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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Ben-Hur (1959)

Ben-Hur, 1959. Dirigido por Willian Wyler. Com Charlton Heston, Stephen Boyd, Jack Hawkins, Frank Thring, André Morell e Sam Jaffe.
 
Nota: 9.6
 
“Um drama rico e glamoroso, que transcende os limites do espetáculo”.The New York Times

Primeiro sucesso do cinema a faturar 11 Oscar, Ben-Hur conta como a história do Cristo se fundamentou no embate antigo da linha tênue entre o ódio e o amor

“Um conto do Cristo.” Assim são abertos os créditos iniciais de Ben-Hur, um épico grandioso que traça um paralelo interessante entre dois personagens inesquecíveis dentro da história, cada qual a seu modo.
 
Judah Ben-Hur (Charlton Heston), um aristocrata judeu de grande influência econômica na Região, viu sua vida desmoronar após um incidente com o novo Governador do Estado da Judéia. Viu sua mãe e sua irmã serem condenadas injustamente a uma vida sub-humana nas masmorras romanas. Viu a desesperança transformar seu coração em uma rocha sólida à procura de justiça contra um inimigo inesperado.

O romano Messala (Stephen Boyd), após uma bem sucedida campanha pelo Império Romano, volta a sua Terra Natal ostentando um posto considerável. Para fortalecer a dominação romana no território, Messala faz uma proposta ao amigo de infância. Ben-Hur teria de ajudá-lo na missão de restabelecer a ordem na região judaica que transpirava fanatismo religioso à espera do Messias. O romano rogava em nome da velha amizade para sustentar as muitas questões políticas da época. No entanto, o amigo não concordava com os métodos nada ortodoxos do Império Romano para estabelecer esta ordem. Diante da recusa do judeu, o oficial romano usa um incidente com o Governador da Judéia como represaria contra uma possível rebelião. Assim, Ben-Hur e sua família são condenados a um destino insólito, que inclui as masmorras e a escravização nos navios de Guerra. Mas antes de partir, jura a Messala que irá retornar para fazer justiça.

Enquanto isso, o Império Romano continuava sua saga de escravização e punições contra seu povo. A situação se tonara insustentável na Região e rebeliões dispersas eram facilmente sufocadas. Até que surgiu um filho de carpinteiro da região da Galileia, chamada Nazaré, que teria a missão de reunir o povo e marchar para a tão sonhada liberdade. Jesus conduzia uma multidão de seguidores por todos os lados, proclamando o Evangelho com base no amor incondicional ao próximo em meio a muitos milagres. Seu nome ecoou tão forte que rapidamente foi denominado o Messias, ou seja, aquele que libertaria os filhos de Israel da opressão. Como consequência, tornou-se uma ameaça em potencial ao Sistema que imperava. O mesmo sistema que condenou Ben-Hur.

O judeu retornou à sua Terra como o filho de um Cônsul romano a quem salvou a vida, com a oportunidade de recuperar a sua e a Honra de todo seu povo por meio de uma tradicional corrida de Bigas. Assim, se faz. Ben-Hur vence a corrida, recupera a dignidade e ainda descobre pelo amigo quase desfalecido o paradeiro de sua família.

Após o duro golpe de saber que sua família contraiu uma doença incurável nas prisões romanas, nele se desencadeia um sentimento que desconhecia até então. Um desejo de vingança contra aqueles que julgava serem responsáveis por tudo que passara até aquele momento. O Império Romano, entre tantos outros crimes, teria corrompido a alma de seu amigo. Sua sede de justiça só seria saciada com a queda do mesmo. O Império teria de sofrer o mesmo golpe que endureceu seu coração. A estas alturas, Ben-Hur era considerado o Redentor de seu povo depois de vencer Messala na corrida. O povo judeu o aclamava entre louros e aplausos. Naquela época, derrotar um romano na arena significava mostrar todo o poder dos outros homens. A fama e o poder consequente fortaleceram suas ambições de liberdade pelo poder da espada. Liderar uma rebelião a fim de terminar com a tirania em seu país. É neste momento que o filme ganha contornos espirituais com bases na figura de outro Redentor.

Dá para imaginar Jesus de Nazaré como apenas um coadjuvante numa história? Esta certamente foi a maior proeza do filme de William Wyler. Jesus não resplandece sua face na tela e muito menos menciona uma palavra sequer. Um relance de imagem é o suficiente para transcender sua presença no filme. Sua silhueta surge como o carpinteiro que se abaixa, humildemente, para saciar a sede de Ben-Hur caminhando na escravidão dos desertos. Um segundo encontro se faz quando o judeu retribui o gesto de caridade ao Cristo no caminho do Calvário.

Sem entender o porquê de aquele Homem Bom ter sido condenado à morte, Ben-Hur se viu na mesma situação tempos atrás. Ambos foram vítimas da injustiça. A diferença foi que enquanto o aristocrata pensou em usar seu ódio como arma, o carpinteiro pregou incessantemente o Amor como a única arma da verdadeira liberdade. Até mesmo nas horas de desespero, suas palavras serviram como alento a todos que ansiavam por esperança. O embate moral de Ben-Hur chega ao limite da condição humana, quando o lado obscuro de sua alma se esvai diante do milagre das últimas palavras proferidas por Cristo na cruz. “Pai, perdoai-lhes, pois eles não sabem o que fazem”. “Eles” a quem se refere é diretamente ao sistema que o condenou à morte. O mesmo sistema que assolava seu povo.

Sentindo o poder das palavras de Cristo, a redenção de Ben-Hur salva as vidas de sua mãe e irmã curadas pela fé. “E senti a sua voz tomar a espada de minha mão”. A jornada de Ben-Hur não é apenas marcada por vingança. Este não foi o principal propósito que alimentou sua alma. A busca por justiça para com ele e sua família o impulsionou a cumprir seus desígnios, até mesmo nos momentos de total desesperança. Ele não via em Messala um inimigo em potencial. A inimizade entre eles foi circunstancial em virtude de uma incompatibilidade de ideais. Será que estamos preparados para conhecer e traçar a linha tênue que separa o ódio do que mais possa nos levar a outro caminho? Sentir dentro de nós a grandeza espiritual destes dois Cristos?

Conhecido por interpretar personagens reais, Heston surpreende num papel fictício e ao mesmo tempo tão real que lhe deu o Oscar de Melhor Ator. Tão surpreendente quanto ver um Jesus com tamanha onipotência somente pelo poder de sua presença subjetiva. Tão surpreendente quanto um filme de ação tratar com tanta humanidade um tema relevante a qualquer época. Sentimentos que ditam os caminhos pela alma humana e obriga cada ser humano a escolher qual curva seguir. Como uma corrida de Bigas, tomar as rédeas de seu próprio destino. Este é o ideal da verdadeira liberdade.

Que a força de Ben-Hur e o espírito de Cristo estejam sempre conosco!

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