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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Meu ódio será tua herança (1969)


The wild bunch, 1969. Dirigido por Sam Peckinpah. Com Willian Holden, Ernest Borgnine, Robert Ryan, Warren Oates, Ben Johnson, Jaime Sanchéz, Edmond O’brien e Emilio Fernandéz.

Nota: 9.2

Quando muitos achavam que o western estava morto em território americano, principalmente quando o italiano Sergio Leone sacramentou o “spaghetti” em território europeu, eis que surge Sam Peckinpah e seu mainstream diferenciado para mostrar à nação que fundou o gênero que ainda possuía condições de produzir algo de qualidade. O resultado foi uma das obras mais emblemáticas do western, uma história de bandidagem, violência, mas acima de tudo, honra.

O caçador de recompensas Deke Thorton (Robert Ryan), juntamente com um corja de assassinos de segunda classe, saem à caça de um bando que se propõe a fazer um assalto em uma carga de armas do exército americano para o líder rebelde mexicano General Mapache (Emilio Fernandez). A tensão aumenta, e, quanto mais os fora-da-lei avançam para dentro do território mexicano em ebulição política, mais os perigos aumentam e seu destino fica incerto. Entretanto, jamais abandonam a honra que os guiaram por toda uma vida.

Uma das coisas que o diretor abandonou foi a necessidade de incluir os clichês consagrados por Howard Hawks e cia., apesar de toda sua aura ainda dependa da mitificação já sacramentada. Meu ódio será sua herança é um filme bruto, cruel, que se inicia mostrando ao que veio com tiroteios e morte para todos os lados, e sem ressentimentos. Na mais cruel das sequências, o bando que o título original sugere, liderado por Pike Bishop (Willian Holden), entra em um banco disfarçados de militares, onde são surpreendidos por uma emboscada e ocasionando varias mortes inocentes. Possui um ritmo lento, contemplativo, supervalorizado pela bela fotografia de Lucien Ballard, mas consegue ser cirúrgico na inclusão de confrontos e perseguições de tirar o fôlego.

Peckinpah , que também assina o roteiro ao lado de Wallon Grenn e Roy Sickner, faz um filme somente de homens maus. Explora o lado obscuro de cada personagem, mas em contrapartida, de uma forma lírica e arrebatadora expõe o único valor humano que conta em um cenário tão abrupto: a honra. Não há como afirmar que Pike, Dutch (Ernest Borgnine), os irmãos Gorch (Warren Oates e Ben Johnson), Angel (Jaime Sanchéz) e Sykes (Edmond O´brien) são os vilões. E, na conjectura do longa, isso não faz a menor diferença. Outra grande sacada do filme e a caracterização do General Mapache (Emilio Fernandez), que, apesar de seus atos cruéis, é adorado pelo povo, uma fórmula complexa de comparar o governo com a tirania.  É a afirmação de que o diretor pouco se importa com os fins que justificam os meios, ou seja, todos personagens são racionalizados à mesma categoria.

O resultado de tudo isso é um espetáculo sangrento, valorizado pelas câmeras lentas que dão a impressão que os confrontos são bem mais grandiosos do que realmente são. Além disso, é uma mensagem que os Irmãos Coen voltariam a transmitir em Onde os fracos não têm vez (2007), que a chegada de novas formas de propagar a violência (exemplificada na forma da metralhadora Gatling), extinguiria o espaço para os homens bons. Sam Peckinpah sabia disso mais de três décadas atrás, o que o torna ele um fora de série.

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