“Tornei-me uma pessoa
incrivelmente feliz, expansiva, porque estava fazendo exatamente o que queria.
E era tão fácil para mim.”
E
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la nasceu e morreu com o dia marcado. Num 29 de
Agosto. A mesma estrela predestinada que nasceu em Estocolmo no ano de 1915 se
apagou em Londres no ano de 1982. Mais que curioso, este fato só comprova a
presença de algo especial na trajetória da exuberante Ingrid Bergman.
O início do reinado de uma das mais exaltadas
atrizes do cinema começou ainda na infância quando tudo não passava de um mero
sonho improvável confrontando uma timidez que teimava em acompanha-la.
Felizmente outra forte característica de sua vasta personalidade também se
fazia presente. Com perseverança ingressou na Escola Real de Arte Dramática da cidade em 1932 após apresentar
trechos de peças de Rostand e Strindberg. A interpretação de Bergman fluiu da
mesma maneira natural que marcaria seus personagens no cinema onde estreou em
1933 com um pequeno papel em Munkbrogreven. Daí em diante toda
esta naturalidade foi se lapidando no estado bruto de puro talento. O sucesso
de um de seus filmes (Intermezzo / 1936) abriu as portas para Hollywood por meio de David O’ Selznick, o mesmo produtor de E o vento levou. David teria se
encantado por aquela atriz diferente, de forte presença em cena e que tinha na
aura algo especial.
Antes de se tornar a estrela profetizada por
Selznick, um pequeno drama. Como ainda era casada e mãe, a atriz hesitou em
deixar sua terra natal para brilhar na terra dos reis do entretenimento.
Contudo, ela sabia que seu maior objetivo só obteria êxito com uma mudança
drástica. Com a Segunda Guerra Mundial em ascensão, assinou um contrato de
exclusividade com Selznick, levando marido e filha com ela para os EUA.
A carreira em ascensão de Bergman se consolidava
ao mesmo tempo em que a carreira de sua compatriota a ferrenha Greta Garbo caía em declínio. Todo este
contraponto alcançou o apogeu como a sensual e enigmática Ilsa Lund de Casablanca.
Mulheres de várias personalidades e nuances marcariam sua trajetória no cinema
ajudando a firmar o mito em torno de sua vida e personagens. Não demorou muito
para conquistar o reconhecimento da Academia faturando três merecidas
estatuetas. A de melhor atriz por À meia-luz (1944) e Anastácia, a princesa esquecida (1957), onde sua naturalidade em demonstrar emoções fica mais
evidente. Em 1974 o mistério de Assassinato no Expresso Oriente
deixava exalar mais uma vez o ar enigmático na sua interpretação. O reino de
Hollywood encontrava sua mais notória princesa.
Como em toda terra de reis existe algo de podre,
a vida estável das telas sucumbiu à instabilidade de sua vida pessoal. Em 1950,
em pleno apogeu da american way life,
ela chocou o mundo ao trocar seu marido e sua filha pelo diretor Roberto Rosselinni durante uma viagem
de trabalho para filmar Stromboli na Itália. O escândalo se
consumou devido ao anúncio de sua gravidez, fruto desta relação extraconjugal.
A partir dali, a figura mítica mocinhas românticas, freiras e santas mártires
que a acompanhou na carreira seria deflagrada como mulheres de baixo calão. O
nascimento de seu filho com Rosselinni atiçou a ira dos puritanos do mundo todo,
e atingiu ferozmente Hollywood. O reino já não mais exibia seus filmes. A princesa
exilada teve de se fixar na Europa ao lado do diretor italiano com quem teve
mais duas filhas. Ingrid e Isabella Rosselinni.
Sob a batuta do marido sufocante, Ingrid fez
vários filmes, entre eles o comentado Veludo Azul. Em 1956 já com o
casamento em crise, retornou a Hollywood através de Anatole Litvak com quem filmou Anastásia. Quando subiu ao palco na
noite do Oscar para receber sua estatueta, toda a corte a aplaudiu a atriz de
pé, como num intenso gesto de pedidos de perdão pelo desprezo equivocado de
outrora. Seu retorno ao trono hollywoodiano também marcou a retomada da
carreira sem o repressivo diretor. Livre para poder escolher projetos que mais
lhe agradavam, seu talento natural se mistificou em versatilidade. Comédias,
suspenses e dramas devolveriam de vez o status que conquistou com tanta luta e
capacidade. Outra marca especial na trajetória da atriz que descobriu um câncer
de mama durante as filmagens de Sonata de outono de Ingmar Bergman.
Contudo, as várias batalhas que enfrentou ao longo de sua vida a fizeram tão
forte que foi capaz de contrariar as ordens médicas e continuar fazendo o que
queria fazer. Aceitou o papel principal de Golda, minissérie sobre uma
estadista israelense, a qual sempre admirou.
A turbulência de sua vida foi deixada de lado em
sua morte quando deu os últimos suspiros de maneira serena e tranquila ao lado
de toda família. Um final menos dramático para a vida dramática de uma atriz
mítica de características propriamente reais. Uma mulher que teve liberdade o
suficiente para viver seu próprio conto de fadas mesmo quando foi injustamente esquecida
por seus súditos. Uma atriz de vida especial que se tornou inesquecível para o
reino do cinema. Uma princesa que demonstrou coragem o suficiente de voltar
para casa e retomar um trono que sempre foi seu de fato e de direito. Difícil
de esquecer.
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