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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

QUANDO RIR NÃO É O MELHOR REMÉDIO



Certa vez em um programa de TV a humorista Maria Clara Gueiros falou da diferença entre se fazer drama e comédia. Analisando o grau de dificuldade de ambos, elegeu a comédia como algo mais difícil a se fazer. Segunda ela, o drama é estático, unilateral. Fazer chorar é algo inapelável, ou você arranca as lágrimas providenciais ou tem de conviver com o fato de que não consegue emocionar ninguém. Já a comédia, tem muitos apelos, nuances improviso, que te levam a vários caminhos. Esse é o problema. Ou você se transforma no centro catalizador do riso, ou vira a própria piada, e se pega rindo, você sozinho ou de você mesmo. Neste caso, a exposição é maior quando se necessita de uma aprovação imediata. A rejeição pode significar o fim de uma carreira promissora no humor. Diante destas situações, optar por um caminho mais fácil pode muitas das vezes transformar uma boa comédia em algo profundamente lamentável de se ver.

Uma tirada inteligente, um sarcasmo bem-vindo em momentos oportunos, uma ironia cética, são ferramentas indispensáveis na arte de se criar uma comédia saudável, as chamadas comédias cabeça. Mais do que fazer o público rir, elas têm como objetivo elevar o nível da condição, provocando uma satisfação bem-vinda que liga o humor à reflexão. Este tipo de comédia age objetivamente na capacidade de pensar, de usar mais a cabeça do que os olhos. Ou seja, não é necessário presenciar a situação, basta apenas imaginar como ela se realizaria. Este processo infelizmente é algo que tem perdido espaço para as comédias mais escrachadas e exageradamente apelativas. Rir de uma situação inusitada é o forte de uma boa piada, mas o que fazer diante de situações que fogem do controle chegando à beira do asco?

O sucesso ou o fracasso de uma piada depende da maneira que se interpreta seu contexto. E é inevitável se fazer humor sem usar os “elementos especiais.” As pessoas em suas relações sociais, bem como sexo e sexualidade. Nas relações vemos os grupos específicos de pessoas. Neles se encaixam os homossexuais, os negros, as loiras, os gordinhos, os imigrantes e judeus. São eles os protagonistas mais visados na hora de contar uma piada. A polêmica se instala quando boa parte dos defensores destes grupos não aceita a maneira como estes temas são abordados, acreditando ser um tipo de retaliação por parte das pessoas encarregadas do humor.

No entanto, cabe ao público ou até mesmo a estes grupos, interpretar o grau de insulto que estas piadas possam acarretar. E isto é pensar. Usar a cabeça para trabalhar em prol ou contra a um determinado estilo de achar ou não engraçada uma determinada situação. São estas as bases que sustentam, por exemplo, há mais de 20 anos, o humor irônico de Os Simpsons. Apesar de em algumas vezes serem tachados de ofensivos, é inevitável não cair na gargalhada vendo que este tipo de ofensa vem de personagens tão infames que se tornam o centro do deboche de suas próprias piadas.
Se você não consegue levar a sério o que Homer Simpson diz ou da maneira escrachada como age, está no grupo de pessoas que sabem aceitar que a origem da piada vem do próprio ser humano, onde por vezes se encontra rindo do preconceito em si e não do grupo a qual ele almeja. “A piada é uma conversão de algo ruim em algo engraçado. O cerne da piada é sempre alguém que não seja você”, explica a humorista Natália Klein. Portanto, quando você tenta analisar, ou seja, dissecar a piada, não há mais razão dela existir e aí cai no limbo de sua mente. Bem como afirma o cartunista Laerte: “Se em nome de analisá-la, você parte para a vivissecção, ela morre e daí não adianta continuar”. Este foi o motivo pelo qual a comédia Legalmente Loira fez tanto sucesso. Além de colocar a atriz Reese Winsterpoom no hall das grandes estrelas de Hollywood, o filme começa como um insulto à capacidade intelectual da jovem e termina como uma resposta sadia a seus críticos numa grande reviravolta. Um êxito perfeito no que diz respeito ao sintoma e sua solução.

Além dos grupos humanos, as conotações sexuais são as mais relevantes na hora de fazer rir. Este é um poderoso fio condutor das chamadas piadas de duplo sentido, aquelas que nos permitem uma interpretação subjetiva. Até aí tudo bem. Mas quando estas piadas ganham um corpo, ou seja, o ver se torna mais importante que o imaginar, as coisas fogem do controle e o que era para ser engraçado acaba provocando certo desconforto para quem assiste. Roberto Santucci, diretor da comédia nacional De Pernas Pro Ar, analisa este elemento da forma mais racional quando se leva em consideração o contexto ao qual ele pode estar inserido. Pode servir tanto como a isca ou como o motivo de afastamento do público.

Coisas do tipo O Virgem de 40 Anos, que nos viola com cenas insistentes de puro descarte, vimos uma moça vomitando em cima do protagonista dentro do carro após beber todas, ou o nacional Muita calma nessa hora, de um humor bobo sem pé nem cabeça, o rapaz tem que pegar seus objetos pessoais no vômito de uma das moças com quem saiu, é de dar náusea em qualquer um. É triste constatar que alguém pode ter achado alguma graça em uma das cenas de Quem vai ficar com Mary? Aonde vimos uma chuva de esperma rompendo o ar. Todos tentando beber da fonte de American Pie, o pioneiro do gênero. E o mais triste ainda é constatar que este tipo de comédia é algo que faz a “cabeça” do público jovem que lota as salas de projeção em busca de um humor descartável e nada saudável para a mente.

Na sociedade doente em que vivemos hoje, a comédia se torna cada vez mais uma válvula de escape para os inúmeros problemas que enfrentamos a cada momento. Rir é o melhor remédio para deixar de lado, nem que seja por alguns instantes, tantos absurdos que permeiam nossos noticiários todos os dias. Contudo, é preciso que saibamos exatamente de qual elemento é feito este remédio e que benefício extra ele pode gerar para o corpo e principalmente para a mente. Pois se não surtindo o efeito esperado, é provável que as contraindicações sejam as piores possíveis.


AMIZADE COLORIDA (Friends with benefits, 2011)

Com Mila Kunis e Justin Timberlake
Cotação: ☻☻☻

O filme é bem mais que uma chata comédia romântica. Primeiro, ele foge dos padrões estereotipados do gênero ao brincar ironicamente com filmes do mesmo. O amor aqui é colocado como um simples clichê superado pelo forte apelo sexual do casal de protagonistas que se veem desiludidos depois de terminarem seus relacionamentos amorosos. Mila Kunis vive uma headhunter nova-iorquina que tenta trazer para sua cidade um promissor editor de um blog em Los Angeles vivido por Justin Timberlake. De colegas profissionais eles passam a amigos ocasionais que resolvem superar suas frustações amorosas entre os lençóis. Tudo em comum acordo. O sexo sem compromisso os leva a descobrir os verdadeiros sentimentos que um nutre pelo outro à medida que o relacionamento passa a ir além do físico. As cenas de sexo entre a dupla de atores fogem da grosseria e vulgaridade dando um tom de leveza a um assunto tão complexo. E os diálogos desmistificam o tabu em torno disso. A química esfuziante entre a bela Kunis e o charmoso Timberlake é o estopim do êxito desta comédia, que junto com as participações mais que especiais do excêntrico Woody Harrelson, como o amigo gay do rapaz, e Patrícia Clarkson como a desinibida e confidente mãe da moça, fazem deste filme algo bem colorido de se ver.

ESPOSA DE MENTIRINHA (Just go with it , 2011)

Com Adam Sandler e Jennifer Aniston
Cotação: ☻
Embora o filme tenha tido o mérito de reunir dois grandes nomes quando o assunto é comédia, não dá para aguentar uma sinopse tão machista permeada de piadas insossas dentro deste contexto. Sandler interpreta o mesmo personagem em todos seus filmes. Não há nenhum esboço que seja ínfimo de sinal que lembre uma interpretação de sua parte. Talvez ele já tenha percebido que suas caras e bocas são suficientes para arrecadar milhões em bilheterias. Chato e extremamente cansativo, o ator nem de longe consegue arrancar risadas sem ser débil ou infantil. Esta certamente é a explicação de suas melhores cenas serem na companhia de crianças. Vendo Sandler interpretar personagens tão generosamente valorizados em questão de relacionamentos, dá vontade de fazer um filme assim também. Leo Di Caprio e Brad Pitt não me escapariam! Aqui o vimos interpretando (mais uma vez) um conquistador que para “pegar” a mulher por quem se interessou, faz um acordo com sua assistente. Uma tímida e sonolenta profissional, que de repente dá lugar a um tremendo mulherão no corpo de Jennifer Aniston. Só mesmo um idiota para não querer ficar com a “esposa de mentirinha”, uma vez que Aniston é bem mais bonita e atraente que a tal que ele tenta conquistar. A mentira cresce em proporções colossais virando uma avalanche de erros. No final, ele descobre (finalmente!) que a esposa de mentirinha é a mulher ideal para ele. Algo que não necessitaria de quase duas para acontecer. Um humor idiota engrossando diálogos pobres em situações esquecíveis entre os personagens. Nem mesmo a participação da lindíssima Nicole Kidman como uma ex-colega de infância fútil da personagem de Jeniffer, ajuda a alavancar esta bobagem. De positivo, só mesmo a beleza e o carisma inigualável de Aniston. A única coisa no filme que não é de mentirinha.

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