Bruna
Surfistinha, 2011. Dirigido por
Marcos Baldini. Com: Deborah Secco, Cássio Gabus Mendes,
Drica Moraes e Fabíula Nascimento.
Nota:
5
Deborah
Secco mergulha na vida de uma famosa garota de programa e acaba
tomando caldo num filme com ares de cinema privê
A
ideia era interessante. Transportar para as telas os encontros
sexuais da garota de programa mais famosa do país. De uma
adolescência desencontrada, passando pelos bordeis até
chagar as páginas interativas de seu notebook, a garota que
nasceu Raquel Pacheco, contou em “O doce
veneno do escorpião” sua saga como
Bruna Surfistinha,
aquela que se tornou a prostituta mais desejada da cidade e uma
celebridade nacional.
A
história começa com a jovem
Raquel, filha de classe média, que
opta por simplesmente odiar tudo e todos a sua volta. Num belo dia,
sem nenhuma razão de ser, coloca a mochila nas costas e toma
seu próprio rumo. Já com a ideia de se tornar uma
prostituta, Raquel vai parar numa espelunca onde é explorada
por uma cafetina nada amigável (a
excelente Drica Moraes). Em pouco tempo e
muito “talento”, Raquel se torna Bruna, a garota mais procurada
da casa, o que desperta ciúme nas demais companheiras. Após
ser expulsa do estabelecimento por uma falsa confissão de ser
usuária de drogas, a Bruna se torna Surfistinha, e por meio de
um blog na rede social sua vida profissional dá uma guinada
tão grande que acaba caindo nas terríveis armadilhas de
um sucesso meteórico. Bruna vai do céu entre fama,
baladas e amigos providenciais, ao inferno de se tornar dependente de
cocaína e sexo desenfreado. Ondas intercaladas entre a
turbulência de uma vida pouco convencional e a calmaria no
apoio incondicional de um apaixonado cliente (Cássio
Gabus Mendes).
É neste tempo de sobriedade que Bruna resolve escrever seu
livro, onde conta suas aventuras sexuais com os mais variados
parceiros em busca de nada mais, nada menos, do que prazer.
Aliás,
o filme dirigido por Marcos Baldini
estava mais para nada menos. O roteiro, baseado no livro citado
acima, se revelou um vicioso estigma dos filmes nacionais que remetem
o tema, mostrando excessivas cenas de puro sexo e luxúria, sem
a mais remota preocupação em dar ênfase a uma
questão mais sentimental a fim de desnudar emocionalmente a
personagem. Fica sem razão de serem as questões
aparentes que levaram o patinho feio do colégio em desejar
vender seu próprio corpo. É como se garota de programa
fosse o emprego dos sonhos de qualquer garota que deseja ser
independente. Uma coisa meio Capitu de Laços de Família,
com direito a final feliz no subir dos créditos.
Embora
a proposta do filme seja falar sobre sexo, suas aventuras se perderam
em cenas fracas de mero apelo sexual. Talvez seja este o ponto
positivo do filme que acertou em cheio ao escalar a sensual Deborah
Secco como protagonista. O papel recusado
pela talentosa Mariana Ximenes, não poderia ter ido parar em
melhores mãos. Deborah mergulha profundamente na personalidade
sexual da personagem e se o roteiro ajudasse um pouco mais, poderia
ir mais fundo nas emoções de sua surfistinha. Tudo fica
na superfície, esvaziando um roteiro já esvaziado pela
falta de uma coerência no mínimo racional. Poderia ter
tomado uma vertente maior e mais interessante explorando
sensivelmente um mundo que ainda é tabu na sociedade. O
submundo da vida das garotas de programa. Assim, os espectadores
poderiam mergulhar mais profundamente nos sentimentos verdadeiros da
moça, retratados de próprio punho num diário que
depois virou um best-seller.
Para
os mais fanáticos (lê-se:
ninfomaníacos), o filme conseguiu
passar sua proposta, ou seja, sexo, sexo, e mais sexo. Mas para quem
gosta de uma boa arte cinematográfica, Bruna
Surfistinha está muito longe de ser
algo apreciável, mesmo se tratando de um tema que exime o
adjetivo. A falta de racionalidade em construir os personagens e dar
uma carga mais emotiva a todas as passagens faz sua prancha boiar
numa onda gigantesca de minutos que do início ao fim nos
deixam à deriva.
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