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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Capítulo 2: Cinderela em Paris

Continuando com nossa saga saudosista em torno deste mito hollywoodiano, agora veremos como uma dolorosa experiência pode moldar a determinação de uma mulher. 

"O passado, eu acho, me ajudou a apreciar o presente, e eu não quero estragar nada disso por idealizar um futuro." Audrey Hepburn

Com o fim da Guerra, Audrey e sua mãe mudaram-se para a Inglaterra, onde sua experiência com a dança a levou a Escola de dança Marie Lambert. Esta experiência no entanto não poderia cobrir algumas exigências feitas pela mestra. A garota era alta demais e não tinha talento para tal. Desiludida, passou a trabalhar como corista e modelo fotográfica para sustentar a família. Como sempre dizemos que quando uma porta se abre, outra se fecha. Se para o balé sua carreira estava aniquilada, as portas para a interpretação foram mais generosas com a garota esguia de determinação impressionante. Sua estreia foi no documentário Dutch in Seven Lessons, seguido por uma série de pequenos filmes. Em 1952, viajou para a França para a gravação de Montecarlo Baby, onde conheceu a escritora Collette, que trabalhava com a montagem para a Broadway da peça Gigi. Encantada com Audrey, decidiu que ela seria a sua protagonista. Audrey saiu ilesa às críticas negativas da peça. Por isso tempos depois participou de uma audição para o filme A Princesa e o Plebeu. Encantado com a atriz, o diretor William Wyler escalou-a para viver o que sempre foi: uma Princesa, dividindo a cena com Gregory Peck, que também surpreendeu-se com o talento da companheira, agraciada com o Oscar de Melhor Atriz.O sucesso batia finalmente a sua porta e para completar a fase, três dias após a cerimônia do Oscar, recebeu o Tony por sua atuação em Ondine. A peça fora uma sugestão de Mel Ferrer, por quem se apaixonaria durante a temporada na Broadway. Casaram-se em setembro daquele ano. Audrey também faria Sabrina, que rendeu-lhe a segunda indicação ao Oscar. 

SABRINA, 1954

Direção: Billy Wilder. Com: Audrey Hepburn, Humphrey Bogart e William Holden. 
Nota: 7.5

O filme do consagrado Billy Wilder conta com uma teia mais relevante de estórias do que a própria história. O fervor de mais uma obra do diretor ganhou notariedade considerável muito antes de ser rodado. Primeiro, pelo próprio, por estar a frente de mais um projeto e isto por si só já seria um valoroso estopim para tal. Depois, o triângulo estelar envolvendo o galã William Holden, o astro veterano  Humphrey Bogart, e por enfim, e não menos importante, a estrela "coadjuvante" da obra, Audrey Hepburn. Não é exagero fazer esta afirmação, visto que o cachê da atriz foi 10 vezes menor que de seus colegas. E hoje, quando associamos algo a este filme, o nome de Hepburn ecoa de maneira mais eloquente, provando que as cifras sempre estiveram de acordo com a democracia perversa e injusta. Diante destas e outras lendas em torno do filme, é explicável o porquê desta comédia romântica ter sido um sucesso, mesmo se tratando de uma historinha simples com um roteiro tanto quanto.

Sabrina (Hepburn, no auge da beleza) é a filha do chofer de uma das mais conceituadas famílias de Nova Iorque. Os Larrabee tinham como herdeiros os irmãos David (Holden) e Linus (Bogart). Bonitos e bem educados, porém de personalidades opostas. Enquanto David era o bon vivant da família, Linus era o cara sério, de pés de chão. Aí entra em cena as reviravoltas sempre presentes no gênero. A garota pobre sempre foi perdidamente apaixonada pelo rapaz rico e mulherengo (David), que além de não ser um "homem para casar", ainda a vê como uma menina. A indiferença de seu amor  a faz sofrer, sendo enviada a Paris por seu pai para recuperar seu estado de espírito. Sabrina passa dois anos na cidade luz fazendo um curso de culinária e quando retorna, parece diferente e mais madura. No entanto, esta segurança cai por terra quando um contratempo a aproxima de David. O rapaz vai até a estação de trem por acaso e avista uma bela mulher. Ele, como nunca se fez de rogado nestas situações, joga todo seu charme pra cima da "desconhecida" e a leva para casa enquanto Sabrina se diverte com a situação. 

O choque da revelação de que aquele mulherão é na verdade a menina que ele esnobava, é o ponto alto do filme. David faz de tudo para conquistá-la e quando consegue, entra em cena seu irmão mais velho, que a princípio, só quer separá-los, uma vez que David está de casamento marcado com uma ricaça de uma família que os Larrabee pleiteiam um acordo financeiro. Linus parte para seduzir Sabrina certo de que está se "sacrificando" pelo futuro de sua família. Ao perceber que o sacrifício tornou-se amor, o Larrabee mais velho se arrepende e conta sua armação para a moça, que a essas alturas estava caindo de amores por seus encantos mais consistentes em relação a um futuro. Desiludida com os rumos de suas relações com os irmãos, Sabrina, mais uma vez, agora por vontade própria, resolve retornar a Paris. E é aí que se desenrola um dos finais mais interessantes da história. Linus arma para que David vá de encontro a Sabrina, mas o irmão caçula logo percebe que o homem certo para a bela é Linus. David dá o troco no irmão começando a insultar Sabrina e de quebra confirma suas suspeitas quando leva um soco no rosto. Linus se convence de que seu amor é recíproco e parte de encontro a moça embarcando no navio da Corporação. O felizes para sempre é concretizado, mesmo numa cena fria de um simples abraço entre os pombinhos. 

Simplicidade. Esta foi toda a essência de uma das mais conhecidas comédias românticas da Era de ouro de Hollywood. Este conceito afastou a expectativa gerada em torno da obra. Em suma, Sabrina foi um filme muito mais reverenciado pelos bastidores e premissas do que em sua realização. A história apesar de fofa, não atinge grandes proporções, não passando apenas de uma clássica história de amor. Contudo, por tudo que se emanou de sua produção se esperava mais. Talvez se tivesse sido construído por figuras menos conhecidas, tivesse obtido um êxito maior como obra cinematográfica, se tornando algo inesquecível, ao invés de um romance água com açúcar como tantos outros. 

O trio de protagonistas de nomes consagrados não faz feio, porém longe de terem brilhado como em outros trabalhos. Sendo assim, a nomeação ao Oscar para Hepburn se fez por razões só explicáveis na época em que se realizou o filme. Estrela num filme de sucesso, indicação como consequência. Hepburn fez trabalhos melhores com um leque bem mais palpável como atriz, em que deveria ter tido melhor sorte com uma possível indicação. Porém, é compreensível se esquecer do lado crítico para apreciar sua presença sempre altiva em mais uma obra, e que por isso não passa indiferente aos olhos de todos. Para os românticos incorrigíveis um baluarte, e para os cinéfilos, mais uma oportunidade de ver a estrela de sorriso confiável desfilando todos seus atributos míticos em estado de graça.   

Um comentário:

  1. Hepburn está lindíssima, mas Sabrina, realmente, é um dos mais frágeis filmes de Wilder. Mas não chega a ser ruim.

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