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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Mestre (2012)



Dirigido por Paul Thomas Anderson. Com Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Laura Dern, Rami Malek e Jesse Plemmons.

Nota: 9.5

Paul Thomas Anderson não costuma brincar em serviço. Desde de quando ganhou notoriedade na condução do polêmico Boogie Nights – Prazer Sem Limites (98), sobre uma produtora de filmes pornográficos e seus personagens singulares, vem tentando nos mostrar como o comportamento humano é o mais complexo dentre todos os seres vivos. Em O Mestre, faz um ensaio sobre as revoltas de uma mente traumatizada e as diversas facetas da psique humana. Como sempre, o foco principal está no que uma pessoa pode mudar seu destino, querendo ou não ser influenciada por outra.

Poderia ser um filme sobre redenção, reviravoltas e lições de moral diversas, mas não é do feito de P. T. Anderson ser tão simplório. Aqui, acompanha a trajetória de Freddie Quell (Joaquin Phoenix, ótimo), um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial que procura desesperadamente um aminho a seguir depois de tantos traumas. Dentre eles, o do álcool, no qual se tornou um verdadeiro mestre em fabricá-las das mais variadas formas e qualidades; e a violência quase incontrolável. Quando caminho se liga ao do carismático mentor de um movimento religioso chamado de A Causa, Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman, pefeito), sua vida se tornará uma espécie de simbiose com o grupo, e fará de tudo para proteger seu mestre.

Não é simples compreender as mazelas de Anderson. Seu filme é taciturno, ora contemplativo, ora verborrágico, um estilo totalmente singular de criar a linha narrativa. Primeiro somos apresentados ao personagem voraz de Phoenix, violento, compulsivo sexual, alcoolatra, mas sem que qualquer julgamento da motivação seja feita pelo diretor. Mesmo assim, o comportamento de Freddie incomoda, perturba, e não de se estranhar que o odeie com menos de meia hora de filme. Quando finalmente entra em cena Lancaster Dodd, nos é apresentado o complexo esquema dA Causa, meio sacro, meio pscicanalítico, incompreensível. A concentração das ações no núcleo do grupo e a crescente ligação de Dodd e Quell nos dão conta que pode ser uma crítica aos excessos religiosos, que apareceram sob variadas formas e vertentes após a terrível guerra.

Porém o diretor vai além. Seu texto é subjetivo, e nos é intrasigente fazer qualquer comentário antes que a película chegue ao fim. Talvez seja esta a intenção, deixar um tema de relação tão intenso ,como religião e comportamento, ao exame íntimo do público, pois até hoje a população mundial busca no trascendental a cura para os males físicos e espirituais. Não seria ele se tornar um determinista. O Mestre, na verdade, faz o que toda a obra de Anderson fez até hoje, nos colocar a par das diferentes maneiras que um indivíduo se apresenta, com motivações diferentes. Seja na ganância como em Sangue Negro (08), ou  na carência afetiva visto em Magnólia (99).

O diretor ainda desfila sua categoria com a câmera. Desde o início conduzido por belas imagens e trilha sublime, em que dá espaço para o protagonista encher a tela. De uma hora para outra deixa tudo desconcertante e monstruoso com as atitudes do protagonista. Há ainda variadas referências durate todo o longa: a nudez total que exibe em um momento de delírio de Freddie, sem vulgaridades, ao estilo Kubrick e Pasolini. É clínico, e faz com que qualquer segundo em que seus atores aparecem não sejam desperdiçados com frivolidades. Phoenix está como nunca, talvez para responder a quem disse que não voltaria à cena depois de seu auto-documentário malfadado. Hoffman dá um show à parte, com simplicidade e simpatia, típico dos “chefes” das igrejas hoje em dia, e conta com o arcabouço da sempre competente Amy Adams como sua esposa e reguladora. Mais que um elenco, é um panteão.

Talvez O Mestre não se torne um sucesso de público, mas a crítica já se rendeu. Fosse P. T. Anderson um diretor preocupado com a venda de bilhetes, e ter deixado a complexidade um pouco branda, teria uma obra perfeita nas mãos. Entretanto os cinéfilos já lhe tiram o chapéu, e é até um absurdo pensar que foi reduzido a apenas três indicações ao Oscar (ficou fora por filme diretor e roteiro), pode ser pela polêmica de talvez ser inspirado no criador da Cientologia, porém quem saiu perdendo foi a Academia. Uma obra-prima, trabalho feito na arte pura de um verdadeiro mestre.

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