The Girl with the Dragon Tatoo, 2011. Dirigido por
David Fincher. Com Rooney Mara, Daniel Craig, Christopher Plummer, Robin Wrigth
Penn.
Cotação: 8.0
Adaptar
uma obra de grande sucesso é um desafio que poucos profissionais aceitam
enfrentar, pois os riscos sérios de comparações tiram a legitimidade e
dependendo do rumo que tomar, o brilho de suas produções.
Ficou
a cargo do talentoso David Fincher a refilmagem americana do sueco Millennium – os homens que não amavam as mulheres. Sucesso de crítica
em seu país, o excelente suspense baseado no best-seller de Stieg Larsson,
virou febre mundial devido às características humanas e objetivas de ambas as
formas.
De
posse de um material tão promissor, Fincher quis mudar algumas características
do original, para assim tentar evitar uma inevitável comparação com a obra
sueca. Contudo, quando se trata de uma obra com tamanha magnitude, você tem
dois caminhos a seguir e ambos te levarão a um beco sem saída de críticas e
comparações. Assim se fez.
Vencedor
do Oscar de melhor montagem, Millenium –
os homens que não amavam as mulheres traz o jornalista investigativo Mikael Blomkvist (Daniel Craig) a beira de uma desmoralização profissional e prisão
eminente até aceitar um trabalho que mudará os rumos de sua vida e de sua
carreira. Ele é contratado por um poderoso industrial na Suécia Herik Vanger (Christopher Plummer) para descobrir o que de fato teria acontecido
com sua amada sobrinha Hariet (Mathilda Van Essen). Mas logo Blomkvist
percebe que não está sozinho em sua empreitada. Ele recebe a ajuda de um
habilidoso hacker punk-feminista Lisbeth
Salander (Rooney Mara), que
também por motivos de trabalho, tem consigo todas as informações de seu
computador pessoal envolvendo o caso. Juntos, a dupla, que se torna um casal de
investigadores consegue desvendar o mistério por detrás do desaparecimento da
jovem.
Se
esquecermos da produção sueca, tomamos certeza da quão confusa se tornou a
direção de objetivos imposta por Fincher. Para começar ele tenta - como não
poderia deixar de ser - mudar algumas características dos elementos capitais em
seu longa. Até aí tudo bem, afinal, os fins devem justificar os meios
tratando-se de uma adaptação. Mas, é justamente neste ponto que ele peca
demais. Aqui vemos um filme de suspense que teria tudo para ser um grande
sucesso de crítica como seu coirmão se não fosse pelo roteiro rocambolesco que
traz mais perguntas do que respostas. Recheadas de clichês básicos, a trama
substitui cenas subjetivas por extensas e explicadas demais, levando a
impugnação do desafio de pensar do espectador, minimizando o fascínio da fórmula
deste tipo de thriller. Aliadas a textos
pobres e tão frios quanto o Norte escandinavo.
Mas
nada se compara ao que o diretor propõe a fazer com os personagens. Fincher
descaracteriza os heróis ao inverter seus papéis na história. Como no título
original, Lisbeth Salander é a figura principal da história. Uma mulher
embrutecida pela dor causada pelos homens, de onde se oriunda toda sua força,
dotada de grande inteligência e de uma perspicácia instigante. Ao transformá-la
numa mulher estereotipada, frágil, carente e apaixonada por seu herói, o diretor
coloca o personagem masculino como o centro de toda trama, mutilando a relevância
e por consequência uma melhor atuação da indicada ao Oscar Rooney Mara na versão
americana. Nem mesmo nas cenas de maior impacto de sua personagem a atriz,
visivelmente prejudicada pela direção, consegue passar uma veracidade no seu
sofrimento. Sua participação na resolução do caso a mostra como uma valiosa,
mas mesmo assim, assistente do herói.
Nem
mesmo foi dela a autoria da pista principal para resolução do mistério. Um
equívoco que é enfatizado cronicamente na cena de sexo entre os personagens
quando Lisbeth se torna submissa ao charme e a força de Blomkvist. Ou seja, de
heroína, ela passa a uma simples Bond girl. Ao compararmos com o da versão
sueca é a personagem feminina que está literalmente por cima, ou seja, tomando
para si o controle e as rédeas da situação. Uma situação incômoda que podemos
observar até em coisas triviais como o tamanho da fotografia de Hariet Vanger.
Enquanto
a versão sueca mostra a bela jovem de traços expressivos em quase todas as
passagens envolvendo o caso, na versão americana temos uma fotografia minúscula
de uma jovem frágil e inexpressiva que aparece uma ou duas vezes na trama. Temos,
portanto, um caso típico de Hollywood da superioridade masculina nos filmes de
ação. Deve ser esta a razão pela qual é possível observar que Fincher se valeu
da persona tão bem encarnada por Graig nos últimos anos. Em alguns momentos
deslumbramos traços de 007 em sua atuação. O herói que tudo sabe, que tudo vê, forte
e galante que leva todas as personagens femininas para a cama.
Por
aceitar o desafio de adaptar uma obra já consagrada, o talentoso David Fincher
ganha muitos pontos pela coragem. Contudo, ao se valer de todo o pragmatismo
hollywoodiano, o diretor deixou muito a desejar na execução de seu filme. Um
suspense de cenas marcadas, atuações fracas e a desvalorização excessiva da
figura feminina. Uma pena para um diretor acostumado a nos brindar com
produções como O curioso caso de Benjamim Button e A rede social. Com seu Millenium,
Fincher revelou-se o verdadeiro homem que não amou as mulheres.
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