The
Pianist, 2002. Dirigido por Roman Polanski. Com Adrien Brody, Thomas
Kretschmann, Michal Zebrowski, Ed Stoppard, e Maurren Lipman.
Nota: 8.5
Começa com ela e termina com ela. Ela, a música,
na mais clara tradução de sua enfática relevância na vida de Wladyslaw Szpilman (Adrien Brody), um pianista judeu que sobreviveu ao terrível
Holocausto na Polônia. O país mais atingido pelas mazelas da Segunda Guerra. O
filme mostra em fatos metódicos como o pianista mais popular da Rádio Polonesa escapou
de um destino trágico por meio de seu talento. Sua educação e boa formação
impediram que em nenhum momento perdesse sua dignidade humana mesmo diante dos
absurdos eventos. Algo que podemos acompanhar já na primeira sequencia quando
Szpilman teima em não desgrudar de seu piano até que a última pedra caia sobre
ele e fira seu rosto. Nela fica claro que a esperança de dias melhores para ele
e sua família é o que alimentava sua fabulosa arte. Porém, aos poucos o
admirável som de seu piano é sufocado pelos estrondos das armas que invadem
Varsóvia. O pianista já não tinha mais como desenvolver sua arte e assim, em
nome da necessidade, se desfez de seu mais valioso bem. A ele só restou o
conformismo em ver sua família mandada para os campos de concentração enquanto ficava
lutando para sobreviver na capital.
Seu nome se constituiu como um forte apelo junto
a todos da cidade, e sua postura de homem íntegro o ajudou a vencer os
tortuosos anos de uma guerra enfadonha. Enquanto seu irmão e vizinhos se
armavam em torno do Gueto para resistir, Szpilman colecionava amigos através da
música. Estes mesmos que o ajudaram no momento mais crítico de sua existência.
Pousando entre um endereço e outro, convivendo com a fome e a doença, suas mãos
que antes necessitavam apenas de uma força delicada, agora tinham que se
embrutecer na força de um trabalho quase que escravo. O único alento que
encontrava neste meio tempo, era o inseparável instrumento. O piano, que de vez
em quando surgia em seu caminho. Um amigo que predizia algo de bonança depois
da tempestade de anos de uma tortura física e psicológica.
A vida de um artista de alma sensível que lutou
silenciosamente contra a brutalidade de um vergonhoso sistema de domínio de
raças é o tema central desta obra-prima de Roman
Polanski. O diretor o define como a vitória do homem e sua música sobre o
horror, mas na verdade é uma vitória dele próprio como diretor
personificado no Oscar que faturou pelo trabalho. Sua experiência pessoal com
os acontecimentos canalizados no filme o ajudou a criar uma alquimia perfeita
entre personagem-ator-história-diretor. Quatro elementos que bastaram para
fazer de seu longa algo imprescindível de ver, admirar e principalmente se
emocionar com sequencias brilhantes de ação inserida no drama da vida de Szpilman.
Em alguns momentos é possível até classifica-los como momentos de um monólogo
teatral. Este elo traz ao filme uma riqueza notória de detalhes na
interpretação fantástica e vencedora do Oscar do multitalentoso Adrien Brody, um dos melhores atores do
cinema que infelizmente não tem tido muitas oportunidades na atual conjuntura.
Além do conteúdo cinematográfico, O Pianista é uma obra histórica. A
formação do Gueto de Varsóvia e de seu Levante, que resistiu até os últimos
momentos contra uma ditadura cruel, são mostradas sob a ótica de um artista que
usou sua coragem para produzir algo bem mais relevante em tempos de guerra. A
música ao invés de armas. A amizade ao invés do ódio. O carisma ao invés do
repudio. Tudo para atingir os corações de um seleto grupo de pessoas que curtem
futebol, música ou cinema. Não importa o que te impulsiona quando o assunto é
se envolver com uma história entre rajadas de sentimentos tão voluptuosos que
só mesmo um diretor como Polanski deixa aflorar.
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