Miracle in Sant’Anna, 2008. Dirigido por Spike Lee. Com Laz Alonso,
Derek Luke, Michael Ealy, Omar Benson Miller, Pierfrancesco Favino, Valentina
Cervi, Joseph Gordon-Levitt, John Turturro, Kerry Washington e John Leguizamo.
Nota: 7.2
Spike Lee é um inegável defensor
dos direitos dos negros e não tem a menor vergonha de destinar suas obras
cinematográficas a eles. Desde seu debute em Ela quer tudo (86), se enveredou por temas do cotidiano da
sociedade afrodescendente americana. Atingiu o ápice com o brilhante Faça a coisa certa (1989), e desde então
cutuca no assunto que a população estadunidense, e mundial, não gosta de falar,
mas ele existe muito por aí, a discriminação racial. Em Milagre em Sant’Anna, Lee aproveita o mote para mostrar que negros
também morreram pelo país na guerra, em uma história emocionante.
O filme começa com uma
brutalidade típica do diretor, quando um pacato funcionário dos correios,
Hector Negron (Laz Alonso), dá um tiro no peito de um homem que lhe comprava um
selo. Na prisão recebe a visita do jornalista Tim Boyle (Joseph Gordon-Levitt)
que pretende descobrir o motivo do assassinato. Daí para frente a história
retrocede até os campos de batalha na 2ª guerra mundial, onde Negrón e outros
três companheiros da divisão “all-black” de Buffalo se separam do pelotão e
salvam um garotinho perdido. Seus destinos o levam a uma pequena cidade onde
são tratados com respeito e começam a se questionar o motivo pelo qual lutam
para defender um país que não os aceitam como são, tudo entremeado por
discussões sobre honra e fé.
Tudo o que está presente nas
obras anteriores de Lee está no longa, as pesadas cenas de massacre, os
relacionamentos conturbados entre os protagonistas e a militância em prol dos
negros. O roteiro escrito por James McBride, a partir de seu próprio livro foca
no comportamento daqueles homens que se veem em um inferno para defender uma
causa que, segundo eles, não são suas. Cada um dos personagens expõe uma forma
diferente de enfrentar tudo aquilo, como o grandalhão Train (Omar Benson
Miller), por exemplo, encontra no pequeno Angelo (Matteo Sciabordi) um alento
místico para seu sofrimento.
Poderia McBride ter aberto mão de
exagerar nos questionamentos, que por vezes se estenderam para os personagens Partisans,
rebeldes italianos que se aliaram aos americanos. Nesta parte o filme ganha um
lentidão sonolenta, o que pode funcionar em livro, mas não na película. Quando
se restringe no dilema que envolve as questões raciais, representado pelo
Capitão Nokes (Walt Goggins), e tudo transcorre para um final emotivo e
transcendental, a fita passa a ser muito mais interessante.
Pelo seu tom novelístico, Milagre em Sant’Anna passa longe de ser
um dos melhores filmes de Spike Lee, porém é o mais suportável aos olhos pouco
habituados ao seu estilo brusco de tratar os assuntos. Sua câmera vacilante se
perde quando poderia explorar o visual das locações e ganhar em linha
dramática. Mas quando se torna intimista no trato do comportamento do grupo de
soldados e do misticismo em torno do garoto, acerta em cheio e lembra seus
melhores tempos. Teriam mesmo aqueles jovens morrerem por um país que ignorava
sua condição de ser humano? Lee não se preocupa em responder, já que o milagre
em questão (revelado no fim) é o que realmente importava. Um exemplar destinado aos negros, mas indicado
a todos os públicos.
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