Trust, 2011. Dirigido por David Schwimmer. Com Clive Owen, Catherine Kenner, Lieana Liberato e Chris Henry Coffey.
Nota: 8.4
É uma grande surpresa quando
acompanhamos os créditos finais de Confiar
e descobrimos que o diretor David Schwimmer é o mesmo que brilhou como o
“Ross”, na cultuada série de TV Friends.
Pois se trata de um filme intimista e analítico, que causa certa repulsa a
aqueles de mente menos adeptas as realidades do mundo atual. Um conteúdo totalmente
antônimo à atmosfera cômica do siticom do qual fazia parte, e muito mais cinema
que a comédia irregular Maratona do Amor
(2007), em que debutou como diretor.
Nessa nova empreitada de
Schwimmer, o roteiro de Andy Bellin e Robert Festinger, mostra a devastação
causada por uma situação que ocorre cada vez mais nos dias atuais, a pedofilia.
Ao fazer quatorze anos, Annie (Liana Liberato) ganha um computar de seu pai
Will (Clive Owen), e com ele passa a ficar cada vez mais intima de Charlie
(Chris Henry Coffey), seu namorado virtual que conheceu em um chat. Mas quando
a adolescente tem contato com ele e é abusada sexualmente, uma série de
provações terão de ser enfrentadas por ela e sua família.
O interessante do filme é que ele
não vem com a proposta de ser uma espécie de novela, caracterizando vilões e
mocinhos. A ação está centrada na consequência intima de cada um dos
personagens, principalmente da jovem e do pai. Há uma grande preocupação do
diretor em transmitir a expressão, a dor silenciosa que corrói o transtornado
Will, e a incerteza e a culpa que povoa a mente de Annie, por isso a demasiada
quantidade de primeiros planos e closes. A fotografia de Andrzej Sekula torna a
aura tenebrosa mais sufocante, tornando o cenário ainda mais dolorido.
A confiança é realmente a grande
questão implícita no longa. No mundo atual não há uma linha delimitadora do
certo ou errado e os jovens ficam a mercê de um mundo do qual seus pais tem
cada vez menos controle de tudo que os rodeiam. É nesta questão que entra o
desespero de Will, quando percebe que não foi cuidadoso o suficiente, e que
confiar não é simplesmente dar uma liberdade total a um filho, e sim educá-los
para descobrirem por si mesmos o limite do certo e errado.
Além da inovadora inclusão dos
posts trocados por Annie e Charlie na tela, para que o expectador consiga
acompanhar a vida real e a virtual da menina ao mesmo tempo, outro acerto do
diretor foi de não se apegar ao que aconteceria com o pedófilo. Não houve uma
necessidade de incluir uma punição, assim como ocorreu em Um
Olhar do Paraíso
(2009), onde a situação fazia parte de todo o aprendizado que se submeteu a
personagem central. No caso de Confiar,
a morte ou prisão do vilão tiraria o tom realista (mesmo que cruel) do filme.
A jovem Liana Liberato da uma
verdadeira aula de interpretação. Ao lado de um Clive Owen esforçado, desaparecido
desde Closer (2005), tornam ainda mais
verdadeiras as situações enfrentadas pela família. Um filme pesado sem ser
agressivo e um estudo de comportamento excelente que irá agradar os genuínos
amantes de um bom drama. É também um
sinal verde para Schwimmer continuar investindo na carreira atrás das câmeras.
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