fio condutor de uma fabulosa história e suas vertentes de amor, paixão, desejo e reparação.

“Mas que sentido de esperança ou satisfação poderia ter o leitor com um final desses? Por isso, no livro, eu quis dar a Robbie e Cecília o que eles perderam na vida. Gostaria de pensar que isto não é fraqueza ou evasão, mas um ato final de bondade. Eu doei a eles sua felicidade.”
O AMOR É DOAÇÃO

PRA SE APAIXONAR: a sequência final do filme em que Briony, já em idade avançada confessa que o final feliz que os jovens tanto ansiavam veio por meio das páginas de sua última obra. Enquanto narra detalhadamente às razões que a levaram a este ato, vimos Cecília e Robbie emanando a alegria de todo o amor que nutriam frente às ondas do mar. Uma sequência de imagens belíssimas e apaixonantes!



PIAF – UM HINO AO AMOR (Piaf, 2008)

“O mais impressionante mergulho de uma artista no corpo e alma de outra artista que jamais vi no cinema”
THE NEW YORK TIMES

Poucos filmes biográficos tiveram um casamento tão perfeito com a mais pura arte quanto Piaf – Um hino ao amor. O filme de Olivier Dahan traça um perfil artístico minucioso de uma das maiores estrelas da música mundial. Edith Piaf (Marion Cotillard) tinha tudo para ser mais uma das enormes afortunadas na miséria da França, senão fosse seu enorme talento para cantar e despertar paixões. A extraordinária vocação vem desde a infância onde começou a se apresentar nas ruas com o pai. Na juventude, ela logo chama a atenção de Louis Leble (Gérard Depardieu), um conhecido empresário do ramo musical. Sua carreira decola a um compasso meteórico e suas apresentações encantam a Europa. No entanto, como acontece com a maioria das estrelas, sua vida profissional entra em descompasso com a pessoal quando uma série de traumas sofridos a leva ao declínio profissional e físico. No entanto, a personalidade apaixonante da cantora conduz o filme de maneira homogênea e é extasiante admirar sua força de vontade e determinação por algo que faz com amor. Uma personagem desnuda pelos acertos e especialmente pelos erros, numa notória eficiência de seu roteiro que vai do passado ao presente pautado na escuridão hipnotizante de Piaf, uma figura tão complexa. Tudo captado com precisão pelas lentes de Dahan. O teor biográfico da obra é o levante para se apreciar. As passagens de tempo perfeitamente intercaladas pelo roteiro leva o espectador a conhecer as incríveis nuances de uma estrela esplendorosa magnificamente interpretada por Cotillard. A atriz capta com maestria as características tão físicas quanto psicológicas de Piaf. Uma mulher que soube usar a arte de amar como poucas. “Ame”, foi um dos últimos conselhos que deixou a todas as mulheres em suas últimas entrevistas. Um deslumbramento primal para uma obra que funde magnificamente a paixão decantada pela música e pelo cinema como um hino que nos encanta gerações.

“Rezo porque acredito no amor.”
O AMOR É FÉ

PRA SE APAIXONAR: a apresentação final de Piaf precedida de uma entrevista emocionante da cantora que tricota frente ao mar. A música é belíssima e a interpretação de Cotillard é arrepiante. Um verdadeiro hino ao amor!


AO ENTARDECER (Evening, 2009)

“Ao entardecer nos brinda com a sensibilidade de um elenco  poderoso”
Flávia Cristina, fã de grandes atrizes

Depois do entardecer vem chega a noite e junto com ela a escuridão que nos toma por completo nos obrigando a um encontro intimista com erros e acertos de nossa vida. Este é o tema principal da história de Ann (Vanessa Redgrave), uma senhora que está no leito de morte e resolve fazer um balanço de tudo que viveu. Ela volta há 40 anos, mas precisamente ao final de semana do casamento de sua melhor amiga. Época em que acredita ter encontrado e perdido sua felicidade com o único homem que amou. A jovem Ann Grant (Claire Danes) e o charmoso Harris Arden (Patrick Wilson) passam apenas uma noite juntos, mas o suficiente para nascer entre eles uma forte paixão. Apaixonados, chegam a fazer planos até a morte precoce de Buddy (Hugh Dancy), amigo em comum do casal interrompe seus sonhos. Dali por diante a vida de Ann e Harris é marcada por frustações inimagináveis. Sendo a maior delas nunca terem se visto mais. Baseado na obra de Susan Minot e desenvolvido para o cinema pelo roteirista Michael Cunningham, é uma grata revelação contextualizada numa grande história com um belo roteiro e o mais fundamental, um passeio pelos impulsos das paixões, que sempre nos obriga a conviver com nossas escolhas. Apaixonante em todos os sentidos. Desde a locação magnífica, a trilha sonora, até a escolha do elenco, a espinha dorsal da trama. Além da extraordinária Redgrave e a promissora Danes, as presenças de Toni Collette, Glenn Close e a fabulosa Meryl Streep, engrandecem o filme de uma maneira jamais vista no cinema. No entanto nem só de grandes interpretações femininas se faz Ao entardecer. O jovem Dancy também marca uma forte presença em cena. A complexidade dos personagens exigia um elenco grandioso e sensível, pois se trata de uma obra tal qual que toca no mais íntimo dos sentimentos. Aqueles mais adormecidos que de vez ou outra acordam num entardecer de nossa existência.

“Nós somos criaturas misteriosas, não somos? E no final tanta coisa acaba não tendo importância.”
O AMOR É VIDA

PRA SE APAIXONAR: Ann e Harris saem para um passeio noturno quando o rapaz lhe mostra uma estrela a qual batizou ser “madrinha” de sua paixão. Ali, com ela como testemunha, selam o primeiro beijo.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

E aí, comeu?


Idem, 2012. Dirigido por José Joffily. Com Marcos Palmeira, Bruno Mazzeo, Emilio Orciolo Neto, Dira Paes, Tainá Muller, Murilo Benício, Laura Neiva, Juliana Schalch e Seu Jorge. Comédia.
Nota: 7.5

Os filmes do gênero comédia feitos no Brasil estão sendo tomados por produções de humoristas “modernos”, aqueles que ganham a vida em programas de TV e com a cara limpa enfrentam o público em shows stand-up. Porém em sua transposição para as telonas, a fórmula acaba não funcionando, e a linguagem cinematográfica acaba deixada em segundo plano, e o formato “TV Globo”, acaba se tornando o humor pueril, chulo e repetitivo. Entretanto em E aí... comeu?, algumas coisas estão melhores, uma pena que não consiga se libertar totalmente de certos estigmas.

A história gira em torno de três amigos, Afonsinho (Emilio Orciolo Neto), Fernando (Bruno Mazzeo) e Honório (Marcos Palmeira), cada um às voltas com um problema diferente, se encontram diariamente em um bar para beber, falar da vida e, principalmente, de sexo. Os três procuram nas teorias levantadas na mesa uma forma de resolver seus impasses com as mulheres e tentar entender o que e como elas pensam. E contando ainda com os depoimentos do simpático garçom Seu Jorge.

O roteiro de Marcelo Rubens Paiva, adaptado de sua peça homônima, escancara o momento atual da sociedade, onde as mulheres não são mais as mesmas de tempos em que eram submissas. Além disso, mostra o comportamento masculino na posição de “sexo frágil”, descrevendo com veracidade os sofrimentos e frustrações que estão propensos. Paiva não poupa palavrões, que na proposta do longa não se torna algo inconveniente, pois todo mundo sabe que em um grupo de amigos (de ambos sexos) os termos utilizados para certas discussões são de um nível baixíssimo.

O filme flui, e as frases, descrições e insinuações feitas pelos amigos não são constrangedoras, algo comum neste tipo de comédia. Será fácil homens rirem ao se colocar no lugar de algum dos amigos, e também as mulheres, por perceber que o sexo oposto não é tão bonachão como seus papos propõe. Mas, o que vai dando certo começa a se enfraquecer quando o trabalho do diretor é exigido.

José Joffily não consegue transmitir a mesma riqueza da obra de Paiva, esquecendo-se de evitar que certas partes da trama ficassem com um tom teatral. Sequências, como os tutoriais estrelados por Neto e Palmeira, destoam do ritmo do filme. Além disso, o trecho final acaba caindo na sina novelística da cinematografia produzida pela TV Globo, muito careta e surreal para a pegada moderna em que começou.

Bruno Mazzeo consegue seu melhor papel até momento, seu personagem transita entre vontade de superar a separação e a paranóia de encarar a realidade. Palmeira e Orciolo Neto também dão naturalidade ao comportamento dos machões.

E aí... comeu? não é uma grande maravilha da comédia nacional, mas pelo menos aponta para uma luz em meio a tanta bobagem que surge todos os anos, e que todos insistem em dizer que é humor. E no fim de tudo é uma obra anti-machista, uma homenagem a liberdade feminina, e seu direito de fazer suas próprias escolhas, e também os homens sofrerem.


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Confiar (2011)


Trust, 2011. Dirigido por David Schwimmer. Com Clive Owen, Catherine Kenner, Lieana Liberato e Chris Henry Coffey.
Nota: 8.4 

É uma grande surpresa quando acompanhamos os créditos finais de Confiar e descobrimos que o diretor David Schwimmer é o mesmo que brilhou como o “Ross”, na cultuada série de TV Friends. Pois se trata de um filme intimista e analítico, que causa certa repulsa a aqueles de mente menos adeptas as realidades do mundo atual. Um conteúdo totalmente antônimo à atmosfera cômica do siticom do qual fazia parte, e muito mais cinema que a comédia irregular Maratona do Amor (2007), em que debutou como diretor.

Nessa nova empreitada de Schwimmer, o roteiro de Andy Bellin e Robert Festinger, mostra a devastação causada por uma situação que ocorre cada vez mais nos dias atuais, a pedofilia. Ao fazer quatorze anos, Annie (Liana Liberato) ganha um computar de seu pai Will (Clive Owen), e com ele passa a ficar cada vez mais intima de Charlie (Chris Henry Coffey), seu namorado virtual que conheceu em um chat. Mas quando a adolescente tem contato com ele e é abusada sexualmente, uma série de provações terão de ser enfrentadas por ela e sua família.

O interessante do filme é que ele não vem com a proposta de ser uma espécie de novela, caracterizando vilões e mocinhos. A ação está centrada na consequência intima de cada um dos personagens, principalmente da jovem e do pai. Há uma grande preocupação do diretor em transmitir a expressão, a dor silenciosa que corrói o transtornado Will, e a incerteza e a culpa que povoa a mente de Annie, por isso a demasiada quantidade de primeiros planos e closes. A fotografia de Andrzej Sekula torna a aura tenebrosa mais sufocante, tornando o cenário ainda mais dolorido.

A confiança é realmente a grande questão implícita no longa. No mundo atual não há uma linha delimitadora do certo ou errado e os jovens ficam a mercê de um mundo do qual seus pais tem cada vez menos controle de tudo que os rodeiam. É nesta questão que entra o desespero de Will, quando percebe que não foi cuidadoso o suficiente, e que confiar não é simplesmente dar uma liberdade total a um filho, e sim educá-los para descobrirem por si mesmos o limite do certo e errado.

Além da inovadora inclusão dos posts trocados por Annie e Charlie na tela, para que o expectador consiga acompanhar a vida real e a virtual da menina ao mesmo tempo, outro acerto do diretor foi de não se apegar ao que aconteceria com o pedófilo. Não houve uma necessidade de incluir uma punição, assim como ocorreu em Um Olhar do Paraíso (2009), onde a situação fazia parte de todo o aprendizado que se submeteu a personagem central. No caso de Confiar, a morte ou prisão do vilão tiraria o tom realista (mesmo que cruel) do filme.

A jovem Liana Liberato da uma verdadeira aula de interpretação. Ao lado de um Clive Owen esforçado, desaparecido desde Closer (2005), tornam ainda mais verdadeiras as situações enfrentadas pela família. Um filme pesado sem ser agressivo e um estudo de comportamento excelente que irá agradar os genuínos amantes de um bom drama.  É também um sinal verde para Schwimmer continuar investindo na carreira atrás das câmeras.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Filme mais esperado do ano


O Cineposforrest começa agora a desvendar os anseios dos leitores e vai descobrir quais filmes os cinéfilos estão ansiosos para assistir. Veja a lista de três mais aguardados na categoria blockbuster e vote na enquete ao lado em seu favorito:

O Hobbit - Uma jornada inesperada (Estréia 14/12)
Depois de passar pelas mãos de Guilhermo Del Toro, a condução do longa voltou a Peter Jackson, que marcou época com a grandiosa e espetacular trilogia O Senhor dos Anéis (01, 02 e 03). Com um público superior a 2 bilhões, e com 17 Oscar recebido de 30 indicações, a saga deixou os fãs com um gostinho de quero mais. Então, a aventura de Bilbo Bolseiro (Martin Freeman), alguns anos antes de seu sobrinho Frodo assumir o fardo de carregar o Um Anel para a destruição, será transportada para a telona, com direito a Gandalf (Ian McKellen), Legolas (Orlando Bloom) e o asqueroso e irresistível Gollum (Andy Serkins). Vale a pena conferir, já que O Senhor dos Anéis não existiria sem O Hobbit.


Batman - O Cavaleiro das trevas ressurge (Estréia 27/07)

Christopher Nolan estarreceu o público e entregou ao cinema o melhor filme de super-herói de que se tem notícia na segunda parte da trilogia O Cavaleiro das treva (08). O longa foi elogiadíssimo principalmente por Nolan conceber a ação de qualidade inquestionável, sem deixar de lado os mecanismos que fazem parte de qualquer cartilha de bom cineasta, como a fotografia e direção de arte excelentes. Também deu ao Homem-morcego a humanidade que faltou aos outros, já que o herói não possui nenhum poder extraordinário, logo é vulnerável como qualquer um, apesar de suas parafernálias. Esta conclusão épica traz Batman (Christian Bale) enfrentando uma rebelião que impõe o caos em Gothan, liderada pelo malvado Bane (Tom Hardy). Apesar de não contar mais com o doentio Coringa (papel assombroso que rendeu um Oscar póstumo a Heath Ledger), novos personagens, como a Mulher-Gato (Anne Hathaway) tornarão a trama ainda mais interessante.

007 - Operação Skyfall (Estréia 09/11)
         

Em sua vigésima terceira incursão pelas telonas, o agente 007, James Bond (Daniel Craig), terá de de rastrear e destruir a ameça que pode destruir o MI6. Além disso terá de provar sua lealdade a chefona M (Judi Dench), que terá monstros de seu passado revelados. O filme é dirigido por Sam Mendes, de Beleza Americana (99), e tem sua estréia aguardada com ansiedade pelos fãs devido às boas críticas recebidas de Quantun of Solace (09). Sua produção esteve ameaçada devido aos problemas financeiros da MGM, mas foi retomada depois que o estúdio "ressucitou" em fevereiro de 2011. Também estão no elenco Javier Bardem, Ralph Fiennes, e a novo Bond Girl Berenice Marlohe.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Oito e Meio (1963)

Otto e Mezzo, 1963. Dirigido por Federico Fellini. Com Marcello Mastroianni, Claudia Cardinale, Anouk Aimée, Sandra Milo, Rossella Falk, Barbra Steele, Mario Pisu, Guido Alberti, Madeleine Lebeau e Tito Masini. 
Nota: 10

O que faz de um mestre diferente de um bom diretor é sua capacidade de fazer uma obra incomparável e inadaptável, ficando assim única para a posterioridade cinematográfica. E não são muitos exemplares, mas com certeza um deles é Federico Fellini. E seu Oito e Meio provou que sua perícia atingia ali seu ápice, transportando para a película a psicodelia de uma mente perturbada, confusa e paranoica. Uma verdadeira aula de cinema metalinguístico em todos seus fundamentos. 

 O filme narra o processo de afasia criativa do diretor Guido Anselmi (Marcello Mastroianni), que depois de um grande sucesso, é pressionado por atores e produtores a revelar os elementos do roteiro de seu novo filme, que ainda nem existe. Sua crise desencadeia uma sucessão lembranças de momentos relevantes de sua vida e das mulheres que fizeram parte dela e que nunca conseguiu dar a importância devida. Fellini não tem uma lógica narrativa convencional, e faz-se valer de sua capacidade de transmitir intimismo para conseguir associar Guido com os personagens ao seu redor, tudo dentro de seus devaneios. Atribui às mulheres da vida do protagonista os elementos que compõe sua psique artística, alegoricamente (e brilhantemente) mostrada na sequência em que, com um chicote, tenta domá-las, depois de uma rebelião mental. 

 O diretor soube transformar seus próprios demônios em uma obra fascinante. Sim, Guido é Fellini, em um processo de autocrítica e transformação artística. Escalou seu principal colaborador (Mastroianni) e tirou de sua própria viajem um enredo singular e jogou em uma película. Poderia ter dirigido sem mesmo criar um roteiro convencional em um papel. Tudo o que se passa no filme nada mais é que uma metalinguagem dentro de outra, algo surreal, complexo, às vezes sombrio, outras divertidas e rítmicas em toda excelência da trilha de Nino Rota. 

Será sempre reverenciado pela forma como rejuvenesceu a arte cinematográfica europeia, trazendo-a as portas de uma modernidade irreversível, sem perder de vista seu papel como pura arte. Obra-prima que, como dito, se torna única e inadaptável, fato que levou ao fracasso a tentativa de ser concebido por um musical em Nine (2009). Pois se trata de algo que só existe na cabeça de mestres, e como Fellini infelizmente se foi, ninguém mais o pode refazer.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Melhor filme brasileiro - Resultado da enquete

Depois de um mês querendo saber a opinião dos leitores do blog sobre qual é era o melhor filme da história do nosso cinema, o resultado apontou Cidade de Deus de Fernando Meirelles como o melhor. Após ficou o clássico do Cinema Novo Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. Quem surpreendeu foi Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro, de José Padilha, que deixou o super premiado Central do Brasil de Walter Salles em quarto lugar. Agradeço a quem participou e aguardem a próxima enquete.Veja a lista completa:

1º lugar
 Cidade de Deus - 37 % dos votos

2 º lugar
Deus e o Diabo na Terra do Sol - 20 % dos votos

3º lugar 
Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro - 16 % dos votos

4º lugar
Central do Brasil - 12 % dos votos


5 º lugar
O Pagador de Promessas - 5 % dos votos

6º lugar
Pixote - A Lei do Mais Fraco - 2% dos votos

7º lugar
Abril Despedaçado - 2 % dos votos

8º lugar 
Terra em Transe - 2 % dos votos

9º lugar
Lavoura Arcaica - 1% dos votos

10º lugar
Dona Flor e seus Dois Maridos - 1% dos votos


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Prometheus (2012)

Prometheus, 2012. Dirigido por Ridley Scott. Com Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, Logan Marshall-Green e Idris Elba.

Nota: 7.8

Uma das mais sombrias e fascinantes sagas da história cinematográfica tem um reinício. Prometheus, dirigido por Ridley Scott, que conduziu o pioneiro Alien – O oitavo passageiro em 1979, busca no grande mistério que atiça o imaginário da humanidade, a origem da vida, a fórmula para dar início a uma nova e grandiosa aventura. É uma oportunidade de o público conhecer a origem da ficção que marcou toda uma geração.

Em 2089, os cientistas Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) descobrem em uma caverna em uma ilha na Escócia, gravuras feitas por uma sociedade antiga. Dois anos depois, a trilhões de quilômetros da Terra, eles se juntam à tripulação da nave Prometheus, chefiada pela empresária Meredith Vickers (Charlize Theron) e composta também por outros cientistas, além do andróide David (Michael Fassbender), para tentar confirmar se as informações que decifraram nas pinturas os levariam mesmo aos criadores da vida em nosso planeta.

A premissa do filme encanta até que não é fã de ficção científica e não assistiu nenhum dos exemplares da franquia Alien. Os roteiristas Jon Spaihts e Damon Lindelof partiram de uma única passagem do primeiro longa, quando Ripley (Sigourney Weaver) e seus companheiros encontram o “jóquei espacial”(um grandalhão com exoesqueleto ossudo), e então criam toda uma mística de um dos nós não desfeitos da saga: quem era ele? Além disso, temperam  o texto com uma discussão em torno de crença e da fragilidade do ser humano perante algo que não consegue compreender.

Ridley Scott não tinha muito que mudar na composição fílmica em relação a outras obras do gênero, então investiu no teor sombrio que diferenciaram seus filmes de outros. A direção de arte se mantém fiel ao primeiro, e aposta em efeitos visuais modestos, que entram em ação mesmo com as criaturas bizarras e a parafernália futurista. Porém, um dos obeliscos de seu trabalho está na fotografia de Dariusz Wolski, formidável.

Entretanto, o longa não chega a ser empolgante como O oitavo passageiro conseguiu ser. A falta de respostas às diversas interrogações que vão brotando ao longo do filme e o ritmo lento em que a trama se desenvolve minam o interesse do público. Sim, talvez seja um refém da responsabilidade de abrir uma provável trilogia, mas ainda assim peca ao incluir pouca ação, um dos itens indispensáveis ao gênero.

Michael Fassbender prova que sua boa fase ainda se mantém, e dá vida (ou funcionamento, já que não é humano) ao andróide David de forma perfeita, como tem de ser uma inteligência artificial. Noomi Rapace é a mais nova camaleoa do momento e compõe um personagem que deixa transparecer sua humanidade nos momentos de dor e no apego que tem com a fé. Dos principais, só Charlize Theron poderia ter dado um pouco mais, mesmo assim fica na média.

O que fica claro é que se trata de uma introdução a uma nova busca, que ainda não sabemos bem o que é, e que os roteiristas terão de quebrar a cabeça para criar. Mas Prometheus ficou abaixo do que se esperava dele. Mas pelo modo de como começa e termina, merece ser poupado de críticas pesadas até sua provável continuação. Este sim poderá definir se o longa foi sacrificado por servir de trampolim, ou que não passou mesmo de uma tentativa frustrada de Ridley Scott em reviver o tempo em que se tornou um messias da ficção científica.


Casablanca (1942)

Casablanca, 1942. Dirigido por Michael Curtiz. Com Humphrey Bogart, Ingrid Bergman e Paul Henreid

Nota: 10


Setenta anos após sua primeira exibição, o histórico filme de Bogart e Bergman ainda se mantém jovem na memória e no coração dos apaixonados do mundo todo

Um velhinho que todos amamos. Carismático, culto, nobre, apaixonante, inesquecível. Ele é capaz de nos contar grandes histórias ao mesmo tempo em que embala nossos sonhos e nos faz respirar um tempo de felicidade e nostalgia. Ele poderia ser meu, seu, nosso avô. E talvez seja, afinal, marcou a minha, a sua, a nossa interminável história de amor com o cinema do mais alto nível como parte de nossa bela família.

Casablanca é o nome da cidade marroquina que servia como rota de fuga para os refugiados durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos a buscavam como ponte em direção a uma nova vida na emergente América. O comércio era movimentado por apostas, jogatinas, fraudes e muito suborno. No meio desta infindável teia de intrigas se encontra o cínico Rick Blaine (Humphrey Bogart, primoroso), dono de um bar, que funcionava clandestinamente como cassino. Embora quisesse se manter neutro nas questões políticas que rondavam incessantemente seu estabelecimento, Rick não conseguia controlar seu coração sentimental e sempre acabava se envolvendo de um jeito ou de outro com os problemas dos menos favorecidos. Seu passado como combatente a frente das linhas da resistência durante a Guerra era tão difícil de ser esquecido quanto à paixão avassaladora pela bela Ilsa Lund (Ingrid Bergman, fabulosa). Aliás, é neste romance que se centra toda a magia e o charme do filme histórico de Michael Curtiz.

A paixão mais avassaladora do cinema teve raízes na Paris proeminente da invasão alemã. Em sequências de flashback, vimos como Ilsa, desiludida pelo fato do marido ser dado como morto nos campos de concentração alemães, se refugiou nos braços do charmoso Rick e juntos, viveram dias de intensa harmonia romântica. Até que o avanço das tropas alemãs pela cidade luz interrompeu o seu felizes para sempre, obrigando-os a uma evasão da bela cidade. Porém, em mais uma sequencia, vimos um Rick encharcado na estação de trem de posse apenas de um bilhete de despedida escrito por Ilsa. Lá se fora Paris. Amargurado, o boêmio parte para o Marrocos, onde investe no Rick’s CaféAmerican, o lugar mais frequentado da cidade. É justamente ali que a paixão se reacende novamente quando Ilsa desembarca na cidade com seu marido Victor Laszlo (Paul Henreid), o mais famoso líder dos movimentos da resistência europeia. O casal militante adentra o bar e um encontro inevitável com o passado deixa Rick inconformado - “De todos os botecos, de todas as cidades, do mundo todo, ela entra no meu.” É o destino. O mesmo destino que fez do cínico um herói altruísta. Ilsa e seu marido Laszlo se tornam alvos dos alemães na cidade, e dependem da providencial ajuda de Rick para escapar de um destino trágico. O herói nada convencional é obrigado a decidir o que é mais importante neste cenário: terminar o que começou com sua amada Ilsa ou abrir mão de seus sonhos em prol de uma causa muito maior.

Partindo deste vértice, se desenrola um fabuloso triângulo amoroso, e um dos melhores e mais aguardados desfechos de todos os tempos. Tanto que a razão do roteiro ter sido escrito de forma gradativa foi para que os atores não soubessem com antecedência o final de seus respectivos personagens. Esta indefinição só ajudou no impacto formidável que teve a cena. No aeroporto, o trio se despede com Ilsa partindo ao lado de seu marido com todo o apoio e consentimento de Rick. Desta vez nada de dor e ressentimento, apenas a certeza de um final feliz para sua história e o propósito de uma luta que já foi sua, assim como Ilsa.

Tido como maior mito romântico Hollywoodiano de todos os tempos, e vencedor do Oscar de melhor filme, direção e roteiro, Casablanca é muito mais que uma história de amor e todos os seus nuances. É um filme realizado sob proporções gigantescas desde a construção dos cenários, os efeitos visuais (formidáveis para a época), as interpretações de um elenco afinado e a inserção de sonho numa época em que uma cruel realidade invadia a história. Afinal, fazer um filme de Guerra na época da própria não deixa de ser uma marca ousada premiada pelo sucesso estarrecedor de uma obra de elementos antigos ao mesmo tempo tão jovial por seu conteúdo histórico e artístico.

O filme que adjetivou as carreiras do sisudo Humphrey Bogart como o herói cínico e charmoso e a bela Ingrid Bergman como modelo de elegância e presença contundente dentro e fora das telas, continua sendo, mesmo com o passar dos tempos, uma obra-prima obrigatória para todos os apaixonados ontem e hoje por justamente focar num tempo onde só mesmo o amor para vencer todas as barreiras. E foram muitas para Casablanca. O que fez desse desafio algo ainda mais fabuloso. Não tem como não gostar de cinema se não gostar de Casablanca e por todo clima que ele envolve. Apesar de seus 70 anos, ele ilumina a tela com romance, intriga, suspense, ação homogeneizados num roteiro impecável. Um velhinho que sabe como poucos contar uma grande história. Que deixa em nossos corações a certeza de que sempre teremos o amor pelo cinema, o charme de Rick e Ilsa, e a destreza do velho Sam ao tocar As time goes by. A certeza de que estes sentimentos nunca ficam estagnados numa estação. A certeza de que sempre teremos Casablanca.  

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Missão Impossível 4: Protocolo Fantasma (2011)



Mission: Impossible - Ghost Protocol, 2011. Dirigido por Brad Bird. Com Tom Cruise, Paula Patton, Jeremy Renner, Simon Pegg, Michael Nyqvist e Jonathan Rhys Meyers.
Nota: 8.7

Com uma receita já conhecida pelo público, Missão Impossível 4: Protocolo Fantasma tinha tudo para ser mais uma baboseira cheia de cenas de ação surreais, conduzidas pela trilha musical já imortalizada. Entretanto, sob a batuta do especialista em dirigir animações, Brad Bird, o filme se revigora e ganha um toque de humor agradável, que misturado aos clichês básicos do cinema hollywoodiano, fazem Tom Cruise escalar de voltar ao topo da lista dos astros do gênero de ação.

O filme se desenvolve em torno de uma ameaça de hecatombe nuclear alardeada por um extremista conhecido como Cobalto (Michael Nykvist). Para impedi-lo, o agente Ethan Hunt (Tom Cruise) é resgatado em uma prisão russa e mandado ao Kremlin para roubar os códigos de ativação dos mísseis antes do vilão. Mas a missão fracassa, e o governo americano promulga o Protocolo Fantasma, fazendo com que o Estado não reconhecesse nenhuma atividade de seus agentes. Resta então a Hunt, juntamente com sua equipe, Dunn (Simon Pegg), Jane (Paula Patton) e Brandt (Jeremy Renner), agirem por conta própria e percorrer meio mundo para impedir a catástrofe.

Logo de cara é possível perceber qual será a tônica do longa, cenas de impacto com um ar diferenciado na forma de conduzir as ações. O diretor consegue dar vida a um roteiro obsoleto, tendo em vista que ante ao cenário político-econômico atual, esta tensão nuclear entre E.U.A e Rússia é assunto ultrapassado. Sendo assim, seu propósito é levar o público ao êxtase com sequências vertiginosas, entremeadas por esquetes de humor conduzidas, principalmente, pelo humorista Simon Pegg. Nesse espírito, ação e comédia, o filme é quase uma adaptação para a "realidade" de Os Incríveis, do próprio Bird.

O diferencial deste MI4 faz dele o melhor depois do visceral dirigido por Brian DePalma em 1996. Já que o segundo filme, de John Woo, extrapolou nas explosões e nos embates a lá Power Rangers, e o terceiro, de J. J. Abrams, há uma tentativa estúpida de dar um ar dramático ao frenesi constante, o que não combina.

Tom Cruise está em estado de graça. É com certeza o personagem que mais gosta de interpretar, tanto que entrou no clima e gravou a vertiginosa seqüência no Burj Khalifa (Maior arranha-céu do mundo) sem dublês, suspenso por um emaranhado de cabos de aço. Dedicação ou loucura? Para ele ultimamente as duas sentenças são uma só. Como já dito, Simon Pegg é um dos responsáveis pelo sucesso do filme, já que suas caras, bocas e tiradas evitam que o filme caia em textos prolixos. Outra grande sacada foi escalar Jeremy Renner, que é um dos mais talentosos atores do momento, pois demonstra uma versatilidade enorme por saber fazer bem uma ponte entre a seriedade e a trapalhada. Já Paula Patton não entrou no clima. Não conseguiu convencer ninguém como agente durona, muito menos como femme fatale.

Por fim acaba que o saldo é positivo, principalmente para Brad Bird, que, com méritos, terá mais oportunidades de desenvolver seu trabalho fora do mundo das animações, e Tom Cruise, de volta ao cume da montanha de egos de Hollywood. Apesar de não conseguir ser tão bem engendrado quanto O Ultimato Bourne e nem mais interessante que Atração Perigosa, o filme cumpre sua meta proposta pelo diretor: o entretenimento.


quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Jardim dos Finzi-Contini (1970)



Il Giardino dei Finzi-Contini, 1970. Dirigido por Vitorio De Sica. Com Uno Capolicchio, Dominique Sanda, Fabio Testi, Romolo Valli, Helmut Berger e Camillo Cesarei.
Nota: 9.3

Vitorio De Sica concebeu sua grande obra-prima em 1948, Ladrões de Bicicletas. Ficou por anos à sombra de sua fama por ter sido um dos principais nomes do grande movimento cinematográfico do qual seu filme foi ícone, o Neo-realismo Italiano. Depois disso, só foi notado mesmo por Umberto D (1952), e daí para um ostracismo criativo que durou quase duas décadas.

Quando já davam sua carreira fadada apenas aos livros de história do cinema, encontrou no roteiro de Vitorio Bonicelli baseado no livro de Giorgio Bassani, um verdadeiro presente para fazer o que sabia de melhor: transportar para as telonas a realidade crua, às vezes cruel, de momentos mais obscuros da história italiana, e mundial. Retratou, sob o ponto de vista de um grupo de jovens amigos, o terror do irreversível avanço da 2ª Guerra Mundial sob a Europa.

Com brilhantismo característico, De Sica não desperdiçou sequer uma sequência, mesclando os problemas amorosos e sociais do grupo de amigos ao cheiro de guerra que ronda a pequena cidade. O mais interessante é que o diretor não faz um filme sobre a guerra, ou a temeridade das pessoas em relação a ela, e sim a tem apenas como um pano de fundo que circunda o ensolarado jardim da burguesia, e só cai quando todas as ações se condensam, e o todo passa a ser apenas um.

A fotografia sombria deixa claro que algo está por vir, e o modo em que as cenas são colocadas sufocam o espectador a ponto de se tornarem passageiros dos conflitos primários, também muito interessantes. Sendo assim, no fim todos acabam sofrendo um baque com o desfecho sem flores, herança de seus áureos tempos de neo-realismo. Com isso provou que a guerra não poupou ninguém, fossem ricos ou pobres. Depois que os créditos sobem, o público vem a si e se lembra de que De Sica é assim mesmo, verdadeiro e brilhante, e que um mestre não perde a categoria.