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terça-feira, 23 de abril de 2013

A Caça (2012)


Jagten, 2012. Dirigido por Thomas Vinterberg. Com Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larssen, Annika Wadderkopp e Lasse Fogelstrom.

Nota: 9,5

Thomas Vinterberg foi alçado ao estrelato mundial depois de criar, ao lado do talentoso e polêmico Lars Von Trier, umas séries de regras de filmagem que deram origem ao movimento cinematográfico Dogma 95. E com o ótimo Festa de Família (98) alcançou um status de brilhante, isso com apenas 28 anos. Porém, sua carreira não se manteve lá em cima, e com filmes bem menos interessantes, seu nome nem circulava mais pelos altos bastidores do cinema. Mas, com o excelente A Caça, volta ao cinema simplista, competente e intimista, sem perder a mão que o fez notável no início da carreira.

Lucas (Mads Mikkelsen, sensacional) é um professor de jardim de infância de uma pequena cidade dinamarquesa, que vive sua rotina entre as bebedeiras e caça de cervos com os amigos, além de sofrer com a ausência do filho, sob custódia da ex-esposa. Quando a meiguinha Klara (Annika Wedderkopp), filha de seu melhor amigo Theo (Thomas Bo Larssen, ótimo), sugere para outra professora que foi abusada por ele, uma temporada de caça às bruxas começa, à base de humilhações e violência. Aos poucos, tudo e todos vão lhe virando as costas, restando apenas a determinação de seu filho Marcus (Lasse Fogelstrom) e a lealdade de poucos amigos.

Vinterberg se juntou a Tobias Lindholm e criou uma história simples, partindo daquela velha e, convenhamos, errônea de que criança não mente, e mostra como rumores são prejudiciais à estabilidade de um indivíduo e até de uma comunidade inteira. O roteiro é intimista, primeiro apresenta um Lucas frágil e passivo, que não consegue se impor na briga para conseguir ter a companhia do filho. Porém, quando a mentira espalhada pela pequenina e ganha proporções assustadoras, sua habilidade entra em ação. O protagonista enfrenta um julgamento sem mesmo passar por uma sindicância, é agredido, humilhado, e chega a o fundo do poço, sem que não haja uma atenuação por parte do texto.

O diretor se aprofunda em seus personagens, principalmente no contraste entre Lucas e Klara. A forma como constrói a atmosfera desfavorável para que as conclusões se processassem são praticamente naturais. A combinação fofoca, cidade pequena e criança são acompanhadas pela câmera de Vinterberg sem intromissão, da mesma forma conduz as conseqüências, viscerais e extremas. Na maior delas, Lucas encontra sua adorada cadela Fanny em um saco preto sem vida. Este mosaico de ação-reação provoca a mudança de personalidade dos personagens, sempre lembrando ao público como tudo havia começado.

O sucesso do longa, todavia, está diretamente ligado à atuação extraordinária de Mads Mikkelsen. Seu Lucas é bobalhão que se dá bem com as crianças, mas deixa a desejar ao encarar os problemas “adultos”, mas quando perde quase tudo, e toda a cidade se dispõe a lhe enxotar, o bom moço aos poucos dá lugar a um homem bruto, vingativo e disposto a provar sua inocência. Competência merecidamente premiada em Cannes, e que torna uma absoluta injustiça a ausência de seu nome no circuito de premiações, em especial, no Oscar.

Se Vinterberg não é o mesmo que assinou o manifesto controverso há quase 20 anos, ao menos seu cinema recuperou a forma com esta obra brilhante e com certeza um dos melhores filmes do ano. Uma mostra que ainda é capaz de dar prosseguimento à sua carreira longe da sombra de seu amigo Lars Von Trier, ainda que sem didatismo de outros tempos, contudo extremamente competente.


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