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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Crepúsculo dos Deuses (1950)


Sunset Boulevard, 1950. Dirigido por Billy Wilder. Com Gloria Swanson, Willian Holden, Erich von Strohein, Nancy Olson, Fred Clark, Jack Webb, Cecil B. DeMille, Bustre Keaton, Anna Q. Nilsson, H. B. Warner e Hedda Hooper.

Nota: 9.5
Billy Wilder é reconhecidamente um dos maiores diretores que se tem notícia e prova isso a cada vez que assistimos a algum de seus filmes. Seja em comédias, como a melhor de todas e quase unanimidade entre os críticos, Quanto mais quente melhor (1958), ou em dramas claustrofóbicos como Farrapo humano (1945), ele sempre conduz com uma habilidade incrível para convencer o público de tudo o que estão vendo é de verdade, mesmo quando não é. Em Crepúsculo dos Deuses (1950) o diretor constrói o mais sombrio de seus filmes ao discutir os vieses do sucesso no meio hollywoodiano.
A trama é contada sob a narração de Joe Gills (William Holden), que começa o longa morto e reconta sua trajetória até o fatídico momento. Ele é um roteirista que não consegue emplacar um bom roteiro e vive fugindo de seus credores. Em uma de suas fugas, acaba cruzando o caminho de Norma Desmond (Gloria Swanson, extraordinária), uma estrela do cinema mudo, que está no esquecimento, mas mantém seu superego e sua obsessão pela juventude intacta, acreditando que ainda retornará às telonas. Mas como já explana o início do filme, essa relação não terminará muito bem.
O roteiro escrito por Wilder com seu mais fiel colaborador, Charles Brackett, se enverada no estudo do comportamento de quem vive no ilusório mundo glamourizado da Hollywood da primeira metade do século passado. Enaltece os contrapontos desta necessidade de chegar ao estrelato e também o desejo de nunca sair dele. A metalinguagem impera de forma conveniente, com referências a atores, diretores e outros poderosos da época. Wilder pontua a situação de Norma na participação de monstros sagrados do cinema contemporâneo a ela como Buster Keaton, H. B. Warner e Anna Q. Nilsson, todos mostrados de forma com que fica claro sua condição de peças do imaginário de cinéfilos. O célebre Cecil B. DeMille aparece apenas para que a ex-musa seja ainda mais digna de pena. Pura maldade.
A loucura progressiva de Norma e o desespero claustrofóbico de Joe são cruelmente destrinchados de forma cínica, onde a monstruosa mansão da Sunset Boulevard (talvez inspirada em Xanadu de Cidadão Kane) capitaliza os transtorno e anseios de ambos e os transforma em presas de um predador voraz. Nem mesmo as relações periféricas de ambos (Norma com sua possível volta à evidência e Joe com seu roteiro inacabado) são capazes de impedir que o limite entre os dois fosse atingido.
O mordomo Max (Erich von Stroheim), que também é ex-marido de Norma, tenta a todo custo manter a ilusão de sua amada, assim  Betty Schaefer (Nancy Olson), que está terminando um roteiro com Joe e estreita laços românticos, tenta salvá-lo para começar uma nova vida. Porém o filme é pessimista e tudo é mesmo dedicado ao declínio.
Um monumento cinematográfico, desde sua cena inicial, fora dos padrões da época, passando por atuações competentes de Holden, von Strohein e Olsson, além da atuação retumbante de Swanson (uma das melhores de todos tempos), que parece estar no limite o tempo todo. E se encerra na inesquecível cena final, com a atriz literalmente saindo do foco. Se o que Norma disse: “Eu sou grande. Os filmes é que ficaram pequenos”, não era uma verdade, a sentença pode servir para Wilder, pois a arte cinematográfica parece mesmo ter diminuído com sua ausência.

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