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quarta-feira, 7 de março de 2012

A Invenção de Hugo Cabret (2011)


Hugo, 2011. Dirigido por Martin Scorcesse. Com Asa Butterfield, Bem Kingsley, Sacha Baron Cohen, Christopher Lee, Chloe Moretz e Jude Law.Nota: 9.1

Quando se pensa em um filme de Martin Scorcesse vem logo à cabeça seus inúmeros feitos, como o áspero Taxi Driver (76), o arrebatador Touro Indomável (81), considerado por muitos seu melhor filme e Os Infiltrados (06), que lhe deu o único Oscar de por direção. Entretanto o seu A Invenção de Hugo Cabret abandona a violência e a tensão de sua filmografia, e cria uma relação sublime entre emoção e arte, além de fazer uma justa homenagem a um dos pioneiros do cinema.




O filme conta a história do jovem Hugo Cabret (Asa Butterfield), um órfão que mora no relógio da estação de trem da Paris da década de 20. Sua única companhia é um andróide que seu pai havia encontrado em um museu e não conseguiu terminar de consertar. Quando o menino termina o conserto com a ajuda da inteligente Isabelle (Chloe Moretz), descobre que o robô reproduz uma mensagem que mudará não só vida, mas como a de muitas pessoas à sua volta.


A adaptação feita por John Logan, com a ajuda do autor do livro homônimo Brian Selzenick, descendente do lendário produtor David O. Salzenick, é brilhante. Sob a batuta de Scorcesse, somos conduzidos a uma atmosfera aparentemente triste, porém amenizada pela forma como a história é contada. A obsessão de Hugo pelo robô nada mais é que uma forma que encontrou para manter vivo dentro de si o carinho que sentia pelo seu pai. O texto também prima por manter-nos a par das tramas paralelas dos personagens que compõem o dia-a-dia da estação, para que no fim das contas o feito de Hugo tenha ainda mais valor. Quando a ficção se mistura a realidade e introduz Georges Meliès na trama, tudo fica à mercê do modo pelo qual o diretor decide transmitir seu amor pela arte cinematográfica, criando um paralelo entre as histórias.




Mesmo longe de discussões pesadas sobre conduta e dissecações da psique humana, o que é de praxe em suas obras, o diretor mantém o intimismo, e causa uma inevitável aproximação, muito menos angustiante que de costume, do público com o personagem. Cria a possibilidade de refletirmos sobre nossos sonhos e aspirações, sendo inevitável a emoção. A qualidade 3D, novidade na carreira do diretor, é uma mostra clara que a tecnologia nunca vai interromper a criatividade, e sim contribuir para que espetáculos visuais bem empregados tenham um deleite ainda maior em conluio com um roteiro bem amarrado.


Ben Kingsley tem uma atuação digna e honrada como o visionário Meliès, compondo um meio termo entre o amalucado criador do histórico Viagem à Lua (1903), e o deprimido velho vendedor de bugigangas esquecido pelos avanços cinematográficos. Porém, o filme é dos jovens. A Isabelle de Chloe Moretz é adorável apesar do excentrismo comum em pessoas com uma inteligência abastada. Já Asa Butterfield apresenta uma segurança não vista em uma criança desde a ótima atuação de Haley Joel Osment em O Sexto Sentido (99). A maneira como traz diversas facetas emocionais de seu Hugo, sem que crie interferências de representação entre elas, é louvável e deixa a sensação que foi um erro a Academia não ter nem o cogitado a uma indicação ao Oscar.




Terá quem critique Martin Scorcesse com o já conhecido papo furado de que o filme tem muitas pretensões acadêmicas. Entretanto a única pretensão visível no filme é a de provar que a arte pode ser concebida também através da tecnologia. Além de ser uma justa homenagem a um homem que contribuiu para que o cinema pudesse se tornar um veículo de fantasias, em que todo mundo tivesse a oportunidade de visitar a lua à bordo de uma tela.

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