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terça-feira, 29 de maio de 2012

Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011)


We need to talk about Kevin, 2011. Direção: Lynne Ramsay. Com Tilda Swinton, Ezra Miller e John C. Reilly
Nota: 9

A manchete é assustadora: “Massacre em escola mata tantos e fere outros tantos.” São tragédias deste tipo que infelizmente inundam nossa realidade, criando as maiores tempestades na mídia e por fim, levantando as mais variadas questões sob todas as perspectivas. O fator sintomático de ação e reação; as consequências do fato em âmbito nacional de segurança pública; as razões que levam uma pessoa a cometer tamanha atrocidade.

Histórias tensas com final trágico costumam vender muito quando na maioria das vezes são abordadas de forma sensacionalista na mídia. Mas para quem quer estar mais preocupado com os entornos que cada episódio deste pode levar a humanidade cabe uma reflexão por diversos pontos. De um ponto instigante, a diretora Lynne Ramsay nos aproxima da vida pessoal e particularmente familiar do garoto Kevin (Ezra Miller), responsável por cometer um assassinato em massa no colégio onde estuda. Uma infância no ostracismo bem como sua fase de adolescência problemática, tem seu ápice na difícil relação com a mãe. Um tremendo fio condutor capaz de desenvolver um enredo interessante para qualquer história. Em Precisamos falar sobre Kevin ela constrói uma trama fabulosamente espreitada de pontos interessantes para ficção e realidade. Ao contrário da maioria das histórias que centraliza nas vítimas e na dor de seus familiares, aqui vimos pelo ponto da família do réu em questão e o que nos aponta o outro lado da moeda delineando o verso de mais uma página cinematográfica.

Partindo desta perspectiva intimista, o filme de Ramsay nos conduz por uma montagem brilhante do passado, presente e futuro da escritora Eva Khatchadourian (Tilda Swinton) e todo processo para moldar sua relação com seu filho mais velho. Dos festejos no passado até a total desolação no presente. Eva sente na pele as consequências do ato infame do filho. Sua vida é tomada por frequentes atos de hostilidade explícita por parte de famílias, colegas de trabalho e vizinhos. Todos lançam obre ela um olhar de carrasco. De aspecto frágil e esmiuçado, Eva transparece uma dor dilacerante para quem se identifica com seu sofrimento graças a um trabalho estupendo de Tilda Swinton, que por razões desconhecidas, não concorreu à estatueta daquele ano. Certamente, seria uma das fortes candidatas a levá-la para casa.

Ao longo do filme embarcamos por dentro da vida cotidiana de Eva e Kevin, mãe e filho com sérias dificuldades em se comunicar.  As atuações precisas de Tilda e Ezra dão veracidade às cenas em que a falta do diálogo prevalece sobre esta relação e nos ajuda a compreender o quão difícil é para qualquer uma das partes, deixar fluir seus mais profundos sentimentos. Sejam eles positivos ou negativos. Cada cena nos ajuda a formular as palavras do artigo das páginas deste jornal familiar. Em nenhum momento, ela nos dá o ponto final das razões do ato de Kevin, e muito menos julga severamente a falta de uma atitude mais afetiva por parte da mãe. É este contexto subjetivo que torna o filme tão apreciável fornecendo os pingos nos is necessários para nossa própria frase de conclusão.

Pelo lado o Pai, o perfeito trabalho de John C. Reilley, expert em interpretar maridos insossos e dominados, coloca mais subjetividades no seu lugar na família atrás de Eva e Kevin. Como um bom pai da Era das Cavernas até a Medieval, seu trabalho é apenas promover a casa, deixando as questões mais viscerais, os problemas nas mãos da mãe, que se perde num ambiente sem diálogo e aproximação. 

As dificuldades na relação entre pais e filhos sempre ditam e vão sempre ditar os rumos que devem tomar cada parte dela na construção de uma história. A culpa que uma das partes chega a sentir é algo humano, ou seja, compreensível dentro de qualquer contexto. Contudo, não é isto que explana as decisões de uma pessoa num momento negativo da sua existência. Quando o passageiro sombrio que assola a vida de qualquer um de nós toma o controle. Temos que ser nós mesmos os responsáveis por cada ato que visamos fazer em nossa vida. E para isso o diálogo entre as partes interessadas ainda é o melhor caminho, mesmo quando se trata de personalidades fortes e independentes. Mais do que nunca precisamos falar. Para que no fim não tenhamos mais que ler as manchetes assustadoras de cada dia. Este é o eixo principal de uma narrativa surpreendente e assustadoramente excitante. Belo e assustador. 

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