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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Dez filmes para amar



Lindos e singelos, eles despertam sensações indescritíveis capazes de tornar real todos os nossos sonhos, pelo menos nas telinhas. Os filmes que falam de amor reúnem casais inesquecíveis, belos enredos e cenas memoráveis. Difícil é tirar da mente e especialmente do coração a sensação de uma felicidade extasiante que nos faz viajar através de um universo inquietante chamado nós mesmos. Suspiros no ar, leveza nas palavras, coragem de viver a vida que amamos. Aqui uma lista de dez dos mais belos filmes que tratam do tema de várias maneiras nesta fábrica de sonhos:


O ÚLTIMO TANGO EM PARIS (Last Tango in Paris, 1972)

“Trancado dentro daquele apartamento, O último Tango em Paris continua seguramente à frente dos filmes eróticos de fato”
Cássio Starling

Escandalosamente sensual. A obra-prima de Bernardo Bertolucci que chocou o mundo na época de sua exibição traz um romance apoiado num drama psicológico muito bem arquitetado pela construção minimalista de seus personagens. Paris novamente é o cenário de mais uma história de amor. Mas não uma história convencional com suspiros, juras de amor eterno e o conhecido final feliz. Aqui o desejo se sobrepõe a qualquer outro tipo de sentimento. Nele, se centra a trama de um casal de desconhecidos que praticamente alugam o mesmo apartamento e que, consumidos pela angústia de uma infelicidade proeminente, se entregam ferozmente a uma aventura sexual inesquecível para eles e para o público. O teor erótico da obra fez a censura dar saltos da poltrona. Tudo isso firmado nos diálogos obscenos e cenas escandalosas que sintetizaram a atuação soberba e por vezes improvisada de Marlon Brando como o homem de meia idade que ao perder a mulher que cometeu suicídio, faz do sexo uma firmação evasiva e pessoal. A força mitológica do filme se deve e muito à censura da época, que vetou as sequências mais impressionáveis. Algo que só ajudou a consolidar a diferença entre erotismo e pornografia. Por isso, hoje, recebe da maioria dos críticos a menção como a obra de arte que realmente é. Reza a lenda que parte das cenas eróticas teria saído dos desejos ocultos da mente de Bertolucci. No entanto, polêmicas à parte, o fato é que O último Tango em Paris é um filme brilhante, ousado e que, mesmo diante de todos os atenuantes, não deixa de ser uma história de amor. Uma história que começa de um encontro meramente sexual entre o escritor americano Paul (Brando) e uma jovem francesa (Maria Schneider) e segue a linha de todos os sentimentos nele inseridos. Atração, afeto, necessidade, ciúme, insegurança. Uma apaixonante dança de interesses.

“Todos os mistérios que terá na vida estão aqui”
O AMOR É MISTÉRIO

PRA SE APAIXONAR: a sequência do Tango num concurso de dança. Quando Paul (Brando) tira a jovem insegura Jeanne (Maria Schneider) para dançar em meio aos concorrentes o que se vê no meio do salão é espontâneo, divertido e apreciável. Nem mesmo o vislumbre das nádegas de Brando, apaga momentos memoráveis de um romance, assim como aqueles passos de dança, imprevisível.



UMA LINDA MULHER (Pretty womam, 1989)

“Este filme é sobre esperança e sonhos que todos nós temos, e o fato é que às vezes se torna realidade”
Garry Marshall, diretor

Qual é o seu sonho? Com Hollywood servindo como cenário desta inesquecível história de amor, o diretor Garry Marshall criou um brilhante roteiro em Uma linda mulher, que mexe com todas as emoções de uma boa história de amor. Nele vimos como a prostituta Vivian Ward (Julia Roberts) conquista o coração do milionário Edward Lewis (Richard Gere) depois que ele a contrata por uma semana como companhia enquanto tenta fechar uma importante transação empresarial. À medida que a semana vai passando, a relação entre os dois mundos vai se estreitando por um ponto em comum: a solidão. Enquanto Edward não poupa despesas para transformar a desbocada Vivian numa elegante dama, a moça vai criando um afeto incontrolável por aquele que elegeu como seu príncipe encantado. A reciprocidade é tamanha que o milionário deixa a frieza empresarial de lado e assume um lado mais sentimental se apaixonando por uma improvável pretendente. O romance hollywoodiano lembra muito a história da Cinderela. Um conto de fadas que serve como pano de fundo para a criação perfeita de um caso de amor que transcende a marginalização das ruas. Mas afinal para quê mais serve os contos de fadas além de alterar a realidade? Neste aspecto o filme se tornou um êxito tão absoluto que catapultou a carreira do charmoso Richard Gere. Mas ninguém saiu ganhando mais nesta história do que a belíssima Julia Roberts, que viu sua estrela brilhar numa atuação tão perfeita que merecidamente foi indicada ao Oscar. Sua prostituta se tornou uma das maiores heroínas românticas do cinema graças a seu talento e mais precisamente à química primorosa com seu parceiro de cena. O filme marcou época dando um toque de suavidade à tela ao resgatar os filmes do gênero. Romance, humor, carisma e diversão dão um toque especial a esta obra histórica, que faz qualquer mulher se sentir alguém especialmente linda.

“Eu fingia que era uma princesa presa numa Torre por uma Rainha malvada e de repente um cavalheiro num cavalo branco com todas aquelas cores brilhantes aparecendo na minha janela. Ele levantava a espada e eu acenava. Ele subia na Torre e me salvava.”
O AMOR É UM SONHO

PRA SE APAIXONAR: como qualquer conto de fadas que se preze, a sequência final é feliz e inesquecível. Edward desiste de ir embora sozinho e a caminho do aeroporto muda sua rota indo de encontro a Vivian. Chegando a seu destino numa Limusine, o “Príncipe” usa o guarda-chuva como espada e a empunha para o alto, subindo as escadas. O casal sela o felizes para sempre com um beijo apaixonado.    


GHOST – DO OUTRO LADO DA VIDA (Ghost, 1990)

“Imperdível”
Entertainment Weekly

Sucesso número um de bilheteria daquele ano, Ghost (que aqui foi estendido como o outro lado da vida), é até hoje uma das histórias mais lembradas por todos os apaixonados. Talvez pelo roteiro de tão original, que acabou levando o Oscar da categoria, ou pela química do casal de protagonistas vividos pelo saudoso Patrick Swayze e a estonteante Demi Moore, ou a canção Unchained Melody, que se tornou um hino de amor decantado em todo mundo. Ou então a interpretação premiada da excelente Woopi Goldberg. Enfim, poderíamos enumerar todos os elementos que fizeram do filme de Jerry Zucker algo imperdível e um marco do cinema romântico. Um deles é contar uma belíssima história firmada no poder do amor. Sam Wheat (Swayze) teve sua vida brutalmente interrompida num assalto encomendado por seu melhor amigo (Tony Goldwyn), deixando para trás sua namorada, a apaixonada Molly Jensen (Moore), que tenta em vão seguir em frente sem seu grande amor. Só quando Sam procura ajuda na vidente Oda Men (Goldberg), a história ganha contornos mais empolgantes nos diálogos entre a vidente e o espírito do executivo frente à descrença incessante da moça. Momentos inesquecíveis proporcionados por um elenco super afinado que brilha em sequencias memoráveis. O sucesso do filme tem origem bem conhecida. Nós, os espectadores. Fomos nós que lotamos as salas de projeção, nos emocionamos com o drama vivido pelo protagonista, rimos das trapalhadas da vidente picareta e o mais importante, saímos acreditando na força do amor verdadeiro. Aquele que nem a morte pode destruir. Antes de Melinda Gordon de Ghost Winsperer resolver os problemas entre os dois mundos, Ghost nos dava uma passagem segura pelos tortuosos caminhos do amor e com tudo que ele nos proporciona. Romance, intriga, emoção e uma boa dose de humor. Inesquecível neste e no outro lado da vida.

“O amor verdadeiro levamos conosco.”
O AMOR É IMORTAL

PRA SE APAIXONAR: Sam interpela Molly trabalhando em um projeto com argila. Ali segue uma sequencia de ritmo delicado ao mesmo tempo sensual e inebriante quando suas mãos se tocam moldando o barro numa clara metáfora de como se deve moldar um relacionamento. Cheio de percalços, imperfeições, mas com a força da união dos corações apaixonados de cada um. É uma das cenas mais românticas de todos os tempos.


MOULIN ROUGE – AMOR EM VERMELHO (Moulin Rouge, 2001)

“Ame ou odeie esta obra de arte visual, você não poderá dizer que já viu algo assim”
1001 Filmes para ver antes de morrer

Um conto de amor que nasceu nos salões inebriantes de um famoso cabaré da velha Paris. Moulin Rouge era o lugar preferido de todos os milionários da cidade à procura do prazer da companhia das mais belas mulheres da região. As noites festivas do estabelecimento agitavam a cidade luz, levando seus habitantes a um frenesi absoluto de sonho e luxúria. E é numa destas noites que o paupérrimo escritor Cristian (Ewan McGregor) se depara com a mulher de seus sonhos, a belíssima Satine (Nicole Kidman). Toda a trama começa com um escritor amargurado escrevendo suas memórias de um tempo de amor e beleza que terminou de forma abrupta. Através de suas palavras somos levados a uma sucessão de mal entendidos entre o casal. Quando a dançarina se encanta pelo escritor acreditando ser seu mais nobre cliente, o Duque (Richard Roxburgh) nasce um amor à primeira vista alimentado pelos belos poemas do rapaz para ela. Dali por diante, o casal, envolto da energia romântica das músicas bem como as palavras de amor, tende a lutar contra os terríveis contratempos de seu romance, que inclui as intervenções políticas do Duque no cabaré e uma inesperada doença da moça. Baz Luhrmann cria um espetáculo visual tão assombroso quanto os empolgantes números que complementam este esfuziante musical. Contudo, devemos ressaltar que a força de Moulin Rouge se encontra especialmente na atuação divina de Kidman como Satine, contrastando com um tedioso McGregor. Mesmo assim, a disparidade do casal não chega a comprometer o resultado final. À primeira vista, o filme pode decepcionar, mas não há como não deixar de com ele se relacionar, para depois tirar a impressão de que tudo dará certo no final. Afinal, trata-se de amor. Amor como o oxigênio, como uma coisa esplendorosa que nos leva às alturas. Não importa que críticas possam permeá-lo, pois só precisamos de amor.

“A coisa mais importante que se pode aprender é amar e em troca amado ser.”
O AMOR É COMPENSAÇÃO

PRA SE APAIXONAR: depois de um divertido mal entendido no Elefante quando a bela Satine (Kidman) não entende as intenções poéticas de Cristian (McGregor), o tímido poeta então utiliza outra poderosa arma de sedução: a música. Ele e Satine se deixam levar pelo clima inebriante da poesia declamada através do som irresistível de uma canção que tocou seus corações. Aliada às belas imagens do cenário criado por Luhrmann se tornam um espetáculo tão apaixonante quanto inesquecível!


CLOSER – PERTO DEMAIS (Closer, 2004)

“Vibra com o erotismo, gargalhadas e performances dinâmicas. Closer - perto demais é um triunfo!”
Rolling Stone

Pense em casos de amor que nasce numa rua num simples ato de esbarrar em alguém. Ou num casamento expirando seus últimos ares de um tempo romântico. É o que acontece respectivamente com os casais formados por Natalie Portman, Jude Law, Julia Roberts e Clive Owen. Os primeiros se esbarram na rua quando a enigmática Alice Ayres (Portman) sofre um acidente e é socorrida pelo jornalista Dan (Jude Law). Este encontro casual dá origem a uma relação cambaleante de dependência mútua que é nocauteada pelas intervenções gradativas da fotógrafa Anna (Roberts) e o médico Larry (Owen). Um casal que tenta entender as razões de muitas idas e vindas do casamento. Closer – perto demais brinca como uma dança das cadeiras das emoções humanas pautado no mágico poder do amor. Contudo, o que torna o brilhante filme de Mike Nichols algo hipnotizante é a ruptura deste amor mágico, aquele visto como um sonho surreal de felicidade eterna. A visão madura que o diretor dá a sua história de amor nos faz refletir mais sobre o eu ligado a cada um de nós do que a vida em comum que temos com outra pessoa e os proeminentes sentimentos suspirantes de um romance idealizado. Aqui não há finais felizes proporcionados pelo nós, num estalo fulminante de paixão, e sim finais em que o protagonista principal é o eu, o próprio ser humano, que delineia seu próprio destino. Os românticos ortodoxos que me desculpem, mas é simplesmente impossível não se apaixonar perdidamente pela história e suas incríveis nuances amparadas por um texto extraordinário e atuações irretocáveis. Destaque para Natalie Portman, indicada ao Oscar numa performance estupenda tanto na suavidade do romantismo quanto na dinâmica do erotismo. Sua personagem parece sintetizar os dois elementos primordiais deste sucesso cinematográfico, que nos faz olhar pra perto demais de nosso íntimo e, o mais fundamental, amar o que vemos. 

“Onde está o amor? Eu não vejo, não toco, eu não sinto.”
O AMOR É ILUSÃO

PRA SE APAIXONAR: a sequência inicial do filme quando Alice e Dan se entreolham no meio de tantos rostos pelas ruas ao fundo a canção “The Blower’s Daughter” de Damien Rice. Um momento forte e singelo que abre e encerra o filme. É impossível não se deixar levar pela sedução extasiante da belíssima letra da canção fundida com os sentimentos dos personagens. Simplesmente apaixonante! 


MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA (Memoirs of a Geisha, 2005)

“Uma adaptação visualmente estarrecedora do romance best-seller de Arthur Golden”
Oakland Tribune

Depois do estrondoso sucesso de Chicago, onde mostrou o universo das estrelas dos espetáculos musicais, o diretor Rob Marshall investe em mais um seleto grupo de estrelas fascinantes. As gueixas japonesas. Em Memórias de uma Gueixa, ele novamente utiliza a linguagem corporal como base para contar uma história de amor moldada por este hipnotizante universo. O filme narra as memórias da jovem Sayuri (Ziyi Zang) desde sua infância paupérrima até se tornar a mais cobiçada Gueixa da cidade. Na trama, momentos dramáticos de sua vida são o que não faltam. Vendida pelos pais, ela vai parar na mais famosa Okiya e começa seu treinamento para se tornar uma Gueixa. Sim, treinamento. Pois ao contrário do que todos possam pensar aqui as gueixas são mostradas mais como artistas do que qualquer outro estigma que posam tê-las acompanhado durante anos e anos. E é a mais pura arte eu impulsiona o filme de Marshall. A beleza das coreografias se mescla com um visual deslumbrante dos cenários e figurinos ajudando a criar uma magia impressionante na história de amor entre Sayuri e seu eleito, o Presidente (Ken Watanabe). Mas antes de poder viver intensamente esta paixão que nasceu enquanto ainda era uma criança, a jovem, como qualquer heroína romântica teve de enfrentar grandes barreiras. Entre elas a acirrada rivalidade entre as casas e suas estrelas, a inveja de uma estrela decadente (Gong Li) e os fortes preceitos de que uma Gueixa nasceu para entreter e não se apaixonar. Com a ajuda providencial de Mameha (Michelle Yeoh), a jovem sonhadora finalmente encontra o que procurava nos braços de seu amado. Apesar da resistência de alguns críticos ao trabalho feito por Marshall e a polêmica em torno da escolha de sua protagonista, o filme é um espetáculo em todos os níveis. A belíssima história, a construção dos personagens e o elenco representando o melhor da nata oriental, tornam este romance visual algo para ficar na memória.

“Não se pode dizer para o Sol mais Sol ou para a chuva menos chuva.”
O AMOR É IMUTÁVEL

PRA SE APAIXONAR: a apresentação oficial da gueixa Sayuri numa conceituada casa de shows. A música perfeita ao fundo acompanha uma dança hipnotizante de uma beleza surreal aos olhos de todos, especialmente do Presidente.


O SEGREDO DE BROCKEBACK MOUNTAIN (Brockeback Mountain, 2006)

“Acho que a ansiedade maior era fazer jus à beleza da história. O roteiro era perfeito, com um diretor perfeito e eu não queria ser o cara que estragaria tudo”.
Heath Leadger, um dos protagonistas do filme

Amores proibidos sempre estiveram à frente das mais fascinantes histórias em Hollywood. E pensando neste poderoso mote, o visionário diretor Ang Lee trouxe para as telas uma surpreendente história entre dois jovens vaqueiros na década de 60. Ennis Del Mar (Heath Leadger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal) são contratados para trabalhar no campo em Wyoming. A parceria de trabalho logo dá lugar a uma forte atração que um passa a nutrir pelo outro. Juntos, eles vivem intensas emoções dantes inimagináveis para cada um deles. Contudo, os dias de sonho são tomados pela realidade dos compromissos firmados na vida fora do campo, obrigando-os a sufocar este sentimento. Ennis constrói uma família com a batalhadora Alma (Michelle Williams) enquanto Jack se envolve com a campeã de rodeios Lureen (Anne Hathaway). Anos depois, eles passam a recorrer a encontros esporádicos no lugar onde descobriram sua paixão. A relutância de Ennis em assumir sua condição se explica pela violência de uma sociedade brutalizada pela ignorância. E é justamente este atenuante que põe fim à este romance inesquecível. A ousadia em fazer um filme com um tema tão polêmico entrou para a história ao superar o preconceito e derrubar os mais indissolúveis tabus. O segredo de Brockeback Mountain tinha tudo para se tornar um estereótipo de zombaria que diariamente aparece nos programas de humor, se não fosse pela visão inteligente e sensível de um diretor que soube contar de forma genial algo bem maior que um filme de cowboys gays. O murmúrio gerado em torno do tema é rapidamente sufocado pelo roteiro formidável, interpretações seguras que dão suporte a uma fantástica história de amor. Seu poder reside em mostrar o lado mítico do amor incondicional e suas razões de ser mesmo diante de tantas adversidades. Aclamado pelo público e pela crítica, é uma obra-prima que toca os corações, faz refletir e desperta emoções tão fundamentais quanto à certeza de que o amor é mesmo capaz de mover montanhas.

“Às vezes sinto tanto sua falta que acho que não vou conseguir”
O AMOR É PERSEVERANTE

PRA SE APAIXONAR: o pensativo Ennis à beira da fogueira tenta controlar suas recentes emoções em vão. Ele adentra a barraca onde Jack o espera e se rende à paixão. Na manhã seguinte, os dois marmanjos transformam-se em meninos numa brincadeira que simboliza os momentos que estão partilhando entre eles com a natureza de testemunha.


DESEJO E REPARAÇÃO (Atonement, 2007)

“Desejo e reparação mistura a prosa sofisticada de McEwan ao estilo direto de Wright”
SET

O casamento do diretor Jon Wright com as páginas teve seu ápice neste romance irretocável vencedor do Globo de Ouro em 2008. Baseado no best-seller de Ian McEwan, o filme narra a história de Briony Talles (Saiorse Ronan), uma jovem aspirante à escritora que usa sua ferrenha imaginação para destruir o amor de sua irmã Cecília (Keira Knightley) pelo jovem batalhador Robbie Turner (James McAvoy), por quem Briony também nutre sentimentos apesar da pouca idade. Ao flagrar os dois amantes juntos na biblioteca, ela se deixa levar pelo ciúme. O desejo de vingança a leva a um surto de criatividade ao acusar o rapaz de um crime que não cometeu. Separados pela mentira, o jovem casal vive dramaticamente o restante de suas vidas com a chegada da Segunda Guerra Mundial. A família de Cecília perde todo seu status e fortuna enquanto ela se torna voluntária nas enfermarias improvisadas. Robbie ingressa nas Forças Armadas, passando por todos os tipos de provação nos fronts na esperança de um dia rever seu amor e concretizar seus sentimentos por ela. Em vão. Ambos acabam sendo vítimas do momento opressor e veem seus sonhos destruídos. Agora cabe a talentosa Briony dar a eles o final feliz como expiação de um erro irreparável. A construção minimalista da personagem central a qual se desenvolve a trama é o ponto principal de Desejo e reparação. A veterana Vanessa Redgrave e a jovem Romola Garai imprimem segurança as nuances categóricas de Briony a cada passagem de tempo, mas é na interpretação soberba de Ronan que reside à força da história muito bem contada por um grande roteiro intercalado por sequências de rara primazia. Wright acerta na escolha de seus protagonistas e eleva seu filme a categoria de uma das melhores obras românticas já feitas no cinema. Nele são inseridos tópicos interessantes da dualidade humana como fio condutor de uma fabulosa história e suas vertentes de amor, paixão, desejo e reparação.

“Mas que sentido de esperança ou satisfação poderia ter o leitor com um final desses? Por isso, no livro, eu quis dar a Robbie e Cecília o que eles perderam na vida. Gostaria de pensar que isto não é fraqueza ou evasão, mas um ato final de bondade. Eu doei a eles sua felicidade.”
O AMOR É DOAÇÃO

PRA SE APAIXONAR: a sequência final do filme em que Briony, já em idade avançada confessa que o final feliz que os jovens tanto ansiavam veio por meio das páginas de sua última obra. Enquanto narra detalhadamente às razões que a levaram a este ato, vimos Cecília e Robbie emanando a alegria de todo o amor que nutriam frente às ondas do mar. Uma sequência de imagens belíssimas e apaixonantes!



PIAF – UM HINO AO AMOR (Piaf, 2008)

“O mais impressionante mergulho de uma artista no corpo e alma de outra artista que jamais vi no cinema”
THE NEW YORK TIMES

Poucos filmes biográficos tiveram um casamento tão perfeito com a mais pura arte quanto Piaf – Um hino ao amor. O filme de Olivier Dahan traça um perfil artístico minucioso de uma das maiores estrelas da música mundial. Edith Piaf (Marion Cotillard) tinha tudo para ser mais uma das enormes afortunadas na miséria da França, senão fosse seu enorme talento para cantar e despertar paixões. A extraordinária vocação vem desde a infância onde começou a se apresentar nas ruas com o pai. Na juventude, ela logo chama a atenção de Louis Leble (Gérard Depardieu), um conhecido empresário do ramo musical. Sua carreira decola a um compasso meteórico e suas apresentações encantam a Europa. No entanto, como acontece com a maioria das estrelas, sua vida profissional entra em descompasso com a pessoal quando uma série de traumas sofridos a leva ao declínio profissional e físico. No entanto, a personalidade apaixonante da cantora conduz o filme de maneira homogênea e é extasiante admirar sua força de vontade e determinação por algo que faz com amor. Uma personagem desnuda pelos acertos e especialmente pelos erros, numa notória eficiência de seu roteiro que vai do passado ao presente pautado na escuridão hipnotizante de Piaf, uma figura tão complexa. Tudo captado com precisão pelas lentes de Dahan. O teor biográfico da obra é o levante para se apreciar. As passagens de tempo perfeitamente intercaladas pelo roteiro leva o espectador a conhecer as incríveis nuances de uma estrela esplendorosa magnificamente interpretada por Cotillard. A atriz capta com maestria as características tão físicas quanto psicológicas de Piaf. Uma mulher que soube usar a arte de amar como poucas. “Ame”, foi um dos últimos conselhos que deixou a todas as mulheres em suas últimas entrevistas. Um deslumbramento primal para uma obra que funde magnificamente a paixão decantada pela música e pelo cinema como um hino que nos encanta gerações.

“Rezo porque acredito no amor.”
O AMOR É FÉ

PRA SE APAIXONAR: a apresentação final de Piaf precedida de uma entrevista emocionante da cantora que tricota frente ao mar. A música é belíssima e a interpretação de Cotillard é arrepiante. Um verdadeiro hino ao amor!


AO ENTARDECER (Evening, 2009)

“Ao entardecer nos brinda com a sensibilidade de um elenco  poderoso”
Flávia Cristina, fã de grandes atrizes

Depois do entardecer vem chega a noite e junto com ela a escuridão que nos toma por completo nos obrigando a um encontro intimista com erros e acertos de nossa vida. Este é o tema principal da história de Ann (Vanessa Redgrave), uma senhora que está no leito de morte e resolve fazer um balanço de tudo que viveu. Ela volta há 40 anos, mas precisamente ao final de semana do casamento de sua melhor amiga. Época em que acredita ter encontrado e perdido sua felicidade com o único homem que amou. A jovem Ann Grant (Claire Danes) e o charmoso Harris Arden (Patrick Wilson) passam apenas uma noite juntos, mas o suficiente para nascer entre eles uma forte paixão. Apaixonados, chegam a fazer planos até a morte precoce de Buddy (Hugh Dancy), amigo em comum do casal interrompe seus sonhos. Dali por diante a vida de Ann e Harris é marcada por frustações inimagináveis. Sendo a maior delas nunca terem se visto mais. Baseado na obra de Susan Minot e desenvolvido para o cinema pelo roteirista Michael Cunningham, é uma grata revelação contextualizada numa grande história com um belo roteiro e o mais fundamental, um passeio pelos impulsos das paixões, que sempre nos obriga a conviver com nossas escolhas. Apaixonante em todos os sentidos. Desde a locação magnífica, a trilha sonora, até a escolha do elenco, a espinha dorsal da trama. Além da extraordinária Redgrave e a promissora Danes, as presenças de Toni Collette, Glenn Close e a fabulosa Meryl Streep, engrandecem o filme de uma maneira jamais vista no cinema. No entanto nem só de grandes interpretações femininas se faz Ao entardecer. O jovem Dancy também marca uma forte presença em cena. A complexidade dos personagens exigia um elenco grandioso e sensível, pois se trata de uma obra tal qual que toca no mais íntimo dos sentimentos. Aqueles mais adormecidos que de vez ou outra acordam num entardecer de nossa existência.

“Nós somos criaturas misteriosas, não somos? E no final tanta coisa acaba não tendo importância.”
O AMOR É VIDA

PRA SE APAIXONAR: Ann e Harris saem para um passeio noturno quando o rapaz lhe mostra uma estrela a qual batizou ser “madrinha” de sua paixão. Ali, com ela como testemunha, selam o primeiro beijo.

Um comentário:

  1. Texto mesclando poesia e cinema. Extraordinário. Que orgulho minha irmã.
    Beijão.

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