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terça-feira, 8 de maio de 2012

Cidade de Deus (2002) - 10 Anos


Cidade de Deus, 2002. Dirigido por Fernando Meirelles, co-dirigido por Kátia Lund. Com Alexandre Rodrigues, Mateus Nachtergaele, Seu Jorge, Leandro Firmino da Hora, Douglas Silva, Alice Braga e Darlan Cunha.
Nota: 9.8

Há dez anos o cinema brasileiro ia a Cannes, representado por um filme que foi considerado persona non grata pelos nossos críticos, por ser violento demais (sic!) e desvirtuar-nos perante à sociedade internacional, com receio de que os estrangeiros veriam o país como um aglomerado de seres vis e sub-humanos. Como se tudo aquilo fosse um grande exagero (que qualquer um que leia os jornais sabe que não), tentaram reduzir o longa a um mero e sensacionalista editorial esquerdista e político. Porém, quando Cidade de Deus alcançou o sucesso inimaginável nas bilheterias e nas páginas das mais respeitáveis publicações americanas, aqueles que torceram o nariz tiveram de engolir a seco e reconhecer que estavam diante do melhor filme brasileiro que se tem notícia.

O roteiro adaptado por Braulio Mantovani e Fernando Meirelles do livro homônimo de Paulo Lins faz uma grande viagem de 20 anos acompanhando a evolução da favela de Cidade de Deus, desde sua criação nos anos 60 até o ápice de sua deterioração socioeconômica. Traça o perfil da comunidade em paralelo com o avanço do tráfico de drogas, o avanço da pobreza, porém traz um acalanto sob a forma do personagem Buscapé (Alexandre Rodrigues), que passa por toda a guerra entre bandos e más influências para se tornar uma pessoa de bem, provando que a favela não é constituída por pessoas ruins.

O maniqueísmo se completa com o personagem Zé Pequeno (Leandro Firmino da Hora), um coisa ruim desde criança, que apesar de suas atrocidades, evidencia a culpa do nosso poder público que não consegue montar um sistema de divisão de riquezas que salvaria o futuro de milhares de crianças. Além disso, quando Mané Galinha (Seu Jorge) entra na história, como um cidadão bom, que empunha a arma apenas para se vingar, infelizmente prova que o mundo do crime destrói também o caráter.

A direção de Fernando Meirelles é absolutamente inovadora. O modo como soube explorar o contraste que as atmosferas do comportamento dos personagens, além de trabalhar meticulosamente a interação de tempo e espaço, fez de seu trabalho soberbo. Mas o triunfo só saiu como o esperado pelo diretor devido à fotografia sensacional de César Charlone e a montagem única e que alguns tentaram copiar, de Daniel Rezende. Que liga sequências, indo e voltando no tempo, indicando com primor o ponto de vista de cada personagem.

Por fim, o elenco que contava apenas com um ator profissional (Mateus Nachtergaele), passou por vários testes até chegar a formação final. Como eram moradores reais da favela, souberam incorporar com veracidade incrível os trejeitos, o linguajar e o comportamento de seus personagens. Destaque para Douglas Silva e Leandro Firmino, como o Zé Pequena em duas gerações, e Seu Jorge e Alice Braga, que alcançaram fama o suficiente para os levarem a Hollywood. Um belo, e intenso, trabalho de Kátia Lund, co-diretora do longa.

A suprema obra-prima de nossa cinematografia, que recebeu diversos prêmios e indicações por onde passou, além, óbvio de suas 4 indicações ao Oscar para diretor (Meirelles), fotografia (Charlone), montagem (Rezende) e roteiro adaptado (Mantovani). É considerado o melhor filme latino-americano da história e sétimo melhor entre todos pela revista americana Empire. Fato que com certeza deixa os brasileiros cinéfilos, orgulhosos.

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