The last station, 2010. Dirigido
por Michael Hoffman. Com James McAvoy, Helen Mirren, Christopher Plummer, Paul
Giamatti, Kerry Condon e Marie-Ann Duff.
Nota: 7.7
Sempre é bom acompanhar uma
cinebiografia, é a oportunidade de conhecer a vida de uma personalidade e
descobrir coisas que não sabemos. Mas em alguns casos o filme se atém a algum
trecho da vida do biografado, o que não perde a mágica, desde que seja
interessante. Foi pensando assim é que Michael Hoffman levou ao cinema o
momento derradeiro da vida de Lev Tolstoi, o autor de obras-primas da
literatura como Guerra e paz e Anna Karenina, que repensa a ideologia
que promulgou e influenciou toda uma geração.
A trama é simples. O jovem
Valentin (James McAvoy) viaja até o retiro em que se reúnem os tolstoianos mais
fervorosos a fim de viver sob seus conceitos. É mandado para a residência do
próprio Lev Tolstoi (Christopher Plummer) para ser seu secretário pessoal, e
aprender mais de sua doutrina. Porém, quando percebe que a relação de seu
mentor com a esposa Sofya (Helen Mirren) não é das melhores por questões de
herança e política, combinado a sua paixão por uma das seguidoras Masha (...),
começa a reconsiderar o verdadeiro espírito da ideologia.
Hoffman constrói um questionário
cinematográfico que coloca em xeque o fundamento maior do pensamento
tolstoiano, dito pelo próprio escritor em uma cena, o amor. A transformação do
movimento em arma política pelas mãos de Chertkov (Paul Giamatti) vai de
encontro a tudo que Valentin acreditava. A opção do líder partidário em
convencer Tolstoi a tirar da esposa os direitos da família em possuir
propriedade das obras após sua morte são questionadas pelo jovem, assim como a
castidade imposta pela teoria que o impede de amar Masha. Seu contato com o
mestre vai revelando a ele qual caminho deveria tomar, e se vê em uma
encruzilhada moral.
Não há uma intenção de o diretor
tornar o escritor um descrente de seus próprios ensinamentos, mas deixa uma
intersecção no limiar de sua vida, será que tudo o que disse deveria mesmo ser
tomado como um axioma? De forma sensível, Hoffman envolve os dois casais do
longa em uma correlação de atitudes, sendo que Tolstoi sente a amargura de se
considerar um traidor de sua teoria, e Valentin luta para não cometer o mesmo
erro dele.
Se não tivesse se apegado demais
a sentimentalismo e ter conduzido o filme de forma mais segura e racional,
mesmo se tratando de um romance, Hoffman teria triunfado. Mesmo assim, não pode
deixar de considerar a ousadia de levar ao questionamento popular este paradoxo
de consciência de uma figura tão lúcida e emblemática como Lev Tolstoi. Isso,
mais as atuações tocantes do quarteto central, principalmente Mirren e Plummer,
já valem o ingresso, ou dinheiro do aluguel do disco.
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