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quinta-feira, 21 de março de 2013

Histórias Cruzadas (2011)

The Help, 2011. 
Direção: Tate Taylor. Com Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer,Jessica Chastain, Bryce Dallas Howard e Sissy Spacek.
Nota: 8.5

Ser mulher num mundo povoado de preceitos infundados muitas das vezes nos cala perante situações inócuas recheadas de inadequações aos princípios de humanidade. Uma mulher que nasce com a coragem suficiente para se fazer ouvir e, mais especialmente, se entender neste mundo, em qualquer época que seja, merece ser lembrada com carinho e admiração através dos tempos. Mulheres que ousaram desafiar os padrões impostos pela sociedade maniqueísta a qual deveriam silenciosamente pertencer. São as chamadas mulheres a frente de seu tempo. Ou seja, aquelas que nasceram na hora certa e no tempo errado. 

No filme roteirizado e dirigido por Tate Taylor, baseado em "A resposta" obra de Kathryn Stockett, a jovem jornalista Skeeter Phelan (Emma Stone) foi a mão que conduziu um grupo de empregadas negras do estado do Mississípi a desafiar os limites comportamentais da época. Domésticas que ousaram contar em alto e bom som suas histórias de vida proletarizada bem como as nuances de manifestação racista de seus respectivos empregadores. Com coragem, a jovem Skeeter foge deste padrão, sendo tachada de “diferente” por todos e até mesmo por sua mãe (Allyson Jenney), que chega a sugerir um “remédio especial para tratar seus problemas”.

Skeeter era realmente especial. Uma mulher que via o casamento como opção, não solução. Seu amor estava voltado para a universalidade que desmontava os preconceitos absurdos contra empregadas negras do Estado de Mississípi regido por uma segregação racial quase imutável naquele American Dreams dos anos 60. A era da hipocrisia velada e da aparência exacerbada que muito de vez em quando levava ao suicídio diante de tamanha pressão em querer manter esta aparência. A jovem como tantas outras daquela época, enxergava em sua babá negra um espelho para sua vida. Ou seja, nela encontrava o amor que não via em sua própria mãe. Impulsionada por este amor maternal, a jornalista decide se unir às corajosas Aibileen (Viola Davis, fabulosa) e Minny (Octavia Spencer, perfeita) e imortalizar suas histórias através de um livro. Nele, ambas puderam fazer o que legalmente era impossível naquela época. Ter voz e vez.

Aibileen e Minny são protagonistas de um grupo chamado de "help" (babás que substituíam integralmente o papel das mães naquele tempo intolerante). Mesmo assumindo esta responsabilidade sagrada da maternidade, ambas sabiam que sua condição inferior era o passaporte para um possível descarte individual de cada uma. A fortuita ajuda de Skeeter as ajudam se manter e se imortalizarem através das páginas como exemplos edificantes de formação moral e acadêmica. Apesar de serem dotadas de personalidades diferentes, Aibileen e Minny conseguem extrair muita coisa proveitosa desta troca de experiências com a ousada jornalista, desmantelando o núcleo soberbo e frágil das damas da sociedade como a mimada Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard), cuja parceria com a vencedora do Oscar - Octávia Spencer - rende um momento de diferentes interpretações no filme. Alguns acham de péssimo gosto, outros uma vingança genial e muito bem orquestrada. Mas não se pode negar que a atuação e a teia de situações que Tate encaixa seu elenco passa de tudo, menos indiferença. 

Este certamente é o maior mérito de Histórias cruzadas. Através de suas personagens magistralmente interpretadas por um grande elenco, ele unifica modelos heterogêneos de mulher em suas relações, seus dramas e histórias. O poder deste elenco eleva o filme a um status em que a história relevante parece um ornamento. Octavia puxa a fila numa atuação concisa e inesquecível. Davis, que poderia indiscutivelmente ser contemplada com a estatueta está impecável como uma empregada oprimida, isenta da pieguice que este tipo de drama irradia. Pra completar, a bela Dallas Howard dá segurança, Sissy Spacek marca seu território e Jessica Chastain, que como coadjuvante  arrancou merecidamente uma indicação ao Oscar também. A ingenuidade quase infantil de sua personagem injustiçada emociona demais. 

A questão racial molda o filme, mas o que também ajuda a conduzir com precisão sua arte cinematográfica é o excelente roteiro, os belíssimos figurinos e cenas que mesclam as mais variadas sensações. Todos os elementos são usados com cuidado, não deixando escambar para um possível marasmo. Uma obra imperdível em todos os campos. Uma ajuda que se faz para quem ainda, em pleno século XXI, não consegue ter uma voz e uma vez.




"Às vezes você vê como a humanidade pode passar por cima de qualquer tipo de males culturais. A capacidade de uma pessoa amar e perdoar pode ser maior do que qualquer outra coisa."
Viola Davis

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