
Cotação: 10.0
Há quatro décadas um diretor
franco-americano mudava os rumos do cinema ao conceber uma das melhores, senão
a melhor, adaptação cinematográfica de todos os tempos, Poderoso Chefão (The Godfather). Com o auxílio do autor do
imponente livro, Mario Puzzo, Francis Ford Coppola alcançou o estrelato ao
mostrar de forma crua a epopéia dos Corleone, que comandavam o submundo do
crime na Nova Iorque da década de 50.
Não tem quem desconheça a saga de
Vito Corleone. É um dos mais famosos e parodiados filmes que se tem notícia, e
não era para menos. Com uma trama intrincada e violenta, não poupa os
mecanismos que movimentam a psique humana e colocam em cheque o maniqueísmo que
está presente em todo ser pensante. O Texto de Puzzo e Coppola é denso e às
vezes perturbador. Sem meios termos, expõe o público à faceta cruel da vida
bandida e com planos abertos exibe uma violência poética.
O contexto do filme se contrapõe
ao auge da ideologia do “the american way of life” seguida à risca pela classe
burguesa americana no pós-guerra. Ainda exala polêmica ao subjetivar que todo o
equilíbrio social da nação estadunidense estava sendo corrompido pelos
imigrantes. A propaganda negativa, porém, não evitou que o longa atingisse uma
aceitação gigantesca de público e crítica, faturando o três Oscar, incluindo
filme e ator (Marlon Brando, que polemizou ao mandar uma índia feakie rejeitar seu prêmio).
A sincronia cronológica com que
Coppola conduz a trama é demarcada pela sua sensibilidade e disposição em
construir uma espécie de interlúdio, que mostra o exílio de Michael na terra
natal de seu pai e principalmente a reviravolta que o levará a se tornar o novo
Don. Tudo isso auxiliado pela brilhante trilha do experiente Nino Rota,
veterano companheiro de Federico Fellini, juntamente com o pai do diretor,
Carmine Coppola.
Marlon Brando exibe a melhor
atuação masculina do cinema americano, depois de enfrentar o processo seletivo
como qualquer um. Seu Vito Corleone é impiedoso ao mesmo tempo que passa uma
sensibilidade fraterna que caracteriza o “padrinho” do título original. O ainda
novato Al Pacino já demonstrava a segurança que o caracterizou para os mais
diversos papéis. O restante do elenco é tão convincente quantos os
protagonistas. Um entrosamento poucas vezes visto na sétima arte.
Uma produção magnífica que estará
(e deve estar) sempre no top 5 de qualquer lista de cinéfilo que se preze. Uma
jóia rara do cinema americano, e um dos pontos essenciais que ajudaram a salvar
Hollywood em sua década mais importante. Trabalho minucioso de um diretor
perfeccionista. Por fim, uma obra de arte obrigatória do início ao fim.
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