Cidade de Deus, 2002. Dirigido por Fernando Meirelles, co-dirigido por
Kátia Lund. Com Alexandre Rodrigues, Mateus Nachtergaele, Seu Jorge, Leandro
Firmino da Hora, Douglas Silva, Alice Braga e Darlan Cunha.
Nota: 9.8
Há dez anos o cinema brasileiro
ia a Cannes, representado por um filme que foi considerado persona non grata
pelos nossos críticos, por ser violento demais (sic!) e desvirtuar-nos perante
à sociedade internacional, com receio de que os estrangeiros veriam o país como
um aglomerado de seres vis e sub-humanos. Como se tudo aquilo fosse um grande
exagero (que qualquer um que leia os jornais sabe que não), tentaram reduzir o
longa a um mero e sensacionalista editorial esquerdista e político. Porém,
quando Cidade de Deus alcançou o
sucesso inimaginável nas bilheterias e nas páginas das mais respeitáveis
publicações americanas, aqueles que torceram o nariz tiveram de engolir a seco
e reconhecer que estavam diante do melhor filme brasileiro que se tem notícia.
O roteiro adaptado por Braulio
Mantovani e Fernando Meirelles do livro homônimo de Paulo Lins faz uma grande
viagem de 20 anos acompanhando a evolução da favela de Cidade de Deus, desde
sua criação nos anos 60 até o ápice de sua deterioração socioeconômica. Traça o
perfil da comunidade em paralelo com o avanço do tráfico de drogas, o avanço da
pobreza, porém traz um acalanto sob a forma do personagem Buscapé (Alexandre
Rodrigues), que passa por toda a guerra entre bandos e más influências para se
tornar uma pessoa de bem, provando que a favela não é constituída por pessoas
ruins.
O maniqueísmo se completa com o
personagem Zé Pequeno (Leandro Firmino da Hora), um coisa ruim desde criança,
que apesar de suas atrocidades, evidencia a culpa do nosso poder público que
não consegue montar um sistema de divisão de riquezas que salvaria o futuro de
milhares de crianças. Além disso, quando Mané Galinha (Seu Jorge) entra na
história, como um cidadão bom, que empunha a arma apenas para se vingar,
infelizmente prova que o mundo do crime destrói também o caráter.
A direção de Fernando Meirelles é
absolutamente inovadora. O modo como soube explorar o contraste que as
atmosferas do comportamento dos personagens, além de trabalhar meticulosamente
a interação de tempo e espaço, fez de seu trabalho soberbo. Mas o triunfo só
saiu como o esperado pelo diretor devido à fotografia sensacional de César
Charlone e a montagem única e que alguns tentaram copiar, de Daniel Rezende.
Que liga sequências, indo e voltando no tempo, indicando com primor o ponto de
vista de cada personagem.
Por fim, o elenco que contava
apenas com um ator profissional (Mateus Nachtergaele), passou por vários testes
até chegar a formação final. Como eram moradores reais da favela, souberam
incorporar com veracidade incrível os trejeitos, o linguajar e o comportamento
de seus personagens. Destaque para Douglas Silva e Leandro Firmino, como o Zé
Pequena em duas gerações, e Seu Jorge e Alice Braga, que alcançaram fama o
suficiente para os levarem a Hollywood. Um belo, e intenso, trabalho de Kátia
Lund, co-diretora do longa.
A suprema obra-prima de nossa
cinematografia, que recebeu diversos prêmios e indicações por onde passou, além,
óbvio de suas 4 indicações ao Oscar para diretor (Meirelles), fotografia
(Charlone), montagem (Rezende) e roteiro adaptado (Mantovani). É considerado o
melhor filme latino-americano da história e sétimo melhor entre todos pela
revista americana Empire. Fato que com certeza deixa os brasileiros cinéfilos,
orgulhosos.
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