
Nota: 6.5
Hillary Swank e Sam Rockwell formam uma dupla (quase)
imbatível num filme que tinha tudo para ser algo fantástico, mas que acaba escambando
para o fantasioso
Adaptar uma história real para o cinema não
é a mais fácil das tarefas. O cinema biográfico como dizem, é constituído de
pesquisas, avaliações, levantamento de dados e outros argumentos que possa por
em validade questões pertinentes do personagem ou persona em voga. É uma tarefa
difícil, que passa a ser recompensadora quando a obra vira algo apreciável. E o
mais fundamental, quando a obra passa veracidade, palavra chave para falar de
acontecimentos reais.
Quando o ator Tony Goldwyn (o Carl de Ghost) resolveu se aventurar como produtor ele
se tornou escravo de sua escolha, brilhante por sinal. Levar às telas a
fantástica história de uma dona-de-casa que de repente abandona tudo, incluindo
marido e filhos, para se dedicar a livrar o irmão da prisão, num belo enredo de
amor incondicional ao sangue de seu sangue. Além do enredo, Tony também foi
feliz na escolha do elenco. A talentosa Hillary
Swank assumiu o posto tanto de produtora executiva quanto a de protagonista
como Betty
Anne Waters, que depois de anos cozinhando e cuidando de casa, decide
retornar aos estudos para salvar o irmão de uma injusta condenação.
O oprimido
em questão é Kenny Waters, vivido pelo excelente Sam Rockwell. Um típico bom vivant interiorano, modelo dos rapazes
de cidade pequena que coleciona tanto amantes quanto confusão a cada barzinho
de esquina. Quando aparece um corpo de uma mulher brutalmente assassinada, não
é muito difícil para as autoridades locais eleger e condenar seu único
suspeito. Kenny passa anos na prisão e sua atitude rebelde apavora a irmã, que
resolve agir antes que seja tarde mesmo que nesse processo perca o marido e os
filhos. A luta é incessante. Intrigas familiares, vinganças pessoais e
corrupção policial enredam a trama até a libertação final de Kenny.
Além de Hilary e Rockwell, a ganhadora do
Oscar Melissa Leo tem mais uma
atuação segura como Nancy Taylor, a
delegada corrupta responsável pela condenação injusta do rapaz. Cléa Duvall, a esposa traída, Peter Gallagher, o advogado famoso
esteio de Betty compõe o elenco de feras. Feras estas que se sentiram
enjauladas num roteiro claustrofóbico que aponta para cenas superficiais e
surreais. À medida que Betty vai se aproximando de seu objetivo, tudo decai
para o lugar-comum, sem ritmo e emoção. O clímax de cada descoberta que levaria
a inocentar o irmão se esvai a acontecimentos inverossímeis dentro do contexto
de um bom enredo cinematográfico. E termina da forma esperada. Com uma simples
sentença proferida pela juíza. E só. É como se tudo literalmente “caísse do
céu” para este momento. Frio por sinal. Não há o elo, a liga homogênea de
roteiro necessário entre uma cena e outra da trama.
Embora tenha sido baseado numa história
real fica difícil crer nesta premissa ao assistir ao filme. O elenco é afinado
e visivelmente prejudicado pelo roteiro e assim todos terminam caricatos, ou
seja, falam sem nada dizer. De real mesmo somente a atuação assombrosa em todos
os sentidos da excepcional Juliet Lewis,
que em pouco mais de 7 minutos dá um show de interpretação na caracterização e
no desempenho como a repugnante Roseane, uma ex-amante de Kenny que
ajudou a colocá-lo na prisão. A atriz é uma das poucas coisas que fogem do
contexto de falsa realidade. Em suma, o filme de Goldwyn é um erro de
estruturação que condena justamente uma história fantástica, transformando-a em
algo fantasioso, que tinha tudo para ser emocionante, libertador, mas que cai
numa cela de emoções esquecíveis.
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