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quinta-feira, 3 de maio de 2012

JUVENTUDE TRANSVIADA (1955)


Rebel without a cause, 1955. 
Dirigido por Nicolas Ray. 
Com James Dean, Natalie Wood e Sal Mineo
Nota: 9 

“E enquanto a luz do nosso início ainda não viajou a distância de anos luz, não foi vista em planetas dentro de outras galáxias, nós vamos desaparecer na escuridão do espaço de onde viemos destruídos da forma que começamos numa explosão de gás e fogo.”

A explicação científica do professor de astronomia numa das passagens do cultuado filme de Nicolas Ray, sintetiza claramente o turbilhão de emoções que transbordavam da juventude nos anos 50. Seguindo por esta direção, um famoso trio de personagens se veem atormentados pelo descaso involuntário de seus familiares na formação da personalidade associada a seus destinos.

Não há no mundo quem não tenha ouvido a expressão. Não há no mundo quem não tenha pensado na expressão como sinônimo de rebeldia. Não há no mundo quem não a tenha associado ao mito James Dean. Mais do que uma expressão sintática, Juventude Transviada se tornou ao longo das décadas um filme obrigatório para que jovens rebeldes pudessem tentar moldar a direção de seus dilemas morais.

Aqui vemos o astro rebelde James Dean desfilando toda sua desenvoltura com um mito que ele mesmo criou em sua curtíssima carreira. O rebelde sexy Jim Stark e sua indelével jaqueta de couro se tornou um porta-voz de uma geração. O topetudo representa os jovens de uma geração instável sucumbidos pela instabilidade das pessoas responsáveis em lhes dar estabilidade. O pai, sinônimo de força e confiança, cai diante de uma omissão silenciada pela posição inflexível da mãe. Um espécime de um parâmetro modista que expressa seu amor pelos filhos por meio de um generoso talão de cheques. A melhor resposta que tem em mãos se caracteriza pela inexistência da troca de fluidos sentimentais.

A frustração de uma melhor aproximação com o pai leva Jim a derrubar uma idealização hierárquica pela qual foi criado. Vê-lo se calando diante dos gritos histéricos da mãe, o medo que sente depois de ter derrubado uma simples bandeja no chão e ainda ter de usar um avental florido da empregada para que esteja de acordo com seus preceitos, são coisas que o jovem não admite nem em seus piores pesadelos. Esta angústia sufocante o conduz a pequenos delitos e prisões inconsequentes. Na mesma delegacia, vemos outra jovem. Judy (Natalie Wood), e sua pomposa exuberância que traça o estilo estrela hollywoodiana, mas que na vida real só serve para desempenhar o papel de moça de boa família.

A jovem perdida na fase de transição de menina para moça e no que esta fase implica no relacionamento com o pai, antes seu maior ídolo e amigo. Assim, ela tenta buscar suas respostas por meio de más companhias. Quando conhece o carismático Jim, ela se une a ele como dois errantes no meio de um deserto de dúvidas e incertezas. O trio se completa com Plato (Sal Mineo), o elo mais fraco do grupo, que aos olhos mais críticos, pode não passar apenas de um menininho bobo e sentimentaloide chorando pela ausência do pai. No entanto, se torna o mais nocivo do grupo quando sem poder recorrer a matriz de suas dúvidas, decide então usar uma arma de fogo para buscar a Paz que tanto almejava em seu ser.

Eles tentam seguir seus destinos de olhos vendados pela incompreensão familiar. Marginalizados pela sociedade, criam uma espécie de família alternativa. Não há uma liga sustentável entre os dois mundos, pois esta liga não existe na raiz do circuito familiar. Os adultos, sem qualquer experiência em lhe dar com seus problemas, não conseguem ouvir os jovens, e os jovens, sem o esteio necessário, não conseguem se fazer ouvir. Até mesmo seus atos de rebeldia não chegam a criar o alarde que seu âmago condiz. Um desfecho trágico para um deles era algo previsível dentro deste cenário.

A estrela é e sempre será James Dean, mas é na força de seus coadjuvantes que se desenrola o drama do filme fazendo jus a suas indicações ao Oscar na categoria. A namoradinha da América Natalie Wood expressa em uma única cena a dor da confusão de sua Judy enquanto o bebê atormentado Sal Mineo enche seu Plato de um paradoxo de esperança e sofrimento.

Um mito em ascensão, uma radiografia tecida da origem de deterioração das relações familiares e a forma que nos faz refletir a respeito, faz de Juventude Transviada um filme obrigatório para pais e filhos que minimizam o diálogo na formação de seus laços. Um dos filmes mais famosos da história parte de um ponto que nos instiga através dos tempos. Se hoje, não toma a tela por completo da forma impactante como antes, torna-se imortal por ser brilhantemente atemporal. As questões colocadas bem como as respostas que os atormentavam naquela época estão presentes nos dias de hoje. Repaginadas de certa forma, mas mesmo assim, presentes. Falando, dialogando com nossos jovens através de um tema onipresente na vida de nossa juventude, que pode passar o tempo que for sempre procurará causas de ser transviada.

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