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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Para sempre (2012)


The Vow, 2012

Direção: Michael Sucsy. Com: Rachel McAdams, Channing Tatum, Sam Neil e Jessica Lange.
Nota: 3

História de amor bruscamente interrompida por uma tragédia torna-se por incidência um gigantesco leque de possibilidades. O casal Kim e Krickitt Carpenter, que deu origem à narração literária, sobreviveu de forma heroica às muitas idas e vindas do amor na realidade provando que nem mesmo uma ausência de memória poderia deter seus sonhos construídos sob uma rocha sólida. Uma premissa mais que interessante que foi parar nas mãos do diretor Michael Sucsy, que tentou mostrar este amor fantástico através dos projetores.

Tudo acontece numa noite em que os recém-casados Paige (Rachel McAdams) e Leo (Channing Tatum) saem do cinema e são alvejados por um caminhão desgovernado no estilo motorista zumbi que bate forte na traseira, arremessando a jovem esposa pela vidraça. A câmera em slow Motion entra em ação para realçar o momento, tão citado pelo marido na narrativa do filme. Paige se recupera, mas perde parcialmente a memória e não se lembra do que aconteceu nos últimos anos de sua existência em que mudou sua personalidade, saiu da casa dos pais e muito menos, de um marido apaixonado e devotado a ela. Neste momento, o desprezado tem pela frente um desafio que não desejaria a seu pior inimigo: reconquistar o amor da esposa indiferente através dos intensos momentos que partilharam juntos num passado não muito distante. Enquanto os pais da jovem (Sam Neil e Jessica Lange) iniciam uma queda de braço com o próprio, a quem não reconhecem oficialmente como o marido da filha, uma vez que o mesmo nunca fora apresentado a eles. Leo tenta manter a confiança a todo tempo acreditando que sua simples presença na vida da amada eclodirá num milagre de recuperação ao mesmo tempo em que sofre desesperadamente quando a mesma o olha como um estranho. A frieza de Paige corta seu coração quando impiedosamente o descarta como parte da família, de sua vida social e amorosa na representação do ex-noivo, o soberbo advogado Jeremy (Scott Spedman), com quem tenta reatar descaradamente. 

A perda de memória de Paige é muito mais nociva do que imaginava o rapaz. A garota passa a viver  a vida que vivia antes de conhecê-lo. Mentiras, traições e superficialidades. A artista plástica independente retorna para debaixo das asas do papai regressando à Faculdade de Direito. A mudança afetada em sua personalidade desenha um abismo considerável entre o casal, fazendo Leo desistir de vez. Final infeliz? Bem que poderia ser. Este é o maior erro de todos os erros de Para sempre, obra baseada na história incrivelmente real de uma mulher que perde a memória e esquece a vida ao lado do marido. Um mote ideal para aflorar emoções, suspiros e lágrimas. Imagino que para quem passou por este tormento de drama, decepções, erros e arrependimentos, coubesse aqui uma história de muito êxito em todos os âmbitos. No entanto, todos os elementos apontam para um bom dramalhão mexicano com direito a sequências absurdas e mudanças inócuas de rumo numa trama frágil. 

O arranque nada psicológico passa a não ter a credibilidade necessária quando a opção pelo gênero da construção da história não foi a escolha mais apropriada para o tema. O mote dramático se perdeu em algo tão suave de um romance água com açúcar  A questão da perda de memória pareceu deslocada em meio a um roteiro confuso, personagens que nada acrescentam à trama central e um casal sem a força fundamental para levar até o fim sua história. Paige e Leo são até fofos juntos, mas o problema está em desfazer toda esta fofura logo no início da trama. O público, forçado a aceitar a separação dos pombinhos, passa a acompanhar um vai e vêm de sequências fracas e sem ao menos uma ponta de dramaticidade que exigia a questão. Detalhe: o personagem de Tatum não derrama uma lágrima sequer convincente em todo o filme. Não há tempo pra chora-mingos, pois ele precisa desesperadamente correr contra o tempo (104 minutos?) a fim de recuperar o amor de sua esposa. Disso emanam flashbacks questionáveis de uma paixão arrebatadora que o público não consegue visualizar e o que é pior, se envolver. Consequências enfadonhas da opção errônea em contar um drama dentro de um romance e seus clichês, que de tão mal aproveitados, nem valem a pena ser mencionados. Com isso nada funcionou.

A bela Rachel McAdams tenta segurar a onda de sua Paige, mas se debate com uma série de acontecimentos que deixa sua personagem fugaz, tediosa, sem brilho e a empatia conveniente para uma boa heroína romântica, despertando uma ponta de ódio na parcela feminina. A atriz, que hoje parece ser a nata dos filmes de romance, se sai muito melhor interpretando antagonistas egocêntricas como a malvada mor do sucesso Meninas malvadas (2004). Tatum não interpreta. Os momentos de maior tensão de seu personagem são substituídos por uma narração filosófica obsoleta. No entanto, há de se convir que ambos tem o desconto do péssimo rendimento da trama que transitou de forma negativa do drama para o romance. A emoção, o envolvimento do público alvo com a história colidiu violentamente com a superficialidade da construção e seus personagens, como dos veteranos Sam Neil e Jessica Lange, que interpretaram os pais da moça. Dois dos grandes premiados astros do cinema, que literalmente pagam mico em cena dizendo meia dúzia de palavras que beiram a canastrice. O bonitão Scott Spedman é o mesmo Ben de Felicity com os todos os ônus do personagem. Nenhuma evolução desde o fim da série jurássica.

Para quem espera atento pela ótima premissa assistir a uma boa obra cinematográfica  é melhor não se deixar iludir,  pois as memórias de 104 minutos de filme sucumbirão rapidamente com o excesso de equívocos em todos os parâmetros de estrutura do filme. Um erro dramático que tentou ser romance e escambou para a comédia. Com a incisiva consideração de não ter graça alguma no final das contas. Simplesmente pra esquecer. 

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