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quarta-feira, 6 de março de 2013

Piaf - Um hino ao amor (2007)


La Môme , 2007
Direção: Olivier Dahan. Com: Marion Cotillard, Gérard Depardieu e Emmanuelle Seigner. 
Nota: 10


Poucos filmes biográficos tiveram um casamento tão perfeito com a mais pura arte quanto  o que retrata a infância de descaso, a vida ofegante e a obra fabulosa de uma das maiores estrelas da música de todos os tempos. Piaf – Um hino ao amor é um filme tão apaixonante quanto sua protagonista que escreveu seu nome com talento e sobretudo autenticidade na história. 

Edith Piaf (Marion Cotillard, assombrosa) já nasceu com a vocação para o espetáculo. Porém, esta vocação teve de ser lapidada por personagens que mais somaram à sua existência do que qualquer tipo de contradição em que a mesma caía constantemente. Desde criança, a pequena Edith aprendeu que amigos são o ponto alto de qualquer acorde que a vida possa extrair. Criada numa trupe circense ao lado do pai, sempre agia com sensibilidade para com todos e por deveras era tomada por menina sonhadora e irracional. A ausência da mãe que tentou ganhar a vida através da música, somada à falta de afeto do elo patriarcal a levou compartilhar toda esta sensibilidade por outros cantos. Foi num bordel dos arredores da cidade que foi criada por uma tia cafetina de seu pai. Lá que Edith cresceu, conheceu o carinho de uma mãe pelas mãos da sonhadora Titine (Emmanuelle Seigner), passou por problemas normais de infância/pré-adolescência e anormais (uma queratite). Mais tarde, seu pai desistiu da vida sob as lonas e resolveu sair pelas ruas, no intuito de com a rebenta ganhar o pão de cada dia. A vidinha da família de apenas dois membros seguia até seu curso desolador até que uma apresentação da pequena cantando o belíssimo Hino francês atraiu uma multidão, pagando naquele único dia o pão de toda semana. 

A luta da revolta armada francesa decantada por Piaf criou o suporte musical necessário para a menina brilhar. Mas antes, ela teve de se livrar da influência fria do pai, que tinha para com a filha apenas um meio de vida e nenhum tipo de afeição. A família de Piaf era formada pela amizade incondicional de Mômone (Sylvie Testud), a amiga com quem saía nas ruas para cantar em troca de alguns mirreis  Suas letras de pura melancolia nas calçadas logo chamou a atenção do poderoso Louis Leble (Gérard Depardieu), um conhecido empresário do ramo musical quem a iniciou na vida artística e a batizou de "La Môme Piaf"(o pequeno pardal) tamanho o êxtase que sua voz eloquente amparava nas apresentações. Sua carreira decola a um compasso meteórico. Encanta a Europa e parte para o novo continente. Em Nova Iorque o sucesso foi estrondoso. Aquela francesa franzina de voz marcante firmava-se entre as mulheres de maior prestígio individual e artístico, sempre tomando parte de uma personalidade carismaticamente indomável. O sucesso tornou-se fama e a fama rapidamente rendeu episódios fatídicos quando sua vida artística entra em descompasso com a pessoal em uma série de traumas sofridos levando-a ao declínio profissional e físico até sua morte. 

O filme de Olivier Dahan traça um perfil artístico minucioso como carrega em obras de conteúdo biográfico. Os 144 minutos de película expõe de forma emotiva e emocional a menina, mulher e cantora Edith Piaf de uma forma tão convincente que não há espaço para furos no roteiro. Desde a primeira cena até a última, o espectador se toma pelo contexto e seguem-se numa linha racional tão vibrante que não há tempo para o marasmo tomar o palco. Tudo é casado de forma magistral. Da protagonista e suas paixões; as paixões de suas canções; e o que suas canções nos trazem de paixões. A personalidade apaixonante da cantora conduz o filme de maneira homogênea e é extasiante admirar sua força de vontade e determinação por algo que faz com amor. Uma mulher desnuda pelos acertos e essencialmente pelos erros, numa notória eficiência de um roteiro que vai do passado ao presente pautado na escuridão hipnotizante de uma figura tão complexa como Piaf. Além disso, a miscelânea de gêneros (biografia, drama, musical) não deixa que o filme se torne monótono. Preciso pelas lentes de Dahan que trabalha com uma felicidade absoluta nas sequencias mais dramáticas. Vale muito a pena acompanhar a passagem em que Piaf acredita estar conversando no quarto durante uma manhã com seu grande amor, um boxeador que morrera horas num acidente. Depois de receber a tal notícia, entra num desespero opulento, de arrancar os cabelos. O paradoxo de emoções termina com a estrela no palco cantando uma canção que compôs para o próprio. Por esta cena, sua intérprete mereceu o Oscar. 

O teor biográfico da obra é o levante para se apreciar. As passagens de tempo perfeitamente intercaladas pelo roteiro leva o espectador a conhecer as incríveis nuances de uma estrela esplendorosa magnificamente interpretada e representada por Cotillard. A bela parisiense de olhos vidrados capta com com grande êxito as características físicas e as nuances psicológicas de Piaf num dos maiores trabalhos da história. A maquiagem ajuda na caracterização, mas não se pode usurpar por completo de Cotillard o fascínio verossímil desta obra-prima que como poucas capta a essência de uma personalidade adorável que soube usar o amor variavelmente como uma forma de vida. Um deslumbramento primal para uma grande obra que funde com perfeição a paixão decantada como um hino de amor. Canta como biografia e encanta como cinema.



"Não se agarre a dor num pretexto para morrer. 
Use-a para viver."
Edith Piaf 


Um comentário:

  1. Um filme maravilhoso, um hino ao amor e também à vida. A Atuação de Marion Cotillard é incrivelmente perfeita.

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