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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Oito e Meio (1963)

Otto e Mezzo, 1963. Dirigido por Federico Fellini. Com Marcello Mastroianni, Claudia Cardinale, Anouk Aimée, Sandra Milo, Rossella Falk, Barbra Steele, Mario Pisu, Guido Alberti, Madeleine Lebeau e Tito Masini. 
Nota: 10

O que faz de um mestre diferente de um bom diretor é sua capacidade de fazer uma obra incomparável e inadaptável, ficando assim única para a posterioridade cinematográfica. E não são muitos exemplares, mas com certeza um deles é Federico Fellini. E seu Oito e Meio provou que sua perícia atingia ali seu ápice, transportando para a película a psicodelia de uma mente perturbada, confusa e paranoica. Uma verdadeira aula de cinema metalinguístico em todos seus fundamentos. 

 O filme narra o processo de afasia criativa do diretor Guido Anselmi (Marcello Mastroianni), que depois de um grande sucesso, é pressionado por atores e produtores a revelar os elementos do roteiro de seu novo filme, que ainda nem existe. Sua crise desencadeia uma sucessão lembranças de momentos relevantes de sua vida e das mulheres que fizeram parte dela e que nunca conseguiu dar a importância devida. Fellini não tem uma lógica narrativa convencional, e faz-se valer de sua capacidade de transmitir intimismo para conseguir associar Guido com os personagens ao seu redor, tudo dentro de seus devaneios. Atribui às mulheres da vida do protagonista os elementos que compõe sua psique artística, alegoricamente (e brilhantemente) mostrada na sequência em que, com um chicote, tenta domá-las, depois de uma rebelião mental. 

 O diretor soube transformar seus próprios demônios em uma obra fascinante. Sim, Guido é Fellini, em um processo de autocrítica e transformação artística. Escalou seu principal colaborador (Mastroianni) e tirou de sua própria viajem um enredo singular e jogou em uma película. Poderia ter dirigido sem mesmo criar um roteiro convencional em um papel. Tudo o que se passa no filme nada mais é que uma metalinguagem dentro de outra, algo surreal, complexo, às vezes sombrio, outras divertidas e rítmicas em toda excelência da trilha de Nino Rota. 

Será sempre reverenciado pela forma como rejuvenesceu a arte cinematográfica europeia, trazendo-a as portas de uma modernidade irreversível, sem perder de vista seu papel como pura arte. Obra-prima que, como dito, se torna única e inadaptável, fato que levou ao fracasso a tentativa de ser concebido por um musical em Nine (2009). Pois se trata de algo que só existe na cabeça de mestres, e como Fellini infelizmente se foi, ninguém mais o pode refazer.

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