Nota: 7.1
Colocar em prática a idéia de
adaptar um cult movie de um dos
gêneros que obtêm os fiéis seguidores mais exigentes como é a ficção científica
era uma tarefa deveras arriscada. Caso não seja um reboot (releitura), como foi
os últimos filmes do Batman e do Homem-aranha, corre o grave risco de não
passar pela malha fina da crítica. Porém, o diretor Len Wiseman consegue dar um
pouco de vida ao longa, usando a mística do desconexo de tempo e espaço
consagrado no filme de Paul Verhooven, incorporando elementos do cinema
contemporâneo como a montagem frenética e efeitos visuais de primeira classe.
A história se passa em um mundo
dividido em duas comunidades que ainda habitam na terra após uma catástrofe
biológica, a Federação Unida da Bretanha (basicamente a Europa) e a Colônia (a
Oceania), ligadas pela “queda”, um túnel com elevador gigantesco que as une.
Doug Quaid (Colin Farrel) é morador da Colônia e assim como todos por lá. Vive
atormentado por sonhos estranhos com uma bela jovem morena, mas acorda ao lado
de outra bela mulher, Lori (Kate Beckinsale). Quando conhece o programa da
empresa Rekall, que promete implantar novas lembranças em sua memória. Mas algo
sai errado, e ele se vê como um inimigo do Chanceler Cohaagen (Bryan Cranston)
que pretende eliminá-lo juntamente com os rebeldes da Colônia.
O arcabouço da trama é
praticamente a mesma do filme de 1990, entretanto a narrativa foi transferida
para um futuro mais influenciado pelos grandes avanços tecnológicos, além das
ações de conflito social, deslocados do eixo Terra-Marte, somente para o nosso
planeta. Isso fez com que o roteiro de Mark Bomback e Kurt Wimmer ganhasse em
agilidade, facilitando a tarefa de cair no gosto do público jovem. A forma em
que foi incorporado ao elemento central uma idéia, mesmo que rasteira, da
segregação social controlando o mundo foi uma boa sacada, afastando mais ainda
da primeira versão.
O trabalho de Wiseman é tão
barulhento e corrido quanto o irregular Anjos
da noite 4, no qual abusou de tiros e bombardeios, artífices áudio visuais
que incomodavam. Mas no caso deste O
vingador do futuro, tudo o que estava presente era para ser usado, ainda
pela qualidade inegável dos efeitos digitais. Porém este foi o veneno do
diretor. No momento em que poderia tornar esta produção marcante, optou por
levar a correria frenética até o último suspiro, deixando o desfecho batido,
sem um encerramento que contentasse àqueles que não se satisfizeram com o
apagar das luzes do filme de Verhoeven.
Aquele tom gótico e obscuro, com
seres bizarros que tornaram o filme original um grande fenômeno não conseguiu
ser substituído à altura pelo frenesi tecnológico. Outro fator que deixa a
desejar é a escolha dos atores, já que Farrel é inexpressivo, tanto quanto
Arnold Schwarzenegger, porém não possui o carisma que alçou o segundo ao
estrelato. Jessica Biel e Kate Beckinsale estão muito presas nos elementos
estereotipados que caracterizavam a mocinha e a vilã, sem esforço nenhum por
parte de ambas. Bill Nighy quase não é percebido e Bryan Cranston está preso a
um personagem hiperbólico.
Contudo, esse novo O vingador do futuro não é nenhuma
bomba, e pode agradar ao público, principalmente quem não teve a oportunidade
de assistir ao primeiro. Mas esse “recall” da obra imortal de Philip K. Dick
poderia ter sido mais bem planejado. Talvez, o problema até seja a grande pretensão
dos produtores, mas o determinante para que este exemplar caia na categoria
passatempo descartável é o excelente trabalho de Verhoeven em 1990. Isso é
fato.
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