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terça-feira, 3 de julho de 2012

INGRID BERGMAN

A princesa esquecida

“Tornei-me uma pessoa incrivelmente feliz, expansiva, porque estava fazendo exatamente o que queria. E era tão fácil para mim.”

E
la nasceu e morreu com o dia marcado. Num 29 de Agosto. A mesma estrela predestinada que nasceu em Estocolmo no ano de 1915 se apagou em Londres no ano de 1982. Mais que curioso, este fato só comprova a presença de algo especial na trajetória da exuberante Ingrid Bergman.

O início do reinado de uma das mais exaltadas atrizes do cinema começou ainda na infância quando tudo não passava de um mero sonho improvável confrontando uma timidez que teimava em acompanha-la. Felizmente outra forte característica de sua vasta personalidade também se fazia presente. Com perseverança ingressou na Escola Real de Arte Dramática da cidade em 1932 após apresentar trechos de peças de Rostand e Strindberg. A interpretação de Bergman fluiu da mesma maneira natural que marcaria seus personagens no cinema onde estreou em 1933 com um pequeno papel em Munkbrogreven. Daí em diante toda esta naturalidade foi se lapidando no estado bruto de puro talento. O sucesso de um de seus filmes (Intermezzo / 1936) abriu as portas para Hollywood por meio de David O’ Selznick, o mesmo produtor de E o vento levou. David teria se encantado por aquela atriz diferente, de forte presença em cena e que tinha na aura algo especial.

Antes de se tornar a estrela profetizada por Selznick, um pequeno drama. Como ainda era casada e mãe, a atriz hesitou em deixar sua terra natal para brilhar na terra dos reis do entretenimento. Contudo, ela sabia que seu maior objetivo só obteria êxito com uma mudança drástica. Com a Segunda Guerra Mundial em ascensão, assinou um contrato de exclusividade com Selznick, levando marido e filha com ela para os EUA.

A carreira em ascensão de Bergman se consolidava ao mesmo tempo em que a carreira de sua compatriota a ferrenha Greta Garbo caía em declínio. Todo este contraponto alcançou o apogeu como a sensual e enigmática Ilsa Lund de Casablanca. Mulheres de várias personalidades e nuances marcariam sua trajetória no cinema ajudando a firmar o mito em torno de sua vida e personagens. Não demorou muito para conquistar o reconhecimento da Academia faturando três merecidas estatuetas. A de melhor atriz por À meia-luz (1944) e Anastácia, a princesa esquecida (1957), onde sua naturalidade em demonstrar emoções fica mais evidente. Em 1974 o mistério de Assassinato no Expresso Oriente deixava exalar mais uma vez o ar enigmático na sua interpretação. O reino de Hollywood encontrava sua mais notória princesa.

Como em toda terra de reis existe algo de podre, a vida estável das telas sucumbiu à instabilidade de sua vida pessoal. Em 1950, em pleno apogeu da american way life, ela chocou o mundo ao trocar seu marido e sua filha pelo diretor Roberto Rosselinni durante uma viagem de trabalho para filmar Stromboli na Itália. O escândalo se consumou devido ao anúncio de sua gravidez, fruto desta relação extraconjugal. A partir dali, a figura mítica mocinhas românticas, freiras e santas mártires que a acompanhou na carreira seria deflagrada como mulheres de baixo calão. O nascimento de seu filho com Rosselinni atiçou a ira dos puritanos do mundo todo, e atingiu ferozmente Hollywood. O reino já não mais exibia seus filmes. A princesa exilada teve de se fixar na Europa ao lado do diretor italiano com quem teve mais duas filhas. Ingrid e Isabella Rosselinni.

Sob a batuta do marido sufocante, Ingrid fez vários filmes, entre eles o comentado Veludo Azul. Em 1956 já com o casamento em crise, retornou a Hollywood através de Anatole Litvak com quem filmou Anastásia. Quando subiu ao palco na noite do Oscar para receber sua estatueta, toda a corte a aplaudiu a atriz de pé, como num intenso gesto de pedidos de perdão pelo desprezo equivocado de outrora. Seu retorno ao trono hollywoodiano também marcou a retomada da carreira sem o repressivo diretor. Livre para poder escolher projetos que mais lhe agradavam, seu talento natural se mistificou em versatilidade. Comédias, suspenses e dramas devolveriam de vez o status que conquistou com tanta luta e capacidade. Outra marca especial na trajetória da atriz que descobriu um câncer de mama durante as filmagens de Sonata de outono de Ingmar Bergman. Contudo, as várias batalhas que enfrentou ao longo de sua vida a fizeram tão forte que foi capaz de contrariar as ordens médicas e continuar fazendo o que queria fazer. Aceitou o papel principal de Golda, minissérie sobre uma estadista israelense, a qual sempre admirou.

A turbulência de sua vida foi deixada de lado em sua morte quando deu os últimos suspiros de maneira serena e tranquila ao lado de toda família. Um final menos dramático para a vida dramática de uma atriz mítica de características propriamente reais. Uma mulher que teve liberdade o suficiente para viver seu próprio conto de fadas mesmo quando foi injustamente esquecida por seus súditos. Uma atriz de vida especial que se tornou inesquecível para o reino do cinema. Uma princesa que demonstrou coragem o suficiente de voltar para casa e retomar um trono que sempre foi seu de fato e de direito. Difícil de esquecer.

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