Incendies, 2010. Dirigido por Denis Villeneuve. Com Lubna Azabal,
Melissa Desormeaux-Poulin, Maxim Gaudette e Rémy Girard.
Nota: 9.4
Nunca se conhece uma pessoa de
verdade sem saber com clareza seu passado. E nessa máxima é que Denis Villeneuve
se embrenha na história de uma mulher que, depois de morta, manda seus filhos
Jeanne (Melissa Desormeaux-Poulin) e Simon (Maxim Gaudette) a uma viagem para
acertar contas com seu passado, para que ambos possam entender as atitudes de
sua mãe no presente, e vivam sem peso o futuro.
Narwal (Lubna Azabal) viveu os
horrores da explosão da guerra civil que assola a região da Faixa de Gaza na
década de 70. Suas memórias, dividida entre capítulos, permeando o “agora” de
seus filhos gêmeos vai aos poucos explanando, tanto a eles quanto ao público, as
peças do quebra-cabeça que é apresentado assim que Jean (Rémy Girard) abre seu
testamento, com cartas ao pai deles (que eles acreditavam ter morrido)
e também ao seu irmão perdido.
Villeneuve, brilhantemente, exibe
uma cinematografia fria e imparcial. Uma mescla de amor, sofrimento e ódio, ora
intercalados, ora fundidos em uma mesma ação. Não poupa o público da crueldade
ao mesmo tempo em que exalta as atitudes da implacável Narwal. Com uma astúcia
assustadora, soube aproveitar toda a atmosfera tenebrosa que a guerra proporciona
à trajetória de Narwal, sem exageros ou convenções.
Jeanne não se contém em saber
toda a verdade por trás daquele segredo revelado e viaja pela aridez, ao mesmo
tempo em que arrasta o relutante Simon para a causa. Quanto mais se aproximam
da verdade, mais decisões limite são obrigados a tomar. O diretor captura
através de suas lentes, as imagens panorâmicas para subjetivar a dificuldade da
busca, e também os closes intimistas ou o silêncio cortante para injetar
gradativamente a inquietação.
Um road movie brutal e ao mesmo tempo sensível, um filme que se despe
de qualquer preconceito estilístico e que em momento algum impõe julgamentos.
Uma obra de arte do cinema canadense e um imenso libelo que deve ser visto e
revisto. Tanto pelo seu grande estudo de comportamento na relação amor/ódio,
quanto pela sua grande capacidade em hipnotizar e surpreender.
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