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sábado, 26 de janeiro de 2013

Indomável Sonhadora (2012)


Beasts of the Southern Wild, 2012. Dirigido por Benh Zeitlin. Com Quvenzhané Wallis, Dwight Henry, Lowell Landes, Pamela Harper e Gina Montana.

Nota: 9.3

Às vezes surge um filme que consegue tramitar fora de qualquer padrão predeterminado pela indústria cinematográfica americana, aquela baseada na lógica do absolutamente técnico, estético ou comercial, ou na escola européia, que se preocupa com seu requinte contextual e subjetivo. Não que isso não esteja presente em Indomável Sonhadora, mas é por que a forma como foi concebido, mostrando um lado que até os próprios americanos devem (ou preferem) desconhecer, e a preocupação com o vivo e o real é de uma proximidade agoniante. Além de tudo, uma certa menina de nome impronunciável dá um verdadeiro show.

A pequena Hushpuppy (Quvenzhané Wallis, excelente) vive em uma comunidade miserável às margens de um rio com o pai Wink (Dwight Henry). Mesmo com as dificuldades enfrentadas e as condições de vida precárias, sua vida é feliz em meio à sujeira e os animais. Quando seu pai fica muito doente e coincide com uma grande tempestade que alaga toda a área, a garotinha terá que enfrentar tudo o que lhe assombra, seja real ou sobrenatural, aceitar a situação e encontrar forças para seguir sua trajetória sozinha.

O diretor Benh Zeitlin, que assina o roteiro ao lado de Lucy Alibar, que escreveu o livro em que o filme foi baseado, não tem pudor em expor a seu próprio povo a pobreza, que sim, existe em solo americano. No meio de toda a vida difícil que levam, pai e filha aprenderam a sobreviver, e desta provação criam um laço amoroso, potente, indestrutível. A relação conduzida aos sopapos, gritos e ataques de fúria de ambos os lados cria um questionamento sobre o amor. Seria o amor de verdade aquele que é construído à base da raça? Mas o texto de Zeitlin e Alibar mantém o público com as respostas na ponta da língua, mas sem que faça alguém ter coragem de julgar os motivos de cada um deles.

O filme também traz um contraste com o tal “american way life”, pois enquanto o resto do país entra em colapso com questões capitalistas, esquecem a felicidade de viver uma vida real, tendo de acompanhar tragédias que se sucedem, enquanto a comunidade da “Banheira”, na mais crua pobreza, convive com a felicidade, o afeto, os sonhos. Cada um enfrenta as bestas que os atormenta, procura algo que amenize sua dor. Hushpuppy sofre por não ter mais sua mãe ao seu lado, e faz de tudo para que mantenha a situação sob controle, sem se mostrar fraca, apesar de seus seis anos. Wink trabalha em prol de todos, mesmo correndo o risco de perder a vida, pois acredita que sua felicidade depende da manutenção do ambiente em que vive.

Nesta esteira de emoções cruas, a fotografia competente que remonta o caos, e a penumbra que persegue  a luz na alma da pequena Hushpuppy, dá vida às bestas que a atormenta, o que na verdade representa a aceitação que no momento derradeiro terá de enfrentar, e os respingos de felicidade brotando aqui e ali nos raios de sol que aparecem entre uma tempestade e um confronto. Desta aproximação pulsante triunfa a dupla protagonista. Henry mostra uma virilidade contagiante. Sua perseverança, sua busca pela sobrevivência e a preocupação com sua filha não é transformada algo brutal e selvagem como aparenta ser sua condição, pelo contrário, é sublime. E não há como deixar de reverenciar a atuação de Quvenzhané Wallis, que apesar de sua pouca idade, empresta uma intensidade assombrosa à sua personagem. Domina cada centímetro de película, e pela primeira vez podemos ver uma protagonista mirim completa, seu aquela necessidade de um personagem adulto como sombra.

Uma obra de arte sentimental, sobrenatural, que sabe explorar um viés de uma nação acostumada a não a ver a situação como algo familiar. Uma singela homenagem à aqueles que sofreram com a passagem do furacão Katrina, que fez com aquela região da Lousiana chegasse ao estado que se vê no longa. Uma fábula de fraternidade, amor e aprendizagem que fabrica lágrimas, que mesmo diante do caótico cenário, são de felicidade e não de tristeza.

Um comentário:

  1. Se é pra mostrar a realidade, Indomável sonhadora dá de 10 no fraquíssimo "Quem quer ser um milionário?" que não conseguiu emocionar ninguém com uma história absurda e deplorável.Fantasia por fantasia prefiro este.

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