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terça-feira, 9 de abril de 2013

Perfil: Mazzaroppi - 101 Anos de um Jeca que o Brasil aprendeu a adorar

"Quero morrer vendo uma porção de gente rindo em volta de mim."
Amácio Mazzaropi

Descendente de um imigrante italiano e uma portuguesa nunca se poderia imaginar que ele seria marcado como um dos legítimos representantes da cultura popular brasileira. Amácio Mazzaroppi nascido no interior de São Paulo, mais precisamente Taubaté no dia 9 de Abril de 1912. Passou um longo tempo de infância na casa dos avós em Tremembé onde descobriu cedo sua vocação para o espetáculo quando era companhia certa para os bailes e animação populares orquestradas por seu avô na cidade. Em 1919, sua família retornou a capital onde ingressa com sucesso no Colégio Amadeu. Logo era o centro das atenções devido sua capacidade de decorar e declamar poesias. A migração é interrompida pela morte de seu avô, que obriga a família a mudar-se novamente para Taubaté. Neste tempo, eles abrem um bar. Porém o outro artista da família segue o legado do patriarca mór começando a frequentar o mundo circense mesmo sem o total consentimento dos pais. Sua obstinação é mais centrada voltando ele a capital paulista na caravana Circo La Paz. Em 1929 ele regressa a cidade natal onde começa a trabalhar como tecelão, mas sempre tentando aqui ou ali um ou outro modo de se fixar no mundo do entretenimento. 

A Revolução Constitucionalista de 1932 é o estopim de uma revolução cultural na vida de Mazzaroppi e a família. Naquele tempo estreia sua primeira peça de teatro A herança do Padre João. O êxito desta investida faz com que seus pais, tão relutantes a princípio sigam com ele pelo interior com a Troupe Mazzaroppi. A paixão pelos palcos era intensa e mesmo sem alguns tostões necessários para se fazer um trabalho melhor, eles seguiam até o falecimento de sua avó, que lhe deixara uma herança. O dinheiro foi o suficiente para adquirir um telhado de zinco para seu pavilhão. Com esta estrutura a Troupe Mazzaroppi pode estrear na capital, deixando fluir o talento nato para as apresentações. Tudo transcorria bem até que a morte de seu pai  em 1944 coloca em xeque a situação financeira da companhia, só se recuperando depois com a estreia do Teatro Oberdan como ator e diretor na peça Filho de sapateiro, sapateiro deve ser

A carreira televisiva ganha corpo no Rádio em 1946 quando estreia o programa dominical Rancho Alegre. Dirigido por Cassiano Gabus Mendes o show era encenado ao vivo com a presença de um auditório. O sucesso fonográfico abre as portas para a TV em 1950. Na TV Tupi o mesmo programa encanta a todos. Embora tenha tido uma considerada notariedade neste campo, foi no cinema que o artista de trejeitos interioranos se imortalizou. Assim em 1952 pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz ele dá o pontapé inicial com Sai da Frente. Mais ua vez as dificuldades financeiras de seu local de trabalho o deixa percorrer por várias produtoras nos próximos anos. 

Cansado da vida de errante pelas estradas do ramo financeiro, funda em 1958 a PAM Filmes (Produções Amácio Mazzaropi), onde estreia com o popular Chofer de Praça em que acumulou as funções de produtor e roteirista além de ator. No ano seguinte, vem Jeca Tatu, seu maior personagem estrelando o filme homônimo baseado nas histórias criadas por Monteiro Lobato em contraposição a tirania política do país. A empatia e identificação popular do personagem aliado a questão social nele inserido funde as personas de ator/personagem de uma maneira espantosa. 

A mão do poderoso José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, o convida a fazer um programa de variedades na extinta TV Excelsior. Com a liberdade criativa que tanto almejava, nasce seu incrível Jeca Tatu, um dos maiores personagens de sua história. A mesma história de que fez parte com a filmagem em cores de Tristeza do Jeca (1961), também veiculado pela televisão e ganhador de vários prêmios. O Corintiano (1966) vira recorde de bilheteria, tendo ele força para clamar por mais apoio ao cinema nacional numa visita ao então presidente Emílio Garrastazu Médici. Funda ainda em Taubaté um grande estúdio cinematográfico, produzindo e distribuindo incontáveis números de filmes. 

Maria Tomba Homem foi o trabalho que literalmente o tombou. Vítima de um câncer na medula óssea sua trajetória que tanto personificou as dificuldades e mazelas de um país em crise é cessada em 13 de Junho de 1981. Vítima do preconceito cultural que afligia os críticos do país, só teve sua carreira exaltada na década de 1990, de onde vieram homenagens significativas por parte dos mesmos intelectuais que o desprezavam. O Brasil aprendeu a adorar seu caipira adorável. O Museu Mazzaropi na mesma localidade dos antigos estúdios ajudam a preservar a memória deste brasileiro que tanta alegria deu ao nosso povo com seu jeito "jeca' de ser. De fala mansa, andar torneado, face tranquila e perspicácia invejável, ele adorava cantar. Uma melodia sedutora que fascinava. A Oficina Cultural que homenageia Amácio Mazzaropi está instalada num edifício centenário (1912), formatando novos talentos que assim como ele tem a facilidade de derrubar barreiras culturais criando um intercâmbio saudável entre o público e o bom entretenimento. 

Amácio, o Mazzaroppi, um brasileiro caipira que adentrou com muita coragem as fronteiras sociais de um tempo anti-social. Criou, dirigiu, atuou, e adjetivou com muita honra a palavra  jeca, tornando-se indiretamente o porta-voz através das telas de uma classe oprimida, e que sobretudo, negou-se a esconder-se como tatu no buraco cultural do país. 

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