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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Milagre em Sant’Anna (2008)


Miracle in Sant’Anna, 2008. Dirigido por Spike Lee. Com Laz Alonso, Derek Luke, Michael Ealy, Omar Benson Miller, Pierfrancesco Favino, Valentina Cervi, Joseph Gordon-Levitt, John Turturro, Kerry Washington e John Leguizamo.

Nota: 7.2

Spike Lee é um inegável defensor dos direitos dos negros e não tem a menor vergonha de destinar suas obras cinematográficas a eles. Desde seu debute em Ela quer tudo (86), se enveredou por temas do cotidiano da sociedade afrodescendente americana. Atingiu o ápice com o brilhante Faça a coisa certa (1989), e desde então cutuca no assunto que a população estadunidense, e mundial, não gosta de falar, mas ele existe muito por aí, a discriminação racial. Em Milagre em Sant’Anna, Lee aproveita o mote para mostrar que negros também morreram pelo país na guerra, em uma história emocionante.

O filme começa com uma brutalidade típica do diretor, quando um pacato funcionário dos correios, Hector Negron (Laz Alonso), dá um tiro no peito de um homem que lhe comprava um selo. Na prisão recebe a visita do jornalista Tim Boyle (Joseph Gordon-Levitt) que pretende descobrir o motivo do assassinato. Daí para frente a história retrocede até os campos de batalha na 2ª guerra mundial, onde Negrón e outros três companheiros da divisão “all-black” de Buffalo se separam do pelotão e salvam um garotinho perdido. Seus destinos o levam a uma pequena cidade onde são tratados com respeito e começam a se questionar o motivo pelo qual lutam para defender um país que não os aceitam como são, tudo entremeado por discussões sobre honra e fé.

Tudo o que está presente nas obras anteriores de Lee está no longa, as pesadas cenas de massacre, os relacionamentos conturbados entre os protagonistas e a militância em prol dos negros. O roteiro escrito por James McBride, a partir de seu próprio livro foca no comportamento daqueles homens que se veem em um inferno para defender uma causa que, segundo eles, não são suas. Cada um dos personagens expõe uma forma diferente de enfrentar tudo aquilo, como o grandalhão Train (Omar Benson Miller), por exemplo, encontra no pequeno Angelo (Matteo Sciabordi) um alento místico para seu sofrimento.

Poderia McBride ter aberto mão de exagerar nos questionamentos, que por vezes se estenderam para os personagens Partisans, rebeldes italianos que se aliaram aos americanos. Nesta parte o filme ganha um lentidão sonolenta, o que pode funcionar em livro, mas não na película. Quando se restringe no dilema que envolve as questões raciais, representado pelo Capitão Nokes (Walt Goggins), e tudo transcorre para um final emotivo e transcendental, a fita passa a ser muito mais interessante.

Pelo seu tom novelístico, Milagre em Sant’Anna passa longe de ser um dos melhores filmes de Spike Lee, porém é o mais suportável aos olhos pouco habituados ao seu estilo brusco de tratar os assuntos. Sua câmera vacilante se perde quando poderia explorar o visual das locações e ganhar em linha dramática. Mas quando se torna intimista no trato do comportamento do grupo de soldados e do misticismo em torno do garoto, acerta em cheio e lembra seus melhores tempos. Teriam mesmo aqueles jovens morrerem por um país que ignorava sua condição de ser humano? Lee não se preocupa em responder, já que o milagre em questão (revelado no fim) é o que realmente importava.  Um exemplar destinado aos negros, mas indicado a todos os públicos.

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