Killer Joe, 2012. Dirigido por Willian Friedkin. Com Matthew
McConaughey, Emile Hirsch, Thomas Haden Church, Juno Temple e Gina Gershon.
Nota: 7.8
Todo mundo achava que Willian
Friedkin seria um dos grandes diretores americanos depois de vencer o Oscar
pelo arrebatador Operação França (71),
que também ficou com o prêmio de melhor filme, e estarrecer o mundo com o
brilhante O Exorcista (73),
considerado por muitos como o melhor filme de terror da história. Entretanto,
como uma maldição, sua carreira não decolou, e passou a dirigir trabalhos
menores sem relevância, principalmente pela arrogância que se tornou marca.
Agora, com Killer Joe – O Matador de Aluguel, faz um filme duro, surpreendente
e com cenas inesquecíveis, que talvez marquem sua volta ao cenário
hollywoodiano.
A trama começa com Chris (Emily
Hirsch) que é um traficante e tem seu estoque roubado pela mãe, o que faz com
que fique em dívida com a máfia e ameaçado de morte. Para conseguir os 6 mil
dólares que evitariam seu assassinato, ele contrata Killer Joe (Matthew
McConaughey, ótimo) para matar sua mãe, que tem um seguro de vida no valor de
50 mil dólares. Só que para garantia, Joe pede a virgindade da jovem Dottie
(Juno Temple, excelente), e mesmo contrariado, Chris aceita a condição.
Entretanto, quando as coisas começam a sair erradas, o assassino começa a ficar
cada vez mais impiedoso.
Como se tornou praxe nos filmes
de Friedkin, em especial os do começo da carreira, Killer Joe – O Matador de
Aluguel apresenta uma brutalidade e um humor negro que deixam a violência atraente aos olhos do
público. Claro, que para estômagos menos acostumados à crueza do cinema atual
de Tarantino e Irmãos Coen, por exemplo, não agüenta nem dez minutos da
película de Friedkin. Não há mocinhos e nem vilões daqueles destacáveis, apenas
personagens com interesses em um meio termo maniqueísta, e mesmo no meio de
tanta sujeira, tem lá seu caráter.
O ponto de discrepância de Chris
e Joe está no comportamento. O primeiro é um traficante que planeja matar a
mãe, que parece não ser flor que se cheire, mas, porém, não aceita o fato de
que sua irmã de 12 anos seja molestada. Nesta relação meio incestual, meio
paterna, o público cria afeição pelo jovem. Entretanto, a figura do matador,
que a primeira vista é repulsiva, ganha cada vez mais admiração do espectador
depois que dá uma lição na família de Chris. É um turbilhão de fatos ambíguos,
que passa a impressão que ninguém é totalmente bom ou ruim.
A mão de Friedkin, que de tão
pesada no início de sua carreira, afastou muitos atores de seus projetos devido
à forma excêntrica e perfeccionista com que dirigia, parece ter voltado com
tudo. As cenas transitam pelos gêneros, ora o policial, com referências e
modismos do neo-noir da década de 70,
de seu Operação França, ora se mostra
como as comédias de humor pesado, estas com violência em cenas impensáveis. Na
mais marcante delas, há uma coxa de frango e muita sodomia e sangue. Claro, que
muitos até podem considerar esta como sendo de horror a lá O Exorcista.
Matthew McConaughey parece cada
vez melhor, e depois de ter encarado um streeper em Magic Mike, o britânico mostra uma constrói uma assombrosa figura,
que além de assassino é pedófilo, sem ser exagerado ou hiperbólico. Além do
mais, seu carisma das comédias românticas não deixa o público odiar
completamente o matador. Outro destaque do longa é Juno Temple, que soube
encarnar a ninfeta apaixonada, mas que também conservava seu lado desprezível
como todos ao seu redor. Uma grande revelação.
Uma bela surpresa do cinema
americano e uma possível volta de Willian Friedkin ao cenário de relevância.
Despretensioso, sagaz e hipnótico,
mostra que um filme pode ser bom, mesmo não gastando fortunas e sem ter a presença
de um astro de primeira grandeza. É para poucos, mas não dispensável.
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