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sexta-feira, 16 de março de 2012

Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011)


The Girl with the Dragon Tatoo, 2011. Dirigido por David Fincher. Com Rooney Mara, Daniel Craig, Christopher Plummer, Robin Wrigth Penn.
Cotação: 8.0

Adaptar uma obra de grande sucesso é um desafio que poucos profissionais aceitam enfrentar, pois os riscos sérios de comparações tiram a legitimidade e dependendo do rumo que tomar, o brilho de suas produções.

Ficou a cargo do talentoso David Fincher a refilmagem americana do sueco Millennium – os homens que não amavam as mulheres. Sucesso de crítica em seu país, o excelente suspense baseado no best-seller de Stieg Larsson, virou febre mundial devido às características humanas e objetivas de ambas as formas.

De posse de um material tão promissor, Fincher quis mudar algumas características do original, para assim tentar evitar uma inevitável comparação com a obra sueca. Contudo, quando se trata de uma obra com tamanha magnitude, você tem dois caminhos a seguir e ambos te levarão a um beco sem saída de críticas e comparações. Assim se fez.

Vencedor do Oscar de melhor montagem, Millenium – os homens que não amavam as mulheres traz o jornalista investigativo Mikael Blomkvist (Daniel Craig) a beira de uma desmoralização profissional e prisão eminente até aceitar um trabalho que mudará os rumos de sua vida e de sua carreira. Ele é contratado por um poderoso industrial na Suécia Herik Vanger (Christopher Plummer) para descobrir o que de fato teria acontecido com sua amada sobrinha Hariet (Mathilda Van Essen). Mas logo Blomkvist percebe que não está sozinho em sua empreitada. Ele recebe a ajuda de um habilidoso hacker punk-feminista Lisbeth Salander (Rooney Mara), que também por motivos de trabalho, tem consigo todas as informações de seu computador pessoal envolvendo o caso. Juntos, a dupla, que se torna um casal de investigadores consegue desvendar o mistério por detrás do desaparecimento da jovem.

Se esquecermos da produção sueca, tomamos certeza da quão confusa se tornou a direção de objetivos imposta por Fincher. Para começar ele tenta - como não poderia deixar de ser - mudar algumas características dos elementos capitais em seu longa. Até aí tudo bem, afinal, os fins devem justificar os meios tratando-se de uma adaptação. Mas, é justamente neste ponto que ele peca demais. Aqui vemos um filme de suspense que teria tudo para ser um grande sucesso de crítica como seu coirmão se não fosse pelo roteiro rocambolesco que traz mais perguntas do que respostas. Recheadas de clichês básicos, a trama substitui cenas subjetivas por extensas e explicadas demais, levando a impugnação do desafio de pensar do espectador, minimizando o fascínio da fórmula deste tipo de thriller. Aliadas a textos pobres e tão frios quanto o Norte escandinavo.

Mas nada se compara ao que o diretor propõe a fazer com os personagens. Fincher descaracteriza os heróis ao inverter seus papéis na história. Como no título original, Lisbeth Salander é a figura principal da história. Uma mulher embrutecida pela dor causada pelos homens, de onde se oriunda toda sua força, dotada de grande inteligência e de uma perspicácia instigante. Ao transformá-la numa mulher estereotipada, frágil, carente e apaixonada por seu herói, o diretor coloca o personagem masculino como o centro de toda trama, mutilando a relevância e por consequência uma melhor atuação da indicada ao Oscar Rooney Mara na versão americana. Nem mesmo nas cenas de maior impacto de sua personagem a atriz, visivelmente prejudicada pela direção, consegue passar uma veracidade no seu sofrimento. Sua participação na resolução do caso a mostra como uma valiosa, mas mesmo assim, assistente do herói.

Nem mesmo foi dela a autoria da pista principal para resolução do mistério. Um equívoco que é enfatizado cronicamente na cena de sexo entre os personagens quando Lisbeth se torna submissa ao charme e a força de Blomkvist. Ou seja, de heroína, ela passa a uma simples Bond girl. Ao compararmos com o da versão sueca é a personagem feminina que está literalmente por cima, ou seja, tomando para si o controle e as rédeas da situação. Uma situação incômoda que podemos observar até em coisas triviais como o tamanho da fotografia de Hariet Vanger.

Enquanto a versão sueca mostra a bela jovem de traços expressivos em quase todas as passagens envolvendo o caso, na versão americana temos uma fotografia minúscula de uma jovem frágil e inexpressiva que aparece uma ou duas vezes na trama. Temos, portanto, um caso típico de Hollywood da superioridade masculina nos filmes de ação. Deve ser esta a razão pela qual é possível observar que Fincher se valeu da persona tão bem encarnada por Graig nos últimos anos. Em alguns momentos deslumbramos traços de 007 em sua atuação. O herói que tudo sabe, que tudo vê, forte e galante que leva todas as personagens femininas para a cama.

Por aceitar o desafio de adaptar uma obra já consagrada, o talentoso David Fincher ganha muitos pontos pela coragem. Contudo, ao se valer de todo o pragmatismo hollywoodiano, o diretor deixou muito a desejar na execução de seu filme. Um suspense de cenas marcadas, atuações fracas e a desvalorização excessiva da figura feminina. Uma pena para um diretor acostumado a nos brindar com produções como O curioso caso de Benjamim Button e A rede social. Com seu Millenium, Fincher revelou-se o verdadeiro homem que não amou as mulheres.    

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