Visitantes

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O Amante da Rainha (2012)

EN Kongelig Affære/ A Royal Affair, 2012
Direção: Nicolaj Arcel. Com: Alicia Vikander, Mads Mikkelsen e Mikkel Boe Følsgaard.
Nota: 8.5


Liberdade, igualdade e fraternidade. Os ideais da revolução francesa que deu suporte ao Iluminismo impulsionam esta uma história glamourosa e comovente sobre os bastidores das mudanças políticas do Reino da Dinamarca narradas pelo candidato a melhor filme estrangeiro do ano.

A liberdade passa a ser algo bastante requisitado pela bela Caroline Matilde (Alicia Vikander) depois que foi obrigada a casar-se com Cristian VII (Mikkel Boe Følsgaard), o Rei da Dinamarca. Aos 15 anos, a jovem britânica, já envolvida com os ideais iluministas de sua terra natal, acreditava viver esta realidade em solo estrangeiro. Desiludida e presa a uma permuta de interesses políticos, ela convive resignada com a solidão de uma vida interrompida abruptamente por questões além de seu alcance. Retraída em seu próprio mundo, Caroline perde as esperanças de encontrar o amor até que chega ao Palácio o médico Johann Struensee (Mads Mikkelsen). Diante da indiferença do Rei que passa a maior parte entre bebidas e orgias pelos bordéis da cidade, Caroline começa a se aproximar de Johann não apenas pela carência, mas pelos ideais que demonstram partilhar em comum. 

A igualdade é um sonho que impulsiona o médico idealista, muito adepto a filosofia Iluminista de que "todo homem nasce igual e livre". Inteligente, começa a explorar a instabilidade mental e emocional do Rei para cair em suas graças ganhando lugar de destaque entre os membros da corte. Aos poucos, ele envolve o casal real. Cristian e sua parceria de amizade incondicional e Caroline que se entrega aos seus encantos intelectuais  e posteriormente carnais. Juntos, eles conseguem promover mudanças significativas na vida da população mais carente do reino, concretizando o terreno de ideias do Iluminismo. Logo, os poderosos da corte percebem que Johann é a raiz de todos seus problemas, portanto, uma ameaça em potencial. Neste momento, instaura-se uma luta pelo poder. De um lado o idealismo do médico; do outro o desconforto dos membros do Conselho. Este era uma espécie de Parlamento que ditava as regras tendo o Rei apenas que assinar os decretos. Ambas as frentes recorriam a mesma tática. Se valer da fragilidade mental de Cristian. Contudo, é claro que as intenções de Johann eram mais nobres que os da própria nobreza, que seria a ponte por onde o caso de amor entre Caroline e Johann seria descoberto, caindo por terra tudo que eles haviam construído. As coisas fogem do controle consideravelmente quando Caroline se encontra grávida de Johann, que preso, é torturado e decapitado.

A fraternidade é o ponto de partida das mudanças que pretendia a união de duas almas aprisionadas pelas facetas do poder. E tudo vem pelas ações de Frederick (William Johnk), herdeiro de Cristian que assume o trono com 16 anos. Frederick se torna o Rei mais atuante do país, com reinado que se estende por mais de 5 décadas. A sensibilidade, o olhar mais terno de sua irmã Louise Augusta (Julia Wentzel), filha bastarda de Johann, também soma aos ideais propostos pelo seu pai. Os jovens, fortalecidos pelo carinho da mãe que mesmo ausente, nunca deixou de ter para com eles amor e afeição sintetizados nas palavras descritas nas entrelinhas em que a matriarca expõe todas as suas emoções "inadequadas" para uma mulher em sua posição. Lapidados por esta ousadia, anos mais tarde se tornam os baluartes da revolução dinamarquesa.   

O diretor Nicolaj Arcel capricha na produção nos mínimos detalhes para recriar no figurino e os cenários particulares na distinção perfeita entre as duas realidades do reino. Destaque para a cena em que Caroline está dentro de sua charrete luxuosa rumo ao Palácio e vê a miséria do povo oprimido pelo lado de fora. Cenários ludibriantes são um bela fotografia para uma trama interessante que já de cara te chama a atenção na narrativa de Caroline, fragilizada pela doença, escrevendo as cartas para os rebentos. Os personagens são apresentados na forma e tempo perfeitos. Até demais. A rispidez do Rei insano, somado ao estado de espírito de Caroline nos remete a inserção da figura do amante como vemos em tantas obras de mesmo teor. Contudo, O Amante da Rainha é bem mais que um romance palaciano. Sua sinopse nos aponta para um amor universal. Amor pela liberdade do homem, aqui representados na figura dos dois amantes. O romance em si é apenas a ponta do iceberg de reviravoltas políticas que deixam o filme com um atrativo mais relevante. Um pano de fundo mais conveniente para a trama do filme do que romântico para a História.

O roteiro à primeira vista pode não parecer novidade. Nos remete aos mesmos filmes de intrigas palacianas, cortes esnobes, povo oprimido, baile de máscaras. Inclusive, a cena em que Caroline encontra o Rei pela primeira vez após descer da charrete lembra muito Maria Antonieta de Sofia Coppola. Não é um demérito, pois é impossível expor o mundo da realeza sem entrar no lugar-comum, enfatizar alguns clichês. O que difere esta obra das demais de mesmo verbete é uma história de amor sendo a fonte de mudanças reais e positivas dentro do cenário caótico e corrupto da Monarquia. No mínimo surpreendente, mesmo que o roteiro leve àquela velha máxima:"Isto não vai terminar bem".

Mikkel Boe Følsgaard é o destaque do elenco por  ter um leque maior de nuances de seu Rei louco. Ora um tirano cruel e insensível, ora um homem de bom coração e carismático. O filme cumpre seu papel de dar o seu recado, transmitir sua mensagem em uma boa narrativa histórica, relevante em todos os tempos. Se há algo de podre no Reino da Dinamarca ainda bem que não corrompeu o talento de Arcel. 

2 comentários:

  1. Belo texto, um ponto de vista interessante, defendido. Apesar de eu não ter gostado, sua crítica é bem argumentada e é realmente o que passa. Seu texto já vale a indicação ao Oscar pro filme.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Confesso que quando fui assistir não levei muita fé. Não é o tipo de filme que estou muito familiarizada, exceto Maria Antonieta e A jovem Rainha Vitória (será por que?). Mas este agradou por misturar romance com história. Achei muito bom!

      Excluir