Visitantes

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Ed Wood (1994)

Ed Wood, 1994. Dirigido por Tim Burton. Com Johnny Deep, Martin Landau, Sarah Jessica Parker e Juliet Landau.

Nota: 9.5

Se Crepúsculo dos Deuses teve uma abordagem mais densa e cruel sobre o alvorecer da última chama dos grandes estrelas, Ed Wood percorre um caminho contrário, abordando o tema com a mesma inteligência, porém com muito, mas muito humor (negro) 

O cinema não é feito de detalhes. Porque se de certo fosse, talvez Ed Wood (Johnny Deep) não teria entrado para a história do mesmo. Tido como o pior diretor de todos os tempos, conduzia sua carreira munido de uma arma apenas. A paixão. Esta mesma que cega e que nos leva a fazer loucuras. Aliás, louco pode ser uma das definições deste jovem idealizador de carisma hipnotizante que arrastava os da mesma estirpe para suas produções. Isto incluía um homossexual que sonhava se tornar mulher (Bill Murray), um lutador descerebrado de luta livre (George Steele), um falso vidente (Jeffrey Jones), uma apresentadora de TV excêntrica de codinome Vampira (Lisa Marie), e meia dúzia de produtores bizarros. Todos eles membros de uma equipe que quase sempre tentava burlar o sistema de produções hollywoodiano para realizar seus incríveis filmes.

Incrível pode ser um superlativo para obras de qualidade incontestável, sendo assim, usar as palavras Ed Wood e este adjetivo na mesma frase parece improvável. Mas não é. Nesta obra de Tim Burton ele ganha um significado especial     quando ao terminarmos de assisti-lo descobrir que se trata de uma história real. Incrivelmente real.

Depois de não conseguir emplacar com seu primeiro trabalho, Wood tem um encontro que muda os rumos de sua vida. Numa loja de caixões, ele avista seu maior ídolo cinematográfico e decide lhe fazer uma proposta. O já mastigado e jogado fora pelos poderosos de Hollywood, Bela Lugosi (Martin Landau) se mostra cético ao sucesso da parceria. Contudo, sua convivência com o fanático Wood lhe mostra um novo alvorecer, e então, o eterno Drácula parte para a derradeira aventura de sua vida. E o diretor para uma rendosa fonte de filmes que acredita irá lhe trazer o reconhecimento.

Juntos, eles promovem uma revolução (pra pior) nos estúdios. A falta de patrocínio faz com que Wood delire em sua versão Orson Welles, saindo de sua mente produções patética de textos infantis, efeitos visuais risíveis e um alto predomínio de terror na instabilidade física e emocional por parte do astro decadente. Ambos têm uma deliciosa química em seus devaneios em que o cinema pode ser feito com paixão e sérias restrições orçamentárias. Ambos acreditam piamente que há ali um esboço de talento e glória. Assim, unem o útil ao agradável. Para um, a simples presença do grande ídolo como o chamariz para o êxito em negociações com os cruéis patrocinadores. Para outro, a oportunidade de fazer o que sabe de melhor. União que se prorrogou mesmo depois da morte do eterno astro da Universal, uma vez que o “visionário” Wood consegue desesperadamente contratar um sósia do ator para seu último filme.

No fim, Wood e sua turma conseguem extrair de tudo isso o horrível Plano 9 do Espaço Sideral, um filme rodado com as características latentes do diretor. Orçamento limitado, estúdios de papelão, atores monossilábicos e efeitos paupérrimos. Uma obra de qualidade discutível, que nada condiz com o que foi sua cinebiografia dirigida por Burton. O diretor tão excêntrico quanto seu protagonista, lapida com perfeição sua melhor obra. Ouso dizer, que é sem dúvida alguma, sua maior obra-prima. Rodada em preto-e-branco para dar um terrível ar de filme B à produção, Burton expõe com uma veracidade absoluta toda a crueldade hollywoodiana onipresente na decadência artística de atores. A seriedade do tema se esvai em um roteiro hilário, diálogos de humor ácido, cenas divertidas e coadjuvantes carismáticas.

Johnny Deep inicia com perfeição sua parceira com o famoso diretor puxando a fila de um elenco estelar. Bill Murray, Sarah Jessica Parker e Patrícia Arquette dividem a cena com a interpretação mediúnica de Martin Landau como o hipnotizante Conde das Trevas. Ele é o carro-chefe de sucesso do filme. Assombroso em todas, absolutamente todas, passagens de seu personagem mítico. Seja lhe conferindo um ar de comédia involuntária nas raras tensões dramáticas e também nos trejeitos divertidos do velho astro, o veterano sobra em cena. Ainda tem a oportunidade e felicidade em contracenar com sua filha, a bela Juliet Landau (a vampira Drussila de Buffy e Angel) como uma sonhadora aspirante a atriz que chega a cidade sem nenhum tostão no bolso.

Se o cinema é feito de detalhes, ainda bem que temos um diretor como Burton, sempre atento a todas as exigências desta belíssima produção que nos remete a uma homenagem às estrelas e seus filmes de terror da década de 30. No tempo em que a indústria não se preocupava tanto com insetos gigantes, alienígenas cibernéticos ou mutilações sem sentido por caras mudos usando uma máscara. No tempo em que sangue e terror pintavam o set de forma mitológica, poética, sedutora bem como o personagem secular criado por Bram Stocker.

Nenhum comentário:

Postar um comentário