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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Casablanca (1942)

Casablanca, 1942. Dirigido por Michael Curtiz. Com Humphrey Bogart, Ingrid Bergman e Paul Henreid

Nota: 10


Setenta anos após sua primeira exibição, o histórico filme de Bogart e Bergman ainda se mantém jovem na memória e no coração dos apaixonados do mundo todo

Um velhinho que todos amamos. Carismático, culto, nobre, apaixonante, inesquecível. Ele é capaz de nos contar grandes histórias ao mesmo tempo em que embala nossos sonhos e nos faz respirar um tempo de felicidade e nostalgia. Ele poderia ser meu, seu, nosso avô. E talvez seja, afinal, marcou a minha, a sua, a nossa interminável história de amor com o cinema do mais alto nível como parte de nossa bela família.

Casablanca é o nome da cidade marroquina que servia como rota de fuga para os refugiados durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos a buscavam como ponte em direção a uma nova vida na emergente América. O comércio era movimentado por apostas, jogatinas, fraudes e muito suborno. No meio desta infindável teia de intrigas se encontra o cínico Rick Blaine (Humphrey Bogart, primoroso), dono de um bar, que funcionava clandestinamente como cassino. Embora quisesse se manter neutro nas questões políticas que rondavam incessantemente seu estabelecimento, Rick não conseguia controlar seu coração sentimental e sempre acabava se envolvendo de um jeito ou de outro com os problemas dos menos favorecidos. Seu passado como combatente a frente das linhas da resistência durante a Guerra era tão difícil de ser esquecido quanto à paixão avassaladora pela bela Ilsa Lund (Ingrid Bergman, fabulosa). Aliás, é neste romance que se centra toda a magia e o charme do filme histórico de Michael Curtiz.

A paixão mais avassaladora do cinema teve raízes na Paris proeminente da invasão alemã. Em sequências de flashback, vimos como Ilsa, desiludida pelo fato do marido ser dado como morto nos campos de concentração alemães, se refugiou nos braços do charmoso Rick e juntos, viveram dias de intensa harmonia romântica. Até que o avanço das tropas alemãs pela cidade luz interrompeu o seu felizes para sempre, obrigando-os a uma evasão da bela cidade. Porém, em mais uma sequencia, vimos um Rick encharcado na estação de trem de posse apenas de um bilhete de despedida escrito por Ilsa. Lá se fora Paris. Amargurado, o boêmio parte para o Marrocos, onde investe no Rick’s CaféAmerican, o lugar mais frequentado da cidade. É justamente ali que a paixão se reacende novamente quando Ilsa desembarca na cidade com seu marido Victor Laszlo (Paul Henreid), o mais famoso líder dos movimentos da resistência europeia. O casal militante adentra o bar e um encontro inevitável com o passado deixa Rick inconformado - “De todos os botecos, de todas as cidades, do mundo todo, ela entra no meu.” É o destino. O mesmo destino que fez do cínico um herói altruísta. Ilsa e seu marido Laszlo se tornam alvos dos alemães na cidade, e dependem da providencial ajuda de Rick para escapar de um destino trágico. O herói nada convencional é obrigado a decidir o que é mais importante neste cenário: terminar o que começou com sua amada Ilsa ou abrir mão de seus sonhos em prol de uma causa muito maior.

Partindo deste vértice, se desenrola um fabuloso triângulo amoroso, e um dos melhores e mais aguardados desfechos de todos os tempos. Tanto que a razão do roteiro ter sido escrito de forma gradativa foi para que os atores não soubessem com antecedência o final de seus respectivos personagens. Esta indefinição só ajudou no impacto formidável que teve a cena. No aeroporto, o trio se despede com Ilsa partindo ao lado de seu marido com todo o apoio e consentimento de Rick. Desta vez nada de dor e ressentimento, apenas a certeza de um final feliz para sua história e o propósito de uma luta que já foi sua, assim como Ilsa.

Tido como maior mito romântico Hollywoodiano de todos os tempos, e vencedor do Oscar de melhor filme, direção e roteiro, Casablanca é muito mais que uma história de amor e todos os seus nuances. É um filme realizado sob proporções gigantescas desde a construção dos cenários, os efeitos visuais (formidáveis para a época), as interpretações de um elenco afinado e a inserção de sonho numa época em que uma cruel realidade invadia a história. Afinal, fazer um filme de Guerra na época da própria não deixa de ser uma marca ousada premiada pelo sucesso estarrecedor de uma obra de elementos antigos ao mesmo tempo tão jovial por seu conteúdo histórico e artístico.

O filme que adjetivou as carreiras do sisudo Humphrey Bogart como o herói cínico e charmoso e a bela Ingrid Bergman como modelo de elegância e presença contundente dentro e fora das telas, continua sendo, mesmo com o passar dos tempos, uma obra-prima obrigatória para todos os apaixonados ontem e hoje por justamente focar num tempo onde só mesmo o amor para vencer todas as barreiras. E foram muitas para Casablanca. O que fez desse desafio algo ainda mais fabuloso. Não tem como não gostar de cinema se não gostar de Casablanca e por todo clima que ele envolve. Apesar de seus 70 anos, ele ilumina a tela com romance, intriga, suspense, ação homogeneizados num roteiro impecável. Um velhinho que sabe como poucos contar uma grande história. Que deixa em nossos corações a certeza de que sempre teremos o amor pelo cinema, o charme de Rick e Ilsa, e a destreza do velho Sam ao tocar As time goes by. A certeza de que estes sentimentos nunca ficam estagnados numa estação. A certeza de que sempre teremos Casablanca.  

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