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domingo, 30 de junho de 2013

Universidade Monstros (2013)

Monster University, 2013. Dirigido por Dan Scanlon. Vozes de Billy Cristal, John Goodman, Helen Mirren e Steve Buscemi.

Nota: 8,2

A aposta em uma sequência de um filme de sucesso é deveras arriscada no mundo cinematográfico. É claro, sempre tem aqueles que aturam 6 ou 7 franquias de histórias parecidas que só prestam mesmo para consumir alguns sacos de pipoca. Mas no universo exigente de cinéfilos e críticos atentos a qualquer deslize, isto pode ser mesmo um tiro no pé. No entanto, quando o negócio envolve uma especialista, aí a missão pode ser muito menos arriscada. Depois de arrecadar quase 600 milhões em 2001, os simpáticos monstros Mike Wazowski e J. P. Sullivan voltam aos cinemas para nos apresentar seus primeiros passos para se tornarem assustadores profissionais em Universidade Monstros.

Desde pequenino, Mike Wazowski (Billy Cristal) tem o sonho de ser um assustador profissional e por isso mesmo sofre com a gozação de seus colegas por não ser assustador o suficiente. Mas nada fez com que desistisse e depois de muito estudar se ingressa na Universidade Monstros. Lá conhece o folgado James P. Sullivan (John Goodman) que acredita que por ser filho de um famoso assustador, não tem nada a aprender. A rivalidade entre os dois os fazem se meter em uma confusão que os fazem serem expulsos pela terrível Dean Hardscrabble (Helen Mirren). Contudo, teriam mais uma chance se conseguisse vencer um difícil torneio de assustadores, mas para isso, teriam de trabalhar juntos.

Diferentemente de Peter Docter, que escreveu e dirigiu o primeiro longa, Dan Scanlon tem uma proposta totalmente oposta. Pega um tema que por inúmeras vezes foi explorado pelo cinema americano e o usa para fazer uma espécie de “o início” na história dos simpáticos monstrinhos. Apesar de não ter nenhuma ligação com o filme de 2001, todos os elemento que fariam dele um sucesso estão presentes, e, principalmente, a formação da personalidade do responsável em excesso Wazowski e do grandalhão folgado, todavia adorável, Sulley. Até a rixa do lagarto Randy (Steve Buscemi) com o “azulão” tem seus motivos.

No decorrer da história assistimos a vários clichês, disputas juvenis, intrigas, no entanto, as conhecidas irmandades, deram origem ao mote que é o eixo central do filme. O grupo composto por seres estranhos, porém, nada amedrontadores, faz com que a dupla aprenda o quanto é importante o trabalho em equipe, além de enfatizar que todos são capazes de realizar seus sonhos. Claro que, como não poderia faltar, esta interação rende muitas gargalhadas.


O diretor arma uma espécie de arapuca para o público e, assim como a fofíssima Boo no primeiro longa, a figura do pequenino Mike e seu olhar apaixonado já ganha o público. Sua solidão, empenho e, por fim, solidariedade é o ponto que faz com que essa continuação, se não for melhor, ao menos é mais completa que o longa de quando a Pixar ainda alçava vôos solo.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Colegas (2013)


Idem, 2013. Dirigido por Marcelo Galvão. Com Ariel Goldenberg, Brunno Viola, Rita Pokk, Leonardo Miggiorin, Marco Luque e Lima Duarte.

Nota: 7,8

O cinema nacional passa por momentos de crescimento, tanto na qualidade técnica quanto na qualidade ideológica. Obras adaptadas de músicas, livros, biografias, enchem as salas de exibição e apresentam algo mais que comédias sistêmicas e pastiches.  Eis que entra em ação Marcelo Galvão, com seu tocante Colegas. Um filme singelo, inocente, que mesmo ante as dificuldades, consegue transmitir o verdadeiro teor da obra. Que acreditem, não é sobre Síndrome de Down.

Três amigos, Stallone (Ariel Goldenberg), Márcio (Bruno Viola) e Aninha (Rita Pokk) decidem sair em uma jornada em busca de seus sonhos. O primeiro deseja conhecer o mar, a mocinha sonha com um príncipe encantado para se casar e, Márcio, alimenta uma incrível vontade de voar. Inspirados no road-movie de Ridley Scott Thelma e Louise eles roubam o carro do zelador da instituição e partem para a aventura, que envolvem assaltos inusitados, amizades verdadeiras e muita alegria de viver.

Marcelo Galvão parte de sua amizade com seu tio, que tinha a síndrome, para construir um belo roteiro, que tem como triunfo não ter como assunto principal o Down. Fala sobre amizade e a vontade de realizar sonhos. Para ter um ponto de referência, que provavelmente facilitou na confecção do texto e no trabalho dos atores, buscou em obras cinematográficas famosas ações, frases e até mesmo o comportamento de seus protagonistas. Com isso injeta humor paródico, sem ofensas, só homenagem e adoração. A forma cômica com que a caçada aos três “perigosos” criminosos se dá é o único ponto que envolve a Síndrome de Down, pois algumas pessoas se referem a eles como retardados, mas que ludibriam as autoridades de todas as maneiras. Quem é retardo?

O bem intencionado filme tem lá suas falhas. O texto é óbvio, já que teriam de ser de fácil entendimento, e a narrativa é conflitante ao ponto de ficarmos perdidos, sem saber em que época se passa os acontecimentos. Porém, como se trata de uma incursão quase mágica e narrada sob o ponto de vista parcial do zelador da instituição em que os “meliantes” cresceram, os conflitos textuais são amenizados. Ganha o público muito mais pela emoção que pela razão.

Por fim, o trio de atores principais, liderados pelo amante de cinema Ariel Goldenberg, conseguem ser fies em seus atos apesar de toda a dificuldade de se decorar o texto. Bruno Viola consegue trazer uma graça natural, talvez por improvisar em muitas das cenas. Conseguiram dar alma aos anseios dês seus personagens abandonados por terem Down. Ajudaram a criar um longa que deixou de lado o apelo que obviamente seria predominante, para celebrar a busca dos sonhos, a amizade, o amor. Acredite, não sobre Síndrome de Down.



domingo, 23 de junho de 2013

Piquenique na Montanha Misteriosa (1975)

Picnic at Hanging Rock, 1975. Dirigido por Peter Weir. Com Rachel Roberts, Margareth Nelson, Anne Lambert, Dominic Guard, Christine Schuler e Jacki Weaver.

Nota: 9,4

Quando adentraram os anos 70, o cinema australiano trouxe uma dicotomia interessante entre a arte e o entretenimento, em que, nas duas situações, o fizeram ser reconhecido no mundo inteiro. Enquanto os violentos filmes B, cheios de ação e horror, chamados Ozploitation, ganharam o público (Mad Max, 79), a classe artística explorava as paisagens australianas com histórias oníricas que deram origem ao Novo Cinema Australiano. Um de seus representantes mais arrebatador veio com Weir. Um mistério sem solução, belo, intrigante, às vezes policial, outras terror psicológico, que parece história real, mas não é.

Adaptado da obra de Joan Lindsay, que mentiu ser uma reportagem para que os ânimos dos insatisfeitos com a não solução do caso sossegassem, Piquenique na Montanha Misteriosa se passa em 1900 e conta a história de um grupo de meninas de um internato têm permissão da diretora para, no dia de São Valentim, fazer uma excursão à mística Montanha Misteriosa. Lá quatro meninas escalam o rochedo e apenas uma retorna. Uma professora também sobe, e desaparece sem deixar rastros junto com as outras três meninas. Uma grande caçada começa, mas somente um rapaz insiste em continuar procurando e, depois de dias, encontra uma delas, sem memória. O que terá acontecido?

O roteiro do longa poderia se tornar algo que causasse a mesma insatisfação para os leitores da obra de Lindsay, mas a mão do diretor, que viria ser reconhecido mundialmente, fez a diferença. Um mosaico de ações e emoções, com a Ms. Appleyard (Rachel Roberts) mantendo uma amargura contra a órfã Sara (Margareth Nelson), que é apaixonada pela líder das moças que sobem na montanha, Miranda (Anne Lambert). Além disso, professoras tensas e reprimidas, jovens apaixonados e um teor incrivelmente assustador. E, em meio a tudo isso, a montanha, que parece acompanhar os fatos como uma figura onipresente, responsável por todos os atos.

Esta sensação de que a montanha é um personagem, talvez o mais importante do filme, se deve a forma como Peter Weir apresenta o local das maiorias das ações. As paisagens exuberantes, junto a brisa sob as ninfetas de espartilho, o sol que brilha, e de repente, o ponto de vista da Montanha Misteriosa. Mesmo nas bem desenvolvidas situações que acontecem após o evento com as meninas, principalmente entre a diretora e a pequena Sara, ainda fica a sensação de estar sendo analisadas por algo superior. E o final, com a volta de apenas uma das jovens só aumenta o misticismo e a tragédia.


Claro, que há mais nas entrelinhas, e talvez por isso Piquenique na Montanha Misteriosa mereça ser visto mais de uma vez. A repressão sexual perceptível e na figura das professoras e de suas alunas, e o comportamento da sociedade da jovem Austrália, desconfortável e desconfiada sobre seu ainda incerto futuro. Tudo isso o torna uma obra-prima singela, aparentemente simplória, mas, absolutamente hipnótica, mesmo nos inquietos dias atuais. 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Além da escuridão: Star Trek (2013)

Into the darkness: Star Trek, 2013. Dirigido por J. J. Abrams. Com Chris Pine, Zachary Quinto, Benedict Cumberbatch, Anton Yelchin, John Cho, Zoe Saldana e Simon Pegg.

Nota: 8,2

Quando J. J. Abrams resolveu trazer de volta um dos mais cultuados universos ficcionais da TV e do cinema, Star Trek, não só os nerds e fãs fervorosos da série ficaram excitados. Quem conhece o potencial de Abrams para o espetáculo audiovisual começou a fantasiar qual seria o seu limite com todas as possibilidades tecnológicas que teria à disposição. E não ficaram decepcionados. Em 2009, Star Trek levou milhões às salas de cinema, teve boa recepção entre os críticos e faturou o Oscar de melhor maquiagem (o primeiro da história da franquia). Quatro anos depois, o diretor volta à Enterprise com o desafio de injetar mais ação na trama, sem perder qualidade narrativa e a ligação com suas raízes.

Nesta nova aventura, Kirk (Chris Pine), Spock (Zachary Quinto, ótimo) e Cia., evitam que um planeta seja extinto por uma  grande erupção. Porém, isto vai contra as regras do alto comando da frota estelar, o que ocasiona a punição de Kirk e Spock. Entretanto, quando um terrorista, que se apresenta como John Harrison (Benedict Cumberbatch, excelente), elimina quase todo estado-maior da frota, caberá a aos dois reassumirem a Enterprise e partir atrás do inimigo. Mal sabia eles que além de descobrir a verdadeira identidade do vilão e quem realmente está por trás de tudo, também terão um encontro com seus mitológicos inimigos: os Klingons.

Novamente, o trio de roteiristas liderados por Roberto Orci conseguiu surpreender até os mais ortodoxos fãs da obra original, escrita por Gene Roddenberry. Além de deixar os diálogos mais contemporâneos, o que facilita a aproximação com o público da era da internet, mantém laços estreitos com as aventuras anteriores, principalmente a original da década de 60. A forma como inseriu um supervilão quase invencível, e buscou na conexão direta com a série clássica, o Spock do futuro inserido no filme de 2009, a resolução para o caso ganha, os velhos e conquista novos fãs.

Abrams, ao contrário do que se imaginava, não se deixa se levar pelas “maravilhas” tecnológicas (tanto que nem estava programado para sair em 3D) e capricha na arte dos cenários, figurinos e maquiagem, e quando exige-se os efeitos visuais, o faz com parcimônia. É clara sua intenção de fazer muito mais que um espetáculo de cores ou uma singela homenagem, tanto que aponta a câmera para o fator ser humano. Tanto na relação de amizade ainda mais forte entre Kirk e Spock, quanto nas artimanhas de Harrison para desestabilizar a tripulação.

Mesmo que o filme perca um pouco do equilíbrio na parte final, ficando previsível, isto acaba não incomodando pelo talento de dois atores: Quinto e Cumberbatch. O primeiro assumiu o personagem reconhecidamente mais amado da franquia, e com seu rosto peculiar conseguiu deixar os fãs satisfeitos, e os críticos, com a certeza de que não deve nada à Leonard Nimoy, o Spock da série clássica. Já Cumberbatch, que se destaca na TV como o Sherlock da série homônima, prova que o grande ator do momento e transmite a obscuridade de seu Harrison, mantendo uma dualidade que não permite aos espectadores odiá-lo. Simplesmente genial.


Se J. J. Abrams foi capaz de fazer um bom filme de um universo do qual diz ser indiferente, imagina o que poderá fazer com seu amado Star Wars, na próxima trilogia que está em pré-produção. Mesmo com a dificuldade de não se render à pirotecnia e agradar à legião de seguidores da obra de Roddenbury, se saiu bem e deixou todos com água na boca para o terceiro filme. Ou alguém acha que podem mexer com Klingons assim e ir embora sem esperar uma retaliação. É só esperar para ver.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

10 Casais apaixonantes do cinema

Muitos já viveram uma paixão avassaladora na trajetória da sétima arte. Mas poucos foram tão marcantes. Em virtude deste conceito, deixo aqui um alista de 10 casais que entraram pela porta da frente em nossos corações trazendo mais do que suspiros ao vento, amor e esperança ao nosso dia-a-dia. Vinte personagens que brindaram o amor cada qual a sua maneira, ajudando a elevar o conceito primordial da vida:


"Amor verdadeiro nem o vento leva ou a distância separa."
Rhett Butler e Scarlett O'Hara (E o vento levou)
Unidos de forma nada convencional, o aventureiro sínico passou um dobrado para ter em seus braços a riquinha mimada mais amada das telas. O relacionamento é um dos mais interessantes, pois os raros momentos explícitos de romantismo conseguem se sobrepor a muita ironia, sarcasmo e incompatibilidade de gênios. Por isso é inesquecível. 


"O verdadeiro homem não é aquele que conquista várias mulheres, é aquele que conquista uma mulher várias vezes."
Richard Blane e Ilsa Lund (Casablanca)
Um romance proibido sempre gera um leque de opções desejáveis numa boa história romântica. E ainda mais se este romance for inserido em um dos maiores mitos do cinema. O casal tinha tudo pra dar errado, mas a perseverança uniu suas almas apaixonadas, nos deixando pra sempre na estação de Casablanca. 

"Quando o nosso pensamento corresponde com o nosso desejo descortinamos as nuvens do nosso céu, o oceano do coração, e ofuscamos o nosso inferno."
Edward Lewis/ Vivian Ward(Uma linda mulher)
Um conto de fadas brota na selvageria da barulhenta cidade de Los Angeles. Um encontro até certo ponto casual nas ruas e formou-se um casal perfeito. O milionário fisgado pela beleza radiante da garota de programa. 


"O Amor só é amor se não se dobra a obstáculos, e não se curva a vicissitudes.....é uma marca eterna....que sofre tempestades sem nunca se abalar."
Molly Jensen e Sam White (Ghost)
O amor supera até a morte. Parece clichê, mas neste caso é a mais pura verdade. A essência de um sentimento tão poderoso ultrapassa as fronteiras do tempo e perdura até hoje como uma das maiores demonstrações de amor da história, que nem a morte foi capaz de abalar.

"Você nunca será bom para todos. Mas sempre será perfeito pra pessoa que te merece."
Jack Dawson e Rose DeWitt Bukater (Titanic)
Não há quem não se emocione com esta história. Enquanto milhares de vidas são subjugadas na maior tragédia marítima do mundo, os idealistas de classes distintas arrancavam suspiros apaixonados de todo mundo em belíssimas cenas.


"Quando duas pessoas se amam, ela não se submetem ou dominam, apenas se completam."
Rick O'Connel e Evelyn Carnahan (A Múmia)
Tudo começou como uma adrenalina, uma missão. Apenas uma atração irresistível entre dois belos personagens até o aventureiro charmoso conquistar a historiadora tímida e juntos obterem o sucesso com sua incrível química e senso de humor. O casal conduziu com segurança o sucesso de uma assustadora aventura.  

"Amor não é uma questão de contar os anos. É fazer que os anos contem."
Edith Tree e Abby Hedley (Desejo proibido)
Pode não ser um dos mais conhecidos casais do meio cinematográfico, mas esta belíssima história frente aos obstáculos de um amor proibido, deve ser mencionada. Um casal que se amou por anos e que só a morte separou. Mesmo diante de uma sociedade moralista, souberam compartilhar todas as alegrias e agruras de uma vida juntas. 


"Por ser exato, o amor não cabe em si. Por ser encantado, o amor revela-se. Por ser amor, invade e fim."
Shrek e Fiona (Shrek)
Ela, uma Princesa a espera de seu Príncipe Encantado. Ele, um ogro querendo sua PAZ  e liberdade. Diante desta premissa, quem poderia imaginar que suas almas se encontrariam numa romântica aventura que mudou pra sempre suas vidas?


"O Amor deveria perdoar todos os pecados, menos o pecado de amar." 
Ennis Del Mar e Jack Twist (O segredo de Brokeback Moutain)
Se os brutos também amam foram bem representados pelo rancheiro e seu companheiro, o Cowboy de rodeio. Contratados para trabalharem juntos, quebraram esteriótipos e por anos viveram uma linda história interrompida pelo preconceito, tão antigo quanto o próprio amor. 


"O Amor eterno é o amor impossível. Os amores possíveis começam a morrer quando no dia em que foram concretizados." 
Edward Cullen e Bela Swann (Crepúsculo)
O filme pode até gerar controvérsias - que diga-se de passagem não são poucas - mas certo é que o casal de jovens mais famoso do mundo elevou com charme e muito carisma a saga de amor entre uma humana e uma criatura da noite e arrastou milhões de fãs pelo mundo. 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Os 10 mais: Ingmar Bergman

Segundo mestre do cinema homenageado pelo Cineposforrest é o mitológico diretor sueco que soube como ninguém examinar as mais variadas fragmentações que pode ser encontrada entre os seres humanos. Entre os mais de 50 filmes que realizou, passou pelas mais variadas fórmulas de condução cinematográfica. Um verdadeiro gênio que influenciou várias gerações de cineastas, entre eles o já homenageado Woody Allen. Acompanhe então os 10 mais de Bergman:

10 - Sonata de Outono (1978)

O longa que marca o encontro de dois mitos do meio cinematográfico, Ingmar e Ingrid Bergman (que curiosamente não possuem qualquer grau de parentesco), é uma história em que uma mãe (Ingrid Bergaman) e sua filha (Liv Ullmann) vivem uma competição e humilhação artística que perpassa e contamina a relação familiar entre as duas. Melancólico, mas com a medida certa de realismo didático, este é filme deixa o espectador a merce das emoções das personagens, que em estado de graça, dão significado maior a cada centímetro de película. 


9 - A Fonte da Donzela (1960)

No período em que o diretor já havia se consolidado no cenário mundial, vira seu olhar para assuntos com teor transcendental. Neste obscuro longa-metragem, a história se passa em uma sociedade do século XIV onde uma jovem de quinze anos que só pensa em se entregar a algum homem após o casamento. Porém quando vai à igreja rezar pela Virgem Maria, é estuprada por dois pastores de cabra, que vem a se hospedar na casa de seus pais. No fim, um milagre acontece. Tensão na medida certa e a discussão onipresente do maniqueísmo que movimenta o mundo. Sensacional.

8 - Face a Face (1976)

Quando Bergman decidiu fazer incursões pelo universo dos casais em situações corriqueiras, como o entendimento, superação ou separação. Este estudo de como o homem e a mulher se comportam ante estas situações, foi o ápice deste seu momento. A loucura feminina dentro da relação matrimonial e a dificuldade de seu marido em lidar com a situação, faz com que a união seja consumida aos poucos. A forma como dá um toque de sensibilidade em meio a todos problemas lhe rendeu uma indicação ao Oscar de diretor. Imperdível.


7 - Noites de Circo (1953)

Esta foi a primeira grande obra-prima de Ingmar Bergman. Depois de passear por vários gêneros antes de realizar filmes"mais sérios", ele conta a história de artistas circenses. Porém, ao contrário de um de seus filmes preferidos, A Estrada da Vida, de Fellini, o diretor despeja uma misantropia muito menos otimista, onde os artistas circenses convivem com a desesperança e a crueldade dos homens. Um fascinante e absolutamente realista estudo sobre a humilhação. Obra de arte incontestável.


6 - O Silêncio (1963)

No auge de sua forma, o diretor constrói a famosa e arrebatadora "Trilogia do Silêncio" Apesar de seu mais famoso exemplar ser o vencedor do Oscar de filme estrangeiro Através de um Espelho (61), foi O Silêncio que demonstra a potencialização do tema. Duas irmãs viajam de trem pela Europa e no meio da viagem se hospedam em um hotel. Ali as frustrações femininas vêm à tona e com um erotismo impressionante para época, bela fotografia em preto e branco e um trabalho sonoro invejável, faz seu filme mais radical, ousado e arrojado. Esplêndido.

5 - Persona - Quando Duas Mulheres Pecam (1966)

Ainda tendo como tema principal as frustrações femininas, este triunfo se tornou um dos mais elogiados filmes de sua carreira. Uma atriz de teatro (Liv Ullmann em seu primeiro trabalho com o diretor) tem um colapso e perde a fala. Quando a enfermeira Alma (Bibi Andersson) é escolhida para ser sua cuidadora, uma relação de duplicidade latente e lesbianismo velado acontece. Mas, com diversas influências psicanalíticas, este pode ser considerado o filme do diretor que contém a narrativa mais complexa e que exige maior atenção. Mas ainda assim é brilhante.


4 - Fanny e Alexander (1982)

No maior sucesso comercial da carreira do diretor, e o terceiro a ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro, Bergman "encerra" sua carreira (voltaria em apenas 2003 para filmar Saraband) com uma autobiografia que relata episódios de sua infância. Quando o pai das crianças do título morre, sua mãe casa-se com um homem religioso ao extremo e os obriga a deixar a casa da avó, que tanto amavam. Bergman mistura a nostalgia de sua vida com um teor obscuro, às vezes quase um terror, com fantasmas, arrependimentos, sonhos, tristezas e alegrias. Um mergulho dentro de si e cinema de primeira.

3 - O Sétimo Selo (1957)

Um dos primeiros temas abordados pelo diretor em sua triunfante carreira, a finitude do homem. Este filme narra um evento da jornada de um cavaleiro medieval (Max Von Sydow) por uma Suécia devastada pela peste. Soturno e alegórico, devido a fotografia rica de Gunnar Fischer, a linguagem de Bergman introduz elementos místicos, como uma assustadora figura encapuzada: a morte (Bengt Ekerot). O lirismo e a fotografia impressionante renderam duas das cenas mais famosas da história: o jogo de xadrez entre o cavaleiro e a morte, para "negociar" a saúde de companheiros de viagem, e a arrebatadora "dança macabra". Só por isso já merece todo o respeito.

2 - Gritos e Sussurros (1973)

Além de suas atrizes fetiche, outra parceria do diretor rendeu obras de qualidade indiscutível. Junto com Sven Nykvist realizou este longa que traz a dor em uma ambiente familiar composto essencialmente por mulheres. Uma das irmãs (Harriet Andersson) agoniza em consequência de um câncer terminal. Neste cenário, cuidadosamente fotografado em vermelho por Nykvist, a dedicada enfermeira (Karin Sylwan) e suas duas irmãs que vivem às turras (Ingrid Thulin e Liv Ullman), crises e traumas vêm à tona. Todos elementos do cinema bergmaniano estão presentes. Uma verdadeira aula de cinema.

1 - Morangos Silvestres (1957)

Como exorcizou seu pavor pela morte em O Sétimo Selo, Bergman tratou de enfrentá-la neste filme brilhante. Contando a história de homem bem sucedido (Victor Sjostrom) que viaja à sua cidade natal para receber uma condecoração. Neste trajeto passa em uma casa de veraneio de sua família, e quando saboreia um morango silvestre, lembranças o atormentam. Com uma narrativa radical, o diretor cria uma forma inusitada de transição de planos, onde o real e o imaginário se fundem. Além disso, a cronologia dos fatos acontecem de acordo com as lembranças do professor. Influência direta a Fellini em Oito e Meio (63) e em grande parte das obras de Woody Allen. Argumentos o suficiente para torná-lo o número 1.

sábado, 1 de junho de 2013

Os 10 Mais: Woody Allen

O Cineposforrest humildemente resolveu homenagear 10 grandes diretores da história do cinema, com extensa e relevante obra. Serão postados o top dez dos imperdíveis de cada um deles, sendo o primeiro Woody Allen. Obviamente, se trata de um ponto de vista crítico, e objeções ou elogios poderão ser manifestados no espaço de comentários. Aproveite e vote na enquete ao lado escolhendo seu favorito.

10 - Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo Mas Tinha Medo de Perguntar (1972)

Em seus primeiros passos como diretor, Allen mostra situações em que procura sanar certas dúvidas do público, que na década de 70, ainda eram muitas. Em sete capítulos, desenvolve com brilhantismo situações impagáveis, aparentemente bobas, mas que analisadas a fundo, são extremamente significantes e competentes. A esquete em que Allen interpreta um feiticeiro que tenta "faturar" uma rainha na época medieval e o último, onde espermatozoides disputam uma vaga no óvulo, já o torna imperdível.

9 - Zelig (1983)

O diretor consegue ser implacável na crítica ao ser humano e as aparências com esse libelo. A história de Leonard Zelig (Allen), um homem que possui um estranho distúrbio onde é capaz de absorver a personalidade das pessoas que o cercam para não parecer deslocado. Porém, este "dom" acaba por elevar Zelig ao status de personagem midiático, ao mesmo tempo, que pode ser o início de sua derrocada. Com Mia Farrow como a psicanalista que o tenta ajudar, Zelig é um dos melhores roteiros de Woody Allen.



8 - Tiros na Broadway (1995)

Um dos mais icônicos longas do diretor, uma homenagem a filmes de gangster recaída para o finíssimo humor que lhe é inerente. Nos anos 20, um diretor teatral interpretado por John Cusack é obrigado a dar o papel principal de sua nova peça a uma atriz sem talento, apenas por ser ordem de um mafioso local. A coisa só piora quando um abusado guarda-costas da jovem resolve opinar no roteiro. Os deliciosos diálogos do filme, combinado a atuações excepcionais (Oscar de coadjuvante para Diane Wiest) o elevam a condição de obra-prima.



7 - Crimes e Pecados (1989)

No mais complexo de seus roteiros, Woody Allen conduz duas histórias. Na primeira, um oftalmologista (Martin Landau) é posto em xeque por sua amante (Anjelica Houston), que deseja revelar o caso, além dos delitos que comete na profissão. Na segunda, o produtor de documentários vivido por Allen é casado, mas ama outra mulher (sempre Farrow), que por fim, ama outro produtor. Brilhantemente as situações acabam por unir as histórias no fim, um dos mais genias que o cinema já viu. Uma aula de cinema, simples e impecável.



6 - Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Na comédia romântica intelectualizada que lhe rendeu o primeiro e único Oscar de diretor, Allen é Alvy Singer, um humorista divorciado que faz análise há quinze anos, que se apaixona pela complicada cantora iniciante Annie Hall (Diane Keaton). A relação, que no início corre bem, começa a desgastar devido à personalidade peculiar de cada um. Um filme sensacional, com um artifício inédito para o público quando os pensamentos e as falas se embaralham, representando a confusão que se tornou a relação de Alvy e Annie. Absoluto.



5 - Hannah e suas Irmãs (1986)

Para provar que sua veia humorístico poderia se diversificar, o diretor investe nesta extraordinária comédia-dramática conta a história de três irmãs que deixam suas frustrações e conflitos aflorarem durante o dia de ação de graças. O grupo de amigos, com tipos excêntricos e paranóicos observam tudo enquanto enfrentam seus próprios problemas. Mesmo sob esta capa de incertezas, a intenção do diretor acaba por ser muito perseverante do que se possa parecer, principlamente quando acompanhamos a dicotomia da vida de Hannah (Mia Farrow). Genial.



4 - A Era do Rádio (1987)

Neste tocante relato de tempo e lugar, Woody Allen homenageia a grande mídia de sua infância. Uma família judia de Nova Iorque na década de 30 tem seus sonhos e desejos influenciados pelos seus programas preferidos na rádio. Seu roteiro sublime reverencia e expõe a mágica que era forçar sua criatividade,  como era bom sonhar, se divertir, sentir, tudo apenas com o ouvido colado na caixinha. Mesmo com a melancolia da perda de espaço para a TV, o filme deixa sua mensagem de amor ao rádio, amor que o diretor exibe nas entrelinhas. Tecnicamente competente e roteiro excepcional.



3 - Meia-Noite em Paris (2011)

Um soneto de amor à Paris, Allen traz o alterego Gil (Owen Wilson) como um roteirista bem-sucedido de Hollywood que acha seus filmes ruins e tem o sonho de se tornar escritor. Ele viaja com a noiva para a Cidade Luz com o rascunho de seu romance para tentar ser concebido pelos ares artísticos dos áureos tempos lhe inspire. Em uma noite consegue viajar no tempo e encontrar grandes figuras do meio artístico de seus amados anos 20. A mais recente obra-prima do diretor, que sugere que a perfeição jamis será alcançada, e o saudosismo é uma condição humana inevitável. Tecnicamente perfeito, arrepiante e comovente.



2 - Manhattan (1979)

Apaixonado por sua Nova Iorque, este belíssimo longa contempla os amores e a dificuldade de atingi-los em estado perfeito. Allen é um escritor divorciado que se vê em uma situação delicada quando sua ex decide publicar um livro no qual revela detalhes íntimos do relacionamento deles. Neste momento ele se apaixona por uma garota de 17 anos (Mariel Hemingway), e, mesmo sendo correspondido, se sente atraído pela amante seu amigo. Um entrelace de sentimentos, onde não há mocinhos e nem vilões, apenas paixão. Ou seria ele o grande vilão dos filmes de Woody Allen?



1 - A Rosa Púrpura do Cairo (1985)

No mais envolvente e brilhante longa do diretor, exprime ali o que é o cinema para ele, mais do que uma arte, um alimento que sustenta a alma. Em meio a "grande depressão", uma garçonete (Mia Farrow) tem que se desdobrar para sustentar seu marido bêbado e violento. Para escapar desta triste realidade, vai ao cinema assistir ao seu amado "A rosa púrpura do Cairo" pela quinta vez. Mas, depois de tantas vezes, o herói do filme se apaixona pela moça e sai da tela para lhe oferecer uma nova vida. m grande tumulto se forma e o ator queo interpreta tem de vir tentar resolver a situação. Metalinguístico e provavelmente um dos melhores roteiros feitos no cinema americano. Cinema puro.