
Nota: 9.5
Billy Wilder é reconhecidamente
um dos maiores diretores que se tem notícia e prova isso a cada vez que
assistimos a algum de seus filmes. Seja em comédias, como a melhor de todas e quase
unanimidade entre os críticos, Quanto
mais quente melhor (1958), ou em dramas claustrofóbicos como Farrapo humano (1945), ele sempre conduz
com uma habilidade incrível para convencer o público de tudo o que estão vendo
é de verdade, mesmo quando não é. Em Crepúsculo
dos Deuses (1950) o diretor constrói o mais sombrio de seus filmes ao
discutir os vieses do sucesso no meio hollywoodiano.
A trama é contada sob a narração
de Joe Gills (William Holden), que começa o longa morto e reconta sua
trajetória até o fatídico momento. Ele é um roteirista que não consegue
emplacar um bom roteiro e vive fugindo de seus credores. Em uma de suas fugas,
acaba cruzando o caminho de Norma Desmond (Gloria Swanson, extraordinária), uma
estrela do cinema mudo, que está no esquecimento, mas mantém seu superego e sua
obsessão pela juventude intacta, acreditando que ainda retornará às telonas.
Mas como já explana o início do filme, essa relação não terminará muito bem.
O roteiro escrito por Wilder com
seu mais fiel colaborador, Charles Brackett, se enverada no estudo do
comportamento de quem vive no ilusório mundo glamourizado da Hollywood da
primeira metade do século passado. Enaltece os contrapontos desta necessidade
de chegar ao estrelato e também o desejo de nunca sair dele. A metalinguagem
impera de forma conveniente, com referências a atores, diretores e outros
poderosos da época. Wilder pontua a situação de Norma na participação de
monstros sagrados do cinema contemporâneo a ela como Buster Keaton, H. B.
Warner e Anna Q. Nilsson, todos mostrados de forma com que fica claro sua
condição de peças do imaginário de cinéfilos. O célebre Cecil B. DeMille
aparece apenas para que a ex-musa seja ainda mais digna de pena. Pura maldade.
A loucura progressiva de Norma e
o desespero claustrofóbico de Joe são cruelmente destrinchados de forma cínica,
onde a monstruosa mansão da Sunset Boulevard (talvez inspirada em Xanadu de Cidadão Kane) capitaliza os transtorno e
anseios de ambos e os transforma em presas de um predador voraz. Nem mesmo as
relações periféricas de ambos (Norma com sua possível volta à evidência e Joe
com seu roteiro inacabado) são capazes de impedir que o limite entre os dois
fosse atingido.
O mordomo Max (Erich von
Stroheim), que também é ex-marido de Norma, tenta a todo custo manter a ilusão
de sua amada, assim Betty Schaefer
(Nancy Olson), que está terminando um roteiro com Joe e estreita laços
românticos, tenta salvá-lo para começar uma nova vida. Porém o filme é
pessimista e tudo é mesmo dedicado ao declínio.
Um monumento cinematográfico,
desde sua cena inicial, fora dos padrões da época, passando por atuações
competentes de Holden, von Strohein e Olsson, além da atuação retumbante de
Swanson (uma das melhores de todos tempos), que parece estar no limite o tempo
todo. E se encerra na inesquecível cena final, com a atriz literalmente saindo
do foco. Se o que Norma disse: “Eu sou grande. Os filmes é que ficaram
pequenos”, não era uma verdade, a sentença pode servir para Wilder, pois a arte
cinematográfica parece mesmo ter diminuído com sua ausência.
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