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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Farrapo Humano (1945)


The Lost Weekend, 1945. Dirigido por Billy Wilder. Com Ray Milland, Jane Wyman, Phillip Terru e Howard da Silva.
Nota: 9,3

Quando assistimos aos filmes de comédia dirigidos com maestria acima da média por Billy Wilder, pensamos que nasceu para o gênero e não teria jeito para conduzir um drama. Porém, os gênios são só geniais por que aprenderam a vivenciar um todo na arte ou ciência em que se embrenharam. No caso de Wilder, seu dom para fazer filmes hilários, mas que continham uma carga intimista, que desenhava personagens singulares e inesquecíveis sem serem hiperbólicos ou caricatos, veio de seu primeiro grande trabalho, ou melhor, sua primeira obra de arte.

Farrapo Humano conta a história de Don Birnam (Ray Milland), alcóolatra que em um quente fim de semana enfrenta o limite das provações de quem é escravo do vício. Mesmo sob as súplicas de sua namorada Helen (Jane Wyman) e de seu irmão Wyck (Phillip Terry), passa por cima de seus conceitos, sonhos e pudores apenas para sustentar a insaciabilidade de um whisky. Quanto mais avança em sua dualidade inconfortável, mais fica sem esperanças.

Desde o início é possível se sentir desconfortável com a situação de Don, pois é visível sua fraqueza ante a uma garrafa de qualquer bebida que fosse. Wilder não nos poupa dos infortúnios do escritor e ao invés de nos deixarem no júri, para apontar os erros do personagem, nos conduz ao centro das ações. O modo como cria uma cumplicidade com público, chega a tornar insuportáveis algumas situações. Na pior delas, sob o forte calor de Nova York, o declínio moral de Birnam ao tentar, sem sucesso, penhorar sua máquina de escrever é melancólico.

A trilha sonora de Miklos Rozsa evoca o mundo conturbado em que vive o personagem, pois traz uma mistura que remete a insanidade incontrolável de um viciado. Milland, em seu primeiro papel de destaque, faz uma das melhores e mais agoniantes interpretações do cinema. Seu papel é mais perturbador que o de Nicolas Cage (Despedida em Las Vegas, 1995), pois há uma vontade de mudar de rumo, o que não há no personagem de Cage. 

O roteiro de Charles Brackett em conjunto a Wilder foi o primeiro a não tratar o alcoolismo como algo que merecia uma visão cômica. Ao trazer esse realismo impiedoso para as telas, tiveram que conviver com o fracasso de público que não estavam acostumados com tanta veracidade. As leis de produção da época impôs um final feliz ao filme. Entretanto, isso não apagou o brilhantismo do longa que merecidamente recebeu diversos prêmios, entre eles 4 Oscar (Filme, diretor, ator e roteiro) e a Palma de Ouro em Cannes (Diretor e ator).  Sem este libelo do cinema americano, Billy Wilder não teria sido o mestre que foi, e talvez o realismo não teria começado no momento certo em Hollywood.

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