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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Capítulo final: um clarão nas trevas

"Pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas: jamais jogue alguém fora." Audrey Hepburn

Em 1980, Audrey entrou com o pedido de divórcio e o processo se formalizou em 1982. Neste período, gravou Muito riso e muito alegria, e no fim das filmagens conheceu Robert Wolders. Tornaram-se grandes amigos e viveram juntos até a morte de Audrey. Depois de uma carreira pautada em sua imagem de puro esplendor frente e fora às câmeras - como por exemplo de sobreviver à guerra - ganhou o seu mais importante papel: o de Embaixatriz da UNICEF, o que primeiramente a atriz definiu como débito para com a instituição, pois na época ganhara comida e suprimentos até o término da mesma. Ela passaria o ano seguinte entre uma e outra viagem pela instituição levando consigo a facilidade em dominar várias línguas (francês, italiano, inglês, neerlandês e espanhol).

Um ano depois faria seu derradeiro trabalho em Além da eternidade, de Steven Spielberg no papel de um Anjo, bem apropriado para ela. O Anjo passaria seus últimos anos em incansáveis missões pela UNICEF, visitando países, dando palestras e promovendo concertos com causas. Em 1993 foi diagnosticada com câncer de apêndice,que espalhou-se para o cólon. Faleceu às 7 horas da noite de 20 de janeiro de 1993, aos 63 anos muito bem vividos. O legado da princesa belga se espalhou pelo mundo afora, sendo dedicado a ela livros, histórias em quadrinhos, filmes biográficos como o da atriz Jennifer Love Hewitt, fã confessa da estrela. Apesar das críticas pesadas, o que ficou foi o propósito de homenagear a maior e mais linda estrela de todos os tempos. É claro que ao longo de mais de um século de história cinematográfica outras estrelas fenomenais de talentos notáveis, belezas idem despontaram no horizonte. Contudo, a grandeza de Audrey não é medida somente pelo talento e beleza. Senão, ela seria uma estrela comum. Audrey Hepburn é diferenciada por ter deixado elucidar suas características humanas de forma louvável. Características que impulsionaram sua vida paralela a uma belíssima carreira, deixaram um legado admirável e mistificaram uma estrela que ainda brilha tão intensamente como um clarão nas trevas do estrelismo fugaz de Hollywood.

Bonequinho de luxo (Breakfast at Tiffany's, 1961)
Direção: Blake Edwards. Com: Audrey Hepburn, George Peppard e Patricia Neal. 
Nota:10

Uma impostora autêntica chegou a tirar o sonho de Trumam Capote nesta lendária adaptação de seu romance para o cinema. É fato histórico que o famoso escritor não queria que sua protagonista fosse interpretada pela delicada Audrey Hepburn. Queria ele que o filme fosse dirigido por John Frankenheimer e estrelado por Marilyn Monroe. A loira fatal teria desistido por achar que fazer uma prostituta seria ruim para sua carreira. É claro que ela se faz valer da protagonista literária, que segundo consta, teria sua profissão associada de forma negativa às heroínas românticas. As páginas escritas por Capote descrevem uma moça impetuosa, batalhadora, e com características que chocariam a sociedade conservadora da época, como por exemplo, o fato de ser bissexual. Portanto, dada as anotações históricas, a protagonista do filme nada teria mesmo a ver com a imagem construída por Hepburn em Hollywood. Reza a lenda que o próprio teria ido ao estúdio observar ceticamente o trabalho da atriz. 

Histórias e lendas à parte, o que se sabe, hoje mais de 50 anos após sua estrondosa estreia nas telas, a obra se tornou um dos maiores sucessos de público e crítica por décadas afora e ainda ajudou a mistificar a imagem da atriz belga. Audrey Hepburn empregou além da beleza exuberante, charme, sofisticação e humor na medida necessária à inesquecível Holly  Golightly. Uma garota de programa ingênua que um dia foi Lula Mae, moça sonhadora que foge da jaula de um casamento precoce com um fazendeiro texano para se libertar na cidade grande. Em Nova Iorque ela traça uma espécie de vingança contra o amor, arriscando-se em relacionamentos superficiais com homens ricos, qual escolhe num menu de personalidades ricas nas páginas das revistas. Seu plano era bem arquitetado na teoria, mas na prática, a sorte não estava a seu lado, pois para cada partido escolhido, um imprevisto sempre minava seus objetivos. 

Sua personalidade radiante, autêntica e seu jeito tresloucado de levar a vida logo fascina de forma irremediável o escritor Paul Varjak (George Peppard). O rapaz é um típico bon vivant que mantém um envolvimento sexual rentável com uma dama rica da sociedade nova-iorquina (Patricia Neal). A relação de conveniência é abalada depois que Paul vira vizinho de Holly e com ela desenvolve uma fascinante parceria. Aos poucos, o rapaz galante vai descobrindo que aquela mulher atraente e enigmática é na verdade uma moça frágil, perdida e relutante em dar uma chance a felicidade. Sem hesitar, ele se oferece para ser o seu "salvador", mesmo com os apelos contrários de Holly, incansável em sua saga de ascender na vida financeiramente.   

Bonequinha de luxo é um romance histórico que teve o mérito de se desvencilhar de suas origens. Se a ideia de Capote fosse comprada, talvez não teríamos um impacto tão profundo desta obra do diretor Blake Edwards. Como enfatiza o jornalista Sam Wasson, autor de Quinta Avenida, 5 da Manhã: "Felizmente, nada disso aconteceu, Audrey Hepburn ficou com o papel e a música tornou-se um clássico". Não é correto afirmar qual das dois seguimentos seriam mais válidos neste campo, até porque não conheço a fundo a obra literária de Capote. Contudo, o que podemos afirmar com o poder a mim investido nesta área, é que filmes míticos sempre nascem sobre polêmica e seus episódios marcantes. O roteiro, a atuação do elenco, a trama em si, o gênero, e a canção "Moon River  já nascem consagrados e nada pode ser acrescentado de elogios ou críticas ao brilhantismo narrativo do romance que termina de forma maravilhosa com um dos finais mais lindos da história. 

Assim se fez (ou melhor se faz, porque um clássico nunca morre) este lendário romance entre uma garota de programa nada convencional e um gigolô travestido de príncipe encantado. Um filme que coleta perfeitamente a imagem e o talento da esguia Hepburn, indicada merecidamente ao Oscar como uma impostora autêntica que nos faz acreditar nas histórias que inventa. Você tem que ser sensível para gostar dela, ver seu lado poético. Uma obra memorável que fez de Audrey Hepburn um ícone, e  Holly Golightly um mito. 

2 comentários:

  1. Tanto Audrey quanto Holly se tornaram dois mitos do cinema. Em um filme imperdível e extraordinário.

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